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Lago Chade
Localização
País Chade, Camarões, Níger, Nigéria
Características
Área * (a diminuir) 1350 km²
Profundidade média 1,5 m
Profundidade máxima 10,5 m
Afluentes Rio Chari
Mapa do Lago Chade
Mapa do Lago Chade
* Os valores do perímetro, área e volume podem ser imprecisos devido às estimativas envolvidas, podendo não estar normalizadas.

O Lago Chade é um grande lago localizado no continente africano, nas proximidades do centro geográfico do continente. É muito importante economicamente por fornecer água para cerca de 20 milhões de pessoas nos quatro países localizados ao seu redor: Chade, Camarões, Níger e Nigéria.

No interior de sua área original ficam os 87 km da fronteira Chade-Nigéria, entre as duas fronteiras triplas, a do Níger, Chade e Nigéria, e a da Nigéria, Chade e Camarões.

História[editar | editar código-fonte]

Sua denominação "Tchad" vem de longa data e tem sua origem Língua canembu do Chade. Foi descoberto pelos europeus em 1823, por meio da expedição de Hugh Clapperton - Dixon Denham. Diversos exploradores alemães ali estiveram no século XIX (Heinrich Barth em 1851, Adolf Overweg em 1853, "Vogel" em 1854, Gerhard Rohlfs em 1866 e Gustav Nachtigal em 1870. Mais para o final desse século ali foram exploradores franceses ("Monteil" em 1892, "Gentil" em 1899). Por essa época, o líder guerreiro sudanês, Rabah, devastou o local para ser Sultão de Bornu.

A expedição Foureau-Lamy já no início do século XX, entre 1900 e 1903, explorou a região do lago. A delimitação das áreas ao redor do lago, entre França (no Chade e Níger), Inglaterra (na Nigéria, Alemanha (em Camarões), ocorreu entre 1904 e 1906. Na região costeira do Níger (N.Kouri) se estabeleceram pequenos sultanatos: Maradi, Tessana, Zinder, Gurselique. Mais recentemente, em 1950, ali esteve o explorador francês Georges Destenave.[1]

Características[editar | editar código-fonte]

Trata-se de um lago de água doce, o que é incomum para um lago endorreico (cujas águas não se conectam ao mar). Devido à sua profundidade bastante rasa, com apenas aproximadamente 7 a 10,5 metros em seu ponto mais fundo, o lago apresenta variações significativas sazonais em relação à sua área ocupada. Além disso, o lago possui uma vegetação predominantemente composta por pradarias, em consonância com o clima semiárido.

A bacia hidrográfica teórica do Lago Chade é de 2 280 000 km², cerca de 7,8% da África. Porém, a bacia ativa não passa de 970 000 km². Cerca de 90% da água do lago vem do Rio Chari e do seu afluente Rio Lagone, vindos ambos de montanhas da República Centro Africana e que formam o remanescente sul do lago. Separada dessa parte sul do lago, fica a área alagada do norte (10% do total), formada pelo rio Comadugu Iobe, que vem da Nigéria e, chega enfraquecido por duas barragens, que reduziram seu fluxo de 7 km³ para 0,45 km³ anuais. Essa separação entre as duas partes do lago prejudicou a área norte, cuja perda hídrica foi compensada por intensa perfuração de poços..[2]

Geografia[editar | editar código-fonte]

O Lago Chade se localiza no centro geográfico da África (sem as ilhas, Madagascar e demais). A área atual do (incluindo as partes apenas úmidas) é aproximadamente um triângulo retângulo cujo ângulo reto fica no sudoeste. A nordeste fica a região de Canem (hoje no Chade), a sudoeste a região do antigo império Bornu. A altitude é da ordem de 260 m.

A bacia do Lago Chade, além do Rio Chari, é formada pelos rios Comadugu Gana, Iobe, Neguala. Fica entre as bacias dos rios Benué e Rio Níger a oeste, rios Ubangui e Congo ao sul, rio Nilo Branco a leste. Em períodos de cheia no passado, por volta de 4 000 a.C. já extravasou a sudeste na depressão Bahr el-Ghazal do Sudão

Evolução[editar | editar código-fonte]

A evolução da extensão do lago Chade desde 1973 a 2001

Pesquisas geológicas informam que o Deserto do Saara logo após os períodos glaciares apresentava condições climáticas bem mais amenas do que as atuais e que a área realmente desértica era bem menor do que a atual. A área saariana era quase toda coberta por uma vegetação com florestas do tipo mediterrânea, em especial nos maciços centrais, cercadas por muitos lagos e pradarias mais secas, onde abundava uma rica e luxuriante fauna.

Conforme se alternavam períodos úmidos ou secos, o lago Chade ia se expandindo ou se retraindo, porém, a partir de 4 000 a.C. até hoje, a redução das águas do lago foi sendo rápida, enquanto que as áreas desérticas se ampliavam.

Variações[editar | editar código-fonte]

As variações na superfície do Lago Chade mostram como o mesmo foi se retraindo: (tamanho da Gronelândia, do México)

  • há uns 50 000 anos, sua área era de 2 000 000 de km². (tamanho da Gronelândia ou do México)
  • há uns 20 000 anos, desapareceu em função da aridez dos trópicos que se seguiu à glaciação
  • por volta de 9 500 a.C., cresceu em função das muitas chuvas na região do Tibesti, teve uma profundidade de 15 m, antes de se reduzir a situação de hoje, por volta de 9 000 a.C.
  • por volta de 7 000 a.C., teve uma profundidade de cerca de 40 m, antes de voltar à situação atual por volta de 5 500 a.C.
  • por volta de 4 000 a.C., a profundidade já era de 60 m e cobria cerca de 1 000 000 km². (tamanho da Bolívia, muito mais do que o tamanho atual. Voltou à situação atual por volta de 2 000 a.C. Era um mar grande interior (mais que o dobro do Mar Negro) da África que secou deixando uma bacia de areia
  • por volta de 1 000 a.C., tinha uma profundidade de 17 m
  • Em 1908 era um grande terreno pantanoso com dois pequenos lagos, um no norte, um no sul, depois seu nível cresceu novamente.
  • Em 1963 sua área era entre 23 000 e 25 000 km²
  • Em 2001 a sua superfície desce até 4000 km²
  • Em 2008 as suas dimensões eram de cerca de 30 km por 40 km (uns 2500 km²) onde desaguavam o Rio Chari e o Rio Logone. Cobria então menos de 10% da área da década de 1960.[3]

Clima[editar | editar código-fonte]

O clima no Lago Chade é bem quente e seco, com fracas e variáveis precipitações - são entre 94 a 565 mm, dos quais 90% se acumulam entre junho e setembro. As margens do sul são mais úmidas do que as do norte. O efeito da evaporação é significativo, em especial no período seco, a salinidade não aumente em nada, pois as águas mais salgadas, mais pesadas, se perdem no sub-solo do lago.[2]

Ambiente[editar | editar código-fonte]

Acredita-se que foi formado a partir de um mar que secou com as mudanças climáticas dos últimos treze mil anos. A grande demanda de água do lago tem acelerado este processo e acredita-se que o lago pode desaparecer nos próximos anos. A profundidade média atual do lago é de um metro e meio. Não há nenhuma navegação. Os efeitos do aquecimento global, também podem estar relacionados com este problema.[4]

Na década de 1960 tinha uma área superior a 26 000 km², o que o tornava o quarto maior lago de África. No ano 2000 a sua extensão tinha já caído para menos de 1500 km², sendo hoje inferior a 1350 km². A forte queda do Índice pluviométrico junto com grande utilização das suas águas e dos rios que o alimentam para irrigação contribuíram para essa redução de superfície líquida. Entre 1960 e 2005 a população da área dobrou e entre 1983 e 1994 a irrigação quadruplicou.

O recuo maior do lago foi entre os anos 1970 e 80 houve algumas vantagens.As terras emersas, ainda úmidas, permitiram diversas culturas agrícolas bem produtivas, em especial do lado chadiano. As terras irrigadas passaram a ser de 135 000 hectares, dos quais 100 000 na Nigéria..[2]

A NASA financiou, dentro de seu sistema de observação da Terra, um estudo sobre o Lago Chade, cujas variações são monitoradas por satélite artificial, permitindo que as populações do local sejam informadas acerca das variações previstas.

Futuro[editar | editar código-fonte]

A salinidade da bacia norte vem aumentando muito com a entrada de água para o local ficando cada vez menor, o que vem causando a extinção de muitas espécies animais e vegetais, com posterior crescimento da erosão. A pesca, que já caiu de 243 000 toneladas atuais em 1970-77 para somente 56 000 em 1986-89, continua a diminuir, fazendo a população local perder ganhos substanciais, uma vez que as regiões costeiras do lago em Camarões e na Nigéria estão entre as mais pobres dos respectivos países. A falta de Água potável vem crescendo como problema, causando mais casos de diarreia, cólera e tifo.

Há, assim, projetos previstos para solucionar esse crescente problema ambiental:

Transferência da Bacia do Congo[editar | editar código-fonte]

Projeto de transposição de bacias

Para salvar o lago há um antigo projeto do início do século XX, o chamado Transaqua, que era a transferência de água entre bacias, a partir de afluentes do Rio Congo para o Lago Chade, via um grande canal no vale do Rio Chari.

Um projeto de 1990 previa barrar o curso de diversos rios importantes do noroeste da República Democrática do Congo, separando uma parte das sua vazões levá-las para um lago artificial construído sobre o Rio Ubangui em Bangui. Um canal transportaria essa águas na linha de separação das Bacias dos rios Chari e Congo, até juntarem-se ao Rio Chari e daí ao Lago Chade. O conjunto seria uma importante via navegável internacional. O volume de transferência de água seria da ordem de 100 bilhões de metros cúbicos de água por ano (cerca de 3150 metros cúbicos por segundo).

As barreiras seriam nos afluentes do Rio Ubangui, do Aruwimi, do Rio Lindi do Lowa, todos afluentes da margem direita do rio Congo, no quarto nordeste da R.D. Congo e sul da República Centro-Africana. O canal total deveria ter da ordem de 2400 km de extensão, metade disso na bacia do Rio Chari.

Situação hoje[editar | editar código-fonte]

Mais dois projetos estão hoje em desenvolvimento, ambos prevendo transferir parte da água do Rio Ubangui via um canal de 1350 km. É preciso notar que se fazia necessário ter a concordância da República Democrática do Congo e também o Congo, para tomar as águas do Ubangui desde a República Democrática do Congo, para formar uma fronteira entre a República Centro-Africana e o Congo. O acordo foi finalizado em 2005.

Em março de 2008, Nigéria, Níger e Chade chegaram ao acordo para seguir em frente e obter as verbas para esse uso das águas do Rio Ubangui em 2008.[5][6]

O estudo de viabilidade depende de verbas de cinco milhões de dólares da parte da Nigéria, uma potência petrolífera e econômica da região. A verba dos demais quatro países "CLBT" (Comissão da Bacia do Lago Chade), Camarões, República Centro-Africana, Níger, Chade, um milhão de dólares, completaria o necessário para a implantação. Agora os estudos se reiniciam em 2009.

Referências

  1. "Encyclopedia e Diccionario Internacional" - W.M. Jackson Inc. RJ-NY - 1920 - Vol.19 - pgs. 11226/7
  2. a b c PNUE, Afrika's Lakes, Atlas of Our Changing Environment, p. 22 ss.
  3. O "plano B" para um pacto ecológico mundial - Lester R.Brown Calmann-Lévy/ Edições "Souffle Court" - 2007
  4. EO - Africa's Disappearing Lake Chad (em inglês)
  5. Voice of America : African leaders team up to rescue Lake Chad (mars 2008)[ligação inativa] (em inglês)
  6. Tribune de Genève : Un projet pharaonique mais vital pour 22 millions de personnes (novembre 2008)[ligação inativa] (em francês)

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Moustapha Abakar Malloumi, La coopération sous-régionale et la gestion durable des eaux du lac Tchad.
  • Michel Alain Roche, Traçage naturel salin et isotopique des eaux du système hydrologique du lac Tchad.
  • Jean-Paul Lebeuf, Carte archéologique des abords du lac Tchad : Cameroun, Nigeria, Tchad.

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