Mosteiro Zen Morro da Vargem – Wikipédia, a enciclopédia livre

Templo do mosteiro

O Mosteiro Zen Morro da Vargem é o primeiro mosteiro zen-budista da América Latina, localizado em Ibiraçu, Espírito Santo.[1] Fundado em 1974 pelo monge Ryotan Tokuda e um grupo de convertidos, o mosteiro, localizado a 350 metros de altitude, tem como trabalhos a formação de monges segundo as tradições orientais, a realização de práticas budistas leigas, a fomentação artística-cultural e a educação ambiental. Ele segue a escola secular Soto Zen.[1]

O mosteiro é o maior da América Latina, além do mosteiro, existe uma praça de mesmo nome, e em sua entrada está a estátua do Grande Buda de Ibiraçu.[2] Tem uma área de 150 hectares sendo assim 140 para preservação e o reflorestamento da Mata Atlântica.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Ryotan Tokuda popularizou o zen entre brasileiros sem descendência asiática, iniciando seu trabalho no Templo Busshinji em 1968 após ter sido enviado como missionário pela Sōtō Zenshū.[3][4] Na década de 1970, porém, deixou o Busshinji, insatisfeito com o conservadorismo da maioria dos templos, mas continuou no Brasil estabelecendo grupos e ordenando seguidores;[5] em 1974, com um grupo de jovens e assentimento de Ryohan Shingu, fundou como sua primeira instituição independente o Mosteiro Morro da Vargem, com a função de ser um centro de retiro.[3]

Foi o primeiro mosteiro zen-budista do Brasil, e, sob a liderança de Tokuda, foram implementadas regras de treinamento e trabalho.[6] Um dos integrantes do grupo, Cristiano Daiju Bitti, estudou com formação monástica Soto Zen[3] sob Narazaki Rōshi no Templo Zuiō-ji em Shikoku por cinco anos;[5] ele foi o único dos jovens que voltou após completar o treinamento,[6] retornando em 1983 ao Brasil, quando então substituiu Tokuda como abade do mosteiro,[3] cargo que encabeça até hoje.[7] Em japonês, o centro é também chamado Hakuunzan Zenkoji.[8][9]

Estátua do Grande Buda na Praça Torii

Praça Torii[editar | editar código-fonte]

O mosteiro comprou e doou à comunidade um parque de 2 hectares às margens da BR-101, que inclui um jardim de pedras japonês, um lago de carpas, uma capela de Nossa Senhora da Penha, o portal torii de entrada e a colina com as estátuas e monumento de Buda.[10] Na Praça Torii, funciona também ao lado da estátua do Buda Gigante a Escola Oficina de Cerâmica Kanzeon. Cerca de 30 mil pessoas visitam por ano o mosteiro.[11]

Funções[editar | editar código-fonte]

Suas atividades se concentram em torno de 3 eixos.[10] O pilar religioso inclui práticas leigas e monásticas,[12] como a realização de retiros (sesshin), formação de monges e eventos cerimoniais.[10] O mosteiro mantém oitenta e cinco retiros anualmente, com 45 participantes a cada sessão.[4] Ele faz parte como início e fim do roteiro de peregrinação "Caminhos da Sabedoria", criado junto com a Arquidiocese de Colatina.[10]

Desde 1985, o mosteiro realiza trabalhos no eixo educacional-ambiental, que inclui planos de manejo de área e programas educacionais a milhares de crianças do estado por ano.[8][10][12] Em 1992, ele foi instituído como um Polo de Educação Ambiental pela SEAMA. Junto à prática budista, em sua área de 150 hectares foram recuperados 120 hectares de área degradada e 140 hectares são destinados à recuperação e preservação da Mata Atlântica.[12] O mosteiro produz seus próprios vegetais orgânicos e mel, e até a década de 90 seguia uma rígida orientação alimentar nos retiros e divulgava dieta natural.[8]

No eixo cultural-social, o mosteiro também mantém desde 1995 um espaço chamado Estação Cultural, que funciona como uma residência artística, ateliê e galeria,[13] e patrocina artistas que querem se devotar às suas obras longe da cidade.[4] Também possui contato integrado com as populações rurais, realizando eventos culturais de festas folclóricas e feiras artesanais.[10]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c «Buda gigante em Ibiraçu será inaugurado em 25 de abril do ano que vem». Folha do Litoral. 16 de outubro de 2020. Consultado em 23 de agosto de 2021 
  2. «Buda gigante em Ibiraçu, ES, atrai visitantes e impressiona por ser o segundo maior do mundo». G1. 13 de outubro de 2020. Consultado em 23 de agosto de 2021 
  3. a b c d Usarski, Frank; Shoji, Rafael (24 de agosto de 2017). «Perspectiva sociológica sobre a expansão do Budismo e das religiões japonesas no Brasil». REVER - Revista de Estudos da Religião. 17 (2). 99 páginas. ISSN 1677-1222. doi:10.23925/1677-1222.2017vol17i2a6. Consultado em 17 de dezembro de 2021 
  4. a b c Rocha, Cristina Moreira da (19 de fevereiro de 2015). «Zen Buddhism in Brazil: Japanese or Brazilian?». Journal of Global Buddhism (1): 31–55. ISSN 1527-6457. doi:10.5281/zenodo.1310700. Consultado em 17 de dezembro de 2021 
  5. a b Rocha, Cristina (1 de maio de 2008). «All Roads Come from Zen: Busshinji as a Reference to Buddhism». Japanese Journal of Religious Studies. 1 (35). ISSN 0304-1042. doi:10.18874/jjrs.35.1.2008.81-94. Consultado em 17 de dezembro de 2021 
  6. a b Albuquerque, Eduardo Basto de (18 de dezembro de 2011). «Os intelectuais e o budismo japonês no Brasil / Intellectuals and Japanese Buddhism in Brazil» (PDF). PLURA, Revista de Estudos de Religião / PLURA, Journal for the Study of Religion. 2 (2, Jul-Dez): 4–25. ISSN 2179-0019. Consultado em 17 de dezembro de 2021 
  7. Usarski, Frank; Shoji, Rafael (2018). «Zen in Latin America». In: Gooren, H. (ed.). Encyclopedia of Latin American Religions. Springer, Cham.
  8. a b c Rocha, Cristina (31 de dezembro de 2005). Zen in Brazil: The Quest for Cosmopolitan Modernity (em inglês). [S.l.]: University of Hawaii Press 
  9. Rocha, Cristina (1 de novembro de 2016). «Buddhism in Latin America». In: Jerryson, Michael. The Oxford Handbook of Contemporary Buddhism (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  10. a b c d e f Harguindeguy, Eduardo Juan Manuel. (2015). Práticas de atenção plena na educação socioambiental: o Programa Zezinho do Mosteiro Zen do Morro da Vargem, ES. Rio de Janeiro: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
  11. Redação Desejo (22 de dezembro de 2020). «Ibiraçu é destaque na produção de peças de cerâmica de alta qualidade». Folha do Litoral. Consultado em 17 de dezembro de 2021 
  12. a b c «GEA - Mosteiro Zen Morro da Vargem». IEMA - Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Consultado em 17 de dezembro de 2021 
  13. Taveira, Vitor (12 de fevereiro de 2021). «Residência artística apresenta exposição no Mosteiro Zen». Século Diário