Meditação budista – Wikipédia, a enciclopédia livre

Monge meditando ao lado da barragem Sirikit, na Tailândia.

Meditação budista é a meditação usada na prática budista. Inclui qualquer método de meditação que tenha, como meta última, a iluminação (Bodhi).[1] Os termos mais próximos a "meditação" nas linguagens clássicas do budismo são bhavana e desenvolvimento mental.[2]

Diferentes visões e equívocos[editar | editar código-fonte]

Sendo a meditação conceituada como "desenvolvimento de certas qualidades mentais", é importante notar que há diversos "métodos" ensinados por diferentes escolas e professores, compreendendo uma vasta gama de ensinamentos e enfocando mais uma ou outra qualidade a ser desenvolvida. Sendo assim, não se deve condensar o conceito de meditação budista em apenas uma escola ou prática.

A identificação somente da meditação formal sentada com a prática é outra visão equivocada, comumente difundida no ocidente, havendo, por exemplo, a prática comum da "meditação andando".[3] O conceito da prática meditativa (desenvolvimento mental), ao ser levado mais a fundo, pode ser expandido para incluir todas as atividades do dia a dia.

Tradições[editar | editar código-fonte]

A partir das primeiras divisões que ocorreram entre as escolas iniciais do budismo e à medida em que o budismo se espalhou por diferentes países, diferentes tradições foram surgindo. Junto com essas tradições, diferentes maneiras de ensinar meditação apareceram. Algumas "técnicas" desapareceram em alguns lugares, outras foram adaptadas e outras foram adicionadas vindas de outras tradições ou mesmo criadas. Mas o que une as diferentes abordagens de meditação como Budistas é estarem em linha com o nobre caminho óctuplo.

Theravada[editar | editar código-fonte]

Na escola Theravada (escola dos anciãos), a meditação toma, como base, os ensinamentos do Buda contidos no cânon em Páli.[4][5] No cânon, o Buda prescreve diversos métodos de desenvolvimento mental para erradicar apego e aversão, ou para desenvolver algum fator que contribua para a erradicação desses.

Atualmente, é popularizada uma visão que toma a meditação por dois ângulos: tranquilidade e concentração (samatha) e sabedoria e visão (vipassana) sendo comum escolas que colocam a meditação Samatha como de menor importância, dando maior ênfase a Vipassana, embora tal separação estrita pareça ter surgido com os comentários singaleses sobre o cânon, escritos séculos depois do Buddha.[6] Enquanto outras,como a Tradição Tailandesa das Florestas, veem Samatha e Vipassana como dois aspectos de um mesmo caminho e inseparáveis entre si.[7]

Algumas meditações populares:

  • Anapana-Sati - Plena atenção na respiração. Desenvolve os sete fatores da iluminação[8][9] Uma das meditações mais ensinadas pelo Buddha, Sua pratica completa é equivalente a Satipatthana em forma resumida.
  • Satipatthana - Quatro fundamentos do estabelecer de Sati. Uma explicação geral do que entra dentro do fator Sati do caminho Octuplo. O Satipatthana Sutta é usado como base para a maioria das práticas de escolas vipassana.[10]
  • Metta Bhavana - desenvolvimento de Metta, ou 'amor universal'.[11][12]
  • kayagatha - contemplação da natureza do corpo. Inclui contemplações sobre a natureza do corpo em suas partes e em seus quatro elementos e sobre sua decadência e morte.

Vajrayana[editar | editar código-fonte]

Na escola Vajrayana, são adicionados métodos tântricos que têm, por objetivo, acelerar o processo de iluminação.

O objetivo dos ensinamentos de Mahamudra e Dzogchen, ensinados respectivamente pelas escolas Kagyu e Nyingma, é se familiarizar com a natureza última da mente que delineia toda a existência, passando assim por estágios que levam à iluminação.[13]

As práticas preliminares das escolas Kagyu e Nyingma são chamadas Ngondro, e envolvem visualizações, recitação de mantras e prostrações.

Zen[editar | editar código-fonte]

A meditação no Zen é o Zazen. No Zazen, é mantida a atenção plena sentada, com base na respiração, observando os pensamentos e sensações à medida que surgem e passam. A prática de atenção plena à medida que é desenvolvida leva a maior entendimento, aceitação e compreensão da realidade.[14] Também é comum o uso de Koans.

Terra pura[editar | editar código-fonte]

A meditação no budismo Terra pura é, basicamente, a recitação do nome do Buda Amitaba, ou visualização do mesmo.[15]

Usos terapêuticos da meditação[editar | editar código-fonte]

Ver artigos principais: Budismo e psicologia e Atenção plena

Durante muito tempo, as pessoas praticaram meditação com base nos princípios da meditação budista, a fim de obter benefícios mundanos e terrenos.[16] Assim, a atenção plena e outras técnicas de meditação budista estão sendo defendidas no Ocidente por psicólogos inovadores e professores especialistas em meditação budista, como Thích Nhất Hạnh, Pema Chödrön, Clive Sherlock, Mya Thwin, S. N. Goenka, Jon Kabat-Zinn, Jack Kornfield, Joseph Goldstein, Tara Brach, Alan Clements e Sharon Salzberg, que têm sido amplamente atribuídos por desempenhar um papel significativo na integração dos aspectos curativos das práticas de meditação budista com o conceito de consciência psicológica, cura e bem-estar. Embora a meditação da atenção plena[17] tenha recebido a maior atenção da pesquisa, a meditação da bondade amorosa[18] (metta) e da equanimidade (upekkha) estão começando a ser usadas em uma ampla gama de pesquisas nos campos da psicologia e neurociência.

Os relatos de estados meditativos nos textos budistas são, em alguns aspectos, livres de dogmas, tanto que o esquema budista foi adotado por psicólogos ocidentais tentando descrever o fenômeno da meditação em geral.[nota 1] No entanto, é extremamente comum encontrar o Buda descrevendo estados meditativos que envolvem a obtenção de poderes mágicos (sânscrito rddhi, Pali iddhi) tais como a capacidade de multiplicar o corpo em muitos e voltar a um novamente, aparecer e desaparecer à vontade, passar por objetos sólidos como se fosse espaço, afundar e emergir do chão como se estivesse na água, caminhar sobre a água como se fosse terra, voar pelos céus, tocar qualquer coisa a qualquer distância (até a lua ou o sol) e viajar para outros mundos (como o mundo de Brahma) com ou sem o corpo, entre outras coisas,[19][20][21] e, por essa razão, toda a tradição budista pode não ser adaptável a um contexto secular, a menos que esses poderes mágicos sejam vistos como representações metafóricas de poderosos estados internos aos quais as descrições conceituais não poderiam fazer justiça.

Commons
Commons
O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Meditação budista

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. Michael Carrithers, "The Buddha", 1983, páginas 33-34. Em Founders of Faith, Oxford University Press, 1986. O autor está se referindo à literatura páli. Veja, no entanto, B. Alan Wallace, "The bridge of quiescence: experiencing Tibetan Buddhist meditation. Carus Publishing Company, 1998, onde o autor demonstra abordagens semelhantes para analisar a meditação nas tradições indo-tibetana e theravada.

Referências

  1. KALAMASHILA. Meditation: The Buddhist Art of Tranquility and Insight. Birmingham. Windhorse Publications. ISBN 1899579052.
  2. EPSTEIN, M. Thoughts Without a Thinker: Psychotherapy from a Buddhist Perspective. BasicBooks. ISBN 0465039316.
  3. http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/andando.php
  4. http://www.acessoaoinsight.net/theravada.php
  5. http://casadedharmaorg.org/quem-somos/o-que-e-o-budismo-theravada/
  6. Bhikkhu, Thanissaro. «One Tool Among Many» 
  7. Tiyavanich K. Forest Recollections: Wandering Monks in Twentieth-Century Thailand. University of Hawaii Press, 1997.
  8. http://www.acessoaoinsight.net/sutta/MN118.php sutta onde o Buda detalha o método
  9. http://acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/instrucoes_basicas_meditacao_respiracao.php Instruções Básicas para Meditação da Respiração
  10. http://www.acessoaoinsight.net/sati.php
  11. http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/metta_bhanteg.php
  12. «Cópia arquivada». Consultado em 24 de maio de 2015. Arquivado do original em 23 de julho de 2015 
  13. http://studybuddhism.com/pt/budismo-tibetano/tantra/mahamudra-e-dzogchen/o-que-e-dzogchen
  14. http://daissen.org.br/hp/index.php?id=&s=ct&menu_id=2
  15. «Cópia arquivada». Consultado em 9 de abril de 2015. Arquivado do original em 17 de abril de 2015 
  16. See, for instance, Zongmi's description of bonpu and gedō zen, described further below.
  17. «MARC UCLA» (PDF) 
  18. Hutcherson, Cendri (19 de maio de 2008). «Loving-Kindness Meditation Increases Social Connectedness» (PDF). Emotion. 8 (5): 720–724. CiteSeerX 10.1.1.378.4164Acessível livremente. doi:10.1037/a0013237 
  19. «Iddhipada-vibhanga Sutta: Analysis of the Bases of Power». www.accesstoinsight.org 
  20. «Samaññaphala Sutta: The Fruits of the Contemplative Life». www.accesstoinsight.org 
  21. «Kevatta (Kevaddha) Sutta: To Kevatta». www.accesstoinsight.org 

Leituras adicionais[editar | editar código-fonte]

  • Matthew Flickstein and Bhante Henepola Gunaratana. (1998) Journey to the Center: A Meditation Workbook. Wisdom Publications. ISBN 0-86-171141-6.
  • Epstein, Mark (1995). Thoughts Without a Thinker: Psychotherapy from a Buddhist Perspective. BasicBooks. ISBN 0465039316.
  • Kamalashila (1996). Meditation: The Buddhist Art of Tranquility and Insight. Birmingham: Windhorse Publications. ISBN 1899579052.
  • Friedrichs, Kurt, Ingrid Fischer-Schreiber, Franz-Karl Ehrard, Michel S. Diener, Dictionnaire de la sagesse orientale, trad. Monique Thiollet, Ed. Robert Laffont, 1989. ISBN 2-221-05611-6