Interpretatio graeca – Wikipédia, a enciclopédia livre

A deusa Ísis (sentada à direita) recebe a heroína grega Io no Egito; fresco em Pompeia

Interpretatio graeca (latim para "tradução grega" ou "interpretação através de [modelos] gregos") é um discurso[1] no qual as práticas religiosas, divindades e mitos gregos são usados para interpretar ou tentar compreender a mitologia e religião de outras culturas. Trata-se de uma metodologia comparativa que procura equivalências e características em comum.

Interpretatio romana é o discurso comparativo em referência à religião e mitologia romanas, como aconteceu na formação da religião galo-romana, em que romanos e gauleses reinterpretaram as tradições religiosas gaulesas em relação aos modelos romanos, particularmente o culto imperial.

Interpretatio germanica é a prática dos povos germânicos de identificar os deuses romanos com os nomes das divindades germânicas. De acordo com Rudolf Simek, isso ocorreu por volta do primeiro século da era comum, quando ambas as culturas entraram em contato mais próximo.

Plínio, o Velho, expressou a "tradutibilidade" das divindades como "nomes diferentes para povos diferentes" (nomina alia aliis gentibus).[2] Esta capacidade tornou possível o sincretismo religioso da era helenística e do Império Romano pré-cristão.

Exemplos históricos da Interpretatio Graeca e Interpretatio Romana[editar | editar código-fonte]

A seguir, lista de equivalentes gregos, romanos, egípcios, fenícios, persas e germânicos, baseadas nos usos entre os próprios antigos, apoiadas pelas análises de estudiosos modernos. "Equivalente" não deve ser interpretado como "o mesmo deus". Por exemplo, quando os mitos ou mesmo as práticas de culto de uma determinada divindade romana foram influenciados pela tradição grega, a divindade pode ter tido uma origem independente e uma tradição que é culturalmente distinta.

Como as religiões do mundo greco-romano não eram dogmáticas, e o politeísmo se prestava à multiplicidade, o conceito de "divindade" era muitas vezes expansivo, permitindo múltiplas e até contraditórias funções dentro de uma única divindade, e sobrepondo poderes e funções entre as diversas figuras de cada panteão. Essas tendências se estenderam às identificações transculturais.

Deuses Romanos[editar | editar código-fonte]

Os seguintes deuses são considerados equivalentes:

Deuses Egípcios[editar | editar código-fonte]

Deuses Fenícios[editar | editar código-fonte]

Deuses Persas[editar | editar código-fonte]

Deuses Germânicos[editar | editar código-fonte]

Aplicação à religião judaica[editar | editar código-fonte]

Do ponto de vista romano, era natural aplicar o princípio acima também ao deus judaico Jeová e equipará-lo a Júpiter. No entanto, os judeus - ao contrário de outros povos que viviam sob o domínio romano - rejeitaram imediatamente qualquer tentativa desse tipo, considerando essa identificação como o pior tipo de sacrilégio. Essa completa divergência de pontos de vista foi um dos fatores que contribuíram para a frequente fricção entre os judeus e o Império Romano - por exemplo, a decisão do imperador Adriano de reconstruir Jerusalém sob o nome de Élia Capitolina, uma cidade dedicada a Júpiter, precipitou a Revolta de Barcoquebas.

Referências

  1. Characterized as "discourse" by Mark S. Smith, God in Translation: Deities in Cross-Cultural Discourse in the Biblical World (Wm. B. Eerdmans, 2008, 2010), p. 246.
  2. Pliny, Natural History 2.5.15.