Dialeto carioca – Wikipédia, a enciclopédia livre

Dialeto carioca

Sotaque carioca, Carioquês

Falado(a) em:  Rio de Janeiro
Região: Região Metropolitana do Rio de Janeiro
Total de falantes: aprox. 12,5 milhões de pessoas
Posição: Não se encontra entre os 100 primeiros
Família: Indo-europeia
 Língua portuguesa
  Português brasileiro
   Dialeto carioca
Estatuto oficial
Língua oficial de: sem reconhecimento oficial
Regulado por: sem regulamentação oficial
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---

O dialeto carioca é uma variação linguística do português brasileiro, típica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Por causa do longo tempo em que a cidade do Rio de Janeiro permaneceu como capital do Brasil, o estudo do dialeto carioca começou com a obra do filólogo Antenor Nascentes, O Linguajar Carioca, em 1922.[1]

Influências[editar | editar código-fonte]

O sotaque carioca apresenta algumas semelhanças com o português lusitano. Entre tais semelhanças, percebe-se a pronúncia do "s" chiado e as vogais abertas em palavras como "também", características comuns em ambos. Isso é creditado, ao menos parcialmente, a fatores históricos como a vinda da Família Real Portuguesa, que com sua chegada ao Rio de Janeiro trouxe uma população de cerca de 15 mil portugueses, entre membros da corte e seus serviçais,[2] alterando a demografia da cidade que até então contava apenas com 23 mil pessoas (sendo a maioria dessa população composta de escravos africanos).[3]

Tal presença de uma grande quantidade de escravos e cidadãos de origem africana gerou também outra forte influência percebida no sotaque carioca, que são os dialetos africanos, falados pelos escravos que compunham a maioria da população carioca durante o período colonial e até o final do Império. Entre tais influências, nota-se por exemplo a Palatalização do /d/ e /t/ para as africadas palato-alveolares [d͡ʒ] e [t͡ʃ] quando antes de /i/ e a pronúncia pesadamente africanizada do s, em que os sons de s e z apresentam pronúncia palatizada quando não seguidos de vogal ou outra consoante fricativa alveolar.

Compartilha com o dialeto fluminense a tendência eventual de reduzir as vogais /e/ e /o/ para /i/ e /u/ quando átonas, um ritmo acentual de fala (sílabas átonas de menor duração que as tônicas) e palatalização da s e z em fim de sílaba (mesmos /mejʒmuʃ/). 

Recepção[editar | editar código-fonte]

O dialeto carioca, embora tenha grande projeção no Brasil, é visto pela maioria da população brasileira como uma forma incorreta de pronúncia do português falado no Brasil, e possui uma das menores aceitações entre os dialetos locais brasileiros, conforme apontam pesquisas realizadas pela pesquisadora Jania Ramos, do Departamento de Linguística da Universidade Federal de Minas Gerais.[4]

Nessa pesquisa, a linguista aponta que a aceitação do sotaque carioca pela população em geral apresentou queda com relação aos números apresentados em pesquisas anteriores realizadas em 1979 pela também linguista Maria José de Almeida, indicando que a perda do status de capital tenha auxiliado a afetar a percepção do sotaque em nível nacional.[5]

Fonética[editar | editar código-fonte]

O dialeto carioca é marcado pelas seguintes características fonéticas e fonológicas:

Exemplos: <dia> [ˈd͡ʒiɐ]; <antigamente> [ɐ̃ˌt͡ʃiɡaˈmẽt͡ʃɪ].
Exemplos: <bons amigos> [ˌbõzaˈmigʊʃ]; <bons dias> [bõʒˈd͡ʒiɐʃ].
  • O r em coda, que era pronunciado como uma vibrante simples alveolar, sofreu variações históricas, passando a ser pronunciado como uma vibrante múltipla alveolar, depois uvular, passou a ser uma fricativa surda e também pode ser articulado no véu palatino, mas não é sonorizado nem quando antecede uma consoante sonora, por exemplo, mar morto é pronunciado como *[maɣˈmoxtʊ]. Esta variação está sujeita a sândi quando antes de vogais, ainda sendo pronunciada como uma vibrante simples, mais precisamente como um tepe.[7]
Exemplos: <amor eterno> [aˌmoɾeˈtɛxnʊ]; <árvore> [ˈaxvoɾɪ]; <arco> [ˈaxkʊ].
  • A pronúncia fortemente africanizada do s, na qual os sons de s e z se tornam palatizados quando não seguidos de vogal ou outra consoante fricativa alveolar.
Exemplos: <mal> [maw]; <alguém> [awˈgẽȷ̃]; <azul> [aˈzuw]
  • A realização ditongada das vogais, exceto /a/, em certos contextos prosódicos.[8]
Exemplos: <amiga> [aˈmiɐ̯gɐ]; <maneiro> [maˈneə̯ɾʊ]; <agora> [aˈgɔɐ̯ɾɐ]; <alô> [aˈlɔɐ̯]

Índices de segunda pessoa[editar | editar código-fonte]

No nível gramatical, o dialeto carioca possui também algumas especificidades, em especial quanto aos índices de segunda pessoa.

No dialeto carioca, tem havido um ressurgimento do uso de tu como índice de segunda pessoa, ao lado do índice mais comum no Brasil, você. Esse uso acontece principalmente entre homens jovens (com menos de 30 anos), no contexto de discurso informal e como marca enfática (uma vez que você é tido como forma não-marcada).[9][10]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Bagno (2011), p. 245
  2. Angela Maria Bravin dos Santos. «A suposta supremacia da fala carioca: uma questão de norma». Filologia.Org. Consultado em 16 de setembro de 2013 
  3. Lima, Olga Maria Guanabara de (2005). «O Linguajar Carioca: Fatores de Diferenciação» (PDF). Linguagem em (Re)vista. Ano 2 (2) 
  4. RAMOS, Jania M. (1997). «Avaliação de dialetos brasileiros: o sotaque» (PDF). Revista de Estudos da Linguagem. UFMG. p. 118. Consultado em 13 de fevereiro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 13 de fevereiro de 2013 
  5. ALMEIDA, Maria José de. Étude sur les attitudes linguistiques au Bresil. Thèse présentée a la Faculté des Études Supérieurs, Université de Montreal, 1979. Pg. 273.
  6. Bisol (2005), p. 212
  7. a b Bisol (2005), p. 211
  8. ARANTES, Pablo; NIKULIN, Andrey; LIMA, Jessé da Silva; LIMA, Aveliny Mantovan (2018). «Um estudo acústico dos ditongos centralizantes na fala carioca» (PDF). Working Papers em Linguística. UFSC. p. 6-34. Consultado em 29 de março de 2019. Cópia arquivada em 29 de março de 2019 
  9. Bagno (2011), pp. 751, 752
  10. Paredes Silva, Vera Lúcia (2003). «O retorno do pronome "tu" à fala carioca». Português brasileiro: contato linguístico, heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: Faperj:7letras. p. 160-169 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Marcos Bagno (2011). Gramática Pedagógica do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial. ISBN 8579340373