Farim – Wikipédia, a enciclopédia livre

Farim
Nome local
Farim
Geografia
País
Província
Província Norte (en)
Região
Sede
Sector de Farim
Capital de
Área
1 531,5 km2
Altitude
2 m
Coordenadas
Demografia
População
46 268 hab. ()
Densidade
30,2 hab./km2 ()
Gentílico
farinense
Funcionamento
Geminação
História
Fundação
Mapa

Farim é uma cidade da Guiné-Bissau pertencente ao sector de mesmo nome, capital da região de Oio. Localiza-se na margem norte do rio Cacheu.

Segundo o censo demográfico de 2009 o sector possuía uma população de 48 264 habitantes,[1] sendo que 8 661 habitantes somente na zona urbana da cidade de Farim, distribuídos numa área territorial de 1 531,5 km².[2][3][4]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O nome da cidade e do sector deriva de da palavra "farim", que era o título dado ao rei local dos mandingas. Por sua vez, os mandingas e sonincas chamaram o assentamento de "Tubabodaga", que significa "aldeia dos brancos".[5]

História[editar | editar código-fonte]

Uma beneficiadora e ensacadora de grãos e seus trabalhadores, em Farim, em 1900.

O primeiro estabelecimento português na região foi Cacheu, povoação fundada no contexto da Dinastia Filipina em 1588, mas sujeita administrativamente ao arquipélago de Cabo Verde. Após a Restauração Portuguesa (1640), retomou-se o povoamento da região, irradiando-se então a partir da foz dos rios Casamansa, Cacheu, Geba e Buda, centrada no comércio de escravos.[6]

Fundação e estabelecimento[editar | editar código-fonte]

Farim foi fundada por volta de 1641 pelo capitão-mor de Cacheu, que recrutou lançados de Geba para se mudarem para um local menos vulnerável ao ataque de tribos africanas.[6] Em sua fundação, estava bem situada como porto, uma vez que o rio era continuamente navegável por navios à vela de Cacheu. Como as demais, a feitoria em Farim destinava-se a implementar o comércio de escravos com o Reino de Gabu, que englobava, além da Casamansa, a Guiné-Bissau e a Gâmbia, compreendendo várias etnias, como os jolas (majoritária até aos nossos dias), os fulas, os bantos e os manjacos.[5]

Tornou-se um presídio e guarnição colonial através de uma ordem datada de 10 de novembro 1696, em reação a um ataque de nativos das proximidades da actual vila-secção de Caniço ocorrida em março daquele ano.[6] Já guarnecida, no ano seguinte as tropas de Caniço tentam novamente tomar a localidade, porém sem sucesso.[6] A despeito desses acontecimentos e dado que o tráfico de escravos concentrou-se no litoral, a distância de tais centros fez com que a área permanecesse geralmente pacífica, o que fez com que as defesas gradualmente enfraquecessem.[6]

O segundo conflito sério que ocorreu no vilarejo deu-se em 1 de dezembro de 1846, quando Honório Barreto precisou dirigir uma expedição contra os grumetes de Farim que ameaçavam a guarnição local. Após este conflito, os portugueses procuraram garantir a segurança da localidade, construindo reforços na fortificação em 1875, além de celebrar um importante tratado de paz com Dembel, rei do reino de Fuladú.[6]

Foi uma base de operações contra os balantas do rio Mansoa na primeira (1897) e na segunda (1902) grande investida colonial, como tentativa de obrigá-los a pagar o imposto de palhota; as tropas lusitanas sofreram desmoralizantes derrotas.[6]

Século XX[editar | editar código-fonte]

Escola da Base do PAIGC em Canjambari, em 1974; a base estava nas redondezas de Farim.

Por intermédio de um diploma real de 1906, o território guineense foi dividido num concelho (Bolama) e seis residências: Bissau, Cacheu, Farim, Geba, Cacine e Buba.[6] Cacheu continuava como capital do distrito de Cacheu, porém perdeu mais da metade de suas terras para a formação dos distritos de Farim (actual Oio) e Geba (actual Bafatá). Farim torna-se capital do distrito de mesmo nome.[5]

Em 4 de agosto de 1913 Farim recebe o título de vila. O estatuto de vila ainda não era o mais próprio para capitais de subdivisões de primeiro nível, mas era mais adequado do que o de vilarejo.[6]

Farim começou a crescer seriamente entre as décadas de 1910 e 1930, quando mais de vinte firmas comerciais instalam-se na vila, experimentando um influxo de comerciantes libaneses e sírios, que concentravam-se basicamente nos negócios de amendoim e madeira.[5]

Na década de 1960 ascende finalmente a categoria de cidade.[5]

Sua economia foi duramente atingida pela Guerra de Independência da Guiné-Bissau nas décadas de 1960 e 1970. Algumas das principais e mais organizadas bases do PAIGC estavam nas proximidades de Farim.[6]

Geografia[editar | editar código-fonte]

Localizada pouco abaixo da junção dos rios Jumbembem e Canjambari que formam o rio Cacheu, fica numa zona altiplana, sendo somente uma das duas capitais regionais da Guiné fora de zonas de planície.[5]

Farim dista cerca de 135 milhas rio acima a partir de Cacheu, a cerca de 115 quilómetros de Bissau e junto da fronteira com o Senegal.

Demografia[editar | editar código-fonte]

Os grupos étnicos de mais expressão na cidade-sector são os mandingas e fulas, muito embora possua representação de todas as origens guineenses.[5]

Infraestrutura[editar | editar código-fonte]

Canoas motorizadas e uma balsa se aproximando do Porto de Farim, no rio Cacheu, em 2018.

Transportes[editar | editar código-fonte]

Farim é ligada ao território nacional pela Estrada Nacional nº 3 (N3), que a liga à Bigene, ao oeste, e a Cuntima, ao leste. Outra rodovia importante é a Estrada Regional nº 2 (R2), que a liga a vila-secção Saliquinhedim e a cidade de Mansabá, ao sul, e a vila-secção de Dungal, ao norte.[7]

Farim também possui um pequeno porto fluvial, que conecta-se ao porto da margem oposta do rio Cacheu, na vila-secção Saliquinhedim, localidade do sector de Mansabá. O porto de Farim é especializado em embarque e desembarque de pescados, além de transportes de passageiros e cargas.

Comunicações[editar | editar código-fonte]

Entre as operadoras de rádio, há transmissões da Radiodifusão Nacional da Guiné-Bissau. Os serviços postais, de encomendas e de cargas da cidade e do sector são geridos pelos Correios da Guiné-Bissau.[8]

Cultura e lazer[editar | editar código-fonte]

Na cidade há muitos monumentos histórico-arquitetónicos importantes, em sua maioria ainda herança do período colonial, tais como: Monumento evocativo da morte do Infante D. Henrique, Capela Católica de Farim, Piscina olímpica de Farim (1958), Monumento do Largo dos Mártires do Terrorismo e o Mercado de Farim.

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Uma cratera em Marte leva o nome da cidade.[9]

Personalidades[editar | editar código-fonte]

  • Vasco Cabral (1926 – 2005) - figura intelectual que lutou pela autodeterminação da Guiné-Bissau.

Referências

  1. «Guinea Bissau Census Data, 2009 - Série Temporal de População Total Residente - Sector de Farim». Instituto Nacional de Estatística. 15 de janeiro de 2016. Consultado em 19 de outubro de 2020 
  2. Estudo: Guiné-Bissau. Lisboa: ANEME, 2018.
  3. «Boletim Estatístico da Guiné-Bissau: Guiné-Bissau em Números 2015» (PDF). Instituto Nacional de Estatística. 2015 
  4. «World Gazetteer, Obtido em 16 de junho de 2008» 🔗 
  5. a b c d e f g Lobban Jr, Richard Andrew Lobban, Jr; Mendy, Peter Karibe. (1997). Historical Dictionary of the Republic of Guinea-Bissau. 3 ed. Plymouth: Scarecrow Press. p. 160–163. ISBN 0-8108-3226-7 
  6. a b c d e f g h i j Gomes, Américo. (2012). «História da Guiné-Bissau em datas.» (PDF). Lisboa 
  7. Mapa Rodoviário da Guiné-Bissau. Direcção Nacional de Estradas e Pontes. Outubro de 2018.
  8. Lopes, António Soares. (Agosto de 2015). Os media na Guiné-Bissau (PDF). Bissau: Europress / Edições Corubal 
  9. «Gazetteer of Planetary Nomenclature | Farim on Mars». usgs.gov. International Astronomical Union. Consultado em 10 de janeiro de 2018 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

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