Dito Pituba – Wikipédia, a enciclopédia livre

Dois Cristos de grandes dimensões, Museu de Arte Sacra de São Paulo

Benedito Amaro de Oliveira, mais conhecido como Dito Pituba (Santa Isabel, 15 de janeiro de 1848 — 1923) foi um artista brasileiro ativo no Vale do Paraíba, lembrado pela sua grande produção de arte sacra, em particular as estatuetas conhecidas como paulistinhas.

Carreira[editar | editar código-fonte]

Começou sua carreira aprendendo com o pai como lavrar escrituras para contratos de compra e venda. Trabalhou como oleiro fazendo telhas decoradas com desenhos, produziu ex-votos e foi pintor decorando oratórios e bandeiras processionais, mas se notabilizou principalmente como santeiro, trabalhando com o barro e a madeira. Não recebeu um preparo formal, desenvolvendo um estilo popular.[1]

Deixou obras de grandes dimensões para várias igrejas no Vale do Paraíba, mas é mais lembrado pela sua produção de paulistinhas, um gênero de estatuetas de pequenas dimensões em barro que foi muito popular no século XIX, desaparecendo depois com a competição das peças de gesso produzidas industrialmente.[1] Pituba foi o último santeiro conhecido a se dedicar a este gênero,[1][2] e para o historiador da arte Rafael Schunk, foi o seu principal expoente.[3] Ao contrário da prática comum entre os santeiros populares da época, deixou diversos trabalhos assinados.[4]

Oratório e paulistinhas de Dito Pituba, 1889. Museu de Arte Sacra de São Paulo

Segundo a pesquisadora Vera Toledo Piza, "foi um dos raríssimos exemplos de santeiros que se dedicaram integralmente à arte religiosa, fazendo desse métier seu único meio de subsistência. Foi ele, também, o responsável pela maior produção de peças sacras do Vale do Paraíba". Aproveitava todo tipo de material para criar detalhes diferenciados em suas estátuas, como pedaços de couro e papelão, pregos, bolinhas de vidro (para os olhos), tampas de garrafas.[5] Suas imagens em geral têm uma postura rígida, e muitas vezes trazem as mãos e pés desproporcionalmente grandes, o que para o historiador Eduardo Etzel faz uma referência "às características do caboclo descalço, andarilho incansável pelas morrarias de Santa Isabel e de suas mãos grosseiras, que na labuta agrícola lhe garantiam a subsistência".[6] O artista preparava as tintas e pintava suas estátuas com uma camada espessa, o que acentua seu aspecto rústico.[5] Etzel acrescenta:

"O estudo da obra de Dito Pituba nos deu o exemplo da interpretação popular da arte sacra. Vimos como se inspirou nas imagens e gravuras preexistentes e como aos poucos passou da cópia à afirmação da própria maneira de interpretar. Um artista sacro popular como Pituba é um produto do meio em que vive, daí ser até certo ponto polivalente. Tendo que satisfazer sua clientela, pinta ex-votos e faz oratórios que abrigarão as imagens criadas por ele mesmo".[7]

Tem obras no Museu de Antropologia do Vale do Paraíba,[1] no Museu de Arte Sacra de São Paulo, que possui uma coleção de cerca de 300 peças,[8] e em coleções privadas, que têm sido cedidas para exposições em museus.[9][10] Segundo o MASSP, Pituba destacou-se entre os santeiros de sua geração,[11] e de acordo com a Secretaria de Comunicação Social de Barueri, "é considerado um dos maiores santeiros populares do Brasil", com um trabalho que "representa a cultura caipira como desdobramento da sociedade bandeirista".[10]

Algumas exposições[editar | editar código-fonte]

  • Dito Pituba. Estação Tiradentes do metrô de São Paulo, organizada pelo Museu de Arte Sacra de São Paulo, 2004, individual.[12]
  • Arte e Cultura do Vale do Paraíba Paulista. Palácio Boa Vista de Campos de Jordão, 2011, coletiva.[13]
  • A Arte Sacra na Terra dos Bandeirantes. Museu Municipal de Barueri, 2012, coletiva.[10]
  • Uma Assinatura na Arte Anônima: Dito Pituba. Museu de Arte Sacra de São Paulo, 2013, individual.[11][14]
  • Santeiros Populares Paulistas. Museu Janete Costa de Niterói, 2016, coletiva.[15]
  • Paulistinhas: imagens de um vale histórico. Sesc São José dos Campos, 2016, coletiva.[2]
  • 1º Salão Paulista de Arte Naïf. Museu de Arte Sacra de São Paulo, 2021, coletiva.[16][17]
  • 3ª Bienal In­ternacional de Arte Naïf. Museu Municipal de Socorro, 2021, coletiva.[18]
  • Devoções Populares: arte sacra, naif, mística e religiosa. Museu de Arte Sacra e Diversidade Religiosa de Olímpia, 2022, coletiva.[9]

Homenagens[editar | editar código-fonte]

A Sala de Arte Sacra de Santa Isabel foi batizada com seu nome.[19] Foi homenageado em 2021 no espetáculo Santo de Casa, promovido pelo Centro de Estudos Teatrais de Santana, produzido pela Cia Cultural Bola de Meia e dirigido por Jacqueline Baumgratz.[20] Foi um dos homenageados no Projeto Santa Isabel 190 anos: Memórias, organizado pela Prefeitura de Santa Isabel para valorizar a memória coletiva e os diálogos do passado com a modernidade.[21]

Ver também[editar | editar código-fonte]

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Referências

  1. a b c d Borbagatto, Magela. Paulistinhas, importante presença no acervo do MAV. Fundação Cultural de Jacareí, 2016, pp. 9; 39
  2. a b "Sesc de São José realiza exposição especial". UOL, 03/08/2016
  3. "A terra transformada em arte: dos santos de barro do período colonial ao artesanato de argila no Vale do Paraíba, a riqueza da arte paulista". In: Revista Arruaça, 2018 (7)
  4. Borges, Silvana. "Expressões na Arte Sacra - Nossa Senhora Aparecida e a imaginária paulista". Museu de Arte Sacra de São Paulo, 2018
  5. a b Piza, Vera Toledo. "A Arte Religiosa do Vale do Paraíba criada pelos santeiros e preservada por colecionadores". O Lince, 20/10/2009, pp. 8-10 — Edição Comemorativa 40 anos
  6. Etzel, Eduardo. Arte Sacra Popular Brasileira: Conceito–Exemplo–Evolução. Melhoramentos, 1975, p. 70
  7. Etzel, p. 123
  8. Souza, José Luiz de. "O Vale Sacro". Sampi, 30/06/2020
  9. a b "Museu de Arte Sacra terá nova exposição neste mês de junho". D'Hoje Interior, 05/06/2022
  10. a b c "Museu de Barueri apresenta a arte sacra na terra dos bandeirantes". Prefeitura de Barueri, 01/03/2012
  11. a b "Uma Assinatura na Arte Anônima: Dito Pituba". Museu de Arte Sacra de São Paulo, 11/05-01/09/2013
  12. "Metrô: Estação Tiradentes expõe obras sacras do artista Dito Pituba". Governo do Estado de São Paulo, 23/03/2004
  13. "Exposição em Campos do Jordão revela a arte do Vale do Paraíba". Notícias UNESP, 07/10/2011
  14. "Museu de Arte Sacra de São Paulo oferece três exposições em julho". O Globo, 06/07/2013
  15. "Museu Janete Costa está com duas exposições de arte católica". Casa Abril, 20/12/2016
  16. Ribeiro, Cirley. "Museu de Arte Sacra exibe Salão Paulista de Arte Naïf". UOL, 30/06/2021
  17. "Museu de Arte Sacra realiza primeira edição do Salão Paulista de Arte Naïf". Revista Museu, 25/06/2021
  18. "Artista de RP terá 2 obras na BINaïf". Tribuna de Ribeirão, 14/08/2021
  19. Alcântara, Érica. "Semana Lions da melhor idade". Jornal Ouvidor, 24/09/2022
  20. "Novembro tem Temporada CET com espetáculos presenciais". Prefeitura de São José dos Campos, 09/11/2021
  21. Sandara, Raissa. "Projeto Memórias homenageia personalidades e fortalece história". Portal News, 31/07/2022