Mullet – Wikipédia, a enciclopédia livre

Um homem com um corte de cabelo mullet.

O mullet é um penteado em que o cabelo é cortado mais curto na frente, na parte superior e nas laterais, mas é mais comprido atrás. No Brasil, é conhecido popularmente como "Chitãozinho & Xororó" ou "cabelo de tainha", enquanto em Portugal é conhecido como "chamirro".[carece de fontes?]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

De acordo com o Oxford English Dictionary, o uso do termo mullet para descrever este penteado foi "aparentemente cunhado, e certamente popularizado, pelo grupo americano de hip-hop Beastie Boys",[1] que usou "mullet" e "cabeça de mullet" como epítetos na sua canção "Mullet Head" de 1994, combinando-o com uma descrição do corte de cabelo: "número um na lateral e não toques nas costas [em inglês: back], número seis na parte superior e não cortes estranho [em inglês: wack], Jack." Eles expuseram detalhadamente o assunto num artigo de seis páginas intitulado "Mulling Over The Mullet" na edição 2 (1995) da sua revista Grand Royal, oferecendo uma seleção de nomes alternativos para o corte, incluindo "Corte de Cabelo de Jogador de Hóquei " e "Roqueiro de Futebol".[2]

Etimologia falsa[editar | editar código-fonte]

No podcast Decoder Ring da Slate, Willa Paskin discutiu a etimologia do termo, observando que o Oxford English Dictionary creditou à revista automotiva australiana Street Machine a primeira descrição publicada do termo em 1992, anterior aos Beastie Boys.[3][4][5][6][7] A Decoder Ring descobriu que a imagem da revista havia sido falsificada; num pedido de desculpas de 2018 postado no imgur, o criador admitiu ter falsificado o texto, ajustando as datas da revista e apresentado provas.[8]

História da moda[editar | editar código-fonte]

Na antiguidade[editar | editar código-fonte]

Uma estatueta de metal, datada do século I d.C. e encontrada durante os preparativos para um novo estacionamento em Wimpole Estate, Inglaterra, em 2018, foi levantada a hipótese por arqueólogos que os nativos da antiga Grã-Bretanha durante a ocupação romana poderiam ter usado o cabelo de forma semelhante ao mullet.[9]

No século VI, o estudioso bizantino Procópio escreveu que algumas fações de jovens do sexo masculino usavam cabelos compridos na parte de trás e cortavam-nos curtos na testa. Este estilo não romano foi denominado como o visual "Huno".[10][11]

O investigador Alan Henderson descreve o penteado antigo como útil, pois mantinha o cabelo longe dos olhos, mas proporcionava calor e proteção para o pescoço.[12]

América nativa[editar | editar código-fonte]

Em Mourt's Relation, o autor Edward Winslow descreveu o primeiro encontro dos peregrinos de Plymouth com os nativos americanos, Samoset dos Abenaki em 1621:

Ele era um homem alto e reto, de cabelo preto, comprido atrás e curto à frente, sem nenhum no rosto; ...

 Mourt's Relation[13]

Bornéu nativo[editar | editar código-fonte]

Povo Kayan (Bornéu) com penteado mullet.

Algumas tribos de Bornéu também usam penteados mullet, incluindo Dayak Kayan, Kenyah e Iban.[carece de fontes?]

Década de 1960[editar | editar código-fonte]

Tom Jones exibiu um mullet em duas das suas três apresentações do seu hit "It's Not Unusual" em 1965 no The Ed Sullivan Show, em 2 de maio de 1965 e em 13 de junho de 1965.[14][15]

Década de 1970[editar | editar código-fonte]

David Bowie com um mullet em 1974.

Os mullets foram usados pelas estrelas do rock David Bowie, Rod Stewart, Keith Richards e Paul McCartney no início dos anos 1970.[16][17] Ao escrever o elogio de Neil Peart em janeiro de 2020, Greg Prato afirmou que Peart tinha mullet, com base nas suas observações de um vídeo de 1974, sugerindo ainda que "ele também pode ter sido um dos primeiros roqueiros a usar outro penteado - o rabo de rato", baseado num vídeo de 1985, "The Big Money".[18]

Década de 1980[editar | editar código-fonte]

Na Austrália, nos Estados Unidos e no Reino Unido na década de 1980, os mullets estavam "em todo o lado", de acordo com Tess Reidy escrevendo no The Guardian em 2019. A década de 1980 também foi o ponto alto da popularidade do mullet na Europa continental.[19]

Também na década de 1980, o mullet passou a fazer parte da cultura lésbica, onde passou a ser utilizado como forma de identificar-se como membro daquela cultura em público.[20][21][22][23]

Década de 1990[editar | editar código-fonte]

Um homem com um mullet em 1992.

Após o muito divulgado enredo da DC Comics de 1992, no qual o Super-Homem aparentemente morreu, o personagem retornou ao enredo seguinte de 1993, "Reign of the Superman", no qual foi retratado com um mullet. O projeto cinematográfico cancelado do Super-Homem, Superman Lives, teria retratado o Super-Homem com um mullet.[24]

A banda de punk rock Vandals cantou sobre os mullets usados por cantores de música country e convidados do The Jerry Springer Show e listou nomes regionais para o estilo na canção de 1998 "I've Got an Ape Drape".[25] Em 1997, a banda gay punk Pansy Division lançou o seu single "Hockey Hair" em Vancouver, Canadá, sobre este penteado.[carece de fontes?]

O vocalista Wesley Willis escreveu e lançou a faixa "Cut the Mullet" em 1998 e tocava-a frequentemente em espetáculos ao vivo.[26]

Década de 2000[editar | editar código-fonte]

O filme American Mullet de 2001 documenta o fenómeno do penteado mullet e as pessoas que o usam.[27]

No mesmo ano a Universal Records (Canadá) lançou o álbum Mullet Years: Power Ballads, uma coleção de baladas de hard rock.[28]

Este penteado tornou-se popular na subcultura bogan na Austrália e na Nova Zelândia.[29][30]

Década de 2010[editar | editar código-fonte]

O mullet foi proibido no Irão como um dos estilos constantes numa lista de “cortes ocidentais decadentes” e “não-islâmicos”.[31][32]

O mullet voltou aos holofotes em 2015 pelo ídolo do K-pop G-Dragon durante a Made World Tour da sua banda BIGBANG.[33] Baekhyun do EXO também exibiu um mullet na promoção da música de 2017 do grupo "Ko Ko Bop". Artistas de K-pop que usaram mullets incluem Zico do Block B, Song Min-ho, Nam Joo-hyuk, Dean, Chan e Han do Stray Kids, N do VIXX,[34] Himchan do BAP,[35] Woozi e The8 do Seventeen e V do BTS .[36]

O mullet também experienciou um renascimento nos desportos americanos. Depois de vencer Copas Stanley consecutivas, Phil Kessel foi visto no campo de treino dos Pittsburgh Penguins em setembro de 2017, trazendo o mullet de volta às suas raízes nativas do hóquei em Pittsburgh (Jaromir Jagr usou um mullet com os Penguins na década de 1990).[carece de fontes?]] Da mesma forma, o treinador principal de futebol americano dos Oklahoma State Cowboys and Cowgirls, Mike Gundy, usou mullet a partir do início de 2017; a popularidade do seu mullet supostamente rendeu milhões de dólares ao estado de Oklahoma em receitas de marketing.[37] Além disso, de 2010 a 2015, Patrick Kane, dos Chicago Blackhawks, popularizou o "mullet dos playoffs", uma alternativa à tradicional barba dos playoffs da NHL.[38] O então running back dos Pittsburgh Steelers, James Conner, começou a usar mullet em 2018, continuando a tradição Yinzer do penteado no oeste da Pensilvânia.[39] O renascimento também se estendeu à Austrália no final de 2010, com o jogador de futebol australiano Rhyan Grant tornando-se amplamente conhecido pelo seu corte de cabelo mullet a ponto de ser incluído no videojogo FIFA 20.[40]

Década de 2020[editar | editar código-fonte]

Peso Pluma com um mullet em 2023.

Em setembro de 2020, a i-D denominou 2020 como "o ano do mullet", atribuindo o seu boom de popularidade aos confinamentos do COVID-19 e ao encerramento prolongado de salões de cabeleireiro.[41] Num artigo para a Vice Media, todos os adolescentes que usavam mullet que foram entrevistados descreveram o corte de cabelo como uma piada, com um deles afirmando: "Há uma ironia no corte de cabelo mullet. É um corte de cabelo repugnantemente nojento, o que significa que é definitivamente usado de forma irónica".[42] Magda Ryczko, fundadora de uma barbearia em Brooklyn, observa que os mullets permitem uma aparência frontal profissional para reuniões Zoom da era COVID-19, ao mesmo tempo que mantêm uma aparência mais bagunçada e divertida fora da camera, quando a secção traseira mais longa do cabelo pode ser revelada.[43] Um campeonato nacional anual de mullet dos EUA começou em 2020.[44][45] A versatilidade do taper fade modernizou o mullet clássico, conferindo-lhe um visual mais limpo (em inglês: clean).[46]

Em julho de 2023, o cantor mexicano Peso Pluma chamou a atenção pelo seu estilo mullet, penteado que adotou como marca registada durante o seu estrelato como intérprete musical.[47][48]

Tami Manis, de 58 anos, do Tennessee, recebeu o Recorde Mundial do Guinness por um mullet de 172,72cm de comprimento em agosto de 2023, resultado de não cortar o cabelo há 33 anos.[49]

Na cultura popular[editar | editar código-fonte]

Em 2019, Kiefer Sutherland foi amplamente divulgado,[50][51] com base numa entrevista ao Yahoo!,[52] ser o instigador involuntário do estilo devido às exigências do diretor para o seu papel principal no filme de 1987The Lost Boys. Ele também confirmou que parte da inspiração para o seu penteado veio de Billy Idol. Em entrevistas à imprensa de 2022 marcando o 35º aniversário do filme, Sutherland contou novamente a história.[53]

No terceiro episódio de Cheers de outubro de 1982, intitulado "The Tortelli Tort", Sam diz a Diane "Não tens clientes para atender, cabeça de mullet?"[54]

No episódio de dia 5 de abril de 2024 do programa da SIC Radical Irritações, José de Pina mostrou-se "contra" o regresso da moda dos mullets, tendo afirmado:[55][56]

É uma moda trashy-chic. Irrita-me porque parece tudo falso. É que antes as pessoas eram gozadas por usar isto. E agora?

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «mullet, n.9». Oxford University Press. OED Online. Setembro de 2013 
  2. Grand Royal Issue 2, (1995) p. 44
  3. «The Mullet Mystery - Episode 23 - The Oxford Comment». SoundCloud. 3 de junho de 2015. Consultado em 20 de agosto de 2020 
  4. «OED Appeals: mullet». Oxford Academic (Oxford University Press) Tumblr. 5 de abril de 2015. Consultado em 20 de agosto de 2020 
  5. «Appeals: mullet». Oxford English Dictionary. 22 de abril de 2013. Consultado em 20 de agosto de 2020. Arquivado do original em 13 de agosto de 2020 
  6. Thinkmap Inc. (20 de julho de 2015). «Think of "Mullet" as a 1980s Word? It's Not.: Vocabulary Shout-Out: Thinkmap Visual Thesaurus». visualthesaurus.com. Consultado em 20 de agosto de 2020 
  7. Levine, Sara (junho de 2016). «The 'mullet' mystery - Episode 23 - The Oxford Comment | OUPblog». OUPblog. Consultado em 20 de agosto de 2020 
  8. topsmate (21 de abril de 2018). «An apology to the Oxford English Dictionary.». Imgur. Consultado em 20 de agosto de 2020. Cópia arquivada em 16 de agosto de 2020 
  9. «Unearthed figurine suggests ancient Britons favoured mullets». The Guardian. 19 de fevereiro de 2021 Predefinição:Registration required
  10. Toner, J. P. (2013). Popular Culture in Ancient Rome. [S.l.]: John Wiley & Sons. ISBN 978-0745654904 
  11. Heather, Peter (4 de julho de 2013). The Restoration of Rome: Barbarian Popes & Imperial Pretenders. [S.l.]: Pan Macmillan. ISBN 978-0230772304 
  12. Henderson, Alan (2013). Mullet Madness. [S.l.]: Skyhorse 
  13. William Bradford, Edward Winslow (1865). Mourt's Relation, or Journal of the Plantation at Plymouth. Boston: J. K. Wiggin 
  14. Tom Jones "It's Not Unusual" (May 2, 1965) on The Ed Sullivan Show (Online video platform) (em inglês). The Ed Sullivan Show. 17 de outubro de 2020. OMbfYOaStU4. Consultado em 2 de março de 2022 
  15. Tom Jones "It's Not Unusual" (June 13, 1965) on The Ed Sullivan Show (Online video platform) (em inglês). The Ed Sullivan Show. 3 de outubro de 2020. 4CyS9wVBNGo. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  16. Wilson, William (2011). Gobbledygook. [S.l.: s.n.] ISBN 978-1440529252 
  17. Andrew Grant Jackson (2012). Still the Greatest. [S.l.]: Scarecrow Press. ISBN 978-0810882232 
  18. Prato, Greg (12 de janeiro de 2020). «10 Moments That Show the Awesomeness of Rush's Neil Peart». Heavy Consequence. Consultado em 12 de janeiro de 2020 
  19. «The Greatest Collection of Mullet Hairstyles You Are Ever Likely to See». The Vintage News (em inglês). 3 de outubro de 2018. Consultado em 22 de julho de 2021 
  20. Bianco, Marcie (5 de fevereiro de 2015). «9 Ways Lesbians Have Given Straight Women A Fashion Edge». Curve. Consultado em 4 de maio de 2015. Arquivado do original em 13 de dezembro de 2017 
  21. Johnson, L. A. (7 de outubro de 2003). «For 'mulletheads,' it's not just a hairstyle, it's a lifestyle». Pittsburgh Post-Gazette. Consultado em 4 de maio de 2015. Arquivado do original em 2 de dezembro de 2020 
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  28. «Compilations - Mullet Years: Power Ballads CD. Heavy Harmonies Discography» 
  29. Passmore, Daryl (13 de novembro de 2010). «Bogans of today evolved beyond stunned mullets». The Sunday Mail. Queensland: News Corp Australia 
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  31. Shahid, Aliyah (6 de julho de 2010). «Iran launches crackdown on Western hairstyles, Culture Ministry bans mullet, ponytails, long hair». Daily News. New York Daily News. Consultado em 30 de novembro de 2018 
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  51. Adams, Buzz AdamsBuzz (25 de outubro de 2019). «No, Kiefer Sutherland, You Didn't Invent the Mullet». 95.5 KLAQ (em inglês). Consultado em 7 de abril de 2024 
  52. «'The Lost Boys' star Kiefer Sutherland talks 'violent and gross' deleted scene and inventing the mullet». uk.movies.yahoo.com (em inglês). 24 de outubro de 2019. Consultado em 7 de abril de 2024 
  53. Kiefer Sutherland Celebrates 35th Anniversary Of ‘The Lost Boys' "While chatting with ET Canada's Carlos Bustamante about the 35th anniversary of “The Lost Boys”, Canadian actor Kiefer Sutherland reveals he was blamed for the mullet becoming so popular." MSN, 8 January 2022. Retrieved 22 January 2022
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  55. «O regresso dos mullets e dos bigodes que está a irritar José de Pina: "Antes gozava-se, e agora?"». Expresso. 5 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024 
  56. SIC (5 de abril de 2024). «O regresso dos mullets e bigodes que está a irritar José de Pina: "Antes gozava-se, e agora?"». SIC. Consultado em 6 de abril de 2024 

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

  • Hoskyns, Barhey (2000). The Mullet: Hairstyle of the Gods. [S.l.]: Bloomsbury USA. ISBN 1582340641 
  • Henderson, Alan (2007). Mullet Madness!: The Haircut That's Business Up Front and a Party in the Back. [S.l.]: Skyhorse Publishing. ISBN 978-1616088606 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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