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João Martins Ricalde
João Martins Ricalde
Nascimento 1540
Bilbau
Morte 23 de outubro de 1588
Corunha
Cidadania Espanha
Filho(a)(s) Juan Fernández de Recalde
Ocupação oficial
Lealdade Espanha

João Martins Ricalde (Bilbau, c. 1540 – Corunha, 23 de outubro[1] de 1588) ou João Martins da Riqua que corresponde a João Martins da Rica (ao que parece indicar a sua grande riqueza em bens materiais e estatuto, tal como Ricalde que é Senhor em basco[2] ou mesmo Poderoso Senhor[3]) ou Juan Martínez de Recalde em castelhano, foi um almirante e mercador ou provedor das armadas,[4] com ligações à Biscaia e a Viana do Castelo, que esteve ao serviço da coroa espanhola nos Países Baixos e no Reino de Portugal que na altura passaram a pertencer ao Império Espanhol. Terá sido o 1º senhor do Paço de Lanheses.[5]

Biografia[editar | editar código-fonte]

O Condestável de Castela, D. Pero Fernández de Belas, para defender Pamplona, mandou tirar 20 peças de artilharia de Fuenterrabía, em Guipúscoa, e para isso encarregou o provedor das armadas Juan Martínes de Recalde.

Juntando-se à armada espanhola vindo de Cádis por mar, em 1582, com uma sua esquadra com cerca de 20 "navios grossos",[6] lutou contra as forças de D. António, Prior do Crato e de Aymar de Clermont de Chaste ao lado do futuro Marquês de Santa Cruz de Mudela, Dom Álvaro de Bazán, ao largo dos Açores.[7]

Após o controle de todo o arquipélago açoriano no ano de 1583, a rotina recomeça e a 20 de Julho de 1584, vemos o Ricalde a largar de Lisboa ao comando de três galeões e três caravelas, com destino às ilhas dos Açores, com 350 pessoas a bordo, a fim de aguardar a chegada dos navios da Índia e das Américas, para lhe servir depois de escolta, com receio dos piratas e corsários. Tal não aconteceu pois houve um desencontro, mas, felizmente dessa vez também nada foi assaltado.[8]

É por essa altura, nesse mesmo ano, que sendo ele um capitão de mar com grande experiência, quando viu os novos galeões de guerra de Castela a chegar ao Tejo refere que estes tinham pouca "boca", o que limitava bastante a manobra das peças de artilharia nas cobertas.[9]

Mais tarde, sai de novo da capital do Reino de Portugal, com a mesma missão ir às ilhas proteger a chegada dos navios das conquistas. Parte sob o comando do referido Marquês, que agregava os 14 navios da Coroa de Portugal, sendo oito navios a cargo de Recalde.[10]

O regresso a Lisboa, nos finais do Verão de 1587, da armada de Recalde e de uma nau da Índia não foi calmo, tendo enfrentado vários temporais seguidos que inflingiram diversos danos aos navios. Quando, finalmente, entrou no porto encontrou, já aí fundeados, os restantes navios que irão integrar o ataque à Grã-Bretanha, que deu origem à derrocada da Invencível Armada.[11]

Nela, ele segue então no seu posto almirante do lado luso-espanhol, sob o comando de D. Alonso Pérez de Guzmán, Duque de Medina Sidónia, fornecendo 14 naus[12] (10 galeões e 4 patachos), 700 marinheiros, 2000 soldados e 250 peças de artilharia, que estariam estacionados às suas ordens no porto de Biscaia.[13][14] Após início da expedição, ele será o segundo no comando geral e também a dirigir o enorme galeão, de 50 peças, chamado de São João de Portugal.[15]

Origem familiar[editar | editar código-fonte]

Segundo Felgueiras Gayo, em Famílias de Portugal, ele seria filho e herdeiro de um seu homónimo João Martins, navegante "rico" morador em Viana do Castelo e o que consta em documentação coeva, sua contemporânea, no Arquivo da Casa de Almada, é que seria de origem portuguesa. Já sua mãe seria uma senhora de San Sebastián, na Biscaia, D. Elvira Palomar y Angulo de origem na nobreza local. Seria filha de Fernão Rodrigues Palomar e Catarina de Angulo, senhores das Casas e Solares destes apelidos no lugar de Balmaseda, na Vila de Ascoitia, na província de Guipuscoa. Este seu pai teria sido fidalgo escudeiro e juiz ordinário, pelos anos de 1510, colaborando na construção do Mosteiro de Santa Ana[16] e sua Igreja de Nossa Senhora da Caridade, como vedor,[17][18] "como consta do Foral da Câmara da dita Vila",[19] e que tinha adquirido metade do padroado de Lanheses, localidade essa que na altura seria ainda um couto do mosteiro de São Salvador da Torre.

Descendência[editar | editar código-fonte]

João Martins Ricalde, "o moço", casou com Guiomar de Abreu, filha de Rui de Abreu e de Senhorinha Gomes de Brito.[19]

Tiveram:

Referências

  1. Resumen del historial de los Navíos Portugueses que Participaron en la Jornada de Inglaterra de 1588, Suplemento nº. 16 da Revista de História Naval n.º 116, Instituto de Historia y Cultura naval de la Armada española, Madrid, 2012, pág. 40 e 41
  2. Este apellido es de origen vasco, significa el señor que vive al otro lado del rio ... . Iñigo Lopez De Recalde es un gran ejemplo de la existencia valedera de este apellido, por si no lo conocen por este nombre, les estoy hablando de San Ignacio de Loyola ... - Significado de De recalde, Mis Apellidos.com (consulta em 14.01.2017)
  3. Ricalde, Significado dos Nomes (consulta em 14.01.2017)
  4. La Florida: su conquista y colonización por Pedro Menéndez de Avilés, Eugenio Ruidíaz y Caravia, Editorial Maxtor, 1893, pág. 12 e 332
  5. O seu pai ao ter casado com D. Ana da Rocha, filha de Martim da Rocha, fidalgo da Casa Real (Nobiliário das Famílias de Portugal, Felgueiras Gayo, Carvalhos de Basto, 2ª Edição, Braga, 1989- vol IX - pg 208 (Ricaldes § 1 N 2)), escrivão da Câmara, enterrado na capela da Matriz de Viana (A capela da Confraria do santíssimo Sacramento da Matriz de Viana do Castelo: os artistas e o programa decorativo, por Paula Cristina Machado Cardona, In Artistas e artífices: e a sua mobilidade no mundo de expressão portuguesa: actas do VII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte, Porto, Junho 2005. Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2007, pág. 451, nota 4 [1]), e que era o comendatário do Mosteiro de São Salvador da Torre, deveria ter recebido a possibilidade de poder comprar a metade referido padroado e fazer o contrato de aforamento das terras que vieram a ser construído o Paço de Lanheses
  6. Tese de doutoramento: «Portugal e o Atlântico - Organização militar e acções navais durante o período Filipino (1580-1640», por Augusto António Alves Salgado, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2009, pág. 96 e 97
  7. Archivo dos Açores, Volume 2, Relação da expedição do Commendador de Chaste à Ilha Terceira, em Maio de 1583, Collecção de Documentos Relativos às Ilhas dos Açores, Extrahidos do Archivo Nacional da Torre do Tombo, Tip. do Archivo dos Açores, 1880
  8. Tese de doutoramento: «Portugal e o Atlântico - Organização militar e acções navais durante o período Filipino (1580-1640», por Augusto António Alves Salgado, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2009, pág. 100
  9. Tese de doutoramento: «Portugal e o Atlântico - Organização militar e acções navais durante o período Filipino (1580-1640», por Augusto António Alves Salgado, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2009, pág. 96 e 191
  10. Nesta armada seguiam embarcadas cinco companhias de Portugal, com cerca de 1.000 homens, incluindo diversos fidalgos portugueses, in Tese de doutoramento: «Portugal e o Atlântico - Organização militar e acções navais durante o período Filipino (1580-1640», por Augusto António Alves Salgado, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2009, pág. 105.
  11. Tese de doutoramento: «Portugal e o Atlântico - Organização militar e acções navais durante o período Filipino (1580-1640», por Augusto António Alves Salgado, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2009, pág. 105
  12. Historia geral de Portugal, e suas conquistas, por Damião Antonio de Lemos Faria e Castro, 1800, p. 362
  13. Defeat of the Spanish Armada (A.D. 1588), Sir Edward Shepherd Creasy, The Great Events by Famous Historians, Vol. 1-20, Editor: Rossiter Johnson, Charles Horne, and John Rudd, November 21, 2006
  14. Refere Costa Quintella que seriam antes 9 naus e 3 patachos: "Esquadra da Biscaia. Seu general D. João Martines de Ricalde com o posto de almirante de toda a armada. Náo Santa Anna, em que ia o almirante, de 769 toneladas; 325 soldados, 14 marinheiros e 30 peças ou canhões. Náu Gargarim de 1160 toneladas, 256 soldados, 76 marinheiros e 28 peças. Náo S. Tiago de 666 toneladas, 214 soldados, 102 marinheiros e 25 peças. Náo Conceição 468 toneladas, 90 soldados, 70 marinheiros e 16 peças. Náo Conceição 418 toneladas, 164 soldados, 61 marinheiros e 18 peças. Náo Magdalena 520 toneladas, 103 soldados, 70 marinheiros e 18 peças. Náo Maria de 665 toneladas, 90 soldados, 100 marinheiros e 24 peças. Náo Manoela 520 toneladas, 125 soldados, 54 marinheiros e 12 peças. Náo de Santa Maria de Monte Maior 707 toneladas, 206 soldados, 45 marinheiros e 18 peças. Patacho Maria com 70 toneladas, 20 soldados, 23 marinheiros e 8 peças. Patacho Santa Isabel 71 toneladas, 20 soldados, 24 marinheiros e 10 peças. Patacho N. 96 toneladas, 20 soldados, 26 marinheiros e 6 peças".- Annaes da Marinha Portugueza. (Acad. das sci. de Lisboa), por Ignacio da Costa Quintella, 1839, pág. 29
  15. Esta lista recente informa-nos igualmente que a nau Gargarim ou Grande Grim naufragou na costa Irlandesa, em Clew Bay, no condado de Mayo e que a Conceição, de 18 peças, foi destruído na mesma costa em frente a Galway - List of Ships of the Spanish Armada, pela World Heritage Encyclopedia
  16. Os mosteiros beneditinos femininos de Viana do Castelo, arquitectura monástica dos séculos XVI ao XIX, vol. II, anexos, por Isabel Maria Ribeiro Tavares de Pinho, Porto 2010
  17. A criação do Real Mosteiro de Sant`Ana deveu-se à Câmara e nobreza de Viana – destacando-se da iniciativa e diligências do licenciado António Correia, juiz de fora, e como tal presidente do Senado da Câmara, e de João Martins Ricalde ou da Rica que foi um dos vedores das obras …” – A Igreja de Nossa Senhora da Caridade, por Francisco José Carneiro Fernandes, in Cadernos Vianenses, tomo III, Braga, 1979, pág. 65, nota 1
  18. Mosteiro de Santa Ana / Edifício da Congregação da Caridade, Paula Noé, SIPA, 2005
  19. a b «Nobiliário das Famílias de Portugal», por Felgueiras Gayo, Carvalhos de Basto, 2ª Edição, Braga, 1989- vol IX - pg 208 (Ricaldes § 1 N 2)

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • «Nobiliário das Famílias de Portugal», por Felgueiras Gayo, Carvalhos de Basto, 2ª Edição, Braga, 1989- vol IX - pg 208 (Ricaldes § 1 N 2)
  • «a Caminho de Santiago, roteiro do Peregrino», por Lourenço José de Almada, Lello editores, Porto, Janeiro de 2000

Ligações externas[editar | editar código-fonte]