Motim da Pensilvânia de 1783 – Wikipédia, a enciclopédia livre

Motim da Pensilvânia em 1783

Independence Hall em Filadélfia.
Nome nativo Pennsylvania Mutiny of 1783
Localização Filadélfia, Pensilvânia
Também conhecido como Motim da Filadélfia
Participantes Congresso da Confederação, soldados da Pensilvânia
Resultado Capital mudou-se da Filadélfia, criação do distrito federal

O Motim da Pensilvânia em 1783 (também conhecido como Motim da Filadélfia) foi um protesto anti-governo de quase quatrocentos soldados do Exército Continental em junho de 1783. O grupo exigia o pagamento por seu serviço durante a Guerra de Independência.

O motim, e a recusa do Conselho Executivo da Pensilvânia para pará-lo, acabou resultando no Congresso desocupando a Filadélfia. Anos depois, a cidade voltou a ser a capital dos EUA até que um distrito federal para servir como capital nacional fosse criado. O motim de 1783 é considerado um dos principais motivos para a decisão dos autores da Constituição de criar um distrito federal.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

A partir de março de 1781, o Congresso da Confederação e o Conselho Executivo Supremo da Commonwealth da Pensilvânia estavam situados na Pennsylvania State House (agora conhecida como Independence Hall), na Filadélfia. Sob a autoridade dos artigos da Confederação, o Congresso não tinha controle direto sobre os militares, exceto em tempos de guerra, e dependia em grande parte do uso das milícias estaduais para fazer cumprir as leis e manter a ordem.[1]

Em 17 de junho de 1783, o Congresso recebeu uma mensagem dos soldados do Exército Continental estacionados na Filadélfia, que exigiu o pagamento por seu serviço durante a Guerra Revolucionária Americana. Os soldados ameaçaram agir nesse dia se suas reclamações não fossem resolvidas. O Congresso ignorou a mensagem, e dias depois recebeu a notícia de que um grupo de cerca de oitenta soldados tinha deixado seus postos em Lancaster, Pensilvânia, a aproximadamente 60 milhas (97 km) a oeste de Filadélfia, e se juntou com os soldados estacionados no quartel da cidade. O grupo de aproximadamente quinhentos homens teve controle efetivo sobre as lojas de armas e o depósito de munições.[2]

Protestos[editar | editar código-fonte]

Na manhã seguinte, em 20 de junho, a State House foi cercada por quatrocentos soldados que exigiam pagamento. Os soldados bloquearam a porta e inicialmente se recusaram a permitir que os delegados saíssem. Alexander Hamilton, um então delegado de Nova Iorque, persuadiu os soldados a permitir que o Congresso se reunisse mais tarde para resolver suas questões. Os soldados permitiram pacificamente que os membros do Congresso adiassem a reunião naquela tarde.[3] Naquela noite, um pequeno comitê do Congresso, liderado por Hamilton, se encontrou em segredo para redigir uma mensagem ao Conselho da Pensilvânia, pedindo-lhes que protejam o Congresso dos amotinados. A carta ameaçava que o Congresso seria forçado a mudar para outro lugar se o Conselho não atuasse.[2]

Em 21 de junho, o comitê do Congresso reuniu-se novamente na State House com membros do Conselho Executivo da Pensilvânia, incluindo o seu presidente, John Dickinson. Os membros do Congresso solicitaram ao conselho que fizesse mais para proteger o governo federal. Dickinson e o conselho concordaram em consultar os comandantes da milícia e responderam ao Congresso no dia seguinte. Na manhã seguinte, o Conselho da Pensilvânia novamente recusou o pedido do Congresso. Faltando garantias suficientes de que o Estado estaria disposto a proteger o Congresso, os membros deixaram a Filadélfia naquele dia e foram para Princeton, Nova Jersey.[2][3]

Resposta[editar | editar código-fonte]

George Washington, ao ter conhecimento do motim no dia 24 de junho, enviou 1 500 soldados, sob o comando do major-general William Heath e do general Robert Howe, que saiu da aposentadoria, para suprimir o motim.[4]

Efeito[editar | editar código-fonte]

John Dickinson, presidente do Conselho Executivo da Pensilvânia.

Há três razões para explicar por que Dickinson e o Conselho da Pensilvânia não agiram. O raciocínio oficial do Conselho era que eles não tinham certeza de que os milicianos locais realmente protegeriam o Congresso de seus colegas soldados. Além disso, o conselho pode ter pensado que o conflito não era tão grave quanto o Congresso acreditava e que o motim poderia ser resolvido de forma pacífica.[2][3] A segunda teoria apresentada é que Dickinson, tendo sido oficial na milícia, simpatizava com as queixas dos soldados. A terceira teoria é que o Conselho se recusou a permitir que a Pensilvânia, um estado soberano, fosse subjugada pelas exigências de alguns membros do Congresso.[2]

Depois que o Congresso completou seus trabalhos em Princeton no início de novembro de 1783, a capital foi movida no final desse mês para Annapolis, Maryland, depois para Trenton, Nova Jersey, em novembro de 1784, e finalmente para Nova Iorque em janeiro de 1785. Apenas na Convenção Constitucional de 1787 que os delegados decidiram se encontrar novamente na Filadélfia. O fracasso da Pensilvânia em proteger as instituições dos Estados Unidos foi uma das principais razões pelas quais os autores da Constituição decidiram criar um distrito federal, distinto dos estados, onde o Congresso poderia prover sua própria segurança.[5][6]

Desta forma, os delegados concordaram com o Artigo Primeiro, Seção 8, da Constituição dos Estados Unidos para conferir ao Congresso o poder de "exercer legislação exclusiva em todos os casos, sobre esse distrito (não superior a dez milhas quadradas) que, cedido por determinados estados e aceito pelo Congresso, se torne a sede do governo dos Estados Unidos."[7]

Após a ratificação da Constituição dos Estados Unidos pelo estado de Nova Iorque em 1788, os delegados concordaram em manter a cidade de Nova Iorque como a capital federal temporária. Em 1790, o Congresso aprovou o Residence Act, que criou o Distrito de Columbia, localizado nas margens do rio Potomac, de terras pertencentes até então aos estados de Maryland e Virgínia, para servir como a nova capital federal.[8]

Robert Morris, um representante da Pensilvânia, convenceu o Congresso a voltar para a Filadélfia enquanto a nova capital permanente estava sendo construída. Como resultado, o Residence Act também declarou a Filadélfia como a capital temporária por um período de dez anos.[8] Em uma tentativa final de convencer o Congresso para manter a capital na Filadélfia, a cidade iniciou a construção de um novo palácio presidencial e uma expansão para o Congress Hall.[6] Seus esforços falharam, e o governo federal se mudou da Filadélfia pela última vez em 14 de maio de 1800.[9]

Nota[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. McLaughlin, Andrew (1936). A Constitutional History of the United States. Nova Iorque: D. Appleton-Century Company. ISBN 978-1-931313-31-5 
  2. a b c d e Flexner, James Thomas (1997). The Young Hamilton. New York: Fordham University Press. pp. 417–25. ISBN 978-0-8232-1790-8 
  3. a b c Powe, Lucas (1992). The Fourth Estate and the Constitution. Berkeley, Califórnia: University of California Press. 31 páginas. ISBN 978-0-520-08038-6 
  4. «Congress Flees to Princeton 1783». Rebels With A Cause 
  5. Crew, Harvey W.; William Bensing Webb; John Wooldridge (1892). Centennial History of the City of Washington, D. C. Dayton, Ohio: United Brethren Publishing House. p. 66 
  6. a b «The President's House in Philadelphia». Independence Hall Association. 4 de julho de 1995. Consultado em 27 de agosto de 2008. Arquivado do original em 15 de julho de 2007 
  7. «Constitution of the United States». National Archives and Records Administratio. Consultado em 22 de julho de 2008 
  8. a b «Residence Act: Primary Documents in American History». Library of Congress. 21 de setembro de 2007. Consultado em 10 de junho de 2008 
  9. «The Nine Capitals of the United States». United States Senate. Consultado em 7 de setembro de 2008 

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]