Engenharia florestal – Wikipédia, a enciclopédia livre

Engenharia florestal ou engenharia silvícola é o ramo da engenharia que visa à produção de bens oriundos da floresta ou de cultivos florestais, através do manejo de áreas florestais para suprir a demanda por seus produtos.

Tradicionalmente, o campo de trabalho restringia-se às grandes indústrias de carvão, celulose e madeira serrada. Hoje, com a certeza de que a humanidade depende do ambiente em que vive, esta profissão ganhou importância em outros setores. Nas agências governamentais, trabalha para manter as áreas protegidas e fiscalizar o uso das áreas utilizadas pela iniciativa privada. Nas agências de certificação, cria meios para que os consumidores conheçam o comportamento das empresas florestais em relação ao ambiente. Como consultor independente, alavanca a formação de culturas florestais em pequenas, médias e grandes propriedades florestais, gerando benefícios para as pequenas comunidades e para a sociedade em geral. Porém as áreas de atuação não se limitam a estasː elas continuam crescendo.

O ensino florestal de nível superior começou na Alemanha, na Academia Florestal de Tharandt, criada em 1811. A essa iniciativa, seguiram-se outras em países na Europa. Em Portugal, o ensino superior florestal iniciou-se em 1864, com a criação do curso de Silvicultura no então Instituto Geral de Agricultura, em Lisboa; mais tarde, com a implantação da República, é em 1911 criado o Instituto Superior de Agronomia, com o curso de engenheiro silvicultor. Aquando do estabelecimento do ensino superior nas províncias ultramarinas, já na década de 1960, são criados cursos superiores de silvicultura em Angola e Moçambique. No Brasil, o curso superior de engenharia florestal foi criado em 1960 na cidade de Viçosa, em Minas Gerais, mas foi transferido para a cidade de Curitiba, no Paraná, no final de 1963.

Atuação do engenheiro florestal[editar | editar código-fonte]

Muda de eucalipto usada em plantações florestais.

Silvicultura[editar | editar código-fonte]

O engenheiro florestal ou engenheiro silvicultor possui a capacidade de gestão da produção florestal através da silvicultura. Para tanto, conhecimentos profundos nas áreas de engenharia econômica e gestão da produção, bem como em diversas áreas da administração, são necessárias.

Manejo Florestal[editar | editar código-fonte]

O termo "manejo" pode ser definido como sendo o gerenciamento dispensado a um povoamento florestal, o qual interfere nas condições ambientais em prol do desenvolvimento da floresta, ou de um cultivo florestal, ou também como sendo a administração de uma empresa florestal. Relaciona-se à administração dos benefícios diretos e indiretos proporcionados pela floresta ou pela cultura florestal. O manejo de florestas, ou de cultivos florestais, deve englobar um conjunto de procedimentos e técnicas que assegurem:

  1. a permanente capacidade das árvores para oferecer produtos e serviços, diretos e indiretos;
  2. a capacidade de regeneração natural;
  3. a capacidade de manutenção da biodiversidade;
  4. a sustentabilidade econômica, sociocultural e ambiental.

Gestão Ambiental[editar | editar código-fonte]

Tem um conceito muito amplo, mas, na área da engenharia florestal, relaciona-se ao desenvolvimento sustentável da produção rural e o meio ambiente. O objetivo maior da gestão ambiental deve ser a busca permanente de melhoria da qualidade ambiental dos serviços, produtos e ambiente de trabalho de qualquer organização pública ou privada. A engenharia florestal atua nas atividades das unidades de conservação, principalmente em órgãos públicos, como o Instituto Ambiental do Paraná.

Tecnologia de Produtos Florestais[editar | editar código-fonte]

O engenheiro florestal também atua na interface entre a produção de bens florestais (madeireiros e não madeireiros) e o seu processamento, analisando a influência da qualidade da matéria-prima produzida na floresta e nas culturas florestais sobre o seu processamento industrial e sobre a qualidade dos produtos obtidos. Entre os produtos madeiráveis, destacam-se a madeira para serraria, celulose, madeira tratada etc. Entre os não madeireiros, destacam-se óleos essenciais, extrativos químicos, ecoturismo etc.

Engenharia Florestal no Brasil[editar | editar código-fonte]

História[editar | editar código-fonte]

Selo da antiga Companhia de Educação Florestal.

Em 1960, foi criada a Escola Nacional de Florestas, primeira do ramo no Brasil, instalada primeiramente em Viçosa, em Minas Gerais, e transferida para Curitiba, no Paraná em 14 de novembro de 1963ː atualmente, é o curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná - UFPR. No mesmo ano de 1963, foi criada a Escola Superior de Florestas em Viçosa, atualmente o curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa. O período inicial de funcionamento do curso, de 1961 a 1969, foi caracterizado pela existência do Convênio de Assistência das Nações Unidas, através da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, conhecido como "Projeto 52". De 1971 a 1982, vigorou, em Curitiba, o Convênio de Cooperação Técnica entre a Universidade Federal do Paraná e a Universidade Albert-Ludwig, em Freiburg na Alemanha. Foi durante este período que houve um efetivo desenvolvimento da Faculdade de Florestas de Curitiba em ensino, pesquisa e extensão florestal, incluindo a criação em 1973 do primeiro curso de pós-graduação a nível de mestrado em engenharia florestal do Brasil. Posteriormente, em 1982, foi, também, criado o primeiro curso a nível de doutorado em engenharia florestal do Brasil.

Graduação[editar | editar código-fonte]

O curso de engenharia florestal é, a princípio, dividido em três grandes áreas de conhecimento/atuaçãoː a área silvícola, a área ambiental e a área industrial madeireira. Em geral, cada curso de engenharia florestal tende para uma dessas áreas, isso conforme a realidade na qual o curso está inserido.

Durante a formação, há a capacitação profissional para a atuação nas atividades que se referem ao uso sustentável dos recursos florestais (o aproveitamento do que as florestas podem oferecer para um uso em prol da humanidade), bem como a recuperação, manutenção e continuidade do ambiente florestal. Veja que na engenharia florestal é pensada a produção florestal integrada ao ambiente. Contudo é de suma importância saber que a engenharia florestal não forma militantes ambientais, e sim profissionais aptos na aplicação do conhecimento científico e da engenharia nas questões florestais.

Durante a graduação em engenharia florestal, o aluno estuda disciplinas tanto das áreas de ciências exatas, ciências biológicas e ciências humanas, como podemos ver abaixo:

Atribuições no âmbito da Engenharia Florestal[editar | editar código-fonte]

Trator florestal usado durante o processo de colheita.
Aspecto de uma cultura florestal de eucalipto.

Segundo o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA), Resolução nº 1.010, Anexo II, de 22 de agosto de 2005.

Engenharia Florestal em Portugal[editar | editar código-fonte]

José Bonifácio de Andrada e Silva foi o primeiro português (luso-brasileiro) a possuir estudos superiores florestais[1], obtidos na Alemanha, tendo desempenhado o cargo de intendente geral das Minas e Metais do Reino e sendo, nesse âmbito, responsável pelo ordenamento e gestão dos distritos florestais para abastecimento das minas e metalurgias. Projetou e dirigiu as primeiras ações sistemáticas de fixação e arborização de dunas móveis (na Costa de Lavos) e publicou um estudo fundador de política florestal, a "Memória sobre a Necessidade e Utilidade do Plantio de Novos Bosques em Portugal [...]"[2].

Mais tarde, novos técnicos são formados na Alemanha (Tharandt) e em França (Nancy), desempenhando funções tanto na administração pública florestal (na Administração Geral das Matas do Reino [a partir de 1824], nas circunscrições florestais da Direcção Geral do Comércio e Indústria [a partir de 1852] e nos Serviços Florestais da Direcção Geral da Agricultura [a partir de 1886]), como nas explorações agroflorestais privadas, dominantes em Portugal continental. Destacam-se, entre estes, Adolfo Frederico Möller[3], Bernardino Barros Gomes, Joaquim Ferreira Borges ou José Lopes Vieira[4].

Com a formação de mais engenheiros silvicultores a partir da segunda metade do século XIX e com o desenvolvimento de politicas florestais ambiciosas, a área de trabalho da engenharia florestal expande-se a todas as regiões de Portugal continental, ilhas Adjacentes e províncias ultramarinas, sobretudo no âmbito da arborização de serras e dunas, correção torrencial e combate à desertificação, gestão e ordenamento de florestas temperadas e tropicais, conservação da natureza e gestão de áreas protegidas, silvoindústrias, caça e pesca nas águas interiores, defesa contra incêndios, investigação científica, etc.

Os engenheiros silvicultores viriam no século XX a assumir um papel proeminente nas políticas agrárias e ambientais, sendo de destacar nomes como António Mendes de Almeida[5] (especialista em política florestal, professor universitário e dirigente dos Serviços Florestais), Filipe Frazão (especialista em hidráulica florestal e director-geral dos Serviços Florestais e Aquícolas nas décadas de 1940 a 1960), Joaquim Vieira Natividade (notável investigador na área da subericultura e do melhoramento florestal), Carlos Baeta Neves (ecologista, professor universitário e fundador da Liga para a Proteção da Natureza[6]), Manuel Gomes Guerreiro (investigador na área do melhoramento florestal, professor universitário, secretário de Estado do Ambiente e fundador da Universidade do Algarve) ou António Azevedo Gomes (especialista em silvicultura e política florestal, professor universitário, deputado e secretário de Estado das Florestas).

Atribuições no âmbito da Engenharia Florestal[editar | editar código-fonte]

A partir da década de 1970, com a criação de mais cursos superiores florestais em diversas universidades e institutos politécnicos, em Portugal a "engenharia silvícola" passou a ser preferencialmente referida como "engenharia florestal", existindo na Ordem dos Engenheiros portuguesa um Colégio Florestal, onde se encontram definidos os atos próprios da Engenharia Florestal[7]:

ATOS PRÓPRIOS DA ENGENHARIA FLORESTAL

Áreas e Sectores de Atividade:

1. Espaços florestais

1.1 Planeamento e ordenamento do território (PROT, PDM)*

1.2 Planeamento e ordenamento florestal (PROF)*

2. Produção lenhosa (e de cortiça)

2.1 Inventários florestais**

2.2 Gestão florestal (PGF)**

2.3 Auditorias e certificação da gestão florestal sustentável*

Parque Florestal de Monsanto (Lisboa). Este parque florestal, um dos maiores da Europa, foi primeiramente idealizado em 1867 pelo Eng. Flor. João Maria de Magalhães. A sua plantação foi impulsionada em 1934 pelo Eng. Duarte Pacheco, com projeto geral do Arq. Keil do Amaral e com projeto de arborização do Eng. Silv. Joaquim Rodrigo (sob a orientação do Eng. Silv. Jorge Gomes de Amorim), que dirigiu os trabalhos de florestação e gestão florestal nas primeiras décadas.

2.4 Instalação e gestão de espaços florestais (incluindo urbanos)*

2.5 Exploração* e mecanização florestal

2.6 Melhoramento florestal

2.7 Avaliações florestais periciais e inspeções de projetos florestais*

3. Estruturas fundiárias e Infra-estruturas florestais

3.1 Levantamentos da propriedade florestal

3.2 Avaliações patrimoniais de âmbito florestal*

3.3 Infra-estruturas e obras de arte florestais (caminhos, pequenas barragens)

3.4 Obras de defesa e conservação do solo, ações de correção torrencial

3.5 Construções e estruturas de apoio às atividades florestais

4. Transporte e transformação de produtos florestais

4.1 Planeamento do abastecimento às industrias de produtos florestais

4.2 Preparação, preservação e secagem de produtos florestais

4.3 Transformação florestal primária de produtos florestais

4.4 Transformação energética de produtos lenhosos

4.5 Certificação da cadeia de responsabilidade**

5. Cinegética

5.1 Ordenamento e exploração cinegética (POEC)*

5.2 Gestão de zonas de caça

6. Pesca em Águas Interiores

6.1 Planeamento e gestão da pesca nas águas interiores*

6.2 Obras de hidráulica associadas aos recursos aquícolas

7. Outras Produções Não-Lenhosas

7.1 Gestão da produção de frutos, pastagem, mel, cogumelos, aromáticas e outras produções não-lenhosas associadas aos espaços florestais

8. Valorização Ambiental

8.1 Proteção e preservação da paisagem rural e da diversidade biológica em ecossistemas florestais

8.2 Gestão de bacias hidrográficas

8.3 Medidas de combate à desertificação

8.4 Gestão de áreas classificadas com espaços florestais dominantes

8.5 Recuperação de áreas e espaços florestais degradados

8.6 Estudos de impacte ambiental nos espaços florestais

9. Risco de Incêndio

9.1 Planos de defesa da floresta contra incêndios (Municipais e Distritais)**

9.2 Planos de emergência de proteção civil (Municipais e Distritais)

9.3 Avaliação de riscos, perdas e danos em seguros de incêndios florestais*

Engenheiro florestal conduzindo uma ação de fogo controlado, no Perímetro Florestal de Alge e Penela (Coimbra). Os engenheiros florestais são técnicos superiores especialmente habilitados a planear e executar ações de defesa da floresta contra incêndios, incluindo o uso de fogo técnico (fogo controlado, contra-fogo, etc.)

9.4 Gestão e uso do fogo (Especialização)**

10. Risco de Pragas e Doenças

10.1 Planeamento e controlo de agentes bióticos nocivos às florestas*

10.2 Inspeção fitossanitária (Especialização)**

11. Formação profissional e científica na área florestal*

12. Divulgação e comunicação florestal

* Sectores de atividade cujos atos exigem a participação de Engenheiro Florestal

** Sectores de atividade cujos atos exigem a responsabilidade de um Engenheiro Florestal

Instituições de ensino superior portuguesas que oferecem cursos na área da Engenharia Florestal[editar | editar código-fonte]

Segundo a Direção-Geral do Ensino Superior, hoje em dia existem os seguintes cursos superiores de engenharia florestal,

Referências

  1. «Floresta para Todos - N.º 1» (PDF). Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais. 2011. Consultado em 30 de dezembro de 2017 
  2. Monteiro Alves, António. «A Engenharia Florestal Através dos Tempos. O Perfil e a Obra» (PDF) 
  3. «Möller, Adolfo Frederico 1842-1920». Consultado em 30 de dezembro de 2017 
  4. Eliseu, João (2011). «Recordando o Eng. José Lopes Vieira». ADLEI. Consultado em 30 de dezembro de 2017 
  5. Neiva Vieira, José (2011). «Floresta para Todos - n.º 5. António Mendes de Almeida (1867-1937)» (PDF). Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais. Consultado em 30 de dezembro de 2017 
  6. «PROFESSOR CARLOS MANUEL LEITÃO BAETA NEVES (1916 – 1992)» (PDF). Instituto Superior de Agronomia. Consultado em 30 de dezembro de 2017 
  7. «Atos Próprios de Engenharia Florestal». Ordem dos Engenheiros. Consultado em 30 de dezembro de 2017 
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