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Joaquim Lopes de Barros Cabral
Nascimento 8 de fevereiro de 1816
Rio de Janeiro
Morte 6 de novembro de 1863
Cidadania Brasil
Ocupação pintor

Joaquim Lopes de Barros Cabral Teive (Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de 18166 de novembro de 1863) foi um pintor acadêmico, cenógrafo, figurinista, arquiteto, professor e caricaturista brasileiro.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Foi aluno na primeira turma da Academia Imperial de Belas Artes a partir de 1833, tendo aulas de pintura de Jean-Baptiste Debret e de arquitetura de Grandjean de Montigny.[1] Em 15 de novembro de 1849 foi empossado como professor substituto de desenho,[2] tornando-se catedrático de pintura histórica em 1857.[1] Sua nomeação foi feita pelo ministro dos Negócios do Império, mas foi denunciada como contrária aos estatutos pelo diretor da Academia, Manuel de Araújo Porto-Alegre, além de criticá-lo como incompetente para a função, chamando-o de "homem quase analfabeto", "empregado relaxado, mentiroso e inimigo das novas aulas". Inconformado, Porto-Alegre pediu exoneração.[3] Francisco Marques dos Santos disse que já existia antes uma rivalidade entre os dois: "Porto-Alegre [...] até mesmo criou a serpente que o deveria alijar da Academia: seu ex-diletíssimo aluno Joaquim Lopes de Barros Cabral, ao qual tanto elogiara em jornais e do qual se tornou inimigo atroz, desde a época em que se desavieram por cenográficas competições".[4]

Barros Cabral lecionou na Academia Imperial até 1860.[1] No ano seguinte foi eleito professor adjunto de desenho da Escola da Marinha.[5] Produziu muitas pinturas e diversas cenografias, figurinos e decorações.[1][6][7] Expôs nas duas primeiras mostras de obras de alunos e professores, em 1829 e 1830, na Exposição Geral de Belas Artes, edições de 1842, 1843, 1944, 1850, 1852 e 1860, e postumamente nas edições de 1879 e 1884.[1] Foi membro fundador da Sociedade Propagadora das Belas Artes em 1856, integrando a primeira Comissão Artística.[8] Faleceu no dia 6 e foi sepultado no dia 7 de novembro de 1863. A causa mortis foi "estreitamento da uretra".[9]

Obra[editar | editar código-fonte]

Interior de um cárcere (Cena de "António José, ou O Poeta e a Inquisição", de Domingos José Gonçalves Magalhães, 5º ato), pintura, 1860

Referências literárias citam uma produção significativa em pintura,[1] nos gêneros de pintura histórica — entre estas Passagem do Exército Brasileiro no Rio Negro: fronteira do Estado Oriental, 1852, Cena do naufrágio do vapor Pernambuco, 1860, e Interior de um cárcere: cena do quinto ato da tragédia Antônio José, 1860,[10][11] que são influenciadas pela escola romântica[12] —, retratos, paisagens e temas religiosos, mas poucas obras chegaram aos dias de hoje.[1] Foi incumbido da pintura decorativa do Teatro São Pedro de Alcântara,[13] e quando o teatro foi reconstruído, após ter sido consumido em um incêndio em 1856, fez uma nova decoração. Na Revista da Semana foi dito que "a reputação que goza o sr. Lopes de hábil desenhador e fecundo talento é uma dupla garantia para o novo teatro".[14] Em 1861 pintou o teto e painéis laterais da capela-mor da Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens no Rio de Janeiro.[1]

Recebeu duas medalhas de ouro nas Exposições Gerais, em 1850 e 1860,[15] e menção honrosa em 1862,[16] mas parece ter sido mais apreciado como cenógrafo.[1][12] Também assinou alguns figurinos.[6] No Correio Mercantil foi elogiado em 1849 pelo cenário da peça A degolação dos inocentes: "Linco e rico cenário, todo novo, delineado e executado pelo bem conhecido artista pintor sr. Joaquim Lopes de Barros Cabral".[17] Em O Brazil Artístico em 1857 foi louvado pelo cenário para a peça A freira sanguinária: "Não é de um artista desconhecido que tratamos, nem esta é a sua primeira obra de merecimento, mas era surpreendente o efeito desta cena, e para mostrá-lo basta-nos dizer que o público entusiasmado aplaudiu a vista, chamando o autor ao palco para saudá-lo com vivas e parabéns".[7] Foi cenógrafo da Companhia Ópera Nacional, sediada no Ginásio Dramático, que funcionou entre 1858 e 1860.[18] Segundo José Soares de Souza, escrevendo em 1958, "foi cenógrafo de renome e a sua especialidade era o desenho. [..] Fez-lhe justiça Porto Alegre em artigo no Guanabara, ainda que o malsinasse como homem em sua autobiografia. É, contudo, Lopes de Barros um artista muito pouco conhecido, quase nada existindo sobre sua vida e sua arte".[6]

Na década de 1840 publicou na revista Semana Ilustrada 50 litografias integrando a série Costumes do Brasil, retratando o cotidiano dos trabalhadores negros. Notícias da época citam a coleção como a primeira a ser divulgada no Brasil tratando dos costumes nacionais. Segundo Daniel Alcântara de Sá, essas imagens são geralmente classicistas e idealizadas, sugerindo que a vida dos negros era tranquila, e suas representações se assemelham "às imagens de artistas viajantes vindos da Europa. Por meio de similaridade estética e olhar europeizado, seria possível categorizar Lopes Cabral Teive como um artista viajante, embora fosse nascido no Brasil".[19] Também produziu caricaturas na década de 1850, destacando-se as publicadas na revista Brasil Ilustrado e no Álbum do Pintamonos.[1]

Construiu o Teatro Apolo do Recife, inaugurado em 1846,[20] e em 1860 foi encarregado da construção e decoração do novo teatro da Companhia Teatral do Catete no Rio.[21]

Imagens[editar | editar código-fonte]

Litografias de Cabral Teive, em "Costumes brasileiros", 1840/1841:

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j "Cabral Teive". In: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023
  2. "Parte Official". Diario do Rio de Janeiro, 25/11/1849, p. 1
  3. Galvão, Alfredo. "Manuel de Araújo Porto-Alegre -sua influência na Academia Imperial das Belas Artes e no meio artístico do Rio de Janeiro". In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1959 (14): 107-109
  4. Santos, Francisco Marques dos. "Um caso de política artística: Manoel de Araújo Pôrto-alegre versus Félix-Emílio Taunay". In: Anuário Brasileiro de Literatura. Globo, 1943, 355
  5. "Noticiario". Diario do Rio de Janeiro, 01/05/1861, p. 1
  6. a b c Souza, José Antônio Soares de. "O Teatro São Pedro de Alcântara, em 1840". Jornal do Brasil, 3º Caderno, 09-10/02/1958, p. 25
  7. a b "Chronica artistica". In: O Brazil Artistico, 1857 (I): 52
  8. Silva, Francisco Joaquim Bittencourt da. "Discurso". In: O Brazil Artistico, 1857 (I): 29
  9. "Obituario". Diario do Rio de Janeiro, 09/11/1863, p. 1
  10. Christo, Maraliz de Castro Vieira. "Pintura histórica nas Exposições Gerais da Academia Imperial de Belas Artes". In: Anais do XXXII Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte: direções e sentidos da história da arte, 2021, pp. 543-558
  11. Squeff, Letícia Coelho. "Uma coleção da Academia: a coleção Escola Brasileira". In: Anais do XXVI Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte, 2006, pp. 361-372
  12. a b Sá, Daniel Alcântara de. Musealização e negras de ganho: práticas museológicas e apropriação de imagens oitocentistas do Rio de Janeiro. Mestrado. UNIRIO/MAST, 2020, pp. 73-74
  13. Azevedo, Moreira de. "Theatro de S. Pedro de Alcantara (continuação)". In: Archivo Municipal, 1862; IV (185): 3
  14. "Noticias artisticas". A Semana, 31/08/1856, p. 345
  15. Nascimento, Ana Paula. Espaços e a representação de uma nova cidade: São Paulo(1895-1929), vol. 2. Doutorado. Universidade de São Paulo, 2009, pp. 321; 325
  16. "Exposição Nacional". Correio da Tarde, 13/03/1862, p. 2
  17. "Theatros". Correio Mercantil, 02/03/1849, p. 4
  18. Barata, Mário. "Teatro - a grandeza da espécie humana". In: Casa dos Artistas, 24/08/1918-24/08/1937, p. 142 - Edição Especial
  19. Sá, pp. 32; 45; 69
  20. Bento, Emannuel. "O teatro secular que deu nome a uma rua e a um cais no Bairro do Recife". Jornal Digital, 4/07/2023
  21. "Um theatro no bairro do Cattete". Jornal do Commercio, 25/09/1860, p. 2