Evemerismo – Wikipédia, a enciclopédia livre

O evemerismo é uma teoria hermenêutica da interpretação dos mitos criada por Evêmero (cerca de IV a.C.) em sua obra (História sagrada) (ἱερα ανάγραφη, transl. Hiera anágrafe), da qual somente restaram alguns resumos, e segundo a qual os deuses não são mais que personagens históricos de um passado obscuro, amplificados por uma tradição fantasiosa e lendária.[1][2]

Na verdade, já o sofista Pródico de Ceos sustentava o mesmo: afirmava que os deuses são coisas ou homens que na antiguidade foram importantes, pelo que passaram a ser endeusados.

O sentido oculto dos mitos seria, pois, de natureza histórica e social. Esta teoria teria sido aceita por Hume e Voltaire, o qual escreveu Diálogos com Evêmero. Mas a obra de Evêmero perdeu-se e só é conhecida por seus comentadores (particularmente Diodoro da Sicília).

Cícero, em Sobre a natureza dos deuses (2, 24-25) e em Sobre a adivinhação (2, 37), ao interpretar os mitos, emprega tanto a alegoria como o evemerismo.[3]

Ambas as correntes também se encontram nas Etimologias (7, 11), uma enciclopédia medieval de São Isidoro de Sevilha.

Os doutores da Igreja utilizaram o evemerismo e a teoria alegórica para desqualificar as crenças do paganismo, se bem que se abstiveram de aplicar tal doutrina às suas próprias crenças.

O evemerismo foi criticado por Plutarco, em sua obra De Isis e Osiris, na qual diz que "escreveu todo um relato mitológico sem a menor base ou verdade", já que suas afirmações se baseiam em inscrições da ilha de Pancaia — uma ilha fictícia —, e portanto tais inscrições também não existem.[4]

Referências

  1. James Fentress, Chris Wickham, Memoria social, Carmen Martínez Gimeno (trad.), Universitat de València, 2003, ISBN 843762083X p. 108.
  2. Memorias de Historia Antigua, Instituto de Historia Antigua, Universidad de Oviedo, 1989, ISSN 0210-2493 Erro de parâmetro em {{ISSN}}: ISSN inválido. p. 76.
  3. Lucien Febvre, El problema de la incredulidad en el siglo XVI: La religión de Rabelais, Isabel Balsinde (trad.), Ediciones AKAL, 1993, ISBN 8446002647 p. 316.
  4. (em castelhano) Plutarco. De Isis y Osiris, pp 18 e 19.

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