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Friedrich Nietzsche
Filosofia contemporânea
Friedrich Nietzsche
Nietzsche em 1875.
Escola/Tradição: Filosofia continental, Nietzscheanismo
Data de nascimento: 15 de outubro de 1844
Local: Röcken, Saxônia,
Reino da Prússia
Morte 25 de agosto de 1900 (55 anos)
Local: Weimar, Saxônia
Principais interesses: Epistemologia, Ética, Ontologia, Filosofia da história, Psicologia
Religião nenhuma (ateísmo)
Ideias notáveis Morte de Deus, Vontade de Poder, Eterno retorno, Super-Homem, Perspectivismo, Apolíneo e Dionisíaco
Trabalhos notáveis Assim Falou Zaratustra
Influências: Heráclito, Epicuro, Platão, Montaigne, Pascal, Dostoiévski, Spinoza, Goethe, Schiller, Stirner, Schopenhauer, Heine, Emerson, Wagner
Influenciados:
Alma mater Universidade de Bonn
Universidade de Leipzig
Assinatura:

Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, Reino da Prússia, 15 de outubro de 1844Weimar, Império Alemão, 25 de agosto de 1900) foi um filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX, nascido na atual Alemanha.[1] Escreveu vários textos criticando a religião, a moral, a cultura contemporânea, a filosofia e a ciência, exibindo certa predileção por metáfora, ironia e aforismo.

Suas ideias-chave incluíam a dicotomia apolíneo/dionisíaca, o perspectivismo, a vontade de poder, a morte de Deus, o Übermensch e o eterno retorno. Sua filosofia central é a "afirmação da vida", que envolve o questionamento de qualquer doutrina que drene energias expansivas, não importando o quão histórica e socialmente predominantes sejam essas ideias.[2] Seu questionamento radical do valor e da objetividade da verdade tem sido extremamente debatido e sua influência continua a ser substancial, especialmente na tradição filosófica continental compreendendo existencialismo, pós-modernismo e pós-estruturalismo. Suas ideias de superação individual e transcendência tiveram um impacto profundo sobre diversos pensadores entre o final do século XIX e o início do século XX, que usaram tais conceitos como pontos de partida para suas próprias filosofias.[3][4] Recentemente, as reflexões de Nietzsche foram recebidas em várias abordagens filosóficas que se movem além do humanismo (por exemplo, o transumanismo).

Nietzsche começou sua carreira como filólogo clássico — um estudioso da crítica textual grega e romana — antes de se voltar para a filosofia. Em 1869, aos vinte e quatro anos, foi nomeado para a cadeira de Filologia Clássica na Universidade de Basileia, a pessoa mais jovem a ter alcançado esta posição.[5] Em 1889, com quarenta e quatro anos de idade, sofreu um colapso mental. O incidente foi posteriormente atribuído à paresia geral atípica devido à sífilis terciária, mas esse diagnóstico tem sido enfrentado pelos leitores e estudiosos da obra de Nietzsche.[6] Nietzsche viveu seus últimos anos sob os cuidados de sua mãe até a morte dela em 1897. Depois, caiu sob os cuidados de sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche, até morrer em 1900.

Como sua cuidadora, sua irmã assumiu o papel de curadora e editora de seus manuscritos. Elizabeth era casada com um proeminente nacionalista e antissemita alemão, Bernhard Förster, e retrabalhou escritos inéditos de Nietzsche para adequá-los à ideologia de seu marido de maneira contrária às opiniões expressas por seu irmão, que estavam forte e explicitamente opostas ao antissemitismo e ao nacionalismo. Através das edições de Förster-Nietzsche, o nome de Friedrich tornou-se associado ao militarismo alemão e ao nazismo, mas, desde o século XX, analistas literários vêm tentando neutralizar esse equívoco das ideias de Nietzsche.[7]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Juventude[editar | editar código-fonte]

Friedrich Wilhelm Nietzsche ( /ˈnə/[8] ou /ˈnii/[9]) nasceu em uma família luterana, em 15 de outubro de 1844. Filho de Karl Ludwig, seus dois avós eram pastores protestantes.[10] O próprio Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor, entretanto rejeitou a crença religiosa durante sua adolescência e o seu contato com a filosofia afastou-o da carreira teológica. Iniciou seus estudos no semestre de inverno de 1864-1865 na Universidade de Bonn em filologia clássica e teologia evangélica. Em Bonn, participou da Burschenschaft Frankonia, mas acabou abandonando-a em razão de sua participação atrapalhar seus estudos. Transferiu-se, depois, para a Universidade de Leipzig: isso se deveu, acima de tudo, à transferência do professor Friedrich Wilhelm Ritschl (figura paterna para Nietzsche) para essa organização. Durante os seus estudos na Universidade de Leipzig, a leitura de Schopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação, de 1820) veio a constituir as premissas da sua vocação filosófica. Aluno brilhante, dotado de sólida formação clássica, Nietzsche foi nomeado, aos 24 anos, professor de filologia na Universidade de Basileia. Adotou, então, a nacionalidade suíça. Desenvolveu, durante dez anos, a sua acuidade filosófica no contato com o pensamento grego antigo, com predileção para os Pré-socráticos, em especial para Heráclito e Empédocles. Durante os seus anos de ensino, tornou-se amigo de Jacob Burckhardt e Richard Wagner. Em 1870, comprometeu-se como voluntário (médico)[11] na Guerra franco-prussiana. A experiência da violência e o sofrimento chocaram-no profundamente.

Com a pressão de ser jovem e ter que manter sua colocação como professor universitário, em 1872 Nietzsche publica O Nascimento da Tragédia. O livro é recebido com críticas mordazes de Ulrich von Wilamowitz-Moellendorff, filólogo de renome da época. Segundo o acadêmico, Nietzsche era a “desgraça de Schulpforta”, sendo Schulpforta uma escola preparatória de renome em que Nietzsche e ele próprio estudaram.[12]

Nietzsche em agosto de 1868

Em 1879, seu estado de saúde obrigou-o a deixar o posto de professor. Sua voz, inaudível, afastava os alunos. Começou, então, uma vida errante em busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento (Veneza, Gênova, Turim, Nice, Sils-Maria: "Não somos como aqueles que chegam a formar pensamentos senão no meio dos livros — o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando (…)." Em 1882, encontrou Paul Rée e Lou Andreas-Salomé, a quem pediu em casamento. Ela recusou, após ter-lhe feito esperar sentimentos recíprocos. No mesmo ano, começou a escrever o Assim Falou Zaratustra, quando de uma estada em Nice. Nietzsche não cessou de escrever com um ritmo crescente. Este período terminou brutalmente em 3 de Janeiro de 1889 com uma "crise de loucura" que, durando até à sua morte, colocou-o sob a tutela da sua mãe e sua irmã. No início desta loucura, Nietzsche personificou alternativamente as figuras de Dionísio e Cristo, expressas em bizarras cartas, afundando, depois, em um silêncio quase completo até à sua morte. Uma lenda dizia que contraiu sífilis. Estudos recentes defendem um diagnóstico de transtorno afetivo bipolar, manifesto desde sua adolescência, o que explicaria tanto suas depressões como períodos de escrita intensa (grafomania), e mesmo sua criatividade literária e poética.[13] Após sua morte, sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche e Peter Gast, dileto amigo do filósofo, segundo um plano de Nietzsche, datado de 17 de março de 1887, efetuaram uma coletânea de fragmentos póstumos para compor a obra conhecida como "Vontade de Poder".[14] Essa obra foi, amiúde, acusada de ser uma "deturpação nazista"; tal afirmação mostrou-se inverídica, frente às comparações com a edição crítica alemã, como denotaram os tradutores da nova tradução para o português,[15] e especialmente o filósofo Gilvan Fogel, que afirmou que "é preciso que se enfatize: os textos são autênticos. Todos são da cunhagem, da lavra de Nietzsche. Não foram, como já se disse e se insinuou, distorcidos ou adulterados pelos organizadores".[16]

Durante toda a vida, tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando à conclusão de que nascera póstumo, para os leitores do porvir. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua obra Assim Falou Zaratustra e, então, tratou de difundi-la, em 1888.

Muitos estudiosos da época tentaram localizar os momentos que Nietzsche escrevia sob crises nervosas ou sob efeito de drogas (Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir sua própria maneira de minimizar os efeitos da sua doença).

Colapso mental e morte (1889–1900)[editar | editar código-fonte]

Foto de Hans Olde da série Nietzsche adoecido, c. 1899

Em 3 de janeiro de 1889, Nietzsche sofreu um colapso mental. O próprio teria testemunhado o açoitamento de um cavalo no outro extremo da Piazza Carlo Alberto, e então correu em direção ao cavalo, jogou os braços ao redor de seu pescoço para protegê-lo e, em seguida, caiu no chão.[17][18]

Nos dias seguintes, Nietzsche enviou escritos breves conhecidos como Wahnbriefe ("Cartas da loucura") para um número de amigos, como Cosima Wagner e Jacob Burckhardt. Muitas delas assinadas como "Dionísio".[19]

Embora a maioria dos comentaristas considerem seu colapso como alheios à sua filosofia, Georges Bataille chegou a insinuar que sua filosofia pudesse tê-lo enlouquecido ("'Homem encarnado' também deve enlouquecer")[20] e a psicanálise post mortem de René Girard postula uma rivalidade de adoração com o Richard Wagner.[21]

Faleceu em 25 de agosto de 1900. Encontra-se sepultado em Röcken Churchyard, Röcken, Saxônia-Anhalt na Alemanha.[22]

Pensamento[editar | editar código-fonte]

Nietzsche ao lado de sua mãe

A cultura ocidental e suas religiões, assim como a moral judaico-cristã, foram temas comuns em suas obras. Nietzsche se apresenta como alvo de muitas críticas na história da filosofia moderna, isto porque, primariamente, há certas dificuldades de entendimento na forma de apresentação das figuras e/ou categorias ao leitor ou estudioso, causando confusões devido principalmente aos paradoxos dos conceitos de realidade ou verdade.

Nietzsche, sem dúvida, considera o cristianismo e o budismo como "as duas religiões da decadência", embora ele afirme haver uma grande diferença nessas duas concepções. O budismo, para Nietzsche, "é cem vezes mais realista que o cristianismo". Religiões que aspiram ao nada, cujos valores dissolveram a mesquinhez histórica. Não obstante, também se autointitula ateu:

"Para mim o ateísmo não é nem uma consequência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto" (Ecce Homo, pt.II, af.1)

A crítica que Nietzsche faz do idealismo metafísico focaliza as categorias do idealismo e os valores morais que o condicionam, propondo uma outra abordagem: a genealogia dos valores.

Friedrich Nietzsche pretendeu ser o grande "desmascarador" de todos os preconceitos e ilusões do gênero humano: aquele que ousa olhar, sem temor, aquilo que se esconde por trás de valores universalmente aceitos, por trás das grandes e pequenas verdades melhor assentadas, por trás dos ideais que serviram de base para a civilização e nortearam o rumo dos acontecimentos históricos. E, assim, a moral tradicional (e, principalmente, a esboçada por Kant), a religião e a política não são, para ele, nada mais que máscaras que escondem uma realidade inquietante e ameaçadora, cuja visão é difícil de suportar. A moral, seja ela kantiana ou hegeliana e até a catharsis aristotélica, são caminhos mais fáceis de serem trilhados para se subtrair a plena visão autêntica da vida.

Nietzsche criticou essa moral que leva à revolta dos indivíduos inferiores, das classes subalternas e escravas contra a classe superior e aristocrática que, por um lado, pela adoção dessa mesma moral, sofre de má consciência e cria a ilusão de que mandar é por si mesmo é adotar essa moral.

Abordou com frequência a escravidão em seus escritos, referindo-se este tema mais de 300 vezes ao longo de sua obra e acreditava que os africanos eram mais aptos ao trabalho braçal.[23] Sobre a escravidão, Nietzsche escreveu:

Cada aprimoramento do "tipo homem" tem sido até agora obra de uma sociedade aristocrática – e será assim de novo e de novo – uma sociedade que acredita em uma longa escala de ordens de classificação e diferenças de valor entre homem e homem, e que precisa de escravidão em algum sentido ou outro.[24]

A vida só se pode conservar e manter-se através de imbricações incessantes entre os seres vivos, através da luta entre vencidos que gostariam de sair vencedores e vencedores que podem a cada instante ser vencidos e, por vezes, já se consideram como tais. Neste sentido, a vida é vontade de poder ou de domínio ou de potência. Vontade essa que não conhece pausas e, por isso, está sempre criando novas máscaras para se esconder do apelo constante e sempre renovado da vida; pois, para Nietzsche, a vida é tudo e tudo se esvai diante da vida humana. Porém as máscaras, segundo ele, tornam a vida mais suportável, ao mesmo tempo em que a deformam, mortificando-a à base de cicuta e, finalmente, ameaçando destruí-la.

Não existe vida média, segundo Nietzsche, entre aceitação da vida e renúncia. Para salvá-la, faz-se mister arrancar-lhe as máscaras e reconhecê-la tal como é: não para sofrê-la ou aceitá-la com resignação, mas para restituir-lhe o seu ritmo exaltante, o seu merismático júbilo.

O homem é um filho do "húmus" e é, portanto, corpo e vontade não somente de sobreviver, mas de vencer. Suas verdadeiras "virtudes" são o orgulho, a alegria, a saúde, o amor sexual, a inimizade, a veneração, os bons hábitos, a vontade inabalável, a disciplina da intelectualidade superior, a vontade de poder. Mas essas virtudes são privilégios de poucos, e é para esses poucos que a vida é feita. De fato, Nietzsche é contrário a qualquer tipo de igualitarismo e, principalmente, ao disfarçado legalismo kantiano, que atenta para o bom senso através de uma lei inflexível, ou seja, o imperativo categórico: "Proceda em todas as suas ações de modo que a norma de seu proceder possa tornar-se uma lei universal".

Essas críticas se deveram à hostilidade de Nietzsche em face do racionalismo, que logo refutou como pura irracionalidade. Para ele, Kant nada mais é do que um fanático da moral, uma tarântula catastrófica.

Friedrich Nietzsche em 1861

Para Nietzsche, o homem é individualidade irredutível, à qual os limites e imposições de uma razão que tolhe a vida permanecem estranhos a ela mesma, à semelhança de máscaras de que pode e deve libertar-se. Em Nietzsche, diferentemente de Kant, o mundo não tem ordem, estrutura, forma e inteligência. Nele, as coisas "dançam nos pés do acaso" e somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida.

Mesmo assim, apesar de todas as diferenças e oposições, deve-se reconhecer uma matriz comum entre Kant e Nietzsche, como que um substrato tácito mas atuante. Essa matriz comum é a alma do romantismo do século XIX com sua ânsia de infinito, com sua revolta contra os limites e condicionamentos do homem. À semelhança de Platão, Nietzsche queria que o governo da humanidade fosse confiado aos filósofos, mas não a filósofos como Platão ou Kant, que ele considerava simples "operários da filosofia".

Na obra nietzschiana, a proclamação de uma nova moral contrapõe-se radicalmente ao anúncio utópico de uma nova humanidade, livre pelo imperativo categórico, como esperançosamente acreditava Kant. Para Nietzsche, a liberdade não é mais que a aceitação consciente de um destino necessitante. O homem libertado de qualquer vínculo, senhor de si mesmo e dos outros, o homem desprezador de qualquer verdade estabelecida ou por estabelecer e estar apto para se exprimir a vida, em todos os seus atos — era este não apenas o ideal apontado por Nietzsche para o futuro, mas a realidade que ele mesmo tentava personificar.

Aqui, necessário se faz perceber que, ao que superficialmente se parece, Nietzsche cria e cai em seu próprio "Imperativo Categórico": por certo, imperativo este baseado na completa liberdade do ser e ausência de normas. Porém, a liberdade de Nietzsche está entre a aceitação consciente (livre escolha) de um objetivo moral superior (que transcende a racionalidade do ser humano) e a matéria, a razão material kantiana. Portanto, a realidade está na escolha consciente entre a moral superior (instinto, vontade do coração) e a moral racional (somatório de valores criados pelo homem). O que reside não nas palavras mas nos sentimentos (amor, música etc.).

Para Kant, a razão que se movimenta no seu âmbito, nos seus limites, faz o homem compreender-se a si mesmo e o dispõe para a libertação. Mas, segundo Nietzsche, trata-se de uma libertação escravizada pela razão, que só faz apertar-lhe os grilhões, enclaustrando a vida humana digna e livre.

Em Nietzsche, encontra-se uma filosofia antiteorética à procura de um novo filosofar de caráter libertário, superando as formas limitadoras da tradição que só galgou uma "liberdade humana" baseada no ressentimento e na culpa. Portanto, toda a teleologia de Kant de nada serve a Nietzsche: a ideia do sujeito racional, condicionado e limitado é rejeitada violentamente em favor de uma visão filosófica muito mais complexa do homem e da moral.

Nietzsche acreditava que a base racional da moral era uma ilusão e por isso, descartou a noção de homem racional, impregnada pela utópica promessa — mais uma máscara que a razão não autêntica impôs à vida humana. O mundo, para Nietzsche, não é ordem e racionalidade, mas desordem e irracionalidade. Seu princípio filosófico não era, portanto, Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso, e, por isso, se está dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A única e verdadeira realidade sem máscaras, para Nietzsche, é a vida humana tomada e corroborada pela vivência do instante.

Nietzsche era um crítico das "ideias modernas", da vida e da cultura moderna, do neonacionalismo alemão. Para ele, os ideais modernos como democracia, socialismo, igualitarismo, emancipação feminina não eram senão expressões da decadência do "tipo homem". Por estas razões, é, por vezes, apontado como um precursor da pós-modernidade.

Nietzsche fotografado por Hans Olde no verão de 1899

A figura de Nietzsche foi particularmente promovida na Alemanha Nazi, tendo sua irmã, simpatizante do regime hitleriano, fomentado esta associação. Como dizia Heidegger, ele próprio nietzschiano, "na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche".

Todavia, Nietzsche era explicitamente contra o movimento antissemita, posteriormente promovido por Adolf Hitler e seus partidários. A este respeito, pode-se ler a posição do filósofo:

Antes direi no ouvido dos psicólogos, supondo que desejem algum dia estudar de perto o ressentimento: hoje esta planta floresce do modo mais esplêndido entre os anarquistas e antissemitas, aliás onde sempre floresceu, na sombra, como a violeta, embora com outro cheiro.[25] …tampouco me agradam esses novos especuladores em idealismo, os antissemitas, que hoje reviram os olhos de modo cristão-ariano-homem-de-bem, e, através do abuso exasperante do mais barato meio de agitação, a afetação moral, buscam incitar o gado de chifres que há no povo…[25]

Sem dúvida, a obra de Nietzsche sobreviveu muito além da apropriação feita pelo regime nazista. Ainda hoje, é um dos filósofos mais estudados e fecundos. Por vários momentos, inclusive, Nietzsche tentou juntar seus amigos e pensadores para que um fosse professor do outro, em uma espécie de confraria. Contudo, esta ideia fracassou, e Nietzsche continuou sozinho seus estudos e desenvolvimento de ideias, ajudado apenas por poucos amigos que liam em voz alta seus textos, que, nos momentos de crise profunda, ele não conseguia ler.

Conceitos[editar | editar código-fonte]

Nietzsche em 1862

Seu estilo é aforismático, escrito em trechos concisos, muitas vezes de uma só página, e dos quais são pinçadas máximas. Muitas de suas frases se tornaram famosas, sendo repetidas nos mais diversos contextos, gerando muitas distorções e confusões. Algumas delas:

  1. "A filosofia é o exílio voluntário entre montanhas geladas."
  2. "Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de nós mesmos somos desconhecidos."
  3. "O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são."[26]
  4. "Como são múltiplas as ocasiões para o mal-entendido e para a ruptura hostil!"
  5. "Deus está morto. Viva perigosamente. Qual o melhor remédio? - Vitória!"
  6. "A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência: o budismo não promete, mas assegura. O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada."[26]
  7. "Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no "além" - no nada -, tira-se da vida o seu centro de gravidade."
  8. "Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. Diante de tanta sujeira, tal atitude é necessária."
  9. "O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o corpo."
  10. "A moralidade é o instinto do rebanho no indivíduo."[27]
  11. "O idealista é incorrigível: se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno."
  12. "Em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro desejo de poder."[28]
  13. "Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos."
  14. "Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar."[28]
  15. "Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você."[29]
  16. "A alma nobre tem reverência por si mesma."[30]
  17. "Não existem fenômenos morais, mas apenas uma interpretação moral dos fenômenos."[30]

Longe de ser um escritor de simples aforismos, ele é considerado pelos seus seguidores um grande estilista da língua alemã, como o provaria em Assim Falava Zaratustra, livro que ainda hoje é de dificílima compreensão estilística e conceitual. Muito pode ser compreendido na obra de Nietzsche como exercício de pesquisa filológica, no qual se unem palavras que não poderiam estar próximas ("nascer póstumo"; "Deus morreu", "delicadamente mal-educado", etc.).

Adorava a França e a Itália porque acreditava que eram terras de homens com espíritos-livres. Admirava Voltaire e considerava como último grande alemão e também humanista Goethe. Naqueles países, passou boa parte de sua vida e ali produziu seus mais memoráveis livros. Detestava a prepotência e o antissemitismo prussianos, chegando a romper com sua irmã Elizabeth e com o amigo Richard Wagner, por ver neles a personificação do que combatia — o rigor germânico, o antissemitismo, o imperativo categórico, o espírito aprisionado, antípoda de seu espírito-livre. Anteviu o seu país em caminhos perigosos, o que, de fato, se confirmou com a Primeira Guerra Mundial e a gestação do nazismo, catorze anos após a morte de Nietzsche.

O valor da história[editar | editar código-fonte]

A questão colocada por Nietzsche em 1874 é explicitamente a do valor da história e só pode ser colocada porque reporta a história a uma instância exterior, a vida, qualificada então como não histórica. Em 1878, Nietzsche inverte sua interrogação e preconiza uma "filosofia histórica" que identifica vida e história, abrindo assim a possibilidade de uma história dos valores. O problema consiste agora em saber como concretizar esta última. Nietzsche recorre então ao esquema utilitarista, com o qual começa uma longa discussão, como testemunha muito bem, em 1882, A Gaia Ciência. Em 1887, o próprio conceito de "genealogia" é empregado para significar uma nova historicidade, cuja possibilidade mesma depende da liquidação prévia desse modelo, de modo que a crítica a Paul Rée deve ser compreendida também como uma autocrítica.[31]

Referências nietzschianas[editar | editar código-fonte]

Contudo, no próprio legado do filósofo podemos inferir suas opiniões em relação a outras filosofias e posições. É sumamente importante notar que Nietzsche perdeu o pai muito cedo, seus primeiros livros publicados até 1878, que não expunham suas ideias mais ácidas, ainda assim fizeram pouco ou nenhum sucesso. Que ele ficou extremamente desapontado com o sucesso de Richard Wagner, o qual se aproximou do cristianismo. Teve uma vida errante, com poucos amigos, e sempre perseguido por surtos de doença.

Nas suas obras vemos críticas bastante negativas a Kant, Wagner, Sócrates, Platão, Aristóteles, Xenofonte, Martinho Lutero, à metafísica, ao utilitarismo, antissemitismo, socialismo, anarquismo, fatalismo, teologia, cristianismo, à concepção de Deus, ao pessimismo, estoicismo, ao iluminismo e à democracia.

Dentre os poucos elogios deferidos por Nietzsche, coletamos citações, muitas vezes com ressalvas, a Schopenhauer, Spinoza, Dostoiévski, Shakespeare, Dante, Napoleão, Goethe, Darwin, Leibniz, Pascal, Lord Byron, Musset, Leopardi, Kleist, Gogol, Voltaire, Schiller[32] e ao próprio Wagner, grande amigo e confidente de Nietzsche até certo momento.

Ele era, sem dúvida, apreciador da natureza, dos pré-socráticos e das culturas helênicas.

Niilismo[editar | editar código-fonte]

Nietzsche em 1869

O legado da obra de Nietzsche foi e continua sendo ainda hoje de difícil e contraditória compreensão. Assim, há os que, ainda hoje, associam suas ideias ao niilismo, defendendo que para Nietzsche:

"A moral não tem importância e os valores morais não têm qualquer validade, só são úteis ou inúteis consoante a situação"; "A verdade não tem importância; verdades indubitáveis, objetivas e eternas não são reconhecíveis. A verdade é sempre subjetiva"; "Deus está morto: não existe qualquer instância superior, eterna. O Homem depende apenas de si mesmo"; "O eterno retorno do mesmo: A história não é finalista, não há progresso nem objetivo". Ou ainda "...se existem deuses, como poderia eu suportar não ser um deus!? Por conseguinte não há deus." passagem que deixa evidente que a conclusão não decorre da premissa, mas sim da pessoal inaceitação do autor a um ente superior ao que ele próprio poderia conceber, ou seja: que, no mínimo, o autor é o ser de maior capacidade intelectiva que existe — isto portanto não o caracteriza como niilista. A superação do homem do seu tempo é o eixo de sua filosofia.

Outros autores, entretanto, não pensam que Nietzsche seja um autor do niilismo, mas ao contrário um crítico do niilismo. Na Genealogia da Moral o filósofo faz críticas abertas ao niilismo, que para ele seria um "anseio do vazio", uma manifestação dos seres doentes aonde se conformam e idealizam o vazio e não um verdadeiro estado de força. Além disso, para ele o homem pode ser, além de um destruidor, um criador de valores. E os valores a serem destruídos, como os cristãos (na sua obra, faz menção à doença, à ignorância), um dia seriam substituídos pela saúde, a inteligência, entre outros. Tal afirmação se baseia na obra Assim falou Zaratustra, onde se faz clara a vinda do Além-homem, sendo criar a finalidade do ser. Tal correspondência é totalmente contrária ao niilismo, pelo menos em princípio. Ou um "niilismo positivo", para Heidegger. Todavia, Nietzsche, contrário ou não, não deixando escapar de suas críticas nem mesmo seu mestre Schopenhauer nem seu grande amigo Wagner, procurou denunciar todas as formas de renúncia da existência e da vontade. É esta a concepção fundamental de sua obra Zaratustra, "a eterna, suprema afirmação e confirmação da vida". O eterno retorno significa o trágico-dionisíaco dizer sim à vida, em sua plenitude e globalidade. É a afirmação incondicional da existência.

Talvez a falta de consenso na apreciação da obra de Nietzsche tenha em parte a ver com os paradoxos no pensamento do próprio autor. As suas últimas obras, sobretudo o seu autobiográfico Ecce Homo (1888), foram escritas em meio à sua crise que se aprofundava. Em Janeiro de 1889, Nietzsche sofreu em Turim um colapso nervoso. Nietzsche passou os últimos 11 anos da sua vida sob observação psiquiátrica, inicialmente num manicômio em Jena, depois em casa de sua mãe em Naumburg e finalmente na casa chamada Villa Silberblick em Weimar, onde, após a morte de sua mãe, foi cuidado por sua irmã.

Obras[editar | editar código-fonte]

O arquivo de Nietzsche em Weimar, Alemanha, que guarda muitos de seus manuscritos

Obras de Friedrich Nietzsche, na ordem em que foram compostas:

  • O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música (Die Geburt der Tragödie aus dem Geiste der Musik, 1872); reeditado em 1886 com o título O Nascimento da Tragédia, ou Helenismo e Pessimismo (Die Geburt der Tragödie, Oder: Griechentum und Pessimismus) e com um prefácio autocrítico. — Contra a concepção dos séculos XVIII e XIX, que tomavam a cultura grega como epítome da simplicidade, da calma e da serena racionalidade, Nietzsche, então influenciado pelo romantismo, interpreta a cultura clássica grega como um embate de impulsos contrários: o dionisíaco, ligado à exacerbação dos sentidos, à embriaguez extática e mística e à supremacia amoral dos instintos, cuja figura é Dionísio, deus do vinho, da dança e da música, e o apolíneo, face ligada à perfeição, à medida das formas e das ações, à palavra e ao pensamento humanos (logos), representada pelo deus Apolo. Segundo Nietzsche, a vitalidade da cultura e do homem grego, atestadas pelo surgimento da tragédia, deveu-se ao desenvolvimento de ambas as forças, e o adoecimento da mesma sobreveio ao advento do homem racional, cuja marca é a figura de Sócrates, que pôs fim à afirmação do homem trágico e desencaminhou a cultura ocidental, que acabou vítima do cristianismo durante séculos.
  • A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos (Philosophie im tragischen Zeitalter der Griechen - provavelmente os textos que o compõem remontam a 1873 - publicado postumamente). Trata-se de um livro deixado incompleto, mas que se sabe ter sido intenção de Nietzsche publicar. Trata-se, no fundo, de um escrito ainda filológico mas já de matriz filosófica disfarçada por uma pretensa intenção histórica; mas o grande diferencial desta obra, sua inovação, consiste em sua interpretação psicológica dos pensadores originários. Considera os casos gregos de Tales, Anaximandro, Heráclito, Parménides e Anaxágoras sob uma perspectiva inovadora e interpretativa, relevadora da filosofia que é de Nietzsche.
  • Sobre a Verdade e Mentiras em um Sentido Não-Moral[33] (Über Wahrheit und Lüge im außermoralischen Sinn, 1873 - publicado postumamente; edição brasileira, 2008). — Ensaio no qual afirma que aquilo que consideramos verdade é mera "armadura de metáforas, metonímias e antropomorfismos". Apesar de póstumo é considerado por estudiosos como elemento-chave de seu pensamento.
  • Considerações Extemporâneas ou Considerações Intempestivas (Unzeitgemässe Betrachtungen, 1873 a 1876). — Série de quatro artigos (dos treze planejados) que criticam a cultura europeia e alemã da época de um ponto de vista antimoderno, e anti-histórico, de crítica à modernidade.
  • Humano, Demasiado Humano, um Livro para Espíritos Livres (Menschliches, Allzumenschliches, Ein Buch für freie Geister, versão final publicada em 1886); primeira parte originalmente publicada em 1878, complementada com Opiniões e Máximas (Vermischte Meinungen und Sprüche, 1879) e com O Andarilho e sua Sombra ou O Viajante e sua Sombra (Der Wanderer und sein Schatten, 1880). — Primeiro de estilo aforismático do autor.
  • Aurora, Reflexões sobre Preconceitos Morais (Morgenröte. Gedanken über die moralischen Vorurteile, 1881). — A compreensão hedonística das razões da ação humana e da moral são aqui substituídas, pela primeira vez, pela ideia de poder, sensação de poder, início das reflexões sobre a vontade de poder, que só seriam explicitadas em Assim Falou Zaratustra.
  • A Gaia Ciência, traduzida também com Alegre Sabedoria, ou Ciência Gaiata (Die fröhliche Wissenschaft, 1882). — No terceiro capítulo deste livro é lançada o famoso diagnóstico nietzschiano: "Deus está morto. Deus continua morto. E fomos nós que o matamos", proferido pelo Homem Louco em meio aos mercadores ímpios (§125). No penúltimo parágrafo surge a ideia de eterno retorno. E no último, aparece Zaratustra, o criador da moral corporificada do Bem e do Mal que, como personagem na obra posterior, finalmente superará sua própria criação e anunciará o advento de um novo homem, um Além-Homem.
  • Assim Falou Zaratustra, um Livro para Todos e para Ninguém (Also Sprach Zarathustra, Ein Buch für Alle und Keinen, 1883-85). Nessa trama centrada na figura do sábio solitário Zaratustra, o conceito do super-Homem surge necessário quando o homem já não mais se identifica com os seus semelhantes, com os demais homens. A necessidade da superação, reafirmando os valores imutáveis da natureza (como a força vital, o amor e o devir) tornam-se indispensáveis para que não se perca a própria identidade em meio ao caos do mundo, mesmo que isso não seja aceito ou bem interpretado pela sociedade.
  • Além do Bem e do Mal, Prelúdio a uma Filosofia do Futuro (Jenseits von Gut und Böse. Vorspiel einer Philosophie der Zukunft, 1886). Neste livro denso são expostos os conceitos de vontade de poder, a natureza da realidade considerada de dentro dela mesma, sem apelar a ilusórias instâncias transcendentes, perspectivismo e outras noções importantes do pensador. Critica demolidoramente as filosofias metafísicas em todas as suas formas, e fala da criação de valores como prerrogativa nobre que deve ser posta em prática por uma nova espécie de filósofos.
Placa com uma dedicatória para Nietzsche na casa em que ele residiu na cidade de Turim
  • Genealogia da Moral, uma Polêmica (Zur Genealogie der Moral, Eine Streitschrift, 1887). Complementar ao anterior — como que sua parte prática, aplicada — este livro desvenda o surgimento e o real significado de nossos corriqueiros juízos de valor.
  • O Crepúsculo dos Ídolos, ou como Filosofar com o Martelo (Götzen-Dämmerung, oder Wie man mit dem Hammer philosophiert, agosto-setembro 1888). Obra onde dilacera as crenças, os ídolos (ideais ou autores do cânone filosófico), e analisa toda a gênese da culpa no ser humano.
  • O Caso Wagner, um Problema para Músicos (Der Fall Wagner, Ein Musikanten-Problem, maio-agosto 1888).
  • O Anticristo - Praga contra o Cristianismo (Der Antichrist. Fluch auf das Christentum, setembro 1888) - Apesar de apontar Cristo, mesmo em sua concepção "própria", como sintoma de uma decadência análoga à que possibilitou o surgimento do Budismo, nesta obra Nietzsche dirige suas críticas mais agudas a Paulo de Tarso, o codificador do cristianismo e fundador da Igreja. Acusa-o de deturpar o ensinamento de seu mestre — pregador da salvação no agora deste mundo, realizada nele mesmo e não em promessas de um Além — forjando o mundo de Deus como acima e além deste mundo. "O único cristão morreu na cruz", como diz no livro que seria o início de uma obra maior a que deu sucessivamente os títulos de Vontade de Poder e Transmutação de Todos os Valores: uma grande composição sinótica da qual restam apenas meras peças (O Anticristo, O Crepúsculo dos Ídolos e o Nietzsche contra Wagner) não menos brilhantes que a restante obra.
  • Ecce Homo, de como a gente se torna o que a gente é (Ecce Homo, Wie man wird, was man ist, outubro-novembro 1888) — Uma autobi(bli)ografia, onde Nietzsche, ciente de sua importância e acometido por delírios de grandeza, acha necessário, antes de expor ao mundo a sua obra definitiva (jamais concluída), dizer quem ele é, por que escreve o que escreve e por que "é um destino". Comenta as suas obras então publicadas. Oferece uma consideração sobre o significado de Zaratustra. E por fim, dizendo saber o que o espera, anuncia o apocalipse: "Conheço minha sina. Um dia, meu nome será ligado à lembrança de algo tremendo — de uma crise como jamais houve sobre a Terra, da mais profunda colisão de consciências, de uma decisão conjurada contra tudo o que até então foi acreditado, santificado, requerido. (… ) Tenho um medo pavoroso de que um dia me declarem santo: perceberão que público este livro antes, ele deve evitar que se cometam abusos comigo. (… ) Pois quando a verdade sair em luta contra a mentira de milênios, teremos comoções, um espasmo de terremoto, um deslocamento de montes e vales como jamais foi sonhado. A noção de política estará então completamente dissolvida em uma guerra de espíritos, todas as formações de poder da velha sociedade terão explodido pelos ares — todas se baseiam inteiramente na mentira: haverá guerras como ainda não houve sobre a Terra."[34]
  • Nietzsche contra Wagner (Nietzsche contra Wagner, Aktenstücke eines Psychologen, dezembro 1888).

Manuscritos publicados postumamente[editar | editar código-fonte]

Escreveu ainda uma recolha de poemas, publicados postumamente, com o nome de Ditirambos de Dionísio.

Nietzsche deixou muitos cadernos manuscritos, além de correspondências. O volume desses textos é maior do que o dos publicados. Os de 1870 desenvolvem muitos temas de seus livros publicados, em especial uma teoria do conhecimento. Os de 1880 que, após seu colapso nervoso, foram selecionados pela sua irmã, que os publicou com o título "A Vontade de Poder", desenvolvem considerações mais ontológicas a respeito das doutrinas de vontade de poder e de eterno retorno e sua capacidade de interpretar a realidade. Entre essas especulações e sob os esforços de intérpretes de sua obra, os manuscritos de 1880 estabelecem repetidamente que "não há fatos, somente interpretações".

Contudo, está disponível a obra Fragmentos Finais, que é baseada na reestruturação feita aos seus manuscritos no Arquivo.

No Brasil, alguns trechos desses fragmentos póstumos podem ser encontrados no livro Nietzsche da coleção Os Pensadores, publicada pela editora Abril Cultural.

Composições Musicais[editar | editar código-fonte]

As composições de Friedrich Nietzsche não são tão conhecidas como seus escritos filosóficos ou seus poemas, mas o próprio Nietzsche, como um artista, pensou a música como seu principal meio de expressão.

Antes de se estabelecer plenamente como um filósofo, ele já havia criado uma miscelânea significativa de produções como poeta e compositor.[6] A poesia permaneceu essencial para seus escritos filosóficos, e a composição musical tornou-se menos importante para ele na medida em que seu envolvimento com a palavra escrita foi adquirindo "nome próprio". Como consequência, as suas obras musicais são geralmente consideradas de pouca importância para a compreensão do seu pensamento filosófico.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Ainda que tanto leigos quanto alguns críticos o classifiquem como um "filósofo alemão" (The Stanford Encyclopedia of Philosophy; Source: Nietzsche: A Very Short Introduction (See Preview on Amazon); Britannica; The Cambridge Companion to Nietzsche, page 1), outros não lhe categorizam como um nacionalista (exemplos: Edward Craid (editor): The Shorter Routledge Encyclopedia of philosophy. Abingdon: Routledge, 2005, páginas 726-741; Simon Blackburn: The Oxford Dictionary of Philosophy. Oxford: Oxford University Press, 2005, páginas 252-253; Jonathan Rée e J. O. Urmson, ed. (1960). The Concise encyclopedia of western philosophy (em inglês) 3ª ed. Londres: Routledge. p. 267–270. ISBN 0-415-32924-8 ). Nietzsche, na verdade, nasceu antes que o estado nacional da Alemanha viesse a existir e, de qualquer maneira, quando ele aceitou seu posto de professor em Basel, pediu a anulação de sua cidadania prussiana. (Er beantragte also bei der preussischen Behörde seine Expatrierung [Translation:] "Dessa forma, ele pediu às autoridades prussianas que fosse expatriado". Curt Paul Janz: Friedrich Nietzsche: Biographie volume 1. Munich: Carl Hanser, 1978, page 263), o que o tornou oficialmente um indivíduo sem nacionalidade definida; a resposta oficial confirmando a sua expatriação veio em um documento datado de 17 de abril de 1869. Texto em alemão em Entlassungsurkunde für den Professor Friedrich Wilhelm Nietzsche aus Naumburg in Giorgio Colli and Mazzino Montinari: Nietzsche Briefwechsel: Kritische Gesamtausgabe. Part I, Volume 4. Berlin: Walter de Gruyter, 1993. ISBN 3 11 012277 4, página 566.
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  4. Belliotti, Raymond (2013). Jesus or Nietzsche: how should we live our lives? (em inglês). Amsterdam: Rodopi. pp. 195–201. 229 páginas. ISBN 9789042036581. OCLC 854753395 
  5. Brobjer, Thomas (2008). Nietzsche's philosophical context: an intellectual biography (em inglês). Urbana: University of Illinois Press. p. 42. 268 páginas. ISBN 9780252032455. OCLC 486856702 
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  16. FOGEL, Gilvan. Apresentação. in: NIETZSCHE, Friedrich. Vontade de Poder. RJ: Editora Contraponto, 2008. p.10
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  23. A. Ruehl, Martin (12 de janeiro de 2018). «In defence of slavery: Nietzsche's dangerous thinking». The Independent (em inglês). Consultado em 11 de dezembro de 2021 
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  32. NIETZSCHE, Friedrich (2011). Sobre o futuro dos nossos estabelecimento de ensino In: Escritos sobre educação. rio de janeiro/São Paulo: editora Puc-Rio e Edições Loyola. pp. 91, 131, 157 
  33. Nietzsche, Friedrich Wilhelm (2007). Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral. [S.l.]: Hedra 
  34. Porque Sou um Destino §1, tradução de Paulo César Souza.

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