Primeira tentativa de golpe de Estado na Venezuela em 1992 – Wikipédia, a enciclopédia livre

Golpe de Estado de 1992 na Venezuela
Data 4 de fevereiro de 1992
Local Venezuela
Desfecho A intentona golpista falhou em derrubar o governo liderado pelo presidente Carlos Andrés Pérez
Beligerantes
Venezuela Governo da Venezuela Venezuela Movimiento Bolivariano Revolucionario 200 (MBR-200)
Comandantes
Venezuela Carlos Andrés Pérez
Venezuela General Fernando Ochoa Antich
Venezuela Hugo Chávez
Venezuela Francisco Arias Cárdenas
Venezuela Luis Reyes Reyes

A tentativa de golpe de Estado na Venezuela de fevereiro de 1992 foi uma tentativa de assumir o controle do governo da Venezuela pelo Movimiento Bolivariano Revolucionario-200 (MBR-200), liderado por Hugo Chávez. A tentativa de golpe foi direcionada contra o governo de Carlos Andrés Pérez.[1] Apesar do fracasso da iniciativa, o golpe de fevereiro deixou controvérsias que se estendem até a atualidade e puseram Chávez como alvo da atenção nacional.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Na juventude de Chávez, a Venezuela passou por um período de estabilidade econômica e democrática notável no contexto sul-americano daquela época, ainda que a tortura, os maus-tratos, as execuções sumárias, os desaparecimentos de políticos e a corrupção fossem frequentes. Essas estabilidades se basearam no comércio externo e nos recursos oriundos do petróleo. Entretanto, quando a Arábia Saudita e outros países exportadores de petróleo aumentaram o nível de produção, a Venezuela entrou em crise.[1] Os preços atingiram o piso histórico e os ganhos socioeconômicos obtidos pela Venezuela foram subitamente levados a uma fração dos níveis anteriores.[2]

Em reação a isto, em 1989 o governo de Carlos Andrés Pérez pôs em prática medidas de ajuste estrutural propostas pelo FMI. Tais medidas tinham o objetivo de restabelecer a estabilidade fiscal e de implantar políticas neoliberais, tais como reduzir os gastos sociais e alterar a política de preços de muitos produtos. Tais políticas pioraram a vida da maioria da população venezuelana e culminaram nos violentos tumultos do dia 27 de fevereiro de 1989, conhecidos por Caracaço - o episódio mais violento e destrutivo desse tipo na história da Venezuela.

Origens ideológicas[editar | editar código-fonte]

Muitos conspiradores foram membros do "Partido de la Revolución Venezolana" na década de 1970, criado pelo ex-guerrilheiro Douglas Bravo, que concebeu a estratégia de infiltração na Força Aérea Venezuelana para alcançar o poder.[3] Além disso, a conspiração teve início mais de dez anos antes de Carlos Andrés Pérez tornar-se presidente da Venezuela.

MBR-200[editar | editar código-fonte]

O "Movimiento Bolivariano Revolucionario 200" (MBR-200) foi fundado pelo tenente-coronel Hugo Chávez Frías, ao qual mais tarde se juntou Francisco Arias Cárdenas. Eles usaram a imagem do herói revolucionário venezuelano Simón Bolívar como seu símbolo. Sua principal crítica era sobre a corrupção do governo de Carlos Andrés Pérez, assim como as dificuldades econômicas e a desordem social. Na visão desses dois homens, o sistema político devia ser mudado por inteiro para que a mudança social ocorresse.

Desdobramentos do golpe[editar | editar código-fonte]

Após um longo período de insatisfação popular e de declínio econômico sob o governo neoliberal de Carlos Andrés Pérez,[2] Chávez preparou-se por um longo tempo para um golpe de Estado cívico-militar.[4] Inicialmente planejado para dezembro, Chávez adiou o golpe do MBR-200 até as primeiras horas do crepúsculo de 4 de fevereiro de 1992. Nessa data, cinco unidades do exército sob o comando de Chávez fizeram barricadas em Caracas com o objetivo de atacar e dominar instalações-chave dos militares e de comunicações na cidade, inclusive o Palácio de Miraflores, o Ministério da Defesa, o aeroporto militar de La Carlota e o Museu Militar.[1] O principal objetivo de Chávez era encontrar e deter Pérez antes que ele retornasse a Miraflores, vindo de uma viagem ao exterior.

Chávez obteve a lealdade de 10% das Forças Armadas venezuelanas;[5] ainda assim, numerosas traições, deserções, erros e outras circunstâncias imprevistas rapidamente levaram Chávez e um pequeno grupo de rebeldes a ter as comunicações cortadas no Museu Militar, sem quaisquer meios de transmitir ordens à rede de espiões e colaboradores espalhados pela Venezuela.[6] Pior: os aliados de Chávez foram incapazes de transmitir nacionalmente as fitas pré-gravadas, nas quais Chávez planejava incitar a população a realizar um levante popular contra Pérez. Enquanto o golpe se desenrolava, Pérez escapou de ser capturado e 14 soldados foram mortos, 50 soldados foram feridos, além de 80 civis, na violência que se seguiu.[7] Não obstante, forças rebeldes em outras partes da Venezuela conseguiram avançar ao ponto de controlar cidades importantes, tais como Valencia, Maracaibo e Maracay com o apoio espontâneo da população. As forças de Chávez, porém, falharam no intuito de tomar Caracas e ele permaneceu dentro do Museu Militar.[8]

Chávez logo desistiu do governo. Ele então obteve permissão para aparecer em rede nacional de televisão para ordenar a todos os destacamentos rebeldes o fim das hostilidades. Quando o fez, Chávez disse na televisão que ele havia falhado apenas "por ahora"—"naquele momento".[9]

"Companheiros: infelizmente, neste momento, os objetivos que determinamos para nós mesmos não foram alcançados na capital. Isto é para dizer que nós em Caracas não fomos capazes de tomar o poder. Onde quer que vocês estejam, vocês desempenharam bem seus papéis, mas agora é tempo para repensar; novas possibilidades surgirão novamente e o país será capaz de ter definitivamente um futuro melhor."[9]

Chávez foi imediatamente catapultado para a atenção nacional, com muitos venezuelanos pobres tendo-o como uma figura que se levantou contra a corrupção do governo e a cleptocracia.[9][10] Em seguida, Chávez foi mandado à prisão de Yare; enquanto isso, Pérez, o alvo do golpe, recebeu o impeachment um ano mais tarde.

Consequências[editar | editar código-fonte]

Uma segunda tentativa de golpe, liderada por poucas unidades da Força Aérea Venezuelana, também falhou em 27 de novembro de 1992, enquanto Chávez ainda estava na prisão.

Com a imagem pública de Pérez desacreditada pelo insucesso das reformas neoliberais e afetada pelas tentativas de golpe, outros políticos começaram a desafiar sua autoridade, pondo em risco o sistema político bipartidário denominado "puntofijismo", que durou décadas. Os tumultos e as tentativas de golpe foram utilizados pelo ex-presidente Rafael Caldera para mostrar a gradual deterioração da democracia venezuelana e a explosiva conjugação de pobreza e corrupção na nação. Ações subsequentes feitas pelos intelectuais associados a Caldera resultaram na saída de Pérez da presidência em 20 de maio de 1993, sob a acusação de corrupção.[1] Manobras políticas permitiram a Caldera chegar à presidência naquele mesmo ano com um heterogêneo e não tradicional grupo de pequenos partidos políticos independentes.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d «Venezuela recorda a tentativa de golpe de 1992». BBC.co. BBC Brasil.com. 5 de fevereiro de 2003. Consultado em 31 de julho de 2012 
  2. a b Schuyler 2001, p. 10
  3. «Cópia arquivada». Consultado em 13 de agosto de 2009. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2011 
  4. Guillermoprieto 2005
  5. Gott 2005, p. 64
  6. Gott 2005, p. 63.
  7. Gott 2005, p. 69.
  8. Gott 2005, pp. 66-67
  9. a b c Gott 2005, p. 67.
  10. O'Keefe, Derrick. (Z Communications, 09 Mar 2005). "Building a Democratic, Humanist Socialism: The Political Challenge of the 21st Century" Arquivado fevereiro 2, 2011 no WebCite . Retrieved 11 November 2005.

Referências[editar | editar código-fonte]