Império Safárida – Wikipédia, a enciclopédia livre

Império Safárida
861 — 1003 

Império Safárida sob Iacube ibne Alaite Alçafar
Região
Capital Zaranje
Países atuais

Línguas oficiais
Religião Islamismo sunita
Moeda

Emir
• 861–879  Iacube ibne Alaite Alçafar (primeiro)
• 963–1002  Calafe ibne Amade (último)

Período histórico Idade Média
• 861  Ascensão de Iacube ibne Alaite Alçafar
• 1003  Conquista pelo Império Gasnévida

O Império Safárida (em persa: سلسله صفاریان‎) foi um persianato muçulmano[1] do Sistão que governou sobre partes do Irã Oriental, com sua capital em Zaranje (uma cidade atualmente no sudoeste do Afeganistão),[2][3] Coração, Afeganistão e Baluchistão de 861 até 1003. A dinastia reinante, os persas safáridas, foi fundada por Iacube ibne Alaite Alçafar, que nascera em 840 em uma pequena cidade chamada Carnim, que situava-se a leste de Zaranje e oeste de Boste, no atual Afeganistão.[4][5] Iacube tomou controle do Sistão e começou a conquistar grande parte do Irã e Afeganistão, bem como partes do Paquistão, Tajiquistão e Uzbequistão.

Os safáridas utilizaram-se de sua capital Zaranje como base para uma agressiva expansão a leste e oeste. Eles primeiro invadiram as áreas ao sul do Indocuche no Afeganistão e então ameaçaram a dinastia taírida, anexando o Coração em 873. Pelo tempo da morte de Iacube, ele tinha conquistado o vale de Cabul, Sinde, Tocaristão, Macrão (Baluchistão), Carmânia, Pérsis, Coração e quase alcançou Bagdá, mas então sofreu uma derrota contra o Califado Abássida.[6] O Império Safárida não durou muito após a morte de seu fundador. Seu irmão e sucessor, Anre ibne Alaite, foi derrotado na Batalha de Bactro contra Ismail Samani em 900. Anre ibne Alaite foi forçado entregar muitos de seus territórios ao Império Samânida. Subsequentemente, os safáridas seriam confinados ao Sistão, momento este que tornar-se-iam vassalos dos samânidas e seus sucessores.

História[editar | editar código-fonte]

Fundação[editar | editar código-fonte]

A dinastia safárida começou com Iacube ibne Alaite Alçafar, filho de Alaite, um caldeireiro que mudou-se para a cidade de Zaranje. Ele deixou sua função para tornar-se um Ayyār e posteriormente adquiriu o poder como governante independente. De sua capital Zaranje ele dirigiu-se para leste rumo a al-Rukhkhadj e Zamindavar e então para os Zumbil e Cabul Xai por 865. Ele então invadiu Bamiã, Bactro, Badeguis e Gor. Em nome do islamismo, ele conquistou estes território que eram governados principalmente por chefes tribais budistas. Ele tomou vasta quantidade de saque e escravos desta campanha.[7][8]

Exércitos árabes portando a bandeira do Islã apareceram do Oeste para derrotar os sassânidas em 642 e então eles marcharam com confiança para Leste. Na periferia ocidental da área afegã os príncipes de Herate e Sistão desistiram para serem governados por governantes árabes mas no Leste, nas montanhas, cidades submeteram-se apenas para ascenderam em revolta e a conversão apressada voltou-se para suas antigas crenças uma vez que os exércitos passaram. A dureza e avareza do governo árabe produziu tamanha insatisfação, contudo, que uma vez que o poder declinou do califado tornou-se aparente, governantes nativos novamente estabeleceram-se independentes. Dentre estes os safáridas do Sistão brilharam brevemente na área afegã. O fundador fanático desta dinastia, o aprendiz de caldeireiro Iacube ibne Alaite Alçafar, saiu de sua capital em Zaranje em 870 e marchou através de Boste, Candaar, Gásni, Cabul, Bamiã, Bactro e Herate, conquistando em nome do Islã.[9]

A cidade taírida de Herate foi capturada em 870 e sua campanha na região de Bagdis levou à captura dos carijitas que mais tarde formaram o contingente Djash al-Shurat em seu exército. Iacube então virou seu foco para o ocidente e começou a atacar o Coração, Cuzestão, Carmânia (sudeste do Irã) e Pérsis (sudeste do Irã). Os safáridas então tomaram o Cuzestão e partes do sul do Iraque, e em 876 chegaram perto de derrubar os abássidas, cujo exército foi capaz de empurrá-los apenas dentro de alguns dias de marcha de Bagdá. Estas incursões, contudo, forçaram o Califado Abássida a reconhecer Iacube como governador do Sistão, Pérsis e Carmânia, e até mesmo foi oferecido postos chave aos safáridas em Bagdá.[10]

Derrocada[editar | editar código-fonte]

Em 901, Anre Safari foi derrotado na batalha de Bactro pelo Império Samânida, que reduziu o Império Safárida a um pequeno tributário no Sistão.[7] Em 1002, Mamude do Império Gasnévida invadiu o Sistão e destronou Calafe ibne Amade, dando fim ao Estado safárida.[11]

Cultura[editar | editar código-fonte]

Os safáridas deram muita atenção à cultura persa. Sob o governo deles, o mundo islâmico oriental testemunhou a emergência de proeminentes poetas persas tais como Fairuz do Maxerreque, Abu Salique de Jirjã e Maomé ibne Uacife do Sistão, que foi um poeta cortesão.[12] No final do século IX, os safáridas deram impeto ao renascimento da nova literatura e cultura persas. Após a conquista de Herate por Iacube, alguns poetas escolheram celebrar sua vitória em árabe, após o que Iacube solicitou a seu secretário, Maomé ibne Uacife, composse tais versos em persa.[13] Das minas de prata no Vale de Panjexir, os safáridas foram capazes de cunhar moedas de prata.[14]

Governantes safáridas[editar | editar código-fonte]

Dinar de ouro de Amade ibne Maomé ibne Calafe ibne Alaite ibne Ali (r. 922–963)
Dinar de ouro de Calafe ibne Alaite (r. 963–1002)
Título Nome pessoal Reinado
Independência do Califado Abássida
Amir
أمیر
al-Saffar
caldeireiro
الصفار
Iacube ibne Alaite
یعقوب بن اللیث
861-879
Amir
أمیر
Anre ibne Alaite
عمرو بن اللیث
879-901
Amir
أمیر
Abul-Hasan
أبو الحسن
Tair ibne Maomé ibne Anre
طاھر بن محمد بن عمرو
co-governante Iacube ibne Maomé ibne Anre
901-908
Amir
أمیر
Alaite
اللیث بن علي
908-910
Amir
أمیر
Maomé ibne Ali ibne Alaite
محمد بن علي
910-911
Amir
أمیر
Almuadal
المعضل ابن علي
911
Amir
أمیر
Abu Hafes
ابو حفص
Anre ibne Iacube
عمرو بن یعقوب بن محمد بن عمرو
912-913
Ocupação pelo Império Samânida em 913-922
Amir
أمیر
Abu Ja'far
ابو جعفر
Amade ibne Maomé ibne Calafe ibne Alaite ibne Ali 922-963
Amir
أمیر
Wali-ud-Daulah
ولي الدولة
Calafe ibne Amade 963-1002
Conquistado por Mamude ibne Sebutiquim do Império Gasnévida em 1002

Referências

  1. Tor 2009, p. 281.
  2. Bosworth 1975, p. 121.
  3. Stearns 2001, p. 115.
  4. Daftary 2012, p. 51.
  5. Cannon 1994, p. 288.
  6. Clifford Edmund Bosworth. «SAFFARIDS» (em inglês). Consultado em 24 de julho de 2015 
  7. a b Bosworth 1968, p. 34.
  8. Bosworth 1995, p. 795.
  9. Dupree 1971.
  10. Esposito 1999, p. 38.
  11. Bosworth 1968, p. 89.
  12. Bosworth 1969, p. 104.
  13. Bosworth 1975, p. 129.
  14. Pandjhir, Encyclopedia of Islam, Vol. VIII, 258.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bosworth, C. E. (1975). «The Tahirids and the Saffarids». In: R.N.Frye. The Cambridge History of Iran: The period from the Arab Invasion to the Saljuqs. 4. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Bosworth, C. E. (1968). «The Development of Persian Culture under the Early Ghaznavids». Iran. 6 
  • Bosworth, C. E.; Donzel, E. van; Heinrichs, W.P.; Lecomte, G. (1995). Encyclopedia of Islam. 7. Leida e Nova Iorque: Brill 
  • Bosworth, C.E. (1963). The Ghaznavids 994-1040. Edimburgo: Imprensa da Universidade de Edimburgo 
  • Bosworth, C.E. (1969). «The Ṭāhirids and Persian Literature». Iran. 7 
  • Cannon, Garland Hampton (1994). The Arabic Contributions to the English Language: An Historical Dictionary. Viesbade: Otto Harrassowitz. ISBN 3447034912 
  • Daftary, Farhad (2012). Historical Dictionary of the Ismailis. Lanham: Imprensa Scarecrow. ISBN 081086164X 
  • Dupree, Nancy (1971). «Sites in Perspective (Chapter 3)». An Historical Guide To Afghanistan Afghan Tourist Organization. Cabul: [s.n.] OCLC 241390 
  • Esposito, John L. (1999). The Oxford History of Islam. Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia 
  • Stearns, Peter N.; Langer, William Leonard (2001). The Encyclopedia of World History. Boston: Houghton Mifflin 
  • Tor, D. G. (2009). «The Islamization of Central Asia in the Samanid era and the reshaping of the Muslim world». Londres: Universidade de Londres. Bulletin of the School of Oriental and African Studies. 72 (2)