Institut für Sexualwissenschaft – Wikipédia, a enciclopédia livre

Institut für Sexualwissenschaft
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O Institut für Sexualwissenschaft foi um dos primeiros institutos privados de pesquisa em sexologia na Alemanha de 1919 a 1933. O nome é traduzido de várias maneiras, omeadamente Instituto para o Estudo da Sexualidade, Instituto de Pesquisa Sexual, Instituto para a Sexologia ou Instituto da Ciência da Sexualidade. O Instituto era uma fundação sem fins lucrativos situada em Tiergarten, Berlim. Foi chefiado por Magnus Hirschfeld. Desde 1897 ele dirigia o Wissenschaftlich-humanitäres Komitee ("Comitê Científico-Humanitário"), que fazia campanha em bases progressistas pelos direitos dos homossexuais e transgêneros. O Comitê publicava o periódico Jahrbuch für sexuelle Zwischenstufen. Hirschfeld construiu uma biblioteca única sobre amor e erotismo pelo mesmo sexo.[1]

A queima de livros promovida por nazistas em Berlim incluiu os arquivos do Instituto. Depois que os nazistas ganharam o controle da Alemanha na década de 1930, o Instituto e suas bibliotecas foram destruídos como parte de um programa de censura do governo nazista por brigadas de jovens, que queimaram seus livros e documentos na rua.[2]

História[editar | editar código-fonte]

O primeiro Institut für Sexualwissenschaft foi fundado pelo médico e sexólogo alemão Magnus Hirschfeld e pelo seu colaborador Arthur Kronfeld,[3] em 6 de julho de 1919 em Berlim. Em 6 de maio de 1933, no decorrer da Queima de livros (Bücherverbrennung), o prédio do instituto foi saqueado e o arquivo queimado pelos Nazistas.

Origens e objectivos[editar | editar código-fonte]

Magnus Hirschfeld, o primeiro director do Instituto, havia desde 1897 liderado o Wissenschaftlich-humanitäres Komitee ("Comité Científico Humanitário "), que lutou com argumentos conservadores e racionais pelos direitos gay e pela tolerância. O Comité publicou durante muitos anos a revista científica Jahrbuch fur sexuelle Zwischenstufen. Hirschfeld era também um investigador; promoveu um questionário a 10.000 pessoas que estaria na base do seu livro Die Homosexualität des Mannes und des Weibes ("A Homossexualidade no Homem e na Mulher", 1914) e coligiu uma biblioteca única sobre o tema amor e erotismo homossexual.[1]

Para além de ser uma instituição para a pesquisa científica, possuidor de um enorme arquivo documental, o Instituto incluía também departamentos de medicina, psicologia e etnologia, bem como uma consulta de aconselhamento matrimonial e sexual. O Instituto era visitado por cerca de 20.000 pessoas anualmente e proporcionava cerca de 1.800 consultas. As pessoas mais pobres eram tratadas gratuitamente. O Instituto advogava a educação sexual, a contracepção, o tratamento das doenças sexualmente transmissíveis, e foi pioneiro a nível mundial na defesa de direitos civis e aceitação para os homossexuais e transgêneros.

Pioneiros da transsexualidade[editar | editar código-fonte]

Magnus Hirschfeld é o autor do termo transsexualismo,[4] tendo identificado a categoria clínica que o seu colega Harry Benjamin introduziria mais tarde nos Estados Unidos. O Instituto tratava transgéneros (contando com alguns entre os seus empregados), proporcionando-lhes vários tratamentos endocrinológicos e cirúrgicos, incluindo a primeira cirurgia moderna de "mudança de sexo" nos anos 1930s. Hirschfeld colaborou também com a polícia de Berlim para prevenir a prisão de travestis por suspeita de prostituição, até que o regime Nazi o obrigou a abandonar a Alemanha.

Época Nazi[editar | editar código-fonte]

Em 10 de maio de 1933, os nazistas em Berlim queimaram obras de autores judeus, a biblioteca do Institut für Sexualwissenschaft e outras obras consideradas "não alemãs"

Em finais de Fevereiro de 1933, à medida que a influência moderadora de Ernst Röhm enfraquecia, o Partido Nazi lançou uma purga dos clubes homossexuais (gays, lésbicas e bissexuais, nessa altura conhecidos como "homófilos") de Berlim, ilegalizou as publicações de conteúdo sexual e baniu as organizações gay. Em consequência, muita gente abandonou a Alemanha (incluindo, por exemplo, Erika Mann). Em Março de 1933, o principal administrador do Instituto, Kurt Hiller, foi internado num campo de concentração.

A 6 de Maio de 1933, quando Hirschfeld dava conferências nos Estados Unidos, a Deutsche Studentenschaft organizou um ataque ao Instituto. Alguns dias depois a biblioteca e os arquivos do Instituto foram levados e publicamente queimados em Opernplatz ("Praça da Ópera", em Berlim). Cerca de 20.000 livros e revistas científicas, 5.000 fotografias e imagens, foram destruídos. Os nomes e endereços dos ficheiros do Instituto foram, também por essa altura, confiscados. Joseph Goebbels aproveitou a ocasião para, perto da fogueira, fazer um discurso político para uma multidão de 40.000 pessoas. Os líderes da Deutsche Studentenschaft proclamaram os seus Feuersprüche (decretos de fogo, "contra o espírito antialemão"), que levaram a que os livros de autores Judeus, mas também os livros antimilitaristas (como os de Erich Maria Remarque), fossem retirados das livrarias públicas e da Universidade de Humboldt para serem também queimados.

Nessa noite, e até 22 de Maio, foram organizados por toda a Alemanha e na Áustria outras queimas de livros, embora com menor dimensão, como na Konigplatz, em Munique, em Heidelberg, Frankfurt, Göttingen, Colónia, Hamburgo, Dortmund, Halle, Nuremberga, Wurzburgo, Hanover, Munster, Konigsberg, Koblenz, e Salzburgo. A Gestapo procedeu também à confiscação de outras bibliotecas públicas e privadas para as destruir fábricas de papel.[5]

Os edifícios do Instituto foram pouco depois ocupados pelos Nazis; sofreram bombardeamentos sucessivos de forma que estavam em ruínas em 1944, tendo sido demolidos em meados dos anos 1950s. Hirschfeld ainta tentou estabelecer o seu Instituto em Paris, mas acabou por morrer antes de o conseguir, em 1935.

O activista radical Adolf Brand foi dos poucos que não abandonou o país, mantendo-se corajosamente na Alemanha por mais cinco meses, após a queima dos livros. No entanto, a persequição que lhe foi movida acabou por levá-lo de vencida e, em Novembro de 1933, foi forçado a anunciar o fim dos movimentos organizados de emancipação sexual na Alemanha. Na noite de 29 de Junho de 1934, Hitler promoveu a Noite das Facas Longas, participando pessoalmente na prisão de Ernst Röhm, o líder das SA ("camisas pardas") que lhe fazia frente e que era homossexual declarado, e que posteriormente seria assassinado conjuntamente com dezenas de outros oficiais. A esta purga seguir-se-ia o endurecimento da legislação contra a homossexualidade e a prisão de homossexuais com auxílio, ao que parece, da lista de nomes obtida no Instituto. Muitos milhares de prisioneiros acabaram em campos de concentração; outros, como John Henry Mackay, suicidaram-se.

Entre os livros queimados na Bebelplatz estava o Almansor, de Heinrich Heine, onde este sugere que "onde eles queimam livros, acabarão por queimar também pessoas."

Pós Segunda Guerra Mundial[editar | editar código-fonte]

Os estatutos do Instituto especificavam que na eventualidade de dissolução, os activos da Fundação Dr. Magnus Hirschfeld (que era patrocinadora do Instituto desde 1924), deveriam ser doados à Universidade Humboldt de Berlim. O testamento de Hirschfeld, escrito em Paris quando estava exilado, indica que os seus bens remanescentes deveriam ser entregues aos seus alunos e herdeiros Karl Giese and Li Shiu Tong (Tao Li) para que a sua obra pudesse ter continuação. No entanto, nenhuma das duas indicações de Hirschfeld foi cumprida. Os tribunais da Alemanha Ocidental determinaram que a apropriação de propriedade pelos Nazis em 1934 tinha sido legal. Para além disso, o facto de a legislação alemão não ter sido purgada das emendas anti-homossexuais Nazis ao Parágrafo 175, tornaram impossível aos homossexuais sobreviventes reclamarem a restituição do centro cultural destruído.[6]

Karl Giese suicidou-se em 1938, quando os Alemães invadiram a Checoslováquia e o seu herdeiro, o advodago Karl Fein, foi assassinado em 1942, durante a deportação. Li Shiu Tong viveu na Suíça e depois nos Estados Unidos, mas tanto quanto é conhecido, não promoveu a continuidade dos trabalhos de Hirschfed. Alguma informação fragmentada da livraria do Instituto foi coligida nos anos 1950s por W. Dorr Legg e ONE, Inc., nos Estados Unidos.

Tentativas de reformulação[editar | editar código-fonte]

Frankfurt 1973-2006[editar | editar código-fonte]

Vinculado com a Universidade de Francoforte (Frankfurt am Main), o Institut für Sexualwissenschaft existiu entre 1973 e 2006.

Berlim desde 1996[editar | editar código-fonte]

Em 1996, o Institut für Sexualwissenschaft und Sexualmedizin abriu na Universidade Humboldt de Berlim.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • John Lauritsen and David Thorstad. The Early HomossexuaH Rights Movement, 1864-1935. (Second Edition revised)
  • Günter Grau (ed.). Hidden Holocaust? Gay and lesbian persecution in Germany 1933-45. (1995).
  • Charlotte Wolff. Magnus Hirschfeld: A Portrait of a Pioneer in Sexology. (1986).
  • James D. Steakley. "Anniversary of a Book Burning". The Advocate (Los Angeles), 9 June 1983. Pages 18–19, 57.
  • Mark Blasius & Shane Phelan. (Eds.) We Are Everywhere: A Historical Source Book of Gay and Lesbian Politics (See the chapter: "The Emergence of a Gay and Lesbian Political Culture in Germany" by James D. Steakley).

Documentários[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Harry Oosterhuis. (Ed.) Homosexuality and Male Bonding in Pre-Nazi Germany: The Youth Movement, the Gay Movement, and Male Bonding Before Hitler's Rise: Original Transcripts from Der Eigene, the First Gay Journal in the World. (1991).
  2. «Institute of Sexology -Qualia Folk». web.archive.org. 18 de janeiro de 2015. Consultado em 23 de março de 2021 
  3. In Memory of Arthur Kronfeld () - see also here Arquivado em 2 de fevereiro de 2017, no Wayback Machine. or the entry about Arthur Kronfeld in the german Wikipedia.
  4. Ekins R., King D. (2001) Pioneers of Transgendering: The Popular Sexology of David O. Cauldwell. IJT 5,2 (text online Arquivado em 28 de abril de 2006, no Wayback Machine.)
  5. Leonidas Hill (2001). "The Nazi Attack on 'Un-German' Literature, 1933-1945" IN: The Holocaust and the Book: Destruction and Preservation.
  6. James D. Steakley. The Early Homosexual Emancipation Movement in Germany. (1975).

Ligações externas[editar | editar código-fonte]