Mars One – Wikipédia, a enciclopédia livre

Bas Lansdorp, fundador da Mars One

Mars One foi um projeto criado em 2011 pelo engenheiro holandês, Bas Lansdorp, para instalar uma colônia humana permanente no planeta Marte e ocupá-la a partir de 2025. A ideia-base do projeto era que uma missão tripulada a Marte, projeto constantemente adiado pelas agências espaciais, é viável hoje com custos moderados (6 bilhões de dólares para a primeira fase[1]) usando tecnologias existentes, desde que se elimine a etapa de retorno, isto é, que as viagens sejam só de ida.

O projeto seria financiado através da exploração da expedição pela mídia, sob o modelo de reality show; Bas Lansdorp afirma, em fevereiro de 2014: "As pessoas não entendem que Mars One não é um Big Brother, e é lamentável ... Pretendo, na verdade, transmitir esse evento à maneira dos jogos olímpicos: serão jogos de exploração."[2] Mars One recusava-se a aceitar verba governamental, para não perder sua independência e evitar burocracia.

Críticos não imaginam como uma missão de colonização a Marte de 6 bilhões de dólares pode ser capitalizada apenas com patrocínios.[3][4] Para se ter uma ideia, apenas a sonda Curiosity custou sozinha 2,5 bilhões de dólares.[5] Não obstante, Mars One conta com "embaixadores" [6] de peso, como Gerardus 't Hooft, Prêmio Nobel de física de 1999, e a simpática mascote Alyssa Carson,[7] . Contava também com um leque respeitável de conselheiros,[8] dentre os quais o Dr. Robert Zubrin, presidente da Mars Society e autor de The Case for Mars. Nas palavras de 't Hooft:"Este projeto me parece ser a única maneira de realizar os sonhos de expansão da humanidade no espaço. Soa como uma experiência incrivelmente fascinante."

Financiamento[editar | editar código-fonte]

O projeto tinha, progressivamente, angariado patrocinadores (9 empresas até janeiro de 2014)[9] e investidores. Doações de pessoas físicas também são aceitas, uma vez que a empresa controladora era uma fundação sem fins lucrativos. Os organizadores recusam-se a divulgar o total de recursos conseguido até o momento; sabe-se apenas que aproximadamente meio milhão de dólares foram obtidos de doações, "crowdfunding", taxas de inscrição e venda de lembranças.

O modelo de negócio baseava-se no interesse do público. Se fosse grande, empresas se animariam a associar seus nomes ao projeto e entrar com recursos.

Decretou falência em fevereiro de 2019.

Tecnologias[editar | editar código-fonte]

Módulos[editar | editar código-fonte]

Cada módulo de base deve ser construído pela Lockheed Martin ou adaptado da cápsula Dragon[10] desenvolvida por Space X.[11] O lançador previsto para enviar esses módulos para Marte deve ser o Falcon Heavy,[12] também desenvolvido pela Space X, capaz de enviar 13 toneladas para Marte, que deve entrar em operação em 2015; seu fabricante tem o objetivo declarado de estabelecer colônias no planeta vermelho.

Cinco variantes do módulo estão previstas:

Módulos de armazenamento

Estes módulos são utilizados para enviar e armazenar o suprimento inicial da base. O primeiro deles contêm 2.500 kg de alimentos e equipamentos.

Módulos de sistema de suporte de vida

Estes módulos são responsáveis ​​pela produção e manutenção da atmosfera da base, a produção de eletricidade e a reciclagem de água.

  • A eletricidade deverá ser gerada a partir de painéis solares.
  • A água será recuperada usando-se um extrator que aquece o solo marciano para evaporar os cristais de gelo.
  • O oxigênio da base é gerado a partir de água coletada. Argônio e nitrogênio deverão ser filtrados diretamente da atmosfera marciana.
Módulos de habitação

Estes módulos servem de moradia para a tripulação de base. Incluem serviços básicos (cozinha, chuveiro, banheiro, etc.) e uma seção inflável, para aumentar o espaço útil. A seção inflável será coberta de solo marciano, para proteger seus ocupantes da radiação.[13] Os módulos serão dotados de equipamentos, para permitir a manutenção e ampliação da base, e de um sistema de estufas ("Plant Production Units") para garantir o alimentação dos colonos.[14][15]

O estudo conceitual desse sistema foi contratado à Paragon Space Development.[16]

Módulos de aterrissagem

Estes módulos correspondem às cápsulas anexas ao Mars Transit Vehicle, que serão usadas pelos astronautas para pousar em Marte. Elas podem ser interligadas com outros módulos de base, a fim de alargar o espaço vital.

Módulos de rovers

Estes módulos correspondem às cápsulas usadas para transportar os rovers para Marte. Não são projetados para serem conectados à base em Marte.

Datas[editar | editar código-fonte]

As datas de lançamento são determinados pela órbita de transferência de Hohmann entre a Terra e Marte.[17]

O programa inicial vem sofrendo sucessivos adiamentos. Em fevereiro de 2018, o plano é o seguinte:

2022
  • Missão de demonstração semelhante ao Phoenix da NASA, para testes de painéis solares, obtenção de oxigênio e outros experimentos; o estudo conceitual está a cargo da Martin Lockheed.[18] Também entrada em órbita estacionária de Marte de satélite de comunicações; estudo conceitual a cargo da Surrey Satellite Technology Ltd.[19]
2024
  • Satélite de comunicações (a ser estacionado em Lagrange 4 ou 5 da órbita terrestre) deverá ser lançado.
2026
  • "Rover" enviado para Marte, para selecionar local da colônia.
2029
  • Seis módulos (2 para habitação, 2 de suporte de vida, 2 de armazenamento) e um segundo rover chegam em Marte. Veículos levam os módulos ao terreno escolhido para a base e começam a leva-los e montá-los; em seguida, colocam os painéis solares. Os módulos de suporte de vida são então ativados e armazenam água e oxigênio para a chegada da primeira tripulação.
2031
  • Os módulos da nave espacial que levará astronautas a Marte são lançados a órbita e montados. Partida da nave espacial para Marte, com quatro pessoas a bordo.
2032
  • Aterrissagem da nave espacial. Os veículos levam os recém-chegados (dois homens e duas mulheres, cada um de um continente diferente) à base.
2034
  • Uma cápsula com um segundo grupo de quatro pessoas desembarca em Marte.

Candidatos a marcianos[editar | editar código-fonte]

  • Na etapa de candidaturas (abril a agosto de 2013) aproximadamente 200.000 pessoas iniciaram o processo de inscrição (sabe-se com certeza apenas que 2700 terminaram). Em 30 de dezembro de 2013, Mars One anunciou que selecionara 1058 para irem em frente no processo (etapa 2), dos quais 55% homens e 45% mulheres. Desses, 23 são do Brasil, 3 de Portugal, 1 de Angola e 1 de Moçambique. Nota-se uma forte tendenciosidade em prol de países de língua inglesa, devida provavelmente ao caráter internacional do projeto, que é divulgado principalmente nessa língua. Por exemplo, a África do Sul, uma vez que o inglês é uma das suas línguas oficiais, tem mais candidatos (25) na segunda etapa do que o Brasil, com apenas um quarto da população deste e o mesmo PIB per capita.
Continente Número de
candidatos selecionados
para a etapa 2
Outros detalhes[20]
Américas 458 (43,3%) Estados Unidos - 301 (28,4%)
Canadá - 75 (7,1%)
Brasil - 23 (2,2%)
México - 20 (1,9%)
Argentina - 9
Colômbia - 8
Chile - 4
Peru - 4
Bolívia - 3
Costa Rica - 2
Guatemala - 2
Equador - 1
Venezuela - 1
El Salvador - 1
República Dominicana - 1
Trinidad e Tobago - 1
Jamaica - 1
Honduras - 1
Europa 287 (27,1%) Rússia - 52 (4,9%)
Reino Unido - 36 (3,4%)
Espanha - 27
França - 22 (2,1%)
Alemanha - 21 (2,0%)
Polônia - 13
Ucrânia - 10
Suécia - 10
Romênia - 8
Bélgica - 6
Suiça - 6
Bielorrússia - 5
Bulgária - 5
Finlândia - 5
Dinamarca - 4
Sérvia - 4
Áustria - 4
Croácia - 4
Portugal - 3
Irlanda - 3
Bósnia e Herzegovina - 3
República Tcheca - 2
Eslováquia - 2
Lituânia - 2
Estônia - 2
Holanda - 2
Noruega - 2
Geórgia - 2
Holanda - 2
Hungria - 2
Chipre - 2
Moldávia - 2
Letônia - 1
Grécia - 1
Eslovênia - 1
Montenegro - 1
Oriente Médio 65 (6,1%) Israel - 10
Egito - 10
Irã - 9
Turquia - 6
Arábia Saudita - 5
Iraque - 3
Emirados Árabes Unidos - 3
Paquistão - 2
Azerbaijão - 2
Argélia - 2
Afeganistão - 2
Marrocos - 2
Jordânia - 2
Líbano - 2
Catar - 1
Palestina - 1
Iêmen - 1
Síria - 1
Líbano - 1
Ásia 164 (15,5%) Índia - 62 (5,9%)
China - 40 (3,8%)
Filipinas - 13
Japão - 10
Vietnã - 5
Bangladesh - 5
Indonésia - 5
Formosa - 5
Coreia do Sul - 4
Tailândia - 2
Nepal - 2
Miamar - 2
Cazaquistão - 2
Malásia - 1
Singapura - 1
Tadjiquistão -1
Uzbequistão - 1
Hong Kong - 1
Quirguistão - 1
Maldivas - 1
África Subsaariana 38 (3,6%) África do Sul - 25 (2,4%)
Zimbabwe - 3
Nigéria - 2
Camarões - 2
Ruanda - 1
Etiópia - 1
Uganda - 1
Quênia - 1
Angola - 1
Moçambique - 1
Oceania 46 (4,3%) Austrália - 43 (4,1%)
Nova Zelândia - 3
Total 1058 107 países ao todo.

Os 10 países com mais candidatos na etapa 2, bem como a repartição por gênero para cada um, são mostrados na seguinte tabela:[21]

Candidatos por nacionalidade Total Homens Mulheres
Estados Unidos 297 149 148
Canadá 75 32 43
Índia 62 40 22
Rússia 52 22 30
Austrália 43 23 17
China 40 21 19
Reino Unido 36 17 19
Espanha 27 18 9
África do Sul 25 20 5
Brasil 23 11 12

Dos selecionados para a segunda etapa, 36% têm graduação universitária, 15% mestrado, 8% doutorado, 3% são médicos, 1% advogados.

  • Em dezembro de 2014, 663 candidatos permanecem na disputa[22]. Os países com mais de 10 candidatos ainda na competição são listados na tabela:
Candidatos por nacionalidade Total
Estados Unidos 191
Canadá 53
Índia 40
Rússia 30
Austrália 26
Reino Unido 22
África do Sul 19
Espanha 18
França 16
Alemanha 15
Brasil 13
China 12

Além dos vídeos de candidatura, alguns deram entrevistas para a televisão[23][24][25][26] e internet[27] e outros explicam suas motivações em documentários.[28][29][30]

Em 16 de fevereiro de 2015, após entrevistas, a etapa 2 foi encerrada. Passaram 100 candidatos para a etapa 3, dos quais 50 homens e 50 mulheres. Dos 100, 33 são dos EUA, 3 da América Latina (Brasil, representado pela candidata Sandra[31], Bolívia, pela Záskia e Uruguai pelo Yuri Lopez). A metade dos candidatos aprovados tem mais de 31 anos, o mais velho com 61. Doze têm doutorado.[32]

Críticas[editar | editar código-fonte]

Joseph Roche, um dos finalistas descreveu em março de 2015, tudo como uma "autêntica farsa". Roche disse que os selecionados ganham pontos para passar nas fases seguintes de forma aleatória e sem um qualquer sistema de ranking. A única maneira de conseguir ganhar pontos é comprando mercadorias necessárias para levar na viagem até Marte ou doando dinheiro.

Os candidatos receberam uma lista de dicas e truques para lidar com as solicitações dos órgãos de comunicação social. Se os candidatos fossem pagos para dar entrevistas, a Mars One solicitava que eles doassem 75% do lucro arrecadado para o projeto.

O processo de seleção foi resultado de apenas uma única chamada de 10 minutos pelo Skype (fora a bateria de exames médicos físicos e mentais, que os candidatos tiveram que fazer em particular, enviando os resultados para os organizadores).[33]

Com dois adiamentos de 2 anos em curto intervalo de tempo, o projeto demonstra estar encontrando dificuldades de obter o aporte financeiro necessário para sua consecução.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. How much does the mission cost?
  2. http://television.telerama.fr/television/mars-one-cherche-dollars-pour-decoller,108173.php
  3. Can the Dutch do reality TV in space?
  4. «Permanent Human Settlement on Mars?». Consultado em 10 de dezembro de 2012. Arquivado do original em 1 de outubro de 2012 
  5. Sonda interplanetária da Nasa aterrissa em Marte
  6. http://www.mars-one.com/about-mars-one/ambassadors
  7. http://www.mars-one.com/about-mars-one/ambassadors/alyssa-carson
  8. http://www.mars-one.com/about-mars-one/advisers
  9. http://www.mars-one.com/partners/silver-sponsors
  10. «SpaceX Brochure» (PDF). Consultado em 10 de setembro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 20 de março de 2012 
  11. Technology
  12. http://www.spacex.com/falcon-heavy
  13. Will the astronauts suffer from radiation?
  14. Will the astronauts have enough water, food and oxygen ?
  15. Plant production units
  16. http://www.paragonsdc.com/index.php?action=viewPost&postID=50
  17. «how has Mars One managed to work out the dates already?». Consultado em 10 de setembro de 2012. Arquivado do original em 29 de agosto de 2012 
  18. http://www.lockheedmartin.com/us/news/press-releases/2013/december/1210-ss-marsone.html
  19. http://www.sstl.co.uk/Press/SSTL-selected-for-first-private-Mars-mission
  20. «Cópia arquivada». Consultado em 12 de fevereiro de 2014. Arquivado do original em 10 de junho de 2016 
  21. http://mybroadband.co.za/news/general/94863-mars-one-human-colony-mission-sa-in-top-10.html
  22. http://cdn.mars-one.com/images/uploads/663_Candidates_November_2014.xls
  23. http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2014/01/catarinense-e-pre-selecionado-para-projeto-de-colonizacao-em-marte.html
  24. «Cópia arquivada». Consultado em 24 de fevereiro de 2014. Arquivado do original em 27 de fevereiro de 2014 
  25. «Cópia arquivada». Consultado em 25 de fevereiro de 2014. Arquivado do original em 7 de dezembro de 2014 
  26. http://rt.com/news/158216-mars-one-way-ticket/
  27. http://strivengrind.com/trip-to-mars-heidi-beemer/
  28. http://vimeo.com/62272502
  29. https://www.sheffield.ac.uk/news/nr/mars-mission-could-solve-earth-biggest-issues-says-university-of-sheffield-student-1.340116
  30. http://rt.com/news/210171-mars-one-mission-russian/
  31. http://www.folharondoniense.com.br/geral/porto-velhense-e-unica-brasileira-entre-100-selecionados-para-viagem-marte/
  32. http://www.mars-one.com/news/press-releases/the-mars-100-mars-one-announces-round-three-astronaut-candidates
  33. «Finalista da viagem só de ida para Marte acusa: "É uma farsa"»