Igreja Católica na Libéria – Wikipédia, a enciclopédia livre

IgrejaCatólica

Libéria
Igreja Católica na Libéria
Escola Técnica Stella Maris, instituição educativa propriedade da Arquidiocese de Monróvia.
Ano 2010[1]
População total 3.390.000[1]
Cristãos 3.430.000 (85,9%)[1]
Católicos 290.000 (7,2%)[1]
Paróquias 51[2][nota 1]
Presbíteros 79[2][nota 1]
Seminaristas 31[2][nota 1]
Diáconos permanentes 0[2][nota 1]
Religiosos 43[2][nota 1]
Religiosas 59[2][nota 1]
Presidente da Conferência Episcopal Anthony Fallah Borwah[3]
Núncio apostólico Walter Erbì[4]
Códice LR

A Igreja Católica na Libéria é parte da Igreja Católica universal, em comunhão com a liderança espiritual do Papa, em Roma, e da Santa Sé. A sociedade liberiana é amplamente tolerante em relação à religião, e os grupos religiosos geralmente têm convivência pacífica entre si. Os cristãos protestantes representam o maior grupo religioso, mas o sincretismo religioso é relativamente comum.[5]

História[editar | editar código-fonte]

Os missionários portugueses visitaram a região costeira a partir do século XV, e os jesuítas e capuchinhos de Serra Leoa fundaram um apostolado intermitente 200 anos depois. Os assentamentos de negros, libertados da escravidão nos Estados Unidos, começaram a se formar em 1822 e, desde a sua fundação, a Libéria foi um reduto da atividade missionária protestante. Os bispos católicos americanos e a Congregação para a Propagação da Fé manifestaram grande preocupação pelos colonos católicos expatriados. Em 1833, o bispo John England, de Charleston, Carolina do Sul, solicitou a Roma que missionários fossem enviados para cuidar de colonos católicos negros. O Papa Gregório XVI então pediu aos bispos da Filadélfia e Nova York que enviassem um padre. Eles chegaram em 1842: Edward Barron, um padre irlandês da Filadélfia, e John Kelly (1802-1866), um padre irlandês da Albânia, com Denis Pindar (1823-1844), um catequista leigo irlandês. Barron tornou-se o primeiro bispo do Vicariato Apostólico das Duas Guinés (criado em 1842), um imenso território que abrangia toda a África Ocidental, do Senegal ao rio Orange, na África Austral. Ele retornou à Libéria em 1844, depois de recrutar sete padres e três leigos na Europa. A missão foi abandonada antes do final do ano porque os missionários haviam morrido ou estavam com problemas de saúde devido ao clima úmido da região. Barron renunciou ao cargo e voltou para os Estados Unidos.[6]

A Congregação do Espírito Santo de Serra Leoa se estabeleceram em Monróvia, uma missão que durou de 1884 a 1886. Quando a Prefeitura Apostólica da Libéria foi criada, em 1903, (e o vicariato em 1934), foi confiada aos Monfortinos, que permaneceram por um ano no clima insalubre. A Sociedade das Missões Africanas (SMA) chegou em 1906 e se encarregou da missão. Em 1928, havia 3.350 católicos, principalmente entre as tribos costeiras.[6]

A Libéria permaneceu como prefeitura apostólica até 1934, quando John Collins, SMA, foi ordenado bispo e nomeado vigário apostólico. Em 1950, o vicariato foi dividido quando se estabeleceu a prefeitura apostólica de Cape Palmas; esta última jurisdição foi elevada ao status de vicariato em 1962. O primeiro padre etnicamente liberiano, Patrick Kla Juwle, foi ordenado em 1946. Em 1972, foi ordenado como o primeiro bispo católico da Libéria e foi nomeado Vigário Apostólico de Cape Palmas. A hierarquia da Igreja Católica liberiana foi formalmente estabelecida em 1981, quando Monróvia se tornou uma arquidiocese e teve a Diocese de Cape Palmas como uma sufragânea. A Sé Metropolitana de Monróvia foi dividida em 1986, quando surgiu a Diocese de Gbarnga, também sufragânea.[6]

O flagrante desrespeito pelas liberdades civis provocou um confronto entre os líderes da Igreja e as autoridades civis e militares. O Secretariado Nacional Católico, com sede em Monróvia, defendeu os direitos humanos e as liberdades civis através de um jornal e estação de rádio; como a posição da Igreja era forte entre os povos indígenas que o governo pretendia representar, sua voz não pôde ser silenciada.[6]

A Primeira Guerra Civil da Libéria gerou um saldo de 200.000 mortos e mais de 800.000 refugiados. O conflito prejudicou gravemente a realidade católica, particularmente porque a Igreja dependia muito de suas escolas, instituições de saúde e serviços sociais. As instalações da igreja sofreram grande dano físico; alguns, incluindo os da capital Monróvia, foram totalmente destruídos. Muitas congregações religiosas foram dispersas, muitos missionários forçados a sair. Embora não seja um alvo declarado de nenhuma das facções militares, a Igreja perdeu um sacerdote missionário de Gana em 1991, e cinco irmãs missionárias americanas no ano seguinte, todos executados. Em outubro de 1994, dois bispos do país foram forçados a deixar a Libéria, e o arcebispo Michael Francis foi o único a permanecer, graças à proteção oferecida por uma força de paz da África Ocidental. Os leigos católicos mantiveram o catolicismo vivo entre as pessoas durante a guerra civil, especialmente nas áreas onde as escolas haviam deixado de funcionar. Os católicos, trabalhando com o Conselho ecumênico de Igrejas da Libéria, patrocinaram grandes programas de assistência humanitária e assistência social; seu trabalho entre os refugiados, pessoas deslocadas e exilados mostrou-se consistente e efetivo. A defesa dos direitos humanos e o apoio ativo da paz e da evolução democrática continuaram a ser foco das cartas pastorais e discursos dos bispos da Libéria durante a guerra civil, que terminou em 1997, quando eleições livres levaram o presidente rebelde Charles Ghankay Taylor ao poder.[6]

Atualmente[editar | editar código-fonte]

Taylor foi um defensor do cristianismo. Como exemplo, em 1999 despediu a maioria de seu gabinete depois de vários membros não comparecerem a uma reunião de oração. No final de 2000, o conflito armado na região norte havia recomeçado em meio a acusações de corrupção contra Taylor e seu governo. Nesse mesmo ano, restavam apenas 51 paróquias na Libéria, comandadas por 52 padres, dos quais 26 eram religiosos. Menos de 100 outros religiosos permaneceram no país, a maioria dos quais cuidava das 34 escolas primárias católicas e 26 secundárias da Libéria. Ordens ativas na região incluíam os Hospitalários de São João de Deus, Missionários da Imaculada Conceição, Salesianos e Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus.[6]

Em 15 de fevereiro de 2003, os bispos da Libéria, Serra Leoa e Gâmbia visitaram pessoalmente o então Papa João Paulo II. Suas palavras aos liberianos foram:[7]

Embora os vossos Países continuem a enfrentar desafios humilhantes, uno-me a vós na ação de graças a Deus pelos grandes progressos alcançados no restabelecimento da paz na Libéria e em Serra Leoa. Ao mesmo tempo, estou preocupado com os recentes acontecimentos na região circunvizinha, que poderiam ameaçar os esforços permanentes em ordem ao restabelecimento da estabilidade. O caminho para a paz é sempre difícil. Contudo, estou persuadido de que o compromisso e a boa vontade das pessoas interessadas neste processo podem ajudar a construir, uma vez mais, uma cultura de respeito e de dignidade. A Igreja, que tem sofrido enormemente em virtude destes conflitos, deve manter a sua vigorosa posição, a fim de proteger os indivíduos que não têm voz. Meus estimados Irmãos no Episcopado, exorto-vos a trabalhar incansavelmente pela reconciliação e a dar testemunho autêntico da unidade, mediante gestos de solidariedade e de apoio às vítimas de várias décadas de violência.
 
Papa São João Paulo II na visita ad limina apostolorum dos bispos da Libéria, Serra Leoa e Gâmbia[7].

A Libéria é um país religiosamente pacífico, e a tolerância religiosa é amplamente defendida pela sociedade em geral.[8] A Igreja Católica liberiana, muito envolvida no trabalho social e caritativo no país, foi duramente afetada pelo surto de ebola que atingiu boa parte da África Ocidental. A Ordem Hospitaleira de São João de Deus na Libéria e em Serra Leoa perdeu quatro irmãos religiosos, uma irmã religiosa e três trabalhadores leigos nos hospitais de Monróvia e Lunsar. Eles contraíram a doença por contato com pacientes.[9] Em resposta à propagação da doença, a Santa Sé, apresentou no dia 7 de janeiro de 2015 um documento contendo um plano de ação da Igreja para auxiliar melhor nessa situação, incluindo o envio de 3 milhões de euros como "resposta concreta à emergência", sendo o valor distribuído para as comunidades da Guiné, Libéria e Serra Leoa.[10][11]

Em 2018 a Libéria tornou-se o 153º país a receber a Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), tendo contado com a ajuda de membros da ordem de Serra Leoa, Nigéria e Zâmbia. O país já possui 156 membros da SSVP.[12] Após a adoção de medidas para combater a propagação da COVID-19, a Conferência Episcopal liberiana manifestou preocupação com o número crescente de violações dos direitos humanos por parte das várias agências de segurança do país, e reforçou a necessidade de agir dentro dos limites da lei.[5]

Organização territorial[editar | editar código-fonte]

O catolicismo está presente no território com uma arquidiocese e duas dioceses de rito romano, sujeitas à Província Eclesiástica de Monróvia,[2][13] além da Eparquia da Anunciação de Ibadan, sediada na Nigéria e presente em diversos países africanos, incluindo a Libéria, e é voltada para os fiéis católicos que seguem o rito maronita.[14]

Circunscrições eclesiásticas católicas da Libéria[13]
Diocese Rito Ano de ereção Catedral Mapa Ref.
Arquidiocese de Monróvia Romano 1903 Catedral do Sagrado Coração [15]
Diocese de Cape Palmas Romano 1950 Catedral de Santa Teresinha do Menino Jesus [16]
Diocese de Gbarnga Romano 1961 Catedral do Espírito Santo [17]
Eparquia da Anunciação de Ibadan Maronita 2014 Catedral de Nossa Senhora da Anunciação (Nigéria) [14]

Conferência Episcopal[editar | editar código-fonte]

A reunião dos bispos do país forma a Conferência dos Bispos Católicos da Libéria, que foi criada em 1999.[3]

Nunciatura Apostólica[editar | editar código-fonte]

A Delegação Apostólica da Libéria foi criada em 1929, e foi elevada a Internunciatura Apostólica, e depois a Nunciatura Apostólica em 1951 e 1966, respectivamente.[4]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. a b c d e f Os números não incluem a Eparquia Maronita da Anunciação de Ibadan, por estar sediada na Nigéria, e abranger os territórios de diversos países africanos.

Referências

  1. a b c d «Religions in Liberia». Pew Forum. Consultado em 23 de agosto de 2019 
  2. a b c d e f g «Catholic Dioceses in Republic of Liberia». GCatholic. Consultado em 21 de julho de 2021 
  3. a b «Catholic Bishops' Conference of Liberia». GCatholic. Consultado em 23 de agosto de 2019 
  4. a b «Apostolic Nunciature - Liberia». GCatholic. Consultado em 23 de agosto de 2019 
  5. a b «Libéria». Fundação ACN. Consultado em 21 de julho de 2021 
  6. a b c d e f «Liberia, Catholic Church in». Encyclopedia.com. Consultado em 26 de agosto de 2019 
  7. a b São João Paulo II (15 de fevereiro de 2003). «DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II AOS BISPOS DO GÂMBIA, DA LIBÉRIA E DE SERRA LEOA POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM». Vatican.va. Consultado em 26 de agosto de 2019 
  8. «LIBÉRIA». Fundação ACN. Consultado em 26 de agosto de 2019 
  9. «Líbéria» (PDF). Fundação ACN. Consultado em 26 de agosto de 2019 
  10. «Vaticano dará 3 milhões de euros para combate do vírus ebola». Canção Nova Notícias. 7 de janeiro de 2015. Consultado em 26 de agosto de 2019 
  11. «Vaticano vai destinar 3 milhões de euros para combater ebola na África». G1. 8 de janeiro de 2015. Consultado em 26 de agosto de 2019 
  12. «Libéria: novo país a se juntar à SSVP». Confederação Internacional da Sociedade de São Vicente de Paulo. 23 de abril de 2018. Consultado em 26 de maio de 2019 
  13. a b «Liberia - Current Dioceses». Catholic-Hierarchy. Consultado em 23 de agosto de 2019 
  14. a b «Maronite Diocese of Annunciation of Ibadan». GCatholic. Consultado em 30 de abril de 2020 
  15. «Archdiocese of Monrovia». GCatholic. Consultado em 24 de agosto de 2019 
  16. «Diocese of Cape Palmas». GCatholic. Consultado em 24 de agosto de 2019 
  17. «Diocese of Gbarnga». GCatholic. Consultado em 24 de agosto de 2019