Experimentalismo (arte) – Wikipédia, a enciclopédia livre

Experimentalismo é a atitude de explorar novos conceitos e representações de mundo, rompendo com as convenções estabelecidas na tradição artística e literária. O experimentalismo foi uma importante característica da arte e da literatura do século XX, quando surgiram os movimentos de vanguarda (futurismo, cubismo, dadaísmo, expressionismo, fauvismo, surrealismo).

História[editar | editar código-fonte]

Segundo o poeta Herberto Helder, o experimentalismo sempre esteve presente nas artes. Não existe nenhum trabalho criativo que não seja experimental, no sentido de que supõe a vigilância sobre o desgaste dos meios que utiliza e procura constantemente recarregar de capacidade de exercício.[1]

Já na Idade Média, foi uma prática constante a criação de textos em formatos ideogramáticos ou caligráficos[2], o que já representou uma inovação artística, uma forma de poesia experimental que seria precursora do Concretismo do século XX.

O Maneirismo, surgido no século XVI, foi experimental, no sentido de que representou uma flexibilização no rigor classicista da Renascença. Os artistas do período barroco também experimentaram, nas antíteses, nos paradoxos, nos contrastes claro-escuro, nos exageros de detalhes (tanto na literatura quanto na pintura, na escultura, na arquitetura, na música e no teatro).

O Romantismo (século XIX) também foi experimentalista ao romper com os moldes e com as convenções da arte neoclassicista e ao ousar inserir o grotesco, o sombrio, o fantasmagórico na arte. Na literatura, novos gêneros surgiram e outros se fundiram. Novas possibilidades foram testadas e novos caminhos foram descobertos na arte.

Século XX[editar | editar código-fonte]

O século XX foi de fato o século do experimentalismo nas artes, a época em que a experimentação atingiu os níveis mais extremos. Os movimentos de vanguarda, surgidos a partir de 1914, representaram o início da modernidade nas artes. Esses movimentos introduziram na arte o espírito de modernidade do século XX, o rompimento com a racionalidade, com a moralidade, o culto à velocidade, ao dinamismo, à tecnologia. A arte produzida nesse período, como toda arte experimental, causou perplexidade no público e sofreu inicialmente uma forte resistência e rejeição. Em geral, apenas com o passar do tempo as obras experimentais são compreendidas e sua qualidade artística é reconhecida.

No Brasil, a Semana de Arte Moderna (1922) foi o marco inicial da vanguarda artística brasileira. Artistas como Mário e Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Heitor Villa Lobos e outros expuseram seus trabalhos no Teatro Municipal de São Paulo, causando espanto no público, mas inaugurando uma nova fase nas artes brasileiras.

Em Portugal, a chamada Geração de Orfeu introduziu a vanguarda no país, tendo como principais representantes Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa.

Nos anos 1960, surge o movimento concretista no Brasil e em Portugal, retomando alguns dos ideais pregados no movimento modernista do início do século. Os artistas levaram ao extremo a experimentação literária, nos seguintes aspectos:

a) no campo semântico: ideogramas; polissemia, trocadilho, nonsense;

b) no campo sintático: ilhamento ou atomização das partes do discurso; justaposição; redistribuição de elementos; ruptura com a sintaxe da proposição;

c) no campo léxico: substantivos concretos, neologismos, tecnicismos, estrangeirismos, siglas, termos plurilíngues;

d) no campo morfológico: desintegração do sintagma nos seus morfemas; separação dos prefixos, dos radicais, dos sufixos; uso intensivo de certos morfemas;

e) no campo fonético: figuras de repetição sonora (aliterações, assonâncias, rimas internas, homoteleutons); preferência dada às consoantes e aos grupos consonantais; jogos sonoros;

f) no campo topográfico: abolição do verso, não linearidade; uso construtivo dos espaços brancos; ausência de sinais de pontuação; constelações; sintaxe gráfica.[3]

Experimentalismo Hoje[editar | editar código-fonte]

Em nossa época, com as novas tecnologias, é possível levar o experimentalismo a níveis nunca antes imaginados, com a mistura de linguagens, de gêneros artísticos, de formas e de mídias. A intersemiose e a intermídia são os principais recursos usados na experimentação na arte contemporânea.

Referências

  1. HELDER, Herberto. Introdução. In: ARAGÃO, António; HELDER, Herberto (Org.). Poesia Experimental: 1º caderno antológico. Lisboa: A. Aragão, 1964.
  2. Antonio Miranda. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/venance_fortunat.html
  3. BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 46ª Ed. São Paulo: Cultrix, 2006.