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Hilary Putnam
Hilary Putnam
Nascimento 31 de julho de 1926
Chicago, Illinois
Morte 13 de março de 2016 (89 anos)
Nacionalidade norte-americano
Prêmios Tarski Lectures (1995)
Principais interesses Filosofia da mente · Filosofia da linguagem · Filosofia da matemática · Metafilosofia · Epistemologia
Ideias notáveis Externalismo semântico · Terra Gêmea · Algoritmo de Davis-Putnam · Algoritmo DPLL
Religião Judaísmo

Hilary Whitehall Putnam (Chicago, 31 de julho de 192613 de março de 2016[1]) foi um filósofo estadunidense e uma das figuras centrais da filosofia ocidental desde a década de 1960, especialmente em filosofia da mente, filosofia da linguagem e filosofia da ciência.[2] Ele é conhecido pela sua prontidão em aplicar igual grau de escrutínio tanto às próprias posições filosóficas quanto às posições de outros filósofos, submetendo cada posição a uma análise rigorosa e expondo seus defeitos.[3] Como resultado, Putnam adquiriu a reputação de filósofo que muda frequentemente de posição.

Na filosofia da mente, Putnam é conhecido pelos seus argumentos contra a identidade-tipo dos estados mentais e físicos, baseado nas suas hipóteses da realização múltipla da mente, e pelo conceito de funcionalismo, uma teoria influente sobre o problema corpo-mente.[4] Na filosofia da língua, com Saul Kripke e outros, ele desenvolveu a teoria causal da referência, que aplicou principalmente aos termos de espécie natural como água, tigre, olmo e etc.. Formulou uma teoria original do significado que tenta levar em consideração a linguagem o mundo e a sociedade, criando com isto uma noção de externalismo semântico, baseado num famoso pensamento experiente chamado Terra Gêmea (ou Twin Earth).[5] Entretanto Putnam já não acreditava mais nos resultados deste experimento mental.[6]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Hilary Putnam nasceu em Chicago e cresceu em uma família secular com um pai gentio de esquerda, Samuel, e uma mãe judia,[7] Riva. Seus pais não o criaram em nenhuma fé (além do comunismo), e Putnam só retornou ao judaísmo quando seu filho pediu um bar mitsvá. Putnam foi trotskista e abandonou a faculdade para recrutar trabalhadores navais para a causa.[8][9] Apesar de romper com seu passado radical, Putnam nunca abandonou sua crença de que os acadêmicos têm uma responsabilidade social e ética específica em relação à sociedade. Ele continuou a ser franco e progressista em suas visões políticas, conforme expresso nos artigos "Como não resolver problemas éticos" (1983) e "Educação para a democracia" (1993).[10]

Alguns afirmam que Putnam foi ateu no começo[11] e no fim[12] de sua carreira,[13] mas quanto à sua religião havido vários debates. No entanto, Putnam tentou clarificar o debate:

"Aqueles que conhecem meus escritos daquele período podem se perguntar como eu reconciliei minha tendência religiosa que existe, até certo ponto mesmo naquela época, e minha visão geral do mundo materialista científico na época. A resposta é que eu não as reconciliei. Eu era um profundo ateu, e eu era um crente. Eu simplesmente mantive estas duas minhas partes separadas. Na maior parte, no entanto, foi o materialista científico dominante em mim nos anos cinquenta e sessenta."[14]

Experimento mental[editar | editar código-fonte]

Putnam é conhecido pela criação de muitos experimentos mentais com objetivo de explorar as possíveis consequências do princípio em questão. Eis outros exemplos famosos:

Cérebro numa cuba[editar | editar código-fonte]

Putnam usa este experimento mental para argumentar que cenários céticos são impossíveis.

O cérebro numa cuba é um elemento usado em uma variedade de experimentos mentais destinados a extrair determinadas características de nossas ideias de conhecimento, da realidade, da verdade, da mente e significado. Este experimento mental de Putnam é desenhado a partir da ideia, comum a muitas histórias de ficção científica, que essa máquina de um cientista maluco, ou outra entidade pode remover o cérebro de uma pessoa do corpo, o suspende-lo num líquido em um tanque de manutenção da vida, e conectar seus neurônios por fios a um supercomputador que lhe forneçam impulsos elétricos idênticos aos que cérebro normalmente recebe.[15] O cérebro numa cuba é uma versão contemporânea do argumento dado na versão budista da ilusão de Maya, na alegoria de Platão da Caverna, no conto do sábio chinês, Zhuangzi, sonhou que era uma borboleta, e na versão do demônio, em Meditações, de René Descartes.

No experimento, os terminais nervosos do cérebro foram ligados a um supercomputador que faz com que a pessoa de quem é o cérebro está conectado tenha a ilusão de que tudo está perfeitamente normal.[16] Durante sua vida na cuba, para o cérebro parece haver pessoas, objectos, o paredes, ruas, etc.; mas realmente tudo o que a pessoa, está experienciando é o resultado de impulsos electrónicos deslocando-se do computador para os terminais nervosos do cérebro, da mesma forma apresentada no filme Matrix.

O supercomputador é programado para que se a pessoa tenta levantar a mão, a programação do computador fará com que ela "observe" e "sinta" a mão se levantando. Mais ainda, variando o programa, o cientista maluco pode fazer com que a vítima tenha "experiência" de qualquer situação ou ambiente que ele deseje ou creia.

Ele pode também apagar a memória com que o cérebro opera, de modo que à própria vítima lhe parecerá ter estado sempre neste ambiente. Pode mesmo parecer à vítima que ela está a ler este artigo na Wikipédia sobre a divertida mas completamente impossível suposição de que existe um cientista maluco que remove os cérebros das pessoas dos seus corpos e os coloca numa cuba de nutrientes que os mantém vivos.[17]

A formiga que desenha Churchill[editar | editar código-fonte]

No experimento mental sobre a formiga que desenha Churchill, Putnam nos conta o cenário de uma formiga que está caminhando em um trecho de areia. Conforme ela caminha, ela traça uma linha na areia. Por acaso a linha que ela traça deixa um rastro de curvas e cruzamentos que acaba parecendo uma caricatura da efígie Winston Churchill.[18]

Putnam questiona retoricamente se a formiga realmente traçou na areia uma foto do rosto de Winston Churchill. Podemos afirmar veridicamente que a formiga criou uma imagem que retrata Churchill? Embora nós possamos reconhecer a figura do estadista britânico, segundo Putnam, a maioria das pessoas, com uma pequena reflexão, diriam que não podemos afirmar que a formiga procurava representar tal personalidade.

A formiga criou uma imagem que retrata Churchill?

A formiga, afinal, nunca viu Churchill, ou nem mesmo viu uma imagem de Churchill, e podemos acrescentar a isto que ela não tinha a intenção de retratar Churchill. Ela simplesmente traçou uma linha que podemos "ver como" uma imagem de Churchill. Embora os rastros deixados pelo inseto assemelham-se a ele, não podemos afirmar que a formiga procurava representar tal personalidade.

Podemos expressar isso dizendo que a linha não é "em si" uma representação de alguma coisa ao invés de qualquer outra coisa.

A semelhança com as feições do rosto de Winston Churchill não é suficiente para fazer algo representar ou se referir a Churchill. Nem é necessário formato grafico impresso "Winston Churchill", ou a palavra falada "Winston Churchill", e muitas outras coisas são usados ​​para representar Churchill, apesar de não ter o tipo de semelhança com Churchill que um imagem da formiga tem.

  • Se semelhança não é necessária ou suficiente para fazer algo representar algo mais, como alguma coisa pode ser necessária ou suficiente para essa finalidade?
  • Como representar uma coisa (ou elas representam, etc) com uma coisa diferente?

A resposta parece ser fácil. Suponha que a formiga tinha visto Winston Churchill, e suponha que teve a inteligência e habilidade para desenhar uma imagem dele. Suponha que a caricatura foi produzida intencionalmente. Então as linhas na areia representariam Churchill.[19]

Obras principais[editar | editar código-fonte]

  • Philosophy of Mathematics: Selected Readings. Editado com Paul Benacerraf. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1964. 2. ed., Cambridge: Cambridge University Press, 1983. ISBN 0-521-29648-X
  • Philosophy of Logic. New York: Harper and Row, 1971. London: George Allen and Unwin, 1972. ISBN 0-04-160009-6
  • Mathematics, Matter and Method. Philosophical Papers, vol. 1. Cambridge: Cambridge University Press, 1975. 2. ed., 1985 paperback: ISBN [[Especial:Fontes_de_livros/0-521-29550-5%0A%2A+%27%27Mind%2C+Language+and+Reality.+Philosophical+Papers%2C+vol.+2%27%27.+Cambridge%3A+Cambridge+University+Press%2C+1975.+2003+paperback%3A+%5B%5BInternational+Standard+Book+Number%7CISBN%5D%5D%26nbsp%3B%5B%5BEspecial%3AFontes_de_livros%2F0-521-29551-3+%7C0-521-29551-3%5D%5D%0A%2A+%27%27Meaning+and+the+Moral+Sciences%27%27.+London%3A+Routledge+and+Kegan+Paul%2C+1978. |0-521-29550-5
  • Mind, Language and Reality. Philosophical Papers, vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1975. 2003 paperback: ISBN 0-521-29551-3
  • Meaning and the Moral Sciences. London: Routledge and Kegan Paul, 1978.]] Erro de parâmetro em {{ISBN}}: caractere inválido
  • Reason, Truth, and History. Cambridge: Cambridge University Press, 1981. 2004 paperback: ISBN 0-521-29776-1
  • Realism and Reason. Philosophical Papers, vol. 3. Cambridge: Cambridge University Press, 1983. 2002 paperback: ISBN 0-521-31394-5
  • Methodology, Epistemology, and Philosophy of Science: Essays in Honour of Wolfgang Stegmüller. editado com Wilhelm K. Essler and Carl G. Hempel. Dordrecht: D. Reidel, 1983.
  • Epistemology, Methodology, and Philosophy of Science: Essays in Honour of Carl G. Hempel. editad o com Wilhelm K. Essler and Wolfgang Stegmüller. Dordrecht: D. Reidel, 1985.
  • The Many Faces of Realism. La Salle, Ill.: Open Court, 1987. ISBN 0-81269043-5
  • Representation and Reality. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1988. ISBN 0-262-66074-1
  • Realism with a Human Face. edited by James F. Conant. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1990. ISBN 0-674-74945-6
  • Renewing Philosophy. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1992. ISBN 0-674-76094-8
  • Pursuits of Reason: Essays in Honor of Stanley Cavell. editado com Ted Cohen and Paul Guyer. Lubbock: Texas Tech University Press, 1993. ISBN 0-89672266-X
  • Words and Life. edited by James F. Conant. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1994. ISBN 0-674-95607-9
  • Pragmatism: An Open Question. Oxford: Blackwell, 1995. ISBN 0-63119343-X
  • The Threefold Cord: Mind, Body, and World. New York: Columbia University Press, 1999. ISBN 0-231-10287-9
  • Enlightenment and Pragmatism. Assen: Koninklijke Van Gorcum, 2001. 48pp.
  • The Collapse of the Fact/Value Dichotomy and Other Essays. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2002. ISBN 0-674-01380-8
  • Ethics Without Ontology. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2004. ISBN 0-674-01851-6

Referências

  1. «Hilary Putnam (1926-2016)» (em inglês) 
  2. Casati R., "Hilary Putnam" in Enciclopedia Garzanti della Filosofia, ed. Gianni Vattimo. 2004. Garzanti Editori. Milan. ISBN 88-11-50515-1
  3. King, P.J. One Hundred Philosophers: The Life and Work of the World's Greatest Thinkers. Barron's 2004, p. 170.
  4. PERUZZO JÚNIOR, Léo (2017). O que pensam os filósofos contemporâneos? Um diálogo com Singer, Dennett, Searle, Putnam e Bauman. Curitiba: PUCPRESS. 120 páginas 
  5. Jack Ritchie (junho de 2002). «TPM:Philosopher of the Month». Consultado em 1 de agosto de 2006 
  6. "Philosophy of language" lecture 16 (internalist vs. externalist) por John Searle. (2010) [[1]]
  7. Hilary Putnam: Secular Philosopher and Religious Jew (July 31, 1926-March 13 2016) por Matthew Zachary Gindin (2016)
  8. Remembering Hilary Putnam, Harvard Philosopher and Religious Jew por Michael Pershan (2016)
  9. Foley, M. (1983). Confronting the War Machine. North Carolina: North Carolina Press. ISBN 0-8078-2767-3 
  10. To appear in the "American Philosophers" edition of Literary Biography, ed. Bruccoli, Layman and Clarke
  11. Benjamin Balint (16 de março de 2016). «Jewish Philosophy as a Guide to Life: Rosenzweig, Buber, Levinas, Wittgenstein review». Haaretz Israel. ...author and translator, a scholar in Romance languages, an atheist and columnist in a Communist newspaper. 
  12. Leigh Eric Schmidt (26 de setembro de 2016). «Village Atheists: How America's Unbelievers Made Their Way in a Godly Nation». Princeton University Press. Even thirty years later, when he was once again an “atheist, Putnam” remained in awe...  (capítulo um, página 32)
  13. Kai Nielsen (2001). «Naturalism and Religion». Promwtheus Books. The “atheist, Putnam” has it that Wittgenstein has,...  (página 374)
  14. Ofer Aderet (outubro de 2008). «Hilary Putnam, Prolific Jewish-American Thinker Who Revolutionized Contemporary Philosophy, Dies». First Things. ... he was the image of an analytic thinker, a scientific materialist, and a self-described “thoroughgoing atheist.” For that matter, he was a Maoist, an anti-Vietnam activist, and a vocal member the Progressive Labor Party, a Communist organization,... 
  15. Reason, Truth, and History, chapter 1, pp. 1-21 - Brains in a vat by Hilary Putnam - Cambridge University Press(1982) [[2]]
  16. Putnam, Hilary; Peruzzo, Léo; Putnam, Hilary; Peruzzo, Léo (agosto de 2015). «MIND, BODY AND WORLD IN THE PHILOSOPHY OF HILARY PUTNAM». Trans/Form/Ação. 38 (2): 211–216. ISSN 0101-3173. doi:10.1590/S0101-317320150002000011. Consultado em 3 de julho de 2017. Arquivado do original em 20 de dezembro de 2010 
  17. Hillary Putnam, Razão, Verdade e História, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1992, pp. 28-29.
  18. PUTNAM, Hilary. Razão, verdade e história. Lisboa: Dom Quixote, 1992, p. 15-17
  19. Reason, Truth, and History capitulo 1, pgs. 1 a 21 - por Hilary Putnam (1982)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • «Bibliografia» (em inglês) 
  • Interview with Hilary Putnam - Revista Trans/form/ação - UNESP (vol. 38, n.2, 2015).[1]


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  1. Putnam, Dr Hilary; Dr Léo (10 de agosto de 2015). «MIND, BODY AND WORLD IN THE PHILOSOPHY OF HILARY PUTNAM». TRANS/FORM/AÇÃO. 38 (2). ISSN 0101-3173