Jesus expulsando os vendilhões – Wikipédia, a enciclopédia livre

Jesus expulsando os vendilhões (antes de 1570). Por El Greco, atualmente na National Gallery of Art, em Washington D.C..

Jesus expulsando os vendilhões ou Jesus expulsando os cambistas, episódio conhecido também como limpeza do Templo, é um dos eventos do ministério de Jesus narrado nos quatro evangelhos canônicos do Novo Testamento.

Neste episódio, Jesus e seus discípulos viajam a Jerusalém para a Pessach (a Páscoa judaica) e lá ele expulsa os cambistas do Templo de Jerusalém (o Templo de Herodes ou "Segundo Templo"), acusando-os de tornar o local sagrado em um covil de ladrões através de suas atividades comerciais.[1][2] No Evangelho de João, Jesus se refere ao Templo como "casa de meu Pai", clamando para si assim o título de Filho de Deus.[3]

Este é o único relato de Jesus utilizando-se de força física nos evangelhos. A narrativa ocorre perto do final dos evangelhos sinóticos (em Marcos 11:15–19; Mateus 21:12–17 e Lucas 19:45–48) e perto do início do Evangelho de João (em João 2:13–16), o que leva alguns acadêmicos a postularem que se trata, na verdade, de dois eventos separados, uma vez que João relata mais de uma Páscoa.[4]

Representação nos evangelhos[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Evangelho
Jesus expulsando os vendilhões.
Vitral na Igreja de Saint-Aignan de Chartres, em Chartres, na França.

O relato se inicia afirmando que Jesus visitou o Templo de Jerusalém, o Templo de Herodes, cujo pátio é descrito como repleto de animais e mesas dos cambistas, que trocavam o dinheiro padrão grego e romano por dinheiro hebraico e de Tiro[1]. A cidade estaria lotada com judeus que tinham vindo para a páscoa, algo em torno de 300 000 ou 400 000 peregrinos.[5][6]

Fazendo um chicote com algumas cordas, "expulsou a todos do templo, as ovelhas bem como os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai uma casa de negócio."
 
Jesus entrou no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam, derrubou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam as pombas; e disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a fazeis covil de salteadores.
 

No Antigo Testamento há uma passagem em Jeremias 7:11, "Esta casa que é chamada do meu nome, porventura se tornou aos vossos olhos um covil de salteadores?". Em João, esta é a primeira de três vezes que Jesus vai a Jerusalém para a Pessach e o evangelista afirma que, durante esse período, ocorreram diversos sinais (não especificados) milagrosos realizados por Jesus, que fizeram as pessoas acreditarem em seu nome, mas o próprio Jesus não confiava neles, porque conhecia a todos (João 2:24).[4][7]

Em Marcos 12:40 e em Lucas 20:47, Jesus novamente acusa as autoridades do Templo de ladrões e, desta vez, afirma que as viúvas pobres, como vítimas, são a prova. Os vendedores de pombas estavam vendendo os animais que seriam sacrificados pelos pobres que não podiam comprar sacrifícios mais caros e, especificamente, pelas mulheres. De acordo com Marcos 11:16, Jesus proibiu as pessoas de realizarem qualquer tipo de comércio no Templo - uma sanção que certamente arruinaria os sacerdotes.[4][7]

Mateus afirma que os líderes do Templo questionaram Jesus se ele estava ciente que as crianças gritavam Hosana ao Filho de David, e Jesus respondeu "Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?" Mateus 21:16, aceitando a aclamação e citando Salmos 8:2.[4][7]

Cronologia[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Cronologia de Jesus

Existem debates sobre quando ocorreu a limpeza do Templo e se houve dois eventos separados. Santo Tomás de Aquino e Santo Agostinho concordam que Jesus realizou um ato semelhante duas vezes, com as denúncias menos severas do relato joanino (comerciantes, vendedores) ocorrendo no início do ministério público de Jesus e as denúncias mais severas dos relatos sinópticos ocorrendo imediatamente antes, e de fato acelerando, os eventos da crucificação.

Jesus expulsando os vendilhões.
1626. Por Rembrandt, atualmente em coleção privada.

O episódio da expulsão dos vendilhões no Evangelho de João pode ser correlacionado com outras fontes históricas não-bíblicas a fim de obter uma estimativa da época em que se passou. João 2:13 afirma que Jesus foi ao Templo de Herodes no início do seu ministério e João 2:20 relata que Jesus ouviu: "Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu o levantarás em três dias?" João 2:13.[8][9]

Nas Antiguidades Judaicas, o historiador judeu do século I Flávio Josefo escreveu que (Ant 15.380) o Templo foi iniciado por Herodes, o Grande, no 15º-18º ano de seu reinado, por volta da época que Augusto visitou a Síria (Ant 15.354).[9][10][11][12] A expansão e reconstrução do Templo estavam em andamento quando ele foi destruído em 70 d.C. pelos romanos.[13] Dado que já haviam se passado quarenta e seis anos, a visita ao Templo no Evangelho de João foi estimada como tendo ocorrido por volta de 27-29 d.C.[8][9][14][15][16]

Na arte[editar | editar código-fonte]

A limpeza do Templo é um evento frequentemente representado na Vida de Cristo, sob vários títulos. O pintor espanhol El Greco pintou diversas versões, atualmente em Londres, Madrid, Mineápolis, Nova Iorque e Washington.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Sanders, E. P. The historical figure of Jesus. Penguin, 1993.
  2. Ehrman, Bart D.. Jesus, Interrupted, HarperCollins, 2009. ISBN 0061173932
  3. The International Standard Bible Encyclopedia by Geoffrey W. Bromiley 1988 ISBN 0802837859 page 571-572
  4. a b c d The Bible knowledge background commentary by Craig A. Evans 2005 ISBN 0781442281 page 49
  5. Sanders, E. P. The historical figure of Jesus. Penguin, 1993. p. 249
  6. Funk, Robert W. and the Jesus Seminar. The acts of Jesus: the search for the authentic deeds of Jesus. HarperSanFrancisco. 1998.
  7. a b c The Fourth Gospel And the Quest for Jesus by Paul N. Anderson 2006 ISBN 0567043940 page 158
  8. a b Paul L. Maier "The Date of the Nativity and Chronology of Jesus" in Chronos, kairos, Christos: nativity and chronological studies by Jerry Vardaman, Edwin M. Yamauchi 1989 ISBN 0931464501 pages 113-129
  9. a b c Eerdmans Dictionary of the Bible 2000 Amsterdam University Press ISBN 9053565035 page 249
  10. The Cradle, the Cross, and the Crown: An Introduction to the New Testament by Andreas J. Köstenberger, L. Scott Kellum 2009 ISBN 9780805443653 pages 140-141
  11. Encyclopedia of the historical Jesus by Craig A. Evans 2008 ISBN 0415975697 page 115
  12. Como dito por Köstenberger & Kellum (página 114), há alguma incerteza sobre como Josefo se referia a e calculava datas, daí vários acadêmicos chegarem a datas com pequenas diferenças entre si para a construção do Templo
  13. Eerdmans Dictionary of the Bible, página 246 afirma que a construção do Templo jamais foi completada e que ele estava em constante reconstrução até ser destruído, e afirma que os 46 anos se referem à real data de início da obra de construção.
  14. The Riddles of the Fourth Gospel: An Introduction to John by Paul N. Anderson 2011 ISBN 080060427X page 200
  15. Herod the Great by Jerry Knoblet 2005 ISBN 0761830871 page 184
  16. Jesus in Johannine tradition by Robert Tomson Fortna, Tom Thatcher 2001 ISBN 9780664222192 page 77

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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