Festa de Nossa Senhora dos Navegantes de Porto Alegre – Wikipédia, a enciclopédia livre

A Igreja dos Navegantes
A procissão fluvial em 1918

A Festa de Nossa Senhora dos Navegantes é uma tradicional festa religiosa da cidade brasileira de Porto Alegre, homenageando Nossa Senhora dos Navegantes. O ápice das festividades ocorre no dia 2 de fevereiro de cada ano. É uma das maiores festividades religiosas do sul do Brasil,[1] e um Patrimônio Imaterial da cidade.[2] Originalmente uma festa católica, com o tempo absorveu muitos devotos de Iemanjá, criando-se um simbolismo sincrético.[3][4]

Histórico[editar | editar código-fonte]

A primeira festa ocorreu em 1871, quando chegou à cidade a imagem de Nossa Senhora encomendada em Portugal. Nesta data ainda não havia uma igreja para a santa, e as comemorações se realizaram na Capela do Menino Deus, distante do centro urbano. Como a comunidade portuguesa desejasse que a imagem fosse exposta à população em geral, iniciou a tradição das procissões, levando a imagem até a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na zona central da cidade. Em 1877 foi inaugurada a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, que passou a ser sede permanente da imagem.[3]

Tradicionalmente a festa se realiza ao longo de vários dias, incluindo missas, procissões, foguetório, banquetes e outras atividades.[3][5] Na praça diante da Igreja dos Navegantes é montada uma feira com muitas barracas para venda de alimentos, bebidas, medalhas, santinhos e outros artigos. Desde a década de 1920 o consumo de melancias, fruta associada a Iemanjá, se tornou um dos elementos mais tradicionais da festa.[4]

As celebrações iniciam em meados de janeiro com a procissão de translado da imagem até o Rosário, onde fica em exposição até o dia 2 de fevereiro. Antigamente no dia 2 ocorria uma grande procissão fluvial, com embarcações singrando o Lago Guaíba desde o Cais do Porto, levando a imagem de volta para sua casa.[3] Na década de 1980 a imagem era conduzida em uma lancha do Corpo de Bombeiros que espargia jatos de água colorida, seguida por mais de 200 embarcações ornamentadas e apinhadas de pessoas. Ao passar debaixo da Ponte do Guaíba a lancha era coberta por uma chuva de flores e papel picado, entre os vivas da multidão.[4]

Contudo, em 1989 a procissão fluvial oficial foi descontinuada por determinação da Capitania dos Portos, em função de preocupações com a segurança, e se tornou terrestre. A medida foi muito criticada. Mesmo assim, muitos barcos da Cooperativa de Pescadores da Colônia Z5 e de clubes náuticos continuaram realizando um percurso aquático paralelo.[4][6] Em 2008 a procissão paralela contou com cerca de 130 embarcações, partindo da Ilha da Pintada, passando pela Usina do Gasômetro, pelo Cais do Porto e finalizando no Parque Náutico do Estado, a pouca distância da igreja.[4]

Em 2009 a imagem voltou a ser levada de barco, em caráter experimental.[6] No mesmo ano foi publicado o livro Festa de Nossa Senhora dos Navegantes em Porto Alegre: sincretismo entre Maria e Iemanjá, de Ari Pedro Oro e José Carlos Gomes dos Anjos, a fim de "registrar e divulgar esse importante acontecimento na história de Porto Alegre, uma festa que congrega devotos das religiões católica e de matriz africana".[7]

Procissão terrestre em 2007

Em 2010 a Prefeitura declarou a festa Patrimônio Histórico Imaterial de Porto Alegre. Segundo Ângela Faria da Costa, "a Festa de Navegantes faz parte da história de Porto Alegre, das tradições, da cultura e do imaginário do povo porto-alegrense. Portanto é justo seu registro como Patrimônio Histórico Imaterial do Município".[3] Em 2013 a festa foi incluída no calendário oficial de eventos do Rio Grande do Sul.[1] Em 2022 a imagem da santa foi conduzida no barco Cisne Branco até a Ilha dos Marinheiros, onde foi recebida pela população local. Segundo o secretário municipal da Cultura, Gunter Axt, "a ida da santa para as ilhas significa um gesto de emulação da tradição mais profunda da celebração, ligada aos pescadores e ribeirinhos".[8] Por causa da pandemia de covid-19 a procissão terrestre foi cancelada.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

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Referências

  1. a b "Procissão em homenagem a Nossa Senhora dos Navegantes reuniu 100 mil fiéis em Porto Alegre". O Sul, 02/02/2018
  2. Pereira, Marli Rejani d'Ávila. Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre. Secretaria Municipal da Cultura / Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural, s/data, s/pp.
  3. a b c d e Costa, Angela Maria Faria da. "A Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, em Porto Alegre/RS e o Patrimônio Histórico Imaterial". In: Museologia e Patrimônio, 2010; 3 (1) 67
  4. a b c d e Anjos, José Carlos Gomes dos. "A iconoclastia afro­brasileira na Festa de Nossa Senhora dos Navegantes em Porto Alegre". In: 33º Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu, 26-30/10/2009
  5. Poyastro, Mirella. "Festa de Navegantes reúne 120 mil em Porto Alegre". Correio do Povo, 02/02/2010
  6. a b "Proibida por quase 20 anos, procissão pelas águas agora volta a ser oficial". Porto Imagem, 02/02/2009
  7. Pieve, Stella Maris Nunes. "Oro, Ari Pedro; Anjos, José Carlos Gomes dos. Festa de Nossa Senhora dos Navegantes em Porto Alegre: sincretismo entre Maria e Iemanjá. Porto Alegre, SMC, 2009. 140 P". Resenha. In: Debates do NER, 2013; 14 (23):261-265
  8. Bertolucci, Mariana. "Festa de Navegantes começa neste domingo em formato inédito e híbrido". Prefeitura de Porto Alegre, 23/01/2022
  9. Lampert, Adriana. "Festa de Navegantes ocorrerá sem procissão por terra em Porto Alegre". Jornal do Comércio, 27/01/2022