Evolucionismo teísta – Wikipédia, a enciclopédia livre

Evolucionismo teísta, evolução teísta, criação evolucionária ou criação evolutiva é a conciliação da ideia de uma divindade com a teoria da evolução biológica. [1]

História[editar | editar código-fonte]

Quando os anglicanos Charles Darwin (anglicano ainda que agnóstico) e Alfred Wallace (anglicano, ainda que espiritualista teísta) publicaram em 1858 a teoria da evolução das espécies por meio da seleção natural, surgiram controvérsias nos meios científicos e religiosos clamando incompatibilidade entre a concepção adâmica de criação com a evolução. Nessa época líderes evangélicos como Henry Drummond e o botânico Asa Gray defenderam a compatibilidade teológica e científica entre criação e evolução.

A teoria evolucionista de Darwin teve uma aceitação entre cristãos com conhecimento científico principalmente porque a teoria de Darwin clamava uma origem comum do ser humano, enquanto alguns cientistas como Samuel George Morton e Louis Agassiz defendiam a poligênese e diferentes espécies humanas (vale lembrar que a essa altura, a palavra raça e espécie significavam a mesma coisa).[2] [3]

No século XX a presença de crentes em Deus nas pesquisas biológicas foi enorme: o teólogo e paleontólogo Pierre Teilhard de Chardin (1881–1955) foi um exemplo de teísta evolucionista. A síntese moderna do evolucionismo (combinando genética molecular e seleção natural) foi desenvolvida por evolucionistas que acreditavam em Deus: Ronald Fisher (1890–1962) e Theodosius Dobzhansky (1900–1975). Hodiernamente, o diretor do Projeto Genoma, Francis Collins, publicou uma defesa do teísmo evolucionista onde propôs o conceito de "Bios pelo Logos", ou simplesmente "BioLogos" ("bios", em grego "vida" e "logos", em grego "palavra").[4] Obedece tipicamente a seguinte versão:

  1. O universo surgiu há aproximadamente 14 bilhões de anos (pela imposição das leis de Deus);
  2. Apesar das improbabilidades incomensuráveis, as propriedades do universo parecem ter sido ajustadas para a criação da vida;
  3. Embora o mecanismo exato da origem da vida na Terra permaneça desconhecida, uma vez que a vida surgiu, o processo de evolução e de seleção natural permitiu o desenvolvimento da diversidade biológica e da complexidade durante espaços de tempo muito vastos;
  4. Tão logo a evolução seguiu seu rumo, não foi necessária nenhuma intervenção sobrenatural (mas, alguns acreditam que a evolução é "acompanhada e orientada por Deus", como a ideia de Deus-presente-no-Universo de Spinoza);
  5. Os humanos fazem parte desse processo, partilhando um ancestral comum com os símios;
  6. Entretanto, os humanos são exclusivos em características que desafiam a explicação evolucionária da Lei Moral (o conhecimento do certo e do errado) e a busca por Deus, coisas essas que caracterizam todas as culturas humanas" [4]

Compatibilismo[editar | editar código-fonte]

O concordismo ou compatibilismo entre o fenômeno da evolução e a doutrina da criação é expressa por Dobzhansky, biólogo e ortodoxo russo. Dobzhansky escreveu um famoso ensaio de 1973 intitulado Nada na biologia faz sentido, exceto à luz da evolução, defendendo o criacionismo evolucionário:

Comparação com outras visões[editar | editar código-fonte]

Há outras tentativas de conciliar evolucionismo e teísmo. Por exemplo, o geólogo e zoológo James Dwight Dana e o notório fundamentalista William Jennings Bryan do Julgamento de Scopes eram adeptos da Teoria do Hiato, na qual a criação teria tomado um longo processo ("Dias-eras" ou algum "hiato de tempo"), mas defendiam a historicidade e a criação especial de Adão e Eva.

Nos anos 1960, sob articulação da en:Russell L. Mixter na American Scientific Affiliation, um fórum de cientistas afiliados às religiões organizadas, ocorreu a propagação do criacionismo progressista. O criacionismo progressista postula que a origem da vida tem como resultado a agência sobrenatural que plantou "sementes" de formas mais simples de vida e criou mecanismos para uma evolução estruturada em espécies complexas.

Enquanto o surgimento do universo e o surgimento da vida são assunto para a cosmologia, a física e a bioquímica, e não estão intrinsecamente relacionados com a Teoria da Evolução das Espécies, duas vertentes anti-evolucionistas se tornaram movimentos: o criacionismo da Terra jovem e o Design Inteligente.

Um retrocesso no entendimento compatibilista ocorreu a partir dos anos 1960 quando emergiu o movimento criacionismo da terra jovem, dizendo que a idade da Terra seria mais recente do que é geologicamente aceito.

Evolucionismo teísta é distinto da doutrina do design inteligente. Cientistas teístas evolucionistas como Kenneth R. Miller, John Haught, Michael Dowd, e Francis Collins criticam o design inteligente e criacionismo da terra jovem como não científicos.[3]

Religiões favoráveis ao evolucionismo teísta[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. https://www.cristaosnaciencia.org.br/o-falso-e-o-verdadeiro-nos-ataques-recentes-a-abc%C2%B2/ |Alvares, Letícia. O falso e o verdadeiro nos ataques recentes à ABC². Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC²).
  2. Darwin, Charles (2014) [1859]. A Origem Das Espécies 4 ed. [S.l.]: Martin Claret. ISBN 9788544000250 
  3. a b Dawkins, Richard. A Grande História da Evolução. [S.l.: s.n.] ISBN 9788535914412 
  4. a b COLLINS, Francis S. A linguagem de Deus: um cientista apresenta evidências de que Ele existe. - trad. Giorgio Capelli - São Paulo : Editora Gente, 2007, p.206.
  5. "Can God Love Darwin, Too?" by Sharon Begley, Newsweek, Sept. 17, 2007 issue
  6. The Book of Discipline of The United Methodist Church – 2008
  • Alexander, Denis. Criação ou Evolução. Viçosa: Ultimato, 2008.
  • Mcgrath, Alister. A ciência de Deus. Viçosa: Ultimato, 2016.
  • Collins, Francis. A linguagem de Deus. São Paulo: Gente, 2007.
  • Barbour, Ian G. Quando a Ciência encontra a Religião: Quando a ciência encontra a religião: inimigas, estranhas ou parceiras? São Paulo: Cultrix. 2004
  • Kardec, Allan. A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Paris, 6 de Janeiro de 1868.