Educação da criança surda – Wikipédia, a enciclopédia livre

Crianças fazendo sinal V

A educação é fulcral no crescimento da pessoa. A educação da criança surda é um direito, faz parte da sua condição como ser humano e o dever de educar é uma exigência do adulto, do pai e do educador.

Para a criança surda, tal como para a criança ouvinte, o pleno desenvolvimento das suas capacidades linguísticas, emocionais e sociais é uma condição imprescindível para o seu desenvolvimento como pessoa.

O ensino da Língua Portuguesa[editar | editar código-fonte]

A linguagem é essencial à vida em comunidade, pois é através dela que partilhamos ideias, emoções, experiências. Sem a linguagem as nossas potencialidades como ser humano ficam muitíssimo reduzidas.

No caso dos surdos oralizados, a escolarização envolve também sessões com fonoaudiólogos, leitura labial, uso de equipamentos para facilitar a comunicação e a participação ativa dos pais.

Mas o mesmo não acontece com uma porcentagem dos surdos cuja principal língua utilizada é a língua gestual, logo, para eles o conhecimento da escrita implica a aprendizagem de uma nova língua. Surgem então dois desafios:

  • Criação de condições que permitam o pleno desenvolvimento da criança;
  • Criação de condições que permitam a sua aptidão para interagir em diversos sistemas sociais e linguísticos: na comunidade de surdos e na comunidade ouvinte.

O sucesso escolar depende, em grande parte, do domínio da língua de escolarização. Além disso, a linguagem escrita é a modalidade de comunicação mais facilmente partilhável por surdos e ouvintes.

Como ensinar o surdo sinalizado a ler?[editar | editar código-fonte]

A criança com bom domínio da língua gestual tem vantagem, quando chega à escola.

Há três tipos de ambientes de aprendizagem:

  • Centrada no aluno - experiência linguística, hábitos literácitos da família, atitudes e valores;
  • Ancorada na avaliação - progresso do aluno, comparação com pares;
  • Referenciada ao conhecimento - autonomia e fluência da leitura; desenvoltura e correcção no uso multi funcional da escrita; conhecimento da estrutura da Língua Portuguesa.

Descoberta das letras[editar | editar código-fonte]

Começar por criar noção de que:

  1. nomes diferentes começam por letras diferentes;
  2. sequências de letras diferentes resultam em palavras com significados diferentes;
  3. é possível corresponder a letra a algo que ela representa – dactilologia;
  4. criar consciência de que movimentos articulatórios estão na base de determinado som.
Criança gestualizando

Com isto temos o objectivo que a criança surda saiba que:

  1. unidades mínimas são diferentes entre si;
  2. a sua presença altera o significado da palavra;
  3. letra é a representação de um som (nas línguas orais onde se aplica esta regra);
  4. letras têm nome.

Estas noções podem ser criadas com ajudas tais como o computador, desenhos, livros, entre outros que o educador julgue útil para a especificidade do caso em questão.

Descoberta da natureza da linguagem escrita[editar | editar código-fonte]

A fim de que a criança vá interiorizando a escrita devem ser criadas algumas rotinas, com o objectivo de que a criança grave as seguintes noções:

  1. a escrita tem informação que é destinada a ser lida;
  2. essa informação é imutável;
  3. essa informação aparece em variados meios;
  4. sinais de escrita são distintos de outras produções gráficas;
  5. os mesmos organizam-se segundo padrões definidos.

Assim, é bom que o educador comece por ler histórias para a criança, com posterior tradução para a língua gestual. Após a leitura deve ser discutido o assunto lido.

Serve também de ajuda, neste assunto, que o educador ensine à criança como usar, por exemplo, o calendário, como identificar o seu nome (por descobri-lo por entre outras palavras), como reconhecer marcas comerciais.

Descoberta da existência de palavras[editar | editar código-fonte]

O educador deve desenvolver actividades para ensinar e estimular a criança a:

  1. reconhecer unidades de cadeias gráficas (palavras);
  2. perceber que as palavras têm significado;
  3. perceber que as palavras estão isoladas no texto, pelos espaços;
  4. saber onde começa e onde acaba a palavra;
  5. saber que palavras iguais têm o mesmo significado e gesto (sinal).

Aprendizagem da compreensão da leitura[editar | editar código-fonte]

A leitura é uma actividade cognitiva, o seu alvo é a obtenção de significado. Na Língua Portuguesa, a aprendizagem da gramática é difícil para qualquer aluno que esteja a aprender uma segunda língua, para o aluno surdo também, especialmente frases na voz passiva, o complemento indirecto, as orações relativas, as conjunções, artigos e os pronomes (para além de existir também dificuldades inerentes com o vocabulário).

A estrutura dos textos, qualquer que seja o seu objectivo (informar, divertir, persuadir o leitor), tem que ver com a forma como as ideias se organizam, com vista à clareza da exposição do conteúdo. Por isso, para diferentes tipos de texto, serão necessárias diferentes abordagens.

Perante os textos informativos é necessário que a criança aprenda, deste modo a:

  1. tomar atenção aos sinais de aproximação ao conteúdo, tais como o título, fotografias, imagens, entre outros;
  2. identificar o tema da informação;
  3. identificar a ideia principal.

Podem ser usadas algumas ajudas, como estratégias para o treinamento da compreensão deste tipo de textos, como por exemplo o questionamento do texto (O que sugere o título? O que o autor nos quer transmitir? Será que poderia existir um final diferente?), também a interpretação do texto para a língua gestual (com especial atenção às palavras-chave do texto, à qual devem sempre ser associados sinónimos, para uma melhor compreensão por parte do surdo).

Intérprete

Perante os textos narrativos, os objectivos a serem alcançados pelo surdo são:

  1. recorrer a imagens, esquemas e ilustrações como complemento da informação textual;
  2. identificar as etapas do processo temporal;
  3. identificar e compreender os verbos da acção;
  4. recorrer à consulta do texto sempre que a tarefa o requerer.

Para este tipo de texto podem ser utilizados os seguintes tópicos de ajuda: a elaboração do esquema da história, o reconto e revisão da história em língua gestual, a ilustração, e a tradução e revisão da história em texto escrito.

Existem, no entanto, contextos educativos que podem influenciar a compreensão da leitura, são eles: o contexto psicológico (tem que ver com a intenção da leitura), o contexto social (engloba as intervenções de professores e de colegas do meio escolar) e o contexto físico (inclui todas as condições materiais em que se desenrola a leitura).

Desenvolvimento social e emocional da criança surda[editar | editar código-fonte]

É por meio dos relacionamentos sociais que descobrimos o que é necessário para viver na sociedade. O primeiro contato social da criança é no meio familiar. Segundo Santana e Bergamo (2005),[1] os surdos foram durante muito tempo condenados por sua condição, considerados doentes, pela falta da comunicação oral e escondidos da sociedade pela sua família. A língua de sinais era proibida. Recentemente, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi reconhecida como língua materna dos surdos, através da Lei Nº 10.436 de 24 de abril de 2002,[2] o que proporcionou aos mesmos um reconhecimento perante a sociedade. A aprendizagem social ou educacional, precisa de contribuições desde o nascimento da criança. A criança surda precisa ser compreendida pelas suas características e o relacionamento interpessoal familiar faz diferença no modo como essa criança irá se identificar enquanto parte das relações sociais. É importante para os surdos que as pessoas consigam comunicar-se com eles através da Libras, para que haja a inclusão social. Serviços básicos como saúde, educação e comércio em geral muitas vezes não possuem pessoas qualificadas para o atendimento ao surdo, fazendo com que ele se sinta ainda mais excluído. Portanto, a inclusão da Libras no cotidiano da sociedade seria indispensável para o desenvolvimento social do surdo.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 565-582, Maio/Ago. 2005
  2. [1]

Notas bibliográficas[editar | editar código-fonte]

  • Sim-Sim, Inês. A Criança Surda, contributos para a sua educação, textos de educação, Fundação Calouste Gulbenkian.