Mecânica celeste – Wikipédia, a enciclopédia livre

A mecânica celeste é o ramo da astronomia que estuda os movimentos dos corpos celestes (naturais ou não). A principal força determinante dos movimentos celestes é a gravitação, contudo certos corpos (satélites artificiais, cometas e asteróides) podem sofrer a influência marcante de forças não gravitacionais como a pressão de radiação e o atrito (com a atmosfera superior no caso dos satélites artificiais terrestres). A astronáutica está intimamente ligada a esta ciência.[1][2][3][4][5][6]

Objetivo[editar | editar código-fonte]

O objetivo da Mecânica Celeste, como o da Astrometria, é o de determinar as posições relativas dos astros e suas variações com o tempo, mas diferentemente da Astrometria, a Mecânica Celeste faz esse estudo baseada principalmente nos dados da Astrometria e na parte teórica fornecida pela Mecânica Clássica.[3]

A Mecânica Celeste é, pois, a parte da Astronomia que visa estudar o movimento relativo dos astros que estão submetidos às forças admitidas como resultantes da atração gravitacional entre esses corpos celestes. Assim, podemos dizer que a Mecânica Celeste estuda os movimentos relativos dos astros, aplicando as leis da Mecânica Newtoniana.[6]

Funcionalidades[editar | editar código-fonte]

Usando a mecânica celeste é possível, por exemplo, determinar as distâncias e as posições dos astros do Sistema Solar, calcular órbitas de satélites artificiais em torno da Terra, determinar as trajetórias de sondas espaciais enviadas a outros astros do Sistema Solar e determinar as massas de corpos celestes, tais como planetas, satélites e estrelas.[3][6]

Exemplos de problemas[editar | editar código-fonte]

Alguns problemas estudados pela mecânica celeste são:[7][3][6]

  • O problema de um corpo de massa infinitesimal sujeito à atração gravitacional de outro corpo. Este problema tem uma solução fechada, mesmo no caso de três dimensões, porém para resolver a posição do corpo no tempo é preciso resolver uma equação transcendente: a equação de Kepler.[8]
  • O problema dos dois corpos: calcular as órbitas de dois corpos (podem ser considerados pontos de massa, ou corpos de raio pequeno com simetria esférica) sujeitos à ação gravitacional. Este problema se reduz ao caso de um corpo.
  • O problema dos três corpos: calcular as órbitas de três corpos sujeitos às ações gravitacionais. Este problema, exceto em casos muito especiais, não tem uma solução analítica.
  • Campos gravitacionais sem simetria esférica: calcular a órbita de um corpo de massa infinitesimal em um campo gravitacional assimétrico (por exemplo, um satélite orbitando um corpo achatado).

A mecânica celeste mostrou sua eficiência na descoberta do planeta Netuno em 1846 por U. J. de Verrier. Baseados nas perturbações da órbita do planeta Urano, astrônomos puderam calcular a presença de um outro corpo celeste influenciando seu movimento. E lá estava Netuno. Com Plutão não foi diferente. P. Lowel no início do século XX pôde prever a existência do planeta estudando a órbita de Netuno. Em 1930, Plutão foi finalmente descoberto por Clyde Tombaugh.

O modelo de Kepler é heliocêntrico. Seu modelo foi muito criticado pela falta de simetria que constava no fato do Sol ocupar um dos focos da elipse e o outro simplesmente ser preenchido com o vácuo.

O modelo da mecânica celeste de Tycho Brahe é muito curioso, pois ele coloca os planetas orbitando o Sol e este orbitando a Terra, o que o torna ao mesmo tempo geocêntrico e heliocêntrico.

Lei da gravitação universal[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Lei da gravitação universal

Um destaque na história da física foi a descoberta, por Isaac Newton, da lei da gravitação universal: todos os objetos se atraem com uma força diretamente proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre seus centros. Ao definir uma única lei matemática para os fenômenos físicos no universo observável, Newton mostrou que a física terrestre e física celeste são a mesma coisa. O conceito de gravidade poderia, em uma única fórmula:[3][6][8]

  1. Revelar o significado físico de três leis de Kepler do movimento planetário;
  2. Resolver o intrincado problema da origem das marés;
  3. Explicar a observação curiosa e inexplicável de Galileu de que o movimento de um objeto em queda é independente de seu peso.

A força centrípeta das órbitas circulares pode ser deduzida a partir da terceira lei de Kepler do movimento planetário e a dinâmica do movimento circular uniforme:

De acordo com a terceira lei de Kepler, o período é proporcional ao cubo do semieixo maior da elipse. No caso de órbita circular, o semieixo é o próprio raio e, assim:

A dinâmica do movimento circular uniforme, nos diz que em uma trajetória circular, a força a ser aplicada ao corpo é o produto de sua massa pela aceleração padrão:

O tempo (período ) que leva um planeta para completar uma volta é a razão entre o comprimento da circunferência e velocidade:

Encontros espaciais[editar | editar código-fonte]

O objetivo deste programa é enviar uma nave da Terra a Marte e voltar para a Terra seguindo um caminho chamado de semielíptica órbita de transferência de Hohmann. Supõe-se que as órbitas da Terra e Marte são circulares e que as únicas forças na nave espacial são devido à ação do sol, ignorando as influências mútuas entre estes planetas e do navio.[3][6]

Primeiro, devemos fazer a viagem da Terra a Marte. Observar a magnitude das velocidades angulares dos dois planetas. Qual deve ser a distância angular entre a Terra e Marte no momento do lançamento da nave espacial chega a Marte ? Em que planeta tem que ir em frente?

Uma vez que alcança Marte, fazemos as mesmas perguntas para a viagem de volta para a Terra.

Movimento dos planetas[editar | editar código-fonte]

Movimento dos planetas.
Equação da dinâmica do
movimento circular uniforme.

Nós assumimos que os planetas Marte e Terra têm órbita circular em torno do Sol. Aplicando a equação da dinâmica do movimento circular uniforme,[3][6]

Onde:

é a massa solar
é o raio da trajetória circular descrita pelo planeta.

Para a Terra:

, de modo que

Para Marte:

, então

Órbita de transferência de Hohmann[editar | editar código-fonte]

Encontro do sol e da terra.
Equação da força de atração.

Assumimos influência insignificante dos planetas no movimento da nave espacial em sua viagem da Terra a Marte. A nave irá descrever uma órbita elíptica com um dos focos no Sol.[3][6] O periélio é o raio da Terra e o raio de Marte afélio .

Conhecida , pode-se determinar a velocidade da espaçonave no periélio e afélio é a velocidade de Marte e é a velocidade da Terra, aplicando as propriedades da força atrativa.

A força de atração entre a nave e o Sol é central, onde é o momento angular que permanece constante.

A força de atração é conservadora, a energia total permanece constante

Resolvemos o sistema de duas equações com duas incógnitas, substituindo e :

Dados: , e ,

Resultado: e

A órbita elíptica que descreve a nave espacial tem:

  • semieixo maior ;
  • excentricidade .

Movimento do corpo é uma certa altura acima da nave espacial[editar | editar código-fonte]

Considere primeiro o caso mais simples, o movimento de um corpo está em uma distância da espaçonave medido ao longo da direção radial e no momento inicial, tem a mesma velocidade. Ele libera o corpo e descobriram que se movem em órbitas diferentes.[3][6]

Movimento relativo

Vamos considerar dois casos que é positivo, a altura do corpo é maior do que a nave espacial, e é negativo, se a altura do corpo é menor que a da nave espacial.

A constância do momento angular e energia do corpo nos permitem calcular a distância máxima ou mínima e velocidade conhecida a distância mínima ou máxima de velocidade .

O sistema Terra-Lua fixo no espaço[editar | editar código-fonte]

Dados do sistema Terra-Lua:[3][6]

Massa da Terra,

Raio da Terra,

Massa da Lua,

Raio da Lua,

Distância entre a Terra e a Lua,

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Mecânica Celeste
  2. MECÂNICA CELESTE
  3. a b c d e f g h i j Vladimir A. Chobotov, Orbital Mechanics , AIAA, 2002 ISBN 1-600-86097-4
  4. Asger Aaboe, Episodes from the Early History of Astronomy, 2001, Springer-Verlag, ISBN 0-387-95136-9
  5. Forest R. Moulton, Introduction to Celestial Mechanics, 1984, Dover, ISBN 0-486-64687-4
  6. a b c d e f g h i j Howard Curtis, Orbital Mechanics for Engineering Students , Butterworth-Heinemann, 2013 ISBN 0-080-97748-0
  7. Uma Introdução à Mecânica Celeste
  8. a b Mecânica Celeste (em inglês)

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • LUIZ G. SPOLADORE, MECANICA CELESTE, ARGONIO ISBN 8-560-59902-9
  • John E. Prussing, Bruce A. Conway, Orbital Mechanics, Oxford University Press, 1993 ISBN 0-195-07834-9
  • Almeida, Ana Cristina, 1963-, ed. lit., Portugal. Biblioteca Nacional, ed. lit., Santos, Manuela, 1955-, ed. lit., CDU: Classificação Decimal Universal: tabela de autoridade, Biblioteca Nacional Portugal, 2005 ISBN 9-725-65395-5
  • Paulo Marques dos Santos, Instituto Astronômico e Geofísico da USP: memória sobre sua formação e evolução, EdUSP, 2005 ISBN 8-531-40878-4
  • Jan Vrbik, New Methods of Celestial Mechanics, Bentham Science Publishers, 2010 ISBN 1-608-05187-0
  • J. M. A. Danby, Fundamentals of Celestial Mechanics, 1992, Willmann-Bell ISBN 0-943-39620-4
  • Alessandra Celletti, Ettore Perozzi, Celestial Mechanics: The Waltz of the Planets, 2007, Springer-Praxis, ISBN 0-387-30777-X

Ligações externas[editar | editar código-fonte]