Dia da Reconciliação – Wikipédia, a enciclopédia livre

Dia da Reconciliação
Dia da Reconciliação
A bandeira Nacional representa, em grande parte, paz e unidade.
Celebrado por República da África do Sul
Tipo Histórico
Data 16 de dezembro
Início 16 de dezembro de 1995
Frequência Anualmente

O Dia da Reconciliação é um feriado público na África do Sul realizado anualmente em 16 de dezembro. O feriado entrou em vigor em 1994, após o fim do apartheid, com a intenção de promover a reconciliação e a unidade nacional do país. A data foi escolhida por ser significativa tanto para as culturas africânderes quanto para as africanas. O governo escolheu uma data importante para ambos os grupos étnicos por reconhecer a necessidade de harmonia racial. A celebração do Dia da Reconciliação pode incluir lembrar a história, reconhecer as contribuições dos veteranos, desfiles e outras festividades.

As origens da celebração para os africânderes remontam ao Dia da Promessa, celebrado em 16 de dezembro de 1864 em comemoração à vitória dos Voortrekkers sobre os Zulus na Batalha do Rio de Sangue. Para os africanos, a data tem sido significativa como um dos protestos pacíficos contra a injustiça racial e da fundação do Lança da Nação, o braço militar do Congresso Nacional Africano (ANC), em 16 de dezembro de 1961. Nelson Mandela e a Comissão da Verdade e Reconciliação da África do Sul escolheram um dia especial para ambos os grupos étnicos no país a fim de trabalhar na cura dos danos causados pelo apartheid.

Data e observância[editar | editar código-fonte]

"Reconciliação
depende de nós
".

A primeira vez que o Dia da Reconciliação foi celebrado como feriado público foi em 1995.[1] O novo governo decidiu representar a unidade nacional escolhendo uma data que tinha significado para "tanto as tradições africânderes quanto a luta da libertação".[1]

No Dia da Reconciliação, grupos culturais participam de desfiles e várias festividades que ocorrem em todo o país.[2] No Dia da Reconciliação de 2013, uma estátua de Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul, foi inaugurada em Pretória.[3] Durante a celebração em 2009, o presidente Jacob Zuma homenageou os heróis esquecidos do país, incluindo a inscrição de cerca de cem nomes de veteranos mortos em um mural do Parque da Liberdade.[4] Em 2008, Maki Skosana, assassinada por criminosos, recebeu uma lápide e foi lembrada.[5] Para a celebração em 2001, o Congresso Nacional Africano (ANC) recordou a invasão da polícia que levou ao Julgamento de Rivonia.[6] Algumas comunidades participam de uma caminhada que também serve como memorial de Mandela.[7] Outras partes da África do Sul optaram por enfatizar a necessidade de harmonia racial em suas comunidades.[7]

Todos os anos há um tema diferente. Por exemplo:

  • 2013: Construção da Nação, Coesão Social e Reconciliação;[8]
  • 2014: Coesão social, Reconciliação e Unidade Nacional nos 20 anos de democracia;[9]
  • 2015: Superando a Divisão: Construindo uma Nação Sul-africana comum para um estado de desenvolvimento nacional.[10]

Origem[editar | editar código-fonte]

Origens africânderes[editar | editar código-fonte]

Uma ilustração da Batalha do Rio de Sangue.

Para os africânderes, 16 de dezembro foi comemorado como o Dia da Promessa,[11] também conhecido como o Dia da Aliança ou Dingaan's dag, traduzido para Dia de Dingaan.[12] O Dia da Promessa foi um feriado religioso que comemorava a vitória dos Voortrekkers sobre os Zulus na Batalha do Rio de Sangue em 1838,[1] e ainda é celebrado por alguns africânderes.[13] Naquele dia, 470 Voortrekkers foram atacados em uma batalha no início da manhã liderada pelos generais de Dingane.[12] Os Voortrekkers derrotaram os Zulus, que contaram com dez mil soldados e, durante a batalha, três mil guerreiros Zulus foram mortos.[12] O evento tornou-se um "ponto de encontro para o desenvolvimento do nacionalismo, cultura e identidade africânder".[12]

O significado religioso do evento envolve a crença de que a vitória dos Voortrekkers foi ordenada pelo Deus do Cristianismo.[12] O Sínodo Geral das Igrejas de Natal dos Africânderes escolheu 16 de dezembro como "um dia eclesiástico de ação de graças por todas as suas congregações" em 1864.[12] Mais tarde, em 1894, o Dia do Dingane foi declarado um feriado público pelo Governo do Estado Livre.[12]

Durante o apartheid, 16 de dezembro continuou a ser celebrado como o Dia da Promessa[14] e o Dia da Aliança.[15] Em 1952, o Dia de Dingane foi alterado para Dia da Aliança e, em 1980, foi mudado para Dia da Promessa.[15] O Monumento de Voortrekker em Pretória foi erguido em 16 de dezembro de 1949 para comemorar o Dia de Dingane.[16][17] O ano de 1994 foi o último em que o Dia da Promessa foi celebrado pelos africânderes.[18] A transição do Dia da Promessa para o Dia da Reconciliação foi vista com emoções misturadas para africânderes.[18]

Origens africanas[editar | editar código-fonte]

Os africanos que não tiveram o direito de votar após a Segunda Guerra dos Bôeres protestaram contra a discriminação racial em 16 de dezembro de 1910.[12] Outros protestos contra a forma que o governo tratava a discriminação racial continuaram a ser realizados em 16 de dezembro. Em 1929, 1930 e 1934, o Partido Comunista da África do Sul (CPSA) realizou manifestações nesse dia.[12] A Convenção Africana (AAC) foi realizada durante o mesmo período em 1935, cobrindo as datas de 15 de dezembro a 18 de dezembro.[12]

Muito depois, quando os esforços de protestos passivos e resistência contra o apartheid não tiveram êxito, o Congresso Nacional Africano (ANC) decidiu formar um grupo militar ou armado.[9] A decisão de se mudar para a resistência armada ocorreu depois que o ANC foi banido pelo governo.[19] Nelson Mandela acreditava que a resistência não violenta não estava funcionando para parar o apartheid e defendia atos de sabotagem.[20] A data de 16 de dezembro é o aniversário da fundação do Umkhonto we Sizwe ("Lança da Nação" ou MK), a ala armada do ANC criada em 1961.[11] Naquele dia, a Lança da Nação promulgou seus "primeiros atos de sabotagem", que incluíram explosões de bombas contra edifícios governamentais em Joanesburgo, Porto Elizabeth e Durban.[12] Também em 16 de dezembro de 1961, a Liga da Nação distribuiu folhetos descrevendo como o grupo "continuará a luta pela liberdade e pela democracia via novos métodos, que são necessários para complementar as ações das organizações estabelecidas para a libertação nacional".[21]

Dia da Reconciliação[editar | editar código-fonte]

Desmond Tutu falou sobre o propósito do feriado em 1995.

Quando o apartheid terminou, foi decidido manter o 16 de dezembro como um feriado público, mas infundi-lo "com o objetivo de promover a reconciliação e a unidade nacional".[14] A celebração foi criada pelo governo em 1994.[22] Nelson Mandela fazia parte do grupo de políticos que ajudaram a iniciar a ideia do feriado.[23] Em 16 de dezembro de 1995, ocorreu a primeira celebração.[1] O primeiro encontro da Comissão Sul-Africana da Verdade e Reconciliação também foi realizada em 16 de dezembro de 1995.[24] Em um discurso em 1995, o arcebispo Desmond Tutu descreveu o feriado como destinado para a necessidade de curar as feridas do apartheid.[25]

O feriado também é usado para celebrar grupos culturais minoritários na África do Sul, como o povo San.[7] Além disso, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, em 2009, enfatizou que o feriado deveria promover o "não-sexismo".[26]

Outros significados[editar | editar código-fonte]

O dia 16 de dezembro também é o décimo sexto dia do período de férias de verão da África do Sul. É o primeiro de quatro feriados públicos realizados no auge do verão no Hemisfério Sul, juntamente com o Dia de Natal, o Dia da Boa Vontade e o Dia de Ano Novo. Muitas pequenas empresas fecham e os funcionários entram em férias neste período.[27]

Nota[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d «Day of Reconciliation celebrated as a public holiday in SA for the first time». South African History Online. 16 de março de 2011. Consultado em 25 de outubro de 2016 
  2. Wa Monareng, Motsebi (16 de dezembro de 2015). «Mpumalanga Reconciliation Day celebrations display cultural diversity». SABC. Consultado em 25 de outubro de 2016. Arquivado do original em 26 de outubro de 2016 
  3. «Nelson Mandela Statue Unveiled in South Africa on Day of Reconciliation». CTV News. 16 de dezembro de 2013. Consultado em 25 de outubro de 2016 
  4. Bateman, Barry (17 de dezembro de 2009). «Zuma homage to the 'forgotten heroes'; Tribute paid to struggle veterans at Day of Reconciliation ceremony». The Star. Consultado em 9 de julho de 2017 – via HighBeam Research. (pede subscrição (ajuda)) 
  5. «First Necklacing Victim Gets Day of Reconciliation Burial». Cape Times. 17 de dezembro de 2008. Consultado em 9 de julho de 2017 – via HighBeam Research. (pede subscrição (ajuda)) 
  6. «South Africa's ANC Old Guard Reminisce at Site of Police Raid». The Index-Journal. 16 de dezembro de 2001. Consultado em 9 de julho de 2017 – via Newspapers.com 
  7. a b c «SA Celebrates Reconciliation Day». SABC. 16 de dezembro de 2015. Consultado em 25 de outubro de 2016 
  8. «Invitation to Reconciliation Day». Governo da África do Sul. 11 de dezembro de 2013. Consultado em 25 de outubro de 2016 
  9. a b «16 December: a day to learn from the past». South Africa.info. 16 de dezembro de 2014. Consultado em 25 de outubro de 2016. Arquivado do original em 5 de dezembro de 2016 
  10. «Day of Reconciliation 2015». Governo da África do Sul. 16 de dezembro de 2015. Consultado em 25 de outubro de 2016 
  11. a b «Day of Reconciliation». Governo da África do Sul. Consultado em 28 de março de 2017 
  12. a b c d e f g h i j k «December 16, the reflection of a changing South African heritage». South African History Online. 31 de março de 2011. Consultado em 25 de outubro de 2016 
  13. Bearak, Barry (16 de dezembro de 2009). «Holiday of White Conquest Persists in South Africa». The New York Times. Consultado em 25 de outubro de 2016 
  14. a b «Day of Reconciliation». Office Holidays. Consultado em 25 de outubro de 2016 
  15. a b «Day of Reconciliation». Encyclopædia Britannica. Consultado em 25 de outubro de 2016 
  16. Malathronas, John (12 de setembro de 2016). «City of change: Exploring new South Africa in old Pretoria». CNN. Consultado em 25 de outubro de 2016 
  17. «December 16, the reflection of a changing South African heritage». www.sahistory.org.za. 31 de março de 2011. Consultado em 28 de outubro de 2016 
  18. a b «South Africa: Holiday Tradition Ends». The Galveston Daily News. 17 de dezembro de 1994. Consultado em 9 de julho de 2017 – via Newspapers.com 
  19. O'Malley, Padraig. «Umkhonto we Sizwe (MK) operations report  - The O'Malley Archives». Nelson Mandela Centre of Memory. Consultado em 9 de julho de 2017 
  20. Laing, Aislinn (5 de fevereiro de 2011). «Nelson Mandela's Spear of the Nation: the ANC's armed resistance». The Telegraph. Consultado em 9 de julho de 2017 
  21. «The formation of Umkhonto We Sizwe». Congresso Nacional Africano. Consultado em 9 de julho de 2017. Arquivado do original em 29 de julho de 2017 
  22. Sagolla, Lisa Jo (11 de novembro de 2010). «Collaborating Across Cultures». Back Stage. 51 (45): 6 – via EBSCOhost. (pede subscrição (ajuda)) 
  23. «Former Battleground Provides Perfect Setting for Day of Reconciliation». SA People News. 16 de dezembro de 2014. Consultado em 26 de outubro de 2016 
  24. Daly, Erin; Sarkin, Jeremy (2007). Reconciliation in Divided Societies: Finding Common Ground. Filadélfia: University of Pennsylvania Press. 276 páginas. ISBN 9780812239768 
  25. Wilson, Richard A. (2001). The Politics of Truth and Reconciliation in South Africa: Legitimizing the Post-Apartheid State. Cambridge: Cambridge University Press. 14 páginas. ISBN 0521001943 
  26. «Thousands Celebrate Day of Unity». The Times. 17 de dezembro de 2009. Consultado em 26 de outubro de 2016 – via EBSCOhost. (pede subscrição (ajuda)) 
  27. «When To Go To South Africa». Go2Africa Pty (Ltd). Consultado em 16 de fevereiro de 2011"South Africans tend to take their annual holidays ... mid-December to late January" 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]