Fernanda Farias de Albuquerque – Wikipédia, a enciclopédia livre

Fernanda Farias de Albuquerque
Nascimento 22 de maio de 1963
Alagoa Grande
Morte 2000
Brasil
Cidadania Brasil
Ocupação escritora, prostituta, secretária executiva
Obras destacadas Princesa (livro)

Fernanda Farias de Albuquerque (Alagoa Grande-PB, 22 de maio de 1963 - 2000), também conhecida como Princesa, foi uma transexual brasileira. Sua história foi contada em livro, com a ajuda do autor italiano Mauri­zio Janelli, que ela conheceu na prisão na Itália.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Fernanda Farias de Albuquerque nasceu na cidade de Alagoa Grande, no interior da Paraíba, em uma família com dificuldades econômicas e sem a presença do pai. Aos sete anos, foi vítima de abusos sexuais e posteriormente fugiu de casa. Após trabalhar por um breve período como ajudante de cozinha, ela começou a se prostituir aos 18 anos nas ruas de grandes cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro, adotando o nome de guerra de "Princesa".[1][2][3]

Como muitas outras travestis fizeram na mesma década, em 1988, Fernanda mudou-se para a Europa em busca do sonho do glamour.[1] Após uma breve estada em Portugal e na Espanha, mudou-se para a Itália.[3] Manteve a profissão de prostituta, agora nas ruas de Milão e de Roma, e se tornou dependente de heroína.[2] Em 1990, foi presa por esfaquear um homem, cuja sentença foi de 6 anos. Na prisão em Rebibbia, descobriu ser portadora do vírus da Aids[1] e conheceu Giovanni Tamponi, um pastor sardo condenado à prisão perpétua. Ambos trocam informações, escritas em uma mistura de português, sardo e italiano.[2]

Sob sugestão de Tamponi, começou a escrever sua história para Maurizio Jannelli, mili­tante das Brigadas Ver­melhas (organização para­militar de guerrilha comunista italiana, criada na déca­da de 1960) sentenciado a duas prisões perpétuas por participar de várias ações terro­ristas. Janelli era encarregado de alguns projetos literários entre os encarcerados. Com sua ajuda, Fernanda escreveu o romance autobiográfico Princesa.[1][2]

Em 1994, o livro foi publicado em português e em italiano, e traduzido para espanhol, alemão e grego.

No livro Fernanda conta da violência que a cidade impu­nha aos travestis que ganhavam a vida na calçada. Violência po­licial, violência do “cidadão de bem”. Sobre as colegas de rua as­sassinadas pelo ódio irracional do preconceito. Sobre o vício em álcool e drogas para suportar o frio e a solidão de São Paulo.[1]

A obra inspirou a canção homônima de Fabrizio De André, presente no álbum Anime Salve. Por pouco tempo, Fernanda foi contratada como secretária na editora que publicou seu livro, mas deixou o trabalho para retornar à vida anterior. Em 1997, é protagonista do documentário Le Strade di Princesa (Os caminhos de Princesa), retrato de uma trans muito especial, de Stefano Consiglio (cujo trailler está disponível no Youtube). O filme é selecionado para a Mostra Internacional de Arte Cinematográfica de Veneza e sucessivamente é transmitido pela Rai 2 e Telepiù.[1][2]

Na real tudo que ela sonha­va era juntar grana com a pros­tituição e fazer uma operação de mudança de sexo. Encontrar um bom marido italiano que cui­dasse dela e tornar-se uma boa dona de casa. Assim conta o ci­neasta Henrique Goldman.[1]

Depois de ser expulsa e repatriada ao Brasil, em 2000, ela se suicidou.[1][2]

Em 2001, chegou aos cinemas italianos e brasileiros o filme Princesa, uma produção internacional dirigida por Henrique Goldman e baseada no livro autobiográfico, com Ingrid de Souza, Cesare Bocci, Lulu Pecorari e Mauro Pirovano.[4][5]

Prêmios e reconhecimentos[editar | editar código-fonte]

Em 1997, o documentário Le Strade di Princesa, de Stefano Consiglio, em que ela é protagonista, é selecionado para a Mostra Internacional de Arte Cinematográfica de Veneza.[2]

Em 2001, o filme Princesa, ganhou o prêmio de melhor filme estrangeiro no festival OutFest de Los Angeles.[1]

Em 2009, em Gênova, em sua homenagem, foi criada a organização Princesa, pelos direitos dos transexuais.[1]

Na mesma cidade, em 16 de julho de 2010, Don Andrea Gallo sugeriu que uma praça fosse batizada com o nome da brasileira, mas a proposta não se concretiza.[carece de fontes?]

Filmografia[editar | editar código-fonte]

  • Stefano Consiglio, Le Strade di Princesa – ritratto di una trans molto speciale, Lantia Cinema & Audiovisivi e Rai Due, 1997;
  • Henrique Goldman, Princesa, Bac Films, 2001.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ALBUQUERQUE, Fernanda Farías de; JANELLI, Maurizio. Princesa - Fernanda Farias de Albuquerque. Milão: Editrice Sensibili alle Foglie, 1994. ISBN 888632331X
  • ALBUQUERQUE, Fernanda Farías de; JANELLI, Maurizio. Princesa. Atenas: Ekdoseis Delphini, 1994. ISBN 960309160X
  • ALBUQUERQUE, Fernanda Farías de; JANELLI, Maurizio. A Princesa: Depoimentos de um travesti brasileiro a um líder das Brigadas Vermelhas. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1995. ISBN 8520906508
  • ALBUQUERQUE, Fernanda Farías de; JANELLI, Maurizio. Princesa: Ein Stricherleben. Hamburgo: Rotbuch Verlag, 1996. ISBN 3880223726
  • ALBUQUERQUE, Fernanda Farías de; JANELLI, Maurizio. Princesa: Fernanda Farías de Albuquerque. Barcelona: Editorial Anagrama, 1996. ISBN 9788433923592

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k Manhã, Diario da (28 de dezembro de 2017). «Conheça a história de Fernanda Farias de Albuquerque, travesti brasileira | Diario da Manhã». Diário da manhã. Consultado em 9 de maio de 2023 
  2. a b c d e f g h Garcia, Nuno Gomes (11 de janeiro de 2022). «"Princesa", de Fernanda Farias de Albuquerque | Uma obra pioneira da Literatura Transgénero». LusoJornal. Consultado em 9 de maio de 2023 
  3. a b A PRINCESA - Fernanda Farias de Albuquerque - Livro. [S.l.: s.n.] 
  4. MUBI. Princesa, consultado em 9 de maio de 2023 
  5. «Fernanda Farias de Albuquerque». IMDb (em inglês). Consultado em 9 de maio de 2023