Guerra biológica – Wikipédia, a enciclopédia livre

O símbolo internacional de risco biológico
Considerado o precursor das Guerras Biológicas, Gêngis Cã conseguiu aniquilar cidades inteiras com o auxilio da Peste Negra.[1]

Guerra Biológica é o conflito onde são usados microorganismos vivos como arma, dizimando vidas humanas, animais e vegetais.

Basicamente, um agente - um vírus, por exemplo - é liberado no ambiente onde irá encontrar hospedeiros - as vítimas -, se replicarão e se desenvolverão, causando uma doença e contaminando outros indivíduos. Os patogênicos utilizados como arma podem ser: Vírus, Bactérias, Protozoários, Fungos, e qualquer "ser vivo" que poderia vir a desencadear alguma doença "vírus" tecnicamente não são considerados vivos pela teoria dos organismo

Podem ser empregadas de várias formas para a obtenção de vantagens técnicas ou estratégicas sobre um adversário, tanto como ameaça quanto como o seu uso real. As bio-armas - como também são chamados - podem inclusive ser usadas como uma forma de se evitar o avanço de inimigos sobre um território. Esses agentes biológicos podem ser ou não letais, e podem ser direcionados contra um único indivíduo, a um grupo, ou até mesmo contra uma população inteira. Quando armas biológicas são usadas por grupos independentes, é um caso de bioterrorismo.

História[editar | editar código-fonte]

Antiguidade e Idade Media[editar | editar código-fonte]

Na Antiguidade e na Idade Média a guerra biológica era praticada através do uso das substâncias tóxicas originárias de organismos vivos. Os Exércitos usavam corpos em decomposição para contaminar o abastecimento de água de uma cidade sitiada, ou atiravam dentro das muralhas inimigas cadáveres de vítimas de doenças como varíola ou peste bubônica (conhecida na Idade Média como peste negra). O arremesso de corpos sobre as muralhas das cidades sitiadas era realizado com o uso de catapultas, e apresentava também um impacto moral pela visão de um corpo voando sobre a muralha e se espatifando no pátio interno da fortaleza ou cidade, além do forte odor do corpo em putrefação.

Ideia de Gêngis Cã[editar | editar código-fonte]

Considerados os pais da Guerra Biológica, os Mongóis atiraram para dentro dos muros da cidade de Cafa - onde tropas inimigas conseguiram se esconder e resistir ao ataques do líder Mongol - cadáveres em estado avançado de decomposição de soldados que sucumbiram à Peste negra.

Como se isso não fosse o suficiente, a doença começou a se alastrar pela cidade, causando a morte em massa dos inimigos do imperador. Os poucos sobreviventes do ataque, fugiram, espalhando ainda mais a Peste pelo continente Europeu.[1]

Unidade 731

Segunda Guerra Mundial[editar | editar código-fonte]

O único uso documentado de armas biológicas em combate foi feito pelos japoneses contra cidades chinesas entre os anos 30 e 40, na Segunda Guerra Sino-Japonesa. O exército imperial japonês possuía uma unidade secreta para pesquisa e desenvolvimento de guerra biológica, denominada Unidade 731. Também foram atribuídos aos japoneses experimentos com agentes bacteriológicos, principalmente em prisioneiros de guerra.

Guerra Fria[editar | editar código-fonte]

Durante a Guerra Fria, os EUA e a ex-URSS desenvolvem pesquisas voltadas para a guerra bacteriológica. A criação e armazenamento de armas biológicas foi proibida pela Convenção sobre Armas Biológicas (BWC) de 1972. Até maio de 1997, o acordo foi assinado por 159 países, dos quais 141 já o ratificaram, inclusive o Brasil. A ideia subjacente a este acordo é evitar o devastador impacto de um ataque bem sucedido, que poderia concebivelmente resultar em milhares, possivelmente milhões de mortes e causar roturas severas a sociedades e economias. No entanto, a convenção proíbe somente a criação e o armazenamento, mas não o uso, destas armas. Entretanto, o consenso entre analistas militares é que, exceto no contexto do bioterrorismo, a guerra biológica tem uma aplicação militar bastante limitada.

A China e Coréia do Norte chegaram a acusar os Estados Unidos de realizarem testes de campo durante a Guerra da Coréia, mas essa acusação nunca foi comprovada. Desde 1969, as leis americanas proíbem o uso de armas biológicas, sob qualquer circunstância.

Atualmente[editar | editar código-fonte]

As armas biológicas são as mais temidas na atualidade, pois são capazes de devastar várias sociedades contaminando a água, o ar, a terra e os alimentos. São feitas a partir de toxinas, bactérias, vírus, fungos ou outros microrganismos que são fabricados em laboratório e prejudicam a saúde do homem. Hoje existem laboratórios de armas biológicas no Iraque, Irã, Síria, Índia, Paquistão, China, Estados Unidos, Rússia, Coreia do Norte e Afeganistão.

Continente Asiático[editar | editar código-fonte]

Vírus são potenciais armas biológicas. Importante ressaltar aqui que nos dias atuais não ha qualquer comprovação de pesquisas ou testes com vírus com finalidades militares. Na imagem, vemos a representação do vírus Influenza

Iraque[editar | editar código-fonte]

Em 1995, o principal inspetor de armas da UNSCOM, Dr. Rod Barton da Austrália, mostrou documentos obtidos por Taha da UNSCOM que mostravam o governo iraquiano tinha acabado de comprar 10 toneladas de meio de cultura de uma empresa britânica chamada Oxoid. O meio de cultura é uma mistura de açúcares, proteínas e minerais, que fornece nutrientes para os micro-organismos crescerem. Ele pode ser usado em hospitais e laboratórios de pesquisa biológica em microbiologia/molecular. Nos hospitais, compressas de pacientes são colocados em placas contendo meio de cultura para fins de diagnóstico. Consumo hospitalar do Iraque de meio de cultura foi de apenas 200 kg por ano; ainda em 1988, o Iraque importou 39 toneladas do mesmo. Mostrado esta prova pela UNSCOM, Taha admitiu aos inspetores que ela tinha 19 mil litros de toxina botulínica; 8 mil litros de antraz; 2 mil litros de aflatoxina, que pode causar insuficiência hepática; Clostridium perfringens, uma bactéria que pode causar gangrena gasosa; e ricina. Ele também admitiu a realização de pesquisas em cólera, salmonella, a febre aftosa, e varíola do camelo, uma doença que usa as mesmas técnicas de cultura, como a varíola, que é mais seguro para os pesquisadores trabalharem. Foi por causa da descoberta do trabalho de Taha com a varíola do camelo que os Estados Unidos e os serviços de inteligência britânicos temiam que Saddam Hussein pode ter sido o planejamento para armar o vírus da varíola. O Iraque teve um surto de varíola em 1971, e a Weapons Intelligence Non Proliferation and Arms Control Center (WINPAC) acreditava que o governo iraquiano reteve material contaminado.

Irã[editar | editar código-fonte]

O Irã avançou em programas de pesquisa de biologia e engenharia genética que apoiam uma indústria que produz vacinas de classe mundial, tanto para uso doméstico e de exportação. A natureza de dupla utilização destas instalações significa que o Irã, como qualquer país com programas avançados de pesquisa biológica, poderia facilmente produzir agentes de guerra biológica. Um relatório de 2005 do Departamento de Estado dos Estados Unidos afirmou que o Irã começou a trabalhar em armas biológicas ofensivas durante a Guerra Irã-Iraque, e que sua grande legítima indústria de bio-tecnológica e biomédica "poderia facilmente esconder a capacidade de produção em escala industrial para um potencial programa de armas biológicas, e pode mascarar a aquisição de equipamentos de processos relacionados com armas biológicas". O relatório disse ainda que "a informação disponível sobre as atividades iranianas indica um programa ofensivo amadurecendo com uma capacidade de rápida evolução que pode em breve incluir a capacidade de proporcionar as armas por uma variedade de meios".

Síria[editar | editar código-fonte]

Síria é considerada geralmente por não ter armas biológicas. No entanto, existem relatos de um programa ativo de pesquisa e de produção de armas biológicas. De acordo com o consultor da OTAN Dr. Jill Dekker, a Síria já trabalhou em: antraz, peste, tularemia, botulismo, varíola, aflatoxina, cólera, ricina e camelpox, e tem usado a ajuda da Rússia na instalação de antraz em ogivas de mísseis.[2] Também afirmou que "encaram seu arsenal bioquímico, como parte de um programa de armas normal".[2]

Índia[editar | editar código-fonte]

A Índia tem uma infraestrutura de biotecnologia bem desenvolvida que inclui numerosas instalações de produção farmacêutica bio laboratórios de contenção (incluindo BSL-3 e BSL-4) para trabalhar com agentes patogénicos letais. Algumas das instalações da Índia estão sendo usadas para apoiar a pesquisa e desenvolvimento de armas biológicas para fins de defesa. A Índia ratificou a BWC e compromete-se a respeitar as suas obrigações. Não há nenhuma evidência clara, circunstancial ou não, que aponta diretamente para um programa de armas biológicas ofensivas. Nova Deli possui a capacidade científica e de infraestrutura para lançar um programa de armas biológicas ofensivas, mas optou por não fazê-lo. Em termos de entrega, a Índia também possui a capacidade de produzir aerossóis e tem inúmeros sistemas de entrega de potenciais que vão desde aviões agrícolas para mísseis balísticos sofisticados.[3]

Paquistão[editar | editar código-fonte]

Quanto à sua capacidade de guerra biológica, o Paquistão não é suspeito de qualquer produção de armas biológicas ou ter um programa biológico ofensivo. No entanto, o país é relatado para ter instalações e laboratórios bem desenvolvidos de biotecnologia, dedicados inteiramente à pesquisa médica e ciências aplicadas da saúde. Em 1972, o Paquistão assinou e ratificou o Convenção sobre as Armas Biológicas e Tóxicas (BTWC), em 1974. Desde então, o Paquistão tem sido um defensor vocal e firme para o sucesso da BTWC. Durante as várias conferências de revisão da BTWC, representantes do Paquistão pediram uma participação mais robusta dos Estados signatários, convidou novos estados a aderir ao tratado, e, como parte do grupo de países não signatários, têm feito o caso de garantias para os direitos dos estados à participar de intercâmbios pacíficos de materiais biológicos e tóxicos para fins de pesquisa científica.[4]

China[editar | editar código-fonte]

A China é atualmente um dos signatários da Convenção sobre as Armas Biológicas e Tóxicas e as autoridades chinesas afirmaram que a China nunca se envolveu em atividades biológicas com aplicações militares ofensivas. No entanto, a China foi relatada como ter tido um programa de armas biológicas ativo na década de 80.

Kanatjan Alibekov, ex-diretor de um dos programas de guerra biológica soviética, disse que a China sofreu um grave acidente em uma de suas fábricas de armas biológicas no fim dos anos 80. Alibekov afirmou que satélites de reconhecimento soviéticos identificaram um laboratório de armas biológicas e uma fábrica perto de um local para testar ogivas nucleares. Os soviéticos suspeitavam que duas epidemias distintas de febre hemorrágica que assolou a região no fim dos anos 80 foram causadas por um acidente em um laboratório onde os cientistas chineses foram responsáveis pelas doenças virais.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «5 Hábitos Brutais das Hordas da Mongólia -». 25 de março de 2017. Consultado em 30 de julho de 2019 
  2. a b «Syria's Bio-Warfare Threat: an interview with Dr. Jill Dekker». www.newenglishreview.org. Consultado em 31 de julho de 2019 
  3. «NTI: Research Library: Country Profiles: India Biological Chronology». web.archive.org. 4 de junho de 2011. Consultado em 31 de julho de 2019 
  4. «Cenário: A paz entre Paquistão e Índia é garantida por 480 armas nucleares - Internacional». Estadão. Consultado em 31 de julho de 2019 


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