Mistérios de Elêusis – Wikipédia, a enciclopédia livre

Vista das escavações arqueológicas, com a cidade moderna e a baía ao fundo

Os mistérios de Elêusis (também conhecidos como mistérios eleusinos) eram ritos de iniciação ao culto das deusas agrícolas Deméter e Perséfone, que se celebravam em Elêusis, localidade da Grécia próxima a Atenas. Eram considerados os de maior importância entre todos os que se celebravam na antiguidade. Estes mitos e mistérios continuaram importantes no período Helenístico,[1] tendo se transferido ao Império Romano e sinais dele podem ser notados em práticas iniciáticas modernas. Os ritos e crenças eram guardados em segredo, só transmitidos a novos iniciados[2]. Estudiosos propuseram que o poder dos Mistérios Eleusinos veio do funcionamento da ciceona como agente psicodélico.[3] Os Mistérios eram administrados por um grupo de famílias sacerdotais, destacando-se as dos Eumólpidas, da qual saía o hierofante, e a dos Cérices, que provia o portador da tocha, os dois principais sacerdócios do culto.[4][5]

O culto[editar | editar código-fonte]

Deméter e sua filha, Perséfone, (Ceres e Proserpina para os romanos), presidiam aos pequenos e aos grandes mistérios. Daí seu prestígio. Muitos desses mistérios ainda não foram totalmente desvendados; no entanto, no grande complexo de templos de Elêusis, notadamente no grande Templo de Deméter, o Telestério, os estudiosos têm descoberto esculturas e pinturas em vasos que representam alguns desses ritos.

Os mistérios eleusinos celebravam o regresso de Perséfone, visto que era também o regresso das plantas e da vida à terra, depois do inverno. As sementes que ela trazia significavam o renascimento de toda a vida vegetal na primavera.

Se o povo reverenciava em Deméter a terra-mãe e a deusa da agricultura, os iniciados viam nela a luz celeste, mãe das almas e a Inteligência Divina, mãe dos deuses cosmogônicos. Os sacerdotes de Elêusis ensinaram sempre a grande doutrina esotérica que lhes veio do Egito. Esses sacerdotes, porém, no decorrer do tempo, revestiram essa doutrina com o encanto de uma mitologia plástica, repleta de beleza.

Entre os participantes estavam provavelmente figuras influentes como Sócrates, Platão, Aristóteles, Sófocles, Plutarco e Cícero.[6][7]

A doutrina da vida universal[editar | editar código-fonte]

Vaso que ilustra alguns aspectos do culto, Museu Altes, Berlim

O ritual dos Mistérios de Elêusis encontrava expressão na lenda da deusa Deméter e sua filha Perséfone, raptada por Hades (Plutão), rei do Mundo Inferior, quando colhia flores com suas amigas, as Oceânides, no vale de Nisa. Deméter, ao tomar conhecimento do rapto, ficou tão amargurada que deixou de cuidar das plantações dos homens aos quais havia ensinado a agricultura. Os homens morriam de fome, até que Zeus (Júpiter), que havia permitido a seu irmão Hades raptar Perséfone, resolveu encontrar uma forma de reparar o mal cometido. Decidiu, então, que Perséfone deveria voltar à Terra durante seis meses para visitar sua mãe e outros seis meses passaria com Hades[8].

O mito simboliza o lançar sementes à terra e o brotar de novas colheitas, uma espécie de morte e ressurreição. No seu sentido íntimo, é a representação simbólica da história da alma, de sua descida na matéria, de seus sofrimentos nas trevas do esquecimento e depois sua re-ascensão e volta à vida divina.

O mito de Elêusis ainda se encontra vivo hoje nas diversas escolas Iniciáticas que ainda persistem, como a maçonaria. É a doutrina da vida universal, que se encerra no simbólico grão de trigo de Elêusis, que deve morrer e ser sepultado nas entranhas da terra, para que possa renascer como planta, à luz do dia, depois de abrir caminho através da escuridão em que germina[9][10].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. CARVALHAR, C. Tradução comentada da inscrição helenística I Eleusis 229. Revista Hypnos, n. 47, p. 219–229, 13 out. 2021.
  2. Infopédia. «Artigo de apoio Infopédia - Mistérios de Elêusis». www.infopedia.pt. Consultado em 25 de fevereiro de 2018 
  3. Wasson, R. Gordon, Ruck, Carl, Hofmann, A., The Road to Eleusis: Unveiling the Secret of the Mysteries. Harcourt, Brace, Jovanovich, 1978.
  4. Simms, Robert M. "Eumolpos and the Wars of Athens". In: Greek, Roman and Byzantine Studies, 1983; 24 (3): 197-208
  5. Lambert, Stephen. "Aristocracy and the Attic genos: a mythological perspective". In: Fisher, Nick & Wees, Hans Van (eds.). Aristocracy in Antiquity: Redefining Greek and Roman Elites. The Classical Press of Wales, 2015, pp. 169-202
  6. Tonelli, Angelo. (2015). Eleusis e orfismo : i misteri e la tradizione iniziatica greca. Milano: Feltrinelli. ISBN 9788807901645. OCLC 1020103661 
  7. «The Eleusinian Mysteries: The Rites of Demeter». Ancient History Encyclopedia. Consultado em 16 de maio de 2019 
  8. «O que era o culto grego secreto, os Mistérios de Elêusis?». Mundo Estranho 
  9. Anatalino, João. Conhecendo a Arte Real - A Maçonaria e Suas Influências Históricas e Filosóficas. [S.l.]: Madras 
  10. «OS MISTÉRIOS DE ELÊUSIS». João Anatalino 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Kerényi, Károly (2004). Eleusis: imagen arquetípica de la madre y la hija. Madrid: Siruela. ISBN 84-7844-772-5.
  • Tonelli, A. Eleusis e Orfismo. I misteri e la tradizione iniziatica greca. Feltrinelli, 2015 ISBN 978-8807901645
  • Wasson, R. Gordon; Hofmann, Albert; Ruck, Carl (1993). El camino a Eleusis: una solución al enigma de los misterios. México: Fondo de Cultura Económica. ISBN 84-375-0366-3. (reseña y resumen en inglés.)
  • Virgili, Antonio (2008). Culti misterici ed orientali a Pompei. Roma: Gangemi. ISBN 978-88-492-1409-3.
  • CLINTON, K. The Sacred Officials of the Eleusinian Mysteries. Transactions of the American Philosophical Society, v. 64, n. 3, 1974