Implante Baha – Wikipédia, a enciclopédia livre

O Implante BAHA (em inglês, Bone anchored hearing aid) é uma prótese auditiva implantável no Osso temporal comercializada pela empresa Cochlear. A Cochlear adquiriu a empresa sueca Medical Systems em 2005, e registrou a sigla BAHA. Essa prótese auditiva osteointegrada tem sido utilizada por mais de 40 anos como um método eficaz na reabilitação de auditiva de determinados indivíduos. Foi desenvolvida por Tjellstrom em 1977, utilizando o sistema Branemark de implantação. Esse sistema utiliza alguns princípios básicos de extrema importância para o seu desenvolvimento, sendo eles a biocompatibilidade e a osteointegração que permitem a fixação de um material sintético no osso temporal. Os estudos dessas técnicas ao longo dos anos demonstrou que o material mais adequado foi o titânio, sendo o material mais utilizado nos sistemas implantáveis [1][2]. O componente interno é acoplado ao crânio por um dispositivo de titânio.[3]

Componentes do sistema BAHA[editar | editar código-fonte]

Os componentes do dispositivo BAHA são divididos em dois segmentos, sendo eles:

  • parafuso de titânio com pilar de sustentação (abutment) implantado sobre o osso mastóideo.
  • uma unidade externa, chamada de processador, que se conecta ao pilar.

A função do processador é captar os sons do ambiente e convertê-lo em Energia mecânica, (vibração), que será transmitida ao pilar que, irá estimular o osso temporal. Esta vibração é captada pelo crânio, e estimula diretamente as cócleas sem envolver a condução auditiva aérea, ou seja, o meato acústico externo e orelha média.

Tipos de implantes por condução óssea[editar | editar código-fonte]

Atualmente existem dois tipos de implantes por condução óssea disponíveis para a reabilitação da perda auditiva: percutâneo (penetra a pele) e transcutâneo (não penetra a pele). O BAHA percutâneo é composto por um implante de titânio conectado a um pilar para fixação percutâneo e um processador de som acoplado a essa estrutura. Essa solução proporciona uma transmissão de sim direta e de qualidade. No entanto, requer cuidados higiênicos diários ao longo de toda a vida. É importante salientar que também existe a possibilidade de complicações locais da pele, e por vezes a perda do implante[4]. Estudos realizados demonstram que 8%-59% dos casos podem apresentar reações no tecido mole e infecções ao redor do pilar, perda do implante em 8,3% dos casos e até mesmo revisão da cirurgia em 5%-42% dos procedimentos.[5] [6].

O BAHA transcutâneo utiliza força de tração magnética, para fixar o processador sobre o implante. Não há defeito permanente à pele, não tendo implicações sobre a higiene, além de um bom efeito estético.[7]

Procedimento cirúrgico[editar | editar código-fonte]

Algumas situações especiais (pediátricos), podem exigir que a cirurgia seja realizada em dois tempos, pois o osso é mais fino e frágil e há maior risco de deslocamento do implante. Inicialmente é realizada a colocação do parafuso de titânio e num segundo momento o acoplamento do pilar a esse parafuso já osteointegrado. O parafuso de titânio é implantado cirurgicamente, e este procedimento pode ser realizado sob anestesia local. A colocação do processador deve ser feita somente após o período de osteointegração, sendo três meses para adultos e seis meses para crianças. Se preconiza que nesses indivíduos pediátricos a profundidade do implante deve ser de 3mm. O processador é facilmente conectado e desconectado pelo próprio paciente.[8][9]

Indicação[editar | editar código-fonte]

O sistema BAHA comumente é indicado aos indivíduos com perdas auditivas condutivas e mistas. Um tipo de indicação que acontece mais recente é para pacientes com perdas auditivas sensorioneurais unilaterais- em inglês Single Side Deafness (SSD)- que apresentam o ouvido contralateral com média da via óssea igual, ou melhor, que 20 dBNA. Perdas auditivas condutivas e mistas são alterações recorrentes que podem ser tratadas com técnicas cirúrgicas ou reabilitadas através do uso de aparelho de amplificação sonora individual (AASI). No entanto, existem subgrupos que por diversas situações acabam não sendo candidatos ao uso de aparelhos de amplificação sonora tradicionais. Como alternativa, à prótese auditiva convencional em casos de inadaptação/impossibilidade opta-se pelo uso de implantes osteointegráveis. Essas situações adversas podem ser: malformações congênitas do ouvido externo e médio, otorréia crônica, doença ossicular não operável.[8][10]

A indicação do BAHA para surdez sensorioneural unilateral é recente, porém tem se tornado conduta na área médica. O efeito sombra da orelha com alteração atenua a intensidade do sinal acústico na orelha com audição normal. Geralmente esses pacientes apresentam dificuldades de localização sonora e discriminação em ambientes ruidosos. Por muitos anos a reabilitação desses sujeitos foi subestimada, mas a implantação do BAHA na orelha com perda auditiva faz a condução transcranial do som em direção a orelha saudável.[11][12]

Os candidatos a BAHA são submetidos a um teste de utilização da prótese (geralmente Softband), de modo a prever o benefício da sua colocação. Estima-se que o ganho seja maior em pacientes com maior reserva coclear, com limiar ósseo inferior a 45 dB e discriminação superior a 60%.[13]

Histórico[editar | editar código-fonte]

O primeiro implante realizado foi no Hospital Universitário Sahlgrenska, em Gotemburgo, na Suécia, em 1977 [2]. Um número crescente de clínicas em todo o mundo oferecem esse tipo de implante ​​como um método de tratamento. Em 1977, apenas 3 pessoas tinham o implante, hoje esse número é estimado em 75.000.[14]

BAHA em idosos[editar | editar código-fonte]

Estudos indicam que o BAHA em adultos é um procedimento simples, fácil e seguro, podendo inclusive ser realizado com anestesia local [15][16][17]. Tal procedimento representa uma clara melhoria na qualidade de vida nos pacientes submetidos ao implante, proporcionando excelentes resultados audiológicos e alto grau de satisfação por parte dos pacientes[15] [18] [19]. Os estudos também sugerem que a dor do pós-operatório é geralmente tênue e diminui gradualmente nos meses que se seguem ao procedimento. Na prática, é possível verificar que certa dormência na área operada é frequente, mas a recuperação da área operada ocorre com o tempo e a área dormente vai diminuindo até que desaparece por completo na maioria dos casos [16].

Concessão do BAHA pelo SUS[editar | editar código-fonte]

Por meio da Portaria GM/MS Nº 2.776/ 2014 do Ministério da Saúde foi regulamentada a realização de cirurgias da Prótese Auditiva Ancorada no Osso (Implante BAHA) uni e bilateral, com previsão de manutenção, troca de peças e sessões de terapias fonoaudiológicas pelo SUS[20].

Referências

  1. Mabrie, David C.; Niparko, John K. (1 de agosto de 1999). «Quiz Case 1». Archives of Otolaryngology–Head & Neck Surgery (8). 912 páginas. ISSN 0886-4470. doi:10.1001/archotol.125.8.912. Consultado em 8 de setembro de 2020 
  2. a b Lidén, Gunnar; Jacobsson, Magnus; Håkansson, BO; Tjellström, Anders; Carlsson, Peder; Ringdahl, Anders; Erlandson, Björn-Erik (outubro de 1990). «Ten Years of Experience with the Swedish Bone-Anchored Hearing System». Annals of Otology, Rhinology & Laryngology (10_suppl): 1–16. ISSN 0003-4894. doi:10.1177/0003489490099s1001. Consultado em 8 de setembro de 2020 
  3. Dun, Catharina A. J.; Faber, Hubert T.; de Wolf, Maarten J. F.; Cremers, Cor W. R. J.; Hol, Myrthe K. S. (2011). «An Overview of Different Systems: The Bone-Anchored Hearing Aid». In: Kompis, Martin; Caversaccio, Marco-Domenico. Implantable Bone Conduction Hearing Aids. Col: Advances in Oto-Rhino-Laryngology. 71. [S.l.: s.n.] pp. 22–31. ISBN 978-3-8055-9700-5. doi:10.1159/000323577 
  4. Dimitriadis, Panagiotis A.; Hind, Daniel; Wright, Kay; Proctor, Vicki; Greenwood, Larissa; Carrick, Suzanne; Ray, Jaydip (outubro de 2017). «Single-center Experience of Over a Hundred Implantations of a Transcutaneous Bone Conduction Device». Otology & Neurotology (9): 1301–1307. ISSN 1531-7129. doi:10.1097/mao.0000000000001529. Consultado em 8 de setembro de 2020 
  5. Dimitriadis, Panagiotis A.; Hind, Daniel; Wright, Kay; Proctor, Vicki; Greenwood, Larissa; Carrick, Suzanne; Ray, Jaydip (outubro de 2017). «Single-center Experience of Over a Hundred Implantations of a Transcutaneous Bone Conduction Device». Otology & Neurotology (9): 1301–1307. ISSN 1531-7129. doi:10.1097/mao.0000000000001529. Consultado em 8 de setembro de 2020 
  6. Pedriali, Izabella Vince Garcia Mitwirkender Buschle, Maurico Mitwirkender Mendes, Rita de Cássia Mitwirkender Ataíde, André Luiz Mitwirkender Pereira, Rodrigo Mitwirkender Vassoler, Trissia Maria Farah Mitwirkender Polanski, José Fernando Mitwirkender Ribas, Angela Mitwirkender Stumpf, Claudia Mittelmann Mitwirkender Nobre, Raquel Alves Mitwirkender Daroit, Roberta Mitwirkender. Implantable Prosthesis of Osseous Conduction (BAHA): Case Report. [S.l.: s.n.] OCLC 1187590099 
  7. Gawęcki, Wojciech; Balcerowiak, Andrzej; Kalinowicz, Ewelina; Wróbel, Maciej (setembro de 2019). «Evaluation of surgery and surgical results of Baha® Attract system implantations – single centre experience of hundred twenty five cases». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology (5): 597–602. ISSN 1808-8694. doi:10.1016/j.bjorl.2018.04.011. Consultado em 8 de setembro de 2020 
  8. a b Pedriali, Izabella Vince Garcia; Buschle, Maurico; Mendes, Rita de Cássia; Ataíde, André Luiz; Pereira, Rodrigo; Vassoler, Trissia Maria Farah; Polanski, José Fernando; Ribas, Angela; Stumpf, Claudia Mittelmann (junho de 2011). «Prótese implantável de condução óssea (BAHA): relato de caso». Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia (2): 249–255. ISSN 1809-4872. doi:10.1590/S1809-48722011000200020. Consultado em 8 de setembro de 2020 
  9. van der Pouw, Catharina T. M.; Mylanus, Emmanuel A. M.; Cremers, W. R. J. (junho de 1999). «Percutaneous Implants in the Temporal Bone for Securing a Bone Conductor: Surgical Methods and Results». Annals of Otology, Rhinology & Laryngology (6): 532–536. ISSN 0003-4894. doi:10.1177/000348949910800602. Consultado em 8 de setembro de 2020 
  10. Weber, Peter (2017). «Cochlear Implants». Jaypee Brothers Medical Publishers (P) Ltd.: 2010–2010. ISBN 978-93-5152-461-8. Consultado em 8 de setembro de 2020 
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  12. Bosman, Arjan J.; Hol, Myrthe K. S.; Snik, Ad F. M.; Mylanus, Emmanuel A. M.; Cremers, Cor W. R. J. (fevereiro de 2003). «Bone-anchored Hearing Aids in Unilateral Inner Ear Deafness». Acta Oto-Laryngologica (2): 258–260. ISSN 0001-6489. doi:10.1080/000164580310001105. Consultado em 8 de setembro de 2020 
  13. Hagr, Abdulrahman (julho de 2007). «BAHA: Bone-Anchored Hearing Aid». International Journal of Health Sciences (2): 265–276. ISSN 1658-3639. PMC 3068630Acessível livremente. PMID 21475438. Consultado em 8 de setembro de 2020 
  14. Gompelmann, Daniela; Eberhardt, Ralf; Heuβel, Claus-Peter; Hoffmann, Hans; Dienemann, Hendrik; Schuhmann, Maren; Böckler, Dittmar; Schnabel, Philipp A.; Warth, Arne (2011). «Lung Sequestration: A Rare Cause for Pulmonary Symptoms in Adulthood». Respiration. 82 (5): 445–50. doi:10.1159/000323562 
  15. a b Pedriali, Izabella Vince Garcia; Buschle, Maurico; Mendes, Rita de Cássia; Ataíde, André Luiz; Pereira, Rodrigo; Vassoler, Trissia Maria Farah; Polanski, José Fernando; Ribas, Angela; Stumpf, Claudia Mittelmann (abril de 2011). «Implantable Prosthesis of Osseous Conduction (BAHA): Case Report». Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia (em inglês) (02): 249–255. ISSN 1809-4872. doi:10.1590/S1809-48722011000200020. Consultado em 10 de setembro de 2020 
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  17. Sánchez-Camón, Isabel; Lassaletta, Luis; Castro, Alejandro; Gavilán, Javier (1 de janeiro de 2007). «Quality of Life of Patients With BAHA». Acta Otorrinolaringologica (English Edition) (em inglês) (7): 316–320. ISSN 2173-5735. doi:10.1016/S2173-5735(07)70357-5. Consultado em 10 de setembro de 2020 
  18. Lekue, Asier; Lassaletta, Luis; Sánchez-Camón, Isabel; Pérez-Mora, Rosa; Gavilán, Javier (1 de janeiro de 2013). «Calidad de vida de pacientes implantados con el dispositivo BAHA según su indicación». Acta Otorrinolaringológica Española (em espanhol) (1): 17–21. ISSN 0001-6519. doi:10.1016/j.otorri.2012.06.006. Consultado em 10 de setembro de 2020 
  19. Monroy Barreneche, Juan F.; Jaramillo Saffon, Rafael; Paredes, Dunia; Prieto Rivera, José Alberto; Eduardo Guzmán, José; Lora Falquez, José Gabriel (1 de novembro de 2007). «Primeros 2 años de experiencia en BAHA: resultados en 12 pacientes». Acta Otorrinolaringológica Española (em espanhol) (9): 434–436. ISSN 0001-6519. doi:10.1016/S0001-6519(07)74961-0. Consultado em 10 de setembro de 2020 
  20. Ministério da Saúde. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt2776_18_12_2014.html  Em falta ou vazio |título= (ajuda)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Cochlear.com