Língua fur – Wikipédia, a enciclopédia livre

Fur

bèle fòòr

Falado(a) em: Sudão, Chade
Região: Darfur
Total de falantes: 3 000 000
Família: Nilo-saariana
 línguas fur
  Fur
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ssa
ISO 639-3: fvr

A língua fur (também chamada bèle fòòr ou fòòraŋ bèle, em árabe فوراوي fûrâwî; ou ainda konjara, tal como é chamada por alguns linguistas) é o idioma do povo “fur” de Darfur, no oeste do Sudão. Classifica-se no ramo das línguas fur da família nilo-saariana, tendo cerca de 3 milhões de falantes.

Fonologia[editar | editar código-fonte]

Distribuição geográfica da língua fur

O alfabeto latino é utilizado, quase sempre com a pronúncia padrão do IPA, exceto j = [ɟ], ñ = [ɲ] e y = [j]. z ocorre somente como um alófono de y. O /h/ é muito raro. Consoantes vindas do árabe são usadas para palavras de origem externas.

Consoantes[editar | editar código-fonte]

  • Bilabiais: f b m w
  • Dentais alveolares: t d s n l r
  • Palatais: j ñ y
  • Velares: k g (h) ŋ

C, P, Q, X e V não existem no alfabeto fur;

/f/ varia numa faixa entre [p] e [f];

Vogais[editar | editar código-fonte]

São as mesmas latinas a e i o u, havendo dúvida se as variantes fonéticas como ɛ, ɔ, ɪ, ʊ são vogais separadas ou não.

Há indicações sublinhadas de tons: L (baixo) e H (alto); Há os L, H médios, HL e LH.

Ocorrem muitas “metáteses” que são regulares e gramaticalmente comuns, quando um prefixo consonantal de pronome se fixa antes a um verbo que começa por consoante. Essa consoante do verbo ora desaparece, ora troca de posição com uma vogal. Exemplos: lem- "lamber" > -elm-; ba- "beber" > -ab-; tuum- "construir" > -utum-. Há também muitas assimilações.

Morfologia[editar | editar código-fonte]

Plurais[editar | editar código-fonte]

Nos substantivos e ocionalmente nos adjetivos os plurais são formados com o sufixo -a (-ŋa depois de vogal): àldi "história" > àldiŋa "histórias", tòŋ "tipo de antílope"> tòŋà "antílopes"; bàin "velho" > bàinà "velhos". Esse sufixo também forma a 3a pessoa do plural (inanimados) do verbo lìiŋ "ele banha" > lìiŋa "eles (inanimados) banham", kaliŋa "eles (animados) banham".

Adjetivos com vogais finais podem ter plural com -là ou com -ŋa: lulla "frio" > lullalà ou lullaŋà "frios". Um sufixo similar metatizado e assimilado fica -òl/-ùl/-àl é usado como plural de verbos em alguns tempos.

Uns poucos substantivos de forma CVV tomam no plural o sufixo z'-ta; ròò "rio" > ròota "rios"; rèi "campo" > rèito "campos".

Há dois substantivos que tomam o sufixo -i: koor "lança" > koori "lanças", dote "rato" > kuuti "ratos".

Substantivos com prefixo singular d- (> n- antes de nasal) mudam no plural para prefixo k-; São assim cerca de 20% dos substantivos Fur. Nos casos de partes do corpo entre outros, o k- vem junto com um L. Exemplos: dilo "ouvido" > kilo "ouvidos"; nuŋi "olho" > kuŋi "olhos"; dagi "dente" > kàgi "dentes"; dòrmi "nariz" > kòrmì "narizes".

  • Em alguns casos o singular tem o sufixo , não presente no plural: daulaŋ "sapato" > kaula "sapatos", dìroŋ "evo" > kìrò "ovos".
  • Há alguns outros sufixos plurais, além dis já listados: nunùm "granário" > kunùmà "granáriosz, nuum "serpente" > kuumi "serpentes", dìwwo "novo" > kìwwolà "novos"
  • Em outros casos se usa o sufixo-(n)ta: dèwèr "porco espinho" > kèwèrtà "porcos espinho"; dàwì "cauda" > kàwìntò "caudas".
  • Um único substantivo (uu), o interrogativo “qual”, e também os demonstrativos têm o plural com o prefixo k-L: uu "vaca" > kùù; ei "qual" > kèì "quais".
  • Há também plurais sem singular, tais como os líquidos e outros, começando por k-L-a; kèwà "sangue", kòrò "água", kònà "nome, canção".

Substantivos[editar | editar código-fonte]

São dois os casos gramaticais para substantives:

  • Locativo – marcado pelo sufixo -le ou mudando o “tom” da sílaba final: tòŋ "casa" > toŋ "na casa"; loo "local, lugar", kàrrà "longe" > loo kàrrà-le "num local distante".
  • Genitivo – marcado pelo sufixo -iŋ (sem o i depois de uma vogal) No caso possessivo, quem possui vem antes do que é possuído: nuum "serpente" > nuumiŋ tàbù "cabeça da serpente"; jùtà "floresta" > kàrabà jùtăŋ "animais da floresta".

Pronomes[editar | editar código-fonte]

Sujeito independente:

Eu ka Nós ki
Você ji Vocês bi
Ela, ela, neutro ie Eles, elas ìè-èŋ

Os pronomes objetos também não têm tom baixo e de ter um -ŋò adicionado às formas plurais:

Pronomes sujeitos prefixados.

Eu - (indica metátese) Nós k-
Você j- Vocês b-
Ele, ela, neutro - (sobe o tom da vogal; *i-) Eles (animado)
Eles (inanimado)
k- (+pl. sufixo)
(*i-) (+pl. sufixo)

Assim, por exemplo, no verbo bu- "cansar":

Eu cansei ùmô Nós cansamos kùmô
Você cansou jùmô Vocês cansaram bùmô
Ele, ela cansou buô Eles, elas cansaram kùmul

gi, ditto com um “pronome objeto participante” representa os objetos de primeira ou segunda pessoa, dependendo do contexto.

Possessivos (singular; pegam K para substantives plurais):

meu(s), minha(s) duiŋ nosso(s), nossa(s) daìŋ
teu(s), tua(s) diiŋ de vocês dièŋ
dela, dela deeŋ deles, delas dièŋ

Verbos[editar | editar código-fonte]

O sistema verbal Fur é bem complicado, com uma grande variedade de formas de conjugação, havendo três tempos marcados (presente, passado, futuro), também se marca o subjuntivo. Há marcação de asaspecto apenas no passado.

Há sufixos derivacionais como -iŋ (intransitivo / reflexivo). Exemplo: lii "ele lava" > liiŋ "ele se lava; Ocorrem geminações da consoante medial mais -à/ò como no intensivo jabi "cair" > jappiò/jabbiò "jogar para baixo".)

A negação é feita pelos marcadores a-...-bà antes e depois do verbo: a-bai-bà "ele não bebe".

Adjetivos[editar | editar código-fonte]

A maior parte doa adjetivos têm duas sílabas e uma consoante geminada medial: àppa "grande", fùkka "vermelho", lecka "doce". Alguns têm três sílabas: dàkkure "sólido".

Advérbios se derivam de adjetivos pela adição do sufixo -ndì ou -n com menor na vogal: kùlle "rápido" > kùllendì ou kùllèn "rapidamente".

Substantives abstratos também se derivam de adjetivos pela adição do sufixo -iŋ e pela redução de todos os tons:dìrro "pesado" > dìrrìŋ "peso (figurado)".

Fontes[editar | editar código-fonte]

  • A. C. Beaton. A Grammar of the Fur Language. Linguistic Monograph Series, No. 1. Khartoum: Sudan Research Unit, Faculty of Arts, University of Khartoum 1968 (1937).
  • Angelika Jacobi, A Fur Grammar. Buske Verlag: Hamburg 1989.
  • Constance Kutsch-Lojenga & Christine Waag, "The Sounds and Tones of Fur", in Occasional Papers in the Study of Sudanese Languages No. 9. Entebbe: SIL-Sudan 2004.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]