Misericórdia – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para outros significados, veja Misericórdia (desambiguação).
As Sete Obras de misericórdia, por Frans Francken, o Jovem, 1605.

Misericórdia é um termo amplo que se refere a benevolência, perdão e bondade em uma variedade de contextos éticos, religiosos, sociais e até mesmo legais.[1][2][3][4]

O conceito de um "Deus misericordioso" aparece em várias religiões, incluindo Cristianismo, Judaísmo e também no Islamismo.[1][2] O ato de realizar ações de misericórdia como um componente da crença religiosa também é enfatizado através de ações como a doação de esmolas, o cuidar dos doentes e as obras de misericórdia.[5]

No contexto social e legal, a misericórdia pode se referir tanto ao comportamento compassivo por parte de quem está no poder (por exemplo, a misericórdia mostrado por um juiz no sentido de um presidiário), humanitário ou por parte de um terceiro, por exemplo, uma missão de misericórdia com o objetivo para tratar as vítimas de guerra.[3][4]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Misericórdia é a junção de duas palavras em latim: miseratio (miséria) + cordis (coração). Assim, pode-se entender literalmente misericórdia como "coração que se debruça sobre a miséria [humana]" ou "coração compadecido".

Cristianismo[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Obras de misericórdia

O Catecismo da Igreja Católica enfatiza a importância das obras de misericórdia (item 2447) e no ensino católico romano, a misericórdia de Deus flui através da obra do Espírito Santo. inclui referências frequentes à liturgia católica romana misericórdia, por exemplo, como no Kyrie eleison ("Senhor, tende piedade (de nós); Cristo, tende piedade (de nós); Senhor, tende piedade (de nós)").

No Antigo Testamento, Deus é apresentado como "misericordioso[6] e compassivo" como no Salmos 103:8.

A ênfase na misericórdia aparece em numerosas partes do Novo Testamento, por exemplo, como nas Bem-aventuranças em Mateus 5:7 "Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia",[1] a Parábola do Filho Pródigo (Lucas 15:11-32), tornou-se um tema importante sobre a extensão da misericórdia divina para os outros.[7] e, mais importante ainda, no capítulo 25 do Evangelho segundo São Mateus (Mt 25,31-46) onde Jesus explicita as obras de misericórdia corporais que serão exigidas no Juízo Final:

"«Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:


‘Vinde, bem ditos de meu Pai;

recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo.

Porque tive fome e destes-Me de comer;

tive sede e destes-me de beber;

era peregrino e Me recolhestes;

não tinha roupa e Me vestistes;

estive doente e viestes visitar-Me;

estava na prisão e fostes ver-Me’.


Então os justos Lhe dirão:

‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’

E o Rei lhes responderá:

‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’.

Dirá então aos que estiverem à sua esquerda:

‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o demónio e os seus anjos.

Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’.

Então também eles Lhe hão-de perguntar:

‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’

E Ele lhes responderá:

‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’.

Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna»." (Mt 25, 31-46)


Este elemento devocional de misericórdia , como parte da tradição cristã, foi ecoado por Santo Agostinho que chamou a misericórdia "tão antiga e tão nova".[1][8]

As obras de misericórdia (sete corporais e sete obras espirituais) são parte de todas as tradições Cristãs relevantes, particularmente de índole Católica e Ortodoxa.[5]

Catolicismo[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Divina Misericórdia

No catolicismo, a misericórdia também se refere a uma devoção que teve a sua origem nas aparições de Jesus recebidas por Santa Faustina Kowalska, no início do século XX, na Polónia. Em seu Diário, a religiosa relatou ter recebido instruções do próprio Cristo para que desse a conhecer a todo o mundo a Divina Misericórdia.

Islamismo[editar | editar código-fonte]

No Islão o título "Misericordiosíssimo" (al-Rahman) e Compassivo (al-Rahim) nomes de Allah, são os nomes mais comuns que ocorrem no Alcorão. Rahman e Rahim ambos derivam da raiz Rahmat, que refere-se a ternura e benevolência.[9][2] Como uma forma de piedade, dar a esmola (zakat) é o quarto dos cinco pilares do Islão e um dos requisitos para os fiéis.[10]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d Matthew R. Mauriello (2011). Mercies Remembered. Xulon Press. pp. 149–. ISBN 978-1-61215-005-5.
  2. a b c Hamid Naseem Rafiabadi (2003). World Religions and Islam: A Critical Study. Sarup & Sons. p. 211. ISBN 978-81-7625-414-4.
  3. a b Austin Sarat; Nasser Hussain (2007). Forgiveness, Mercy, and Clemency. Stanford University Press. pp. 1–5. ISBN 978-0-8047-5333-3.
  4. a b Christoph Menke (2006). Reflections of Equality. Stanford University Press. p. 193. ISBN 978-0-8047-4474-4.
  5. a b Joel C. Elowsky (2009). We Believe in the Holy Spirit. InterVarsity Press. pp. 105–107. ISBN 978-0-8308-2534-9.
  6. Crispim. «Terei Misericórdia De Quem Me Aprouver!». estudosbiblicos.org. Consultado em 7 abril 2017 
  7. Marianne Meye Thompson (2000). The Promise of the Father: Jesus and God in the New Testament. Westminster John Knox Press. p. 99. ISBN 978-0-664-22197-3.
  8. Santo Agostinho, Confissões, Livro X, 27
  9. Vincent J. Cornell (2007). Voices of Islam: Voices of life: family, home, and society. Greenwood Publishing Group. p. 87. ISBN 978-0-275-98735-0.
  10. Hooker, Richard. Arkan ad-din the five pillars of religion Arquivado em 3 de dezembro de 2010, no Wayback Machine.. Washington State University.