Interpretação alegórica da Bíblia – Wikipédia, a enciclopédia livre

A interpretação alegórica da Bíblia, é a abordagem que atribui uma interpretação mais-que-literal ao conteúdo de um texto (por exemplo, Bíblia)[1]. É partir do pressuposto que o texto comunica mais do que se está posto. [2]

Desenvolvimento do método[editar | editar código-fonte]

O uso de figuras de linguagens figuradas é universalmente praticada, inclusive as alegorias. Na Bíblia Hebraica as interpretações alegóricas aparecem principalmente em livros poéticos ou proféticos, embora no hebraico bíblico mal se distigua entre símile, metáfora, parábola e alegoria. [3] Quando o Antigo Testamento cita a si próprio o emprego de alegoria é notório:

Entretanto, as citações alegóricas tendem a ser esparsas no Antigo Testamento até que essa figura de linguagem passou a ser usada como método interpretativo sistemático. Como um método sistemático, a interpretação alegórica tem suas origens tanto no pensamento grego (que tentavam evitar a interpretação literal dos antigos mitos gregos) quanto na literatura rabínica de Israel, a exemplo da exegese judaica Pardes. O autor pré-cristão Fílon de Alexandria refere-se expressamente a sua utilização pelos seus antecessores e usa-se a descobrir indícios de diferentes doutrinas da filosofia nas histórias do Pentateuco. [4]

No cristianismo, o uso interpretações alegóricas e tipológicas podem ser encontrados mais tarde no Novo Testamento[5]. Nos escritos paulinos e a Epístola dos Hebreus reinterpretam o Antigo Testamento de forma dual: um sentido literal e um sentido literal. Já o Apocalipse foi composto cheios de alegorias. [6]

No período da patrística o método foi desenvolvido na epístola de Barnabé e especialmente em Orígenes.[7] Enquanto no Oriente havia disputas entre as escolas de interpretação de Alexandria (mais favorável à alegoria) e a de Antioquia (mais favorável ao sentido simples ou literal), no ocidente cristão primou-se pelo balanço entre a interpretação alegórica e literal conforme empregada por Ambrósio e Agostinho [8]. A interpretação escritural cristã historicamente pode ser referida como Quadriga, em que o método de interpretação alegórico é chamado de tipológico. [9]

Em algumas áreas em que a Bíblia não é clara, como escatologia, é comum mesmo entre adeptos de interpretações literais lançarem mão de esquemas alegóricos. Alguns exemplos ocorre nas eras das igrejas na teologia dispensacionalista ou na interpretação de que a serpente do Éden seria o Diabo na teologia reformada. [10] [11]

Alegoria em pregações[editar | editar código-fonte]

Na homilética tradicionalmente o uso de alegorias é abundante. Pregadores preocupados em capturar a atenção e impactar suas audiências empregam largamente o método alegório. Dentre eles se destacam:

  • Martinho Lutero. O Reformador insistia que o método alegórico não podia ser usado para formular doutrinas, mas era permitido para uso edificante[12]. Por exemplo, em seu sermão sobre Lucas 2:16 onde se lê “E encontraram Maria e José e o menino deitado na manjedoura”, Lutero sustentou que Maria deve ser entendida como a Igreja, enquanto José representa os bispos e pastores.[13]
  • João Calvino. O teólogo de Genebra considerava a interpretação alegórica como um risco para especulações além da Bíblia, mas admitia e utilizava a interpretação alegórica de textos profético e na homilética.[14] [15][16] [17] [18]. Um exemplo do uso da alegoria por Calvino é quando ele vê uma analogia entre Jacó vestido de roupas de Esaú e Jesus Cristo. Assim como Jacó recebeu a bênção porque o cheiro das roupas de seu irmão mais velho agradava a seu pai, também os cristãos seriam abençoados quando recebemo de Cristo, o Primogênito, “o manto da justiça, que por seu odor obtém o favor [de nosso Pai celestial] ”[19].
  • Jonathan Edwards. O pregador do Grande Avivamento desenvolveu uma forma altamente original de tipologia bíblica ou figuralismo, ecoando Lutero, Shakespeare e os poetas metafísicos. [20]
  • Padre António Vieira. O grande pregador barroco aliava a alegoria à lógica em seus sermões. [21]
  • Charles Spurgeon. O pregador inglês empregava interpretações alegóricas em seus sermões e ensinava que, dentro de certos limites, era aceitável “espiritualizar” um texto. [22]
  • Charles Swindoll. Pregador e escritor devocional, defende aplicações morais a partir de interpretações alegóricas de passagens literais. [23]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. MOISÉS, Massaud. | Dicionário de termos literários: "alegoria", p. 14-16. Cultrix, 1974.
  2. | "Allegory and Allegorical Interpretation." In Oxford Encyclopedia of Biblical Interpretation. edited by Mark W. Elliott. Oxford Biblical Studies Online.
  3. | Feinberg, Anat. "Alegory". Encyclopaedia Judaica. 2008, Jewish Virtual Library.
  4. Copeland, Rita Copeland; Struck, Peter R. Cambridge Companion to Allegory. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2010.
  5. Treier, Daniel. “Typology.” In Dictionary for Theological Interpretation of the Bible, edited by Kevin J. Vanhoozer, 823–827. Grand Rapids, Mich.: Baker Academic, 2005
  6. Whitman, Jon, ed. Interpretation and Allegory: Antiquity to the Modern Period. Leiden: Brill, 2003.
  7. Daniélou, Jean. From Shadows To Reality Studies In The Biblical Typology Of The Fathers. Translated by Hibberd, Wulstan. London: Burns and Oates, 1960.
  8. Keith, Graham. "Can Anything Good Come out of Allegory? The Cases of Origen and Augustine." Evangelical Quarterly 70 (1998): 23-50.
  9. Klepper, Deeana Copeland. “Theories of Interpretation: The Quadriga and Its Successors.” The New Cambridge History of the Bible, edited by Euan Cameron, vol. 3, Cambridge University Press, Cambridge, 2016, pp. 418–438. New Cambridge History of the Bible.
  10. Coleman, Simon. "When silence isn’t golden: charismatic speech and the limits of literalism." The limits of meaning: Case studies in the anthropology of Christianity (2006): 39-62.
  11. Luxon, Thomas H. Literal figures: Puritan allegory and the Reformation crisis in representation. University of Chicago Press, 1995.
  12. Grant, Robert McQueen, and David Tracy. A Short History of the Interpretation of the Bible. Fortress Press, 1984.
  13. Sermons of Martin Luther, ed. and trans. John Nicholas Lenker I. (Grand Rapids: Baker, 1983), 169.
  14. John L. Thompson, “Calvin as Biblical Interpreter,” in The Cambridge Companion to John Calvin, ed. Donald K. McKim, 67-70
  15. Raymond Blacketer, The School of God: Pedagogy and Rhetoric in Calvin’s Interpretation of Deuteronomy, 220-232, 269
  16. T.H. L. Parker, Calvin’s Old Testament Commentaries, 70-82
  17. David L. Puckett, John Calvin’s Exegesis of the Old Testament, 105-113
  18. Sujin Pak, The Judaizing Calvin: Sixteenth-Century Debates over the Messianic Psalms, 77-101.)
  19. Calvin, Jean. Genesis: The Crossway Classic Commentaries, 239.
  20. Fabiny Tibor. "Edwards and Biblical Typology". Em McDermottm, Gerald R. (ed.) Understanding Jonathan Edwards: An Introduction to America's Theologian. Oxford: Oxford University Press, 2009.
  21. Martini, Marcus de. "A alegoria nos sermões de Padre Antônio Vieira: algumas questões sobre seu emprego e terminologia." Revista Letras (2019): 89-120.
  22. Spurgeon, Charles H. The Metropolitan Tabernacle Pulpit Sermons. Vol. 53. London: Passmore & Alabaster, 1907, p. 270..
  23. Charles Swindoll; God's Man For A Crisis; (Waco, Texas: Word Publishing, 1985, pp. 67-68.


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