Duarte I de Portugal – Wikipédia, a enciclopédia livre

Duarte I
O Eloquente, o Rei-Filósofo
Duarte I de Portugal
Rei de Portugal e Algarves
Reinado 14 de agosto de 1433
a 9 de setembro de 1438
Antecessor(a) João I
Sucessor(a) Afonso V
 
Nascimento 31 de outubro de 1391
  Viseu, Portugal
Morte 9 de setembro de 1438 (46 anos)
  Tomar, Portugal
Sepultado em Mosteiro da Batalha, Batalha, Leiria, Portugal
Esposa Leonor de Aragão
Descendência Afonso V de Portugal
Fernando, Duque de Viseu
Leonor de Portugal
Catarina de Portugal
Joana de Portugal
Casa Avis
Pai João I de Portugal
Mãe Filipa de Lencastre
Religião Catolicismo
Assinatura Assinatura de Duarte I
Brasão

Duarte I de Portugal (Viseu, 31 de outubro de 1391Tomar, 9 de setembro de 1438), apelidado de o Eloquente e o Rei-Filósofo, foi o Rei de Portugal de 1433 até à sua morte. Terceiro filho do rei João I e da rainha Filipa de Lencastre, torna-se o herdeiro da coroa portuguesa após a morte de seu irmão mais velho, Afonso. Era o membro mais velho da "Ínclita Geração" dos filhos reais que contribuíram para o desenvolvimento da civilização portuguesa durante o século XV.[1]

Vida[editar | editar código-fonte]

Foi o décimo primeiro rei de Portugal,[2] o segundo da Dinastia de Avis.

D. Duarte recebeu o seu nome em homenagem ao avô de sua mãe, o rei Eduardo III da Inglaterra. Desde muito jovem, D. Duarte acompanhou o seu pai nos assuntos do reino, sendo portanto um herdeiro preparado para reinar; em 1412 foi formalmente associado à governação pelo pai,[3] tendo os assuntos da justiça e das finanças.[4]

Juntamente com os irmãos, convenceu o pai a conquistar Ceuta;[5] lá foi armado cavaleiro pelo pai, juntamente com os irmãos Pedro e Henrique.

Casou com Leonor de Aragão, neta paterna de João I de Castela. Duarte dedicou à rainha uma obra literária. Leonor após ficar viúva tornou-se regente por algum tempo.

Quando se tornou rei, tinha quase 42 anos e levava 21 de governo, pois ganhou experiência no reinado do pai.[4]

Num curto reinado de cinco anos deu continuidade à política de exploração marítima e de conquistas em África. O seu irmão Henrique estabeleceu-se em Lagos, de onde dirigiu as primeiras navegações e em 1434, Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador. Numa campanha mal sucedida a Tânger, o seu irmão D. Fernando foi capturado e morreu em cativeiro.[6]

Descreve-o assim um autor anónimo medieval: «El-Rei D. Duarte está na sacristia de S. Domingos em uma tábua pequena, de altura um côvado, e está o corpo todo, posto que a tábua é pequena, acima dos armários onde se revestem os frades para dizer missa. Não tinha mais barba que os bigodes, há dias que o não vi, não sei se está ainda aí, ou o mudaram os frades para outra parte...» [Manuscrito do Rio de Janeiro (Retratos de Reis que estão em Lisboa)].[7]

Este rei interessou-se pela cultura e escreveu duas obras, como o Leal Conselheiro e o Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela. Preparava uma revisão da legislação portuguesa quando morreu, vitimado pela peste.

O seu filho Afonso tinha apenas 6 anos quando D. Duarte morreu, em 1438. O rei em testamento entregou a regência à rainha, Leonor, sua mulher. Esta medida não foi do agrado da população. Houve uma desavença na família para decidir quem seria regente.[8]

Jaz nas Capelas Imperfeitas do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, ao lado da rainha D. Leonor.

Reinado[editar | editar código-fonte]

Estátua de D. Duarte em Viseu.

O seu curto reinado durou cinco anos, mas já tinha vasta experiência na governação. Deve-se ao rei a publicação da Lei Mental, uma forma de defender os bens da coroa,[2] já aplicada no reinado do pai, mas oficialmente aplicada por Duarte; o nome da lei vem de já existir na mente do rei João I. Manteve a política que vinha do reinado do pai.[9] No começo do reinado, as cortes pediram que não se fizesse a guerra sem o consentimento das mesmas, Duarte responde que a guerra é um assunto da vontade exclusiva do rei.[10] D. Duarte foi um monarca preocupado em gerar consenso e ao longo do curto reinado de cinco anos convocou as Cortes cerca de cinco vezes, para discutir assuntos de estado.[2] Várias vezes as Cortes tinham pedido a D. João I a organização de uma colectânea em que se coordenasse e actualizasse o direito (lei) vigente, para a boa fé e fácil administração na justiça. Para levar a cabo essa obra, D. Duarte designou o doutor Rui Fernandes, que a concluiu em 1446. Posteriormente revista por ordem do infante D. Pedro, ela se converteria nas Ordenações Afonsinas.

D. Duarte deu continuidade à política de incentivo de exploração marítima e de conquistas em África e da centralização do poder que vinha do reinado anterior. A imagem que é dada das cortes de 1433 (Leiria-Santarém), o rei mostra-se firme com a nobreza e reprime os abusos de poder do clero.[9]

Durante o seu reinado, o seu irmão Henrique estabeleceu-se em Lagos, a partir de onde dirigiu as navegações: assim, em 1434 Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador, um ponto lendário da época, cuja travessia causava terror aos marinheiros; daí avançou-se para Angra dos Ruivos em 1435 e Afonso Gonçalves Baldaia atingiu o Rio do Ouro e Pedra da Galé em 1436. O arquipélago da Madeira foi doado ao irmão Henrique, em 1433.[11]

Em 1437, os seus irmãos Henrique e Fernando convenceram-no a lançar um ataque a Marrocos,[6] de forma a consolidar a presença portuguesa no norte de África, que se pretendia uma base para a exploração do Oceano Atlântico. A ideia não foi consensual: D. Pedro e D. João estavam contra a iniciativa[2] de atacar directamente o rei de Marrocos. A campanha foi mal sucedida e a cidade de Tânger não foi conquistada, custando a derrota grandes perdas em batalha. O próprio infante Fernando foi entregue como garantia de devolução de Ceuta e morreu em cativeiro,[2] anos depois, por recusar-se a ser libertado em troca da devolução de Ceuta, o que lhe valeu o cognome de "Infante Santo". No sentido de decidir o que fazer quanto a Ceuta, foram reunidas cortes (Leiria), em 1438; o rei mostra-se perfeitamente capaz e escuta as opiniões. Este desaire de Tânger é a única nota negativa do seu reinado, mas não por sua culpa.[12]

Morre em 1438, de peste que assolava Lisboa.

O rei a escrever a obra Leal Conselheiro.

Obras[editar | editar código-fonte]

Duarte foi um homem interessado em cultura e conhecimento. Escreveu vários livros de poesia e prosa. Destes últimos destaca-se Leal Conselheiro, um ensaio sobre variados temas onde a moral e religião têm especial enfoque, endereçada a sua mulher, Leonor de Aragão. Nele, Duarte regista a depressão pela qual passou quando foi associado ao governo do pai e como a superou.[12]

Compôs um livro de Regimento pera os que custumarem andar a cavallo, intitulado de Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela,[13] em forma de manual para cavaleiros.

Da sua vida e obra se escreveu no século XVI o "Livro dos conselhos de el-rei D. Duarte". O livro apresenta a seguinte informação: "Livro da Cartuxa de Scala Coeli que D. Teotónio de Bragança. arcebispo de Évora, fundador da mesma casa lhe fez doação."

Títulos, estilos e honrarias[editar | editar código-fonte]

Teve os seguinte títulos:

  • 31 de Outubro de 1391 – 14 de Agosto de 1433: "Sua Alteza, o Infante Duarte de Portugal";
  • 14 de Agosto de 1433 – 9 de Setembro de 1438: "Sua Alteza Real, o Rei".

O estilo oficial de D. Duarte enquanto Rei de Portugal: "Pela Graça de Deus, D. Duarte, Rei de Portugal e do Algarve, e Senhor de Ceuta".

Ascendência[editar | editar código-fonte]

Descendência[editar | editar código-fonte]

O rei Afonso V.

Da sua esposa, a infanta Leonor de Aragão (1402-1455), teve nove filhos.

A rainha tornar-se-ia regente do reino até Afonso V atingir a maioridade, o que gerou controvérsia no reino,[8] pois a opinião pública considerava os infantes D. Pedro, D. Henrique e D. João mais capazes para a regência. D. Leonor manteve-se regente até 1439, assinando os atos régios como «a triste rainha», e nesse ano foi substituída pelo infante D. Pedro e afastada da corte. Exilou-se em Espanha e morreu em Toledo. Deste casamento nasceram:

A imperatriz Leonor, filha de Duarte.

Legado[editar | editar código-fonte]

Foi no seu reinado que Gil Eanes dobrou o cabo Bojador, um importante marco na exploração marítima.

Antes de ser rei, teve funções governativas e encarregou Fernão Lopes de escrever as crónicas dos rei de Portugal.

Deixou duas importantes obras literárias: Leal Conselheiro e Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela.

Deixou em testamento a regência à rainha que estava grávida de Joana. A rainha governou por alguns meses sozinha, depois em conjunto com o infante Pedro e em 1439, exilou-se em Toledo.[15]

Os seus filhos acabaram por crescer sem os pais. Afonso foi o sucessor de Duarte, Fernando foi o pai da rainha Leonor e do rei Manuel. Uma das filhas de Duarte, Leonor foi a primeira imperatriz portuguesa do Sacro Império, como tal Duarte é o avô do imperador Maximiliano I e este é o avô paterno do imperador Carlos V.

Há quem pense que o enigmático retrato, geralmente conhecido por Léal Souvenir, executado por Jan van Eyck em 1432, seja o seu[16].

Referências

  1. Stephens, Henry Morse (1903). The Story of Portugal (em inglês). [S.l.]: G.P. Putnam's sons 
  2. a b c d e O Portal da História
  3. Marques 1980, p. 189.
  4. a b Mattoso 1993, p. 500.
  5. Saraiva 1993, p. 131.
  6. a b Marques 1980, p. 190.
  7. [https://run.unl.pt/bitstream/10362/33289/1/LivroDD_reduzido.pdf D. Duarte e a sua época: Arte, Cultura, poder e espiritualidade, coordenação de Catarina Fernandes Barreira e Miguel Metelo de Seixas. IEM - Instituto de Estudos Medievais Universidade Nova de Lisboa, CLEGH - Centro Lusíada de Estudos Genealógicos, Heráldicos e Históricos, Universidade Lusíada de Lisboa, Lisboa, 2014.]
  8. a b Marques 1980, p. 190-191.
  9. a b Mattoso 1993, p. 501.
  10. Saraiva 1993, p. 130.
  11. Saraiva 1993, p. 143.
  12. a b Mattoso 1993, p. 502.
  13. Ruy de Pina, Cronica d'el-rei dom Duarte, capitulo III
  14. Ruy de Pina, Cronica d'el-rei dom Duarte, cap. XLIV;
  15. Mattoso 1993, pp. 502-503.
  16. O Leal Souvenir de Jan van Eyck, por Clemente Baeta, 2016

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Luís Miguel Duarte, D. Duarte. Requiem por um rei triste. Círculo de Leitores, 2005.
  • Humberto Baquero Moreno, A Batalha de Alfarrobeira. Antecedentes e significado histórico. 2 Vols. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1979, disponível em https://archive.org/details/bub_gb_Ad6SHXBOlbAC (consultado em 21 de Fevereiro de 2018).
  • Marques, António (1980). História de Portugal 8.ª ed. Lisboa: Palas Editores .
  • Saraiva, José (1993). História de Portugal. Mem Martins: Publicações Europa-América .
  • Mattoso, José (1993). História de Portugal — A Monarquia Feudal. 2.º volume. [S.l.]: Círculo de Leitores. ISBN 972-42-0636-X .

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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