Desastre natural – Wikipédia, a enciclopédia livre

Um desastre natural ocorre quando um evento físico muito perigoso (tal como um sismo, desabamento, furacão, tempestades[1], inundação, incêndio ou algum dos outros fenômenos naturais listados abaixo) provoca diretamente ou indiretamente danos à propriedade, ou faz um grande número de vítimas, ou ambas. Em áreas onde não há nenhuma presença humana, os fenômenos naturais são chamados de eventos naturais.

Um desastre é uma destruição social que pode afetar um indivíduo, uma comunidade, ou um país.

A extensão dos danos à propriedade ou do número de vítimas que resulta de um desastre natural depende da capacidade da população a resistir ao desastre. Esta compreensão é cristalizada na fórmula: os "desastres ocorrem quando os perigos se encontram com a vulnerabilidade.

Em 2000, as Nações Unidas lançaram a Estratégia Internacional para a Redução de Desastres (ISDR) para dirigir-se às causas subjacentes da vulnerabilidade e para construir comunidades resistentes a desastres promovendo o aumento na consciência das pessoas para a importância da redução de desastres como um componente integral de um desenvolvimento sustentável, com o objetivo de reduzir as perdas humanas, sociais, econômicas e ambientais devido aos perigos de todos os tipos.

Fenômenos naturais comuns que podem resultar em desastres naturais[editar | editar código-fonte]

Como o próprio nome diz, um desastre natural sempre está vinculado à ocorrência de determinados fenômenos naturais. Estes fenômenos podem ser de ordem climático/meteorológica, geológica, biológica ou astronômica. Também podem se dar em decorrência da combinação de dois ou mais destes fatores.

Segue abaixo as principais categorias de desastres naturais passíveis de ocorrência na Terra.

Afundamento e colapso[editar | editar código-fonte]

Eventos causados pela acomodação natural do terreno. Essa acomodação pode causar pequenos tremores de terra, afundamento do solo e, caso existam edificações sobre o local, podem ocasionar o colapso das estruturas.[2]

Ciclones, furacões ou tufões[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Ciclone tropical

Ciclone, furacão ou tufão, são diferentes denominações para um mesmo fenômeno: trata-se de uma região de baixa pressão atmosférica, onde o ar relativamente quente se eleva e favorece a formação de nuvens e precipitação. Por isso, tempo chuvoso e nublado, chuva e vento forte estão sempre associados a esses centros de baixas pressões.

O ciclone de Bhola de 1970 foi o ciclone tropical mais mortífero na história, matando mais de 300 000 pessoas[3] e possivelmente mais de um milhão[4] após atingir a região altamente povoada do Delta do Ganges em Bangladesh, em 13 de novembro de 1970. A sua intensa maré de tempestade foi responsável pela maior parte das mortes.[3] A bacia do Oceano Índico norte tem sido historicamente a bacia onde ocorreu mais mortes provocadas por ciclones tropicais, sendo que vários ciclones desde 1900 mataram mais de um milhão de pessoas.[5][6] Na bacia do Pacífico noroeste, o tufão Nina em 1975 matou 29 000 pessoas na China. A pior enchente em 2 000 anos foi causada pelo rompimento de 62 barragens, incluindo a barragem de Banqiao; outras 145 000 morreram devido a efeitos posteriores a tempestade, como a fome e epidemias.[7] Na bacia do Atlântico, o Grande furacão de 1780 é o furacão atlântico mais mortífero na história, matando cerca de 22 000 pessoas nas Pequenas Antilhas.[8] Um ciclone tropical não precisa ser particularmente intenso para causar danos memoráveis; as mortes podem ser causadas pelas chuvas torrenciais e consequentes deslizamentos de terra, que podem ser causados mesmo por ciclones tropicais menos intensos. A tempestade tropical Thelma, em novembro de 1991 matou milhares de pessoas nas Filipinas,[9] mesmo tendo uma intensidade inferior à de um tufão. Em 1982, uma depressão tropical sem nome que posteriormente tornaria-se o furacão Paul matou cerca de 1 000 pessoas na América Central.[10]

O furacão Katrina em 2005. Katrina foi o ciclone tropical que provocou os maiores danos e prejuízos econômicos da história

Estima-se que o furacão Katrina seja o ciclone tropical que provocou mais prejuízos de todo o mundo,[11] causando $ 81,2 bilhões de dólares em danos em propriedades (valores de 2005),[12] sendo que os danos gerais excedem os 100 bilhões de dólares.[11] Katrina matou no mínimo 1 836 pessoas depois de atingir a Luisiana e Mississippi, na costa sul dos Estados Unidos, como um grande furacão em agosto de 2005.[12] O furacão de Galveston de 1900 é o desastre natural mais mortífero na história dos Estados Unidos, matando entre 6 000 e 12 000 pessoas em Galveston, Texas. O furacão Iniki em 1992 foi o ciclone mais intenso a atingir o Havaí na história, atingindo a ilha de Kauai como um furacão de categoria 4, matando seis pessoas e causando 3 bilhões de dólares em prejuízos.[13] Outros destrutivos furacões do Pacífico incluem Pauline e Kenna, ambos causando danos severos depois de atingir o México como grandes furacões.[14][15] Em março de 2004, o Ciclone Gafilo atingiu o nordeste de Madagascar como um ciclone de grande intensidade, matando 74 pessoas e afetando mais de 200 000, tornando-se o pior ciclone a atingir o país em 20 anos.[16] No mesmo mês, o furacão Catarina formou-se no Atlântico sul, tornando-se o único ciclone tropical com intensidade de furacão a se formar nessa região. Catarina atingiu o Brasil, no litoral sul do estado de Santa Catarina e litoral norte do Rio Grande do Sul, matando pelo menos 3 pessoas.

O tufão Haiyan em 2013.O mais intenso ciclone tropical já registrado, com ventos de até 315 km/h

O ciclone tropical mais intenso na história é o Tufão Tip, ativo no Pacífico nordeste em 1979. Tip alcançou uma pressão atmosférica mínima de 870 mbar (652,5 mmHg) e ventos máximos sustentados de 165 nós (85 m/s ou 310 km/h).[17] No entanto, o tufão Tip não é o único ciclone tropical que detém o recorde de ventos máximos sustentados. O tufão Keith, também no Pacífico noroeste e os furacões Camille e Allen no Atlântico norte atualmente detêm este recorde juntamente com Tip.[18] Camille foi o único ciclone tropical que realmente atingiu terra com essa intensidade, com ventos ininterruptos de 165 nós (85 m/s ou 310 km/h) e rajadas de 183 nós (94 m/s ou 339 km/h), fazendo dele o ciclone tropical mais intenso na história enquanto cruzava a costa.[19] O tufão Nancy em 1961 detinha o recorde de mais intensas rajadas de vento, 185 nós (95 m/s ou 346 km/h), mas pesquisas recentes indicaram que as medidas da velocidade do vento tomadas entre 1940 e 1960 eram muito superestimadas devido à erros de calibração e Nancy não é mais considerado o ciclone tropical com as mais intensas rajadas de vento da história.[20] Uma rajada de vento de superfície provocada pelo tufão Paka, em Guam, alcançou 205 nós (105 m/s ou 378 km/h). Se fosse confirmado, seria a maior velocidade do vento de origem não tornádica registrada na superfície da Terra, mas a leitura teve que ser descartada, pois anemômetro foi danificado pela tempestade.[21]

Além de ser o ciclone tropical mais intenso, Tip foi o maior ciclone tropical em tamanho na história. A distância entre seu olho e a isóbara mais externa, onde ainda se encontravam ventos de intensidade equivalente a uma tempestade tropical, alcançou 2 170 quilômetros. O menor ciclone tropical em tamanho já registrado, o ciclone Tracy, teve menos de 100 quilômetros em diâmetro, pouco antes de atingir Darwin, Austrália, em 1974.[22]

O furacão John foi o ciclone tropical de maior duração na história, permanecendo ativo por 31 dias na temporada de 1994. Antes do advento das imagens de satélite em 1961, no entanto, muitos ciclones tropicais foram subestimados em suas durações.[23] O furacão John também tem a maior trajetória de um ciclone tropical na história; John percorreu 12 500 km.[24] Entretanto, não há dados confiáveis para a intensidade de ventos, pressão atmosférica ou trajetória de ciclones tropicais do hemisfério sul após 1998.[25]

Deslizamento ou escorregamento de terra[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Deslizamento de terra

Um deslizamento ou escorregamento de terra é um fenômeno de ordem geológica e climatológica que inclui um largo espectro de movimentos do solo, tais como quedas de rochas, falência de encostas em profundidade e fluxos superficiais de detritos.

Inundações[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Inundação

Uma inundação pode ser o resultado de uma chuva que não foi suficientemente absorvida pelo solo e outras formas de escoamento, causando transbordamentos. Também pode ser provocada de forma induzida pelo homem através da construção de barragens e pela abertura ou rompimento de comportas de represas.

As inundações podem também ocorrer em função do derretimento da neve acumulada durante o inverno em locais com Invernos frios e húmidos, tais como regiões montanhosas.

Tempestades[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Tempestade

Tempestades de areia, de gelo, de granizo, de raios estão entre fenômenos passíveis de ocasionar desastres naturais.

Tornados[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Tornado
Tornado Minco atingindo o estado americano de Oklahoma, em 3 de maio de 1999

Um tornado é um fenômeno meteorológico que se manifesta como uma coluna de ar que gira de forma violenta e potencialmente perigosa, estando em contato tanto com a superfície da Terra como com uma nuvem cumulonimbus ou, excepcionalmente, com a base de uma nuvem cumulus.[26] Sendo um dos fenômenos atmosféricos mais intensos que se conhece, os tornados se apresentam sob várias formas e tamanhos, mas geralmente possuem um formato cônico, cuja extremidade mais fina toca o solo e normalmente está rodeada por uma nuvem de e outras partículas. A maioria dos tornados conta com ventos que chegam a velocidades entre 65 e 180 quilômetros por hora, mede aproximadamente 75 metros de altura e translada-se por vários metros, senão quilômetros, antes de desaparecer. Os mais extremos podem ter ventos com velocidades superiores à 480 km/h, medir até 1,5 km de altura e permanecer no solo, percorrendo mais de 100 km de distância.[27][28][29]

Outros fenômenos[editar | editar código-fonte]

Outros fenômenos conhecidos por apresentarem potencial para causarem desastres naturais estão listados abaixo:

Prevenção de desastres naturais no Brasil[editar | editar código-fonte]

O Brasil é o país do continente americano com o maior número de pessoas afetadas por desastres naturais.[30] Dado ao perfil climático do país, a maioria dos agentes causadores dos desastres naturais que ocorrem no território brasileiro, não podem ser evitados.[31] Contudo, seus impactos podem ser reduzidos mediante adoção de ações preventivas.[31] A mitigação ou redução do impacto dos desastres dá-se através de medidas preventivas que podem ser classificadas em estruturais e não estruturais. As medidas estruturais são aquelas de cunho corretivo, como as obras de engenharia. Apesar de minimizar o problema em curto prazo, as medidas estruturais são caras, paliativas, frequentemente ocasionam outros impactos ambientais e geram uma falsa sensação de segurança. As não-estruturais, de caráter educativo, além de serem baratíssimas.[31]

Dentre os órgãos responsáveis pela prevenção da ocorrência desses desastres no país, destaca-se o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que é o núcleo responsável pela prevenção e gerenciamento da atuação governamental perante desastres naturais.[32]

Referências

  1. https://www.gov.br/mdr/pt-br/ultimas-noticias/entenda-a-diferenca-entre-os-tipos-de-desastres-naturais-e-tecnologicos-registrados-no-brasil
  2. «Estabilidade no solo» [ligação inativa]
  3. a b Chris Landsea (1993). «Which tropical cyclones have caused the most deaths and most damage?». Hurricane Research Division (em inglês). Consultado em 23 de fevereiro de 2007 
  4. Lawson (1999). «South Asia: A history of destruction». British Broadcasting Corporation (em inglês). Consultado em 23 de fevereiro de 2007 
  5. Shultz, James M., Jill Russell and Zelde Espinel (julho de 2005). «Epidemiology of Tropical Cyclones: The Dynamics of Disaster, Disease, and Development». Epidemiologic Reviews (em inglês). 27 (1): 21–25. Consultado em 14 de dezembro de 2006 
  6. Frank, Neil L. and S. A. Husain (junho de 1971). «The Deadliest Tropical Cyclone in History» (PDF). Bulletin of the American Meteorological Society (em inglês). 52 (6): 438–445. Consultado em 14 de dezembro de 2006 
  7. Hydrology Department of Henan Province (2006). «Flood and drought disaster» (em chinês). Consultado em 23 de fevereiro de 2007. Arquivado do original em 21 de setembro de 2013 
  8. Centro Nacional de Furacões (22 de Abril de 1997). «The Deadliest Atlantic Tropical Cyclones, 1492-1996». National Oceanic and Atmospheric Administration (em inglês). Consultado em 31 de março de 2006 
  9. Joint Typhoon Warning Center. «Typhoon Thelma (27W)» (PDF) (em inglês). Consultado em 31 de março de 2006. Arquivado do original (PDF) em 13 de outubro de 2006 
  10. Gunther, E. B., R.L. Cross, and R.A. Wagoner (maio de 1983). «Eastern North Pacific Tropical Cyclones of 1982» (PDF). Monthly Weather Review (em inglês). 111 (5). Consultado em 31 de março de 2006 
  11. a b Earth Policy Institute (2006). «Hurricane Damages Sour to New Levels». United States Department of Commerce (em inglês). Consultado em 23 de fevereiro de 2007. Arquivado do original em 13 de dezembro de 2006 
  12. a b Knabb, Richard D., Jamie R. Rhome and Daniel P. Brown (20 de Dezembro de 2005). «Tropical Cyclone Report: Hurricane Katrina: 23-30 August 2005» (PDF). Centro Nacional de Furacões (em inglês). Consultado em 30 de maio de 2006 
  13. Centro de Furacões do Pacífico Central. «Hurricane Iniki Natural Disaster Survey Report». National Oceanic and Atmospheric Administration (em inglês). Consultado em 31 de março de 2006 
  14. Lawrence, Miles B. (7 de Novembro de 1997). «Preliminary Report: Hurricane Pauline: 5-10 October 1997». Centro Nacional de Furacões (em inglês). Consultado em 1 de junho de 2006 
  15. Franklin, James L (26 de Dezembro de 2002). «Tropical Cyclone Report: Hurricane Kenna: 22-26 October 2002». Centro Nacional de Furacões (em inglês). Consultado em 31 de março de 2006 
  16. World Food Programme (2004). «WFP Assists Cyclone And Flood Victims in Madagascar» (em inglês). Consultado em 24 de fevereiro de 2007. Arquivado do original em 27 de setembro de 2007 
  17. George M. Dunnavan & John W. Dierks (1980). «An Analysis of Super Typhoon Tip (October 1979)» (PDF). Joint Typhoon Warning Center (em inglês). Consultado em 24 de janeiro de 2007 
  18. Ferrell, Jesse (26 de Outubro de 1998). «Hurricane Mitch». Weathermatrix.net (em inglês). Consultado em 30 de março de 2006 
  19. NHC Hurricane Research Division (17 de fevereiro de 2006). «Atlantic hurricane best track ("HURDAT")». NOAA (em inglês). Consultado em 22 de fevereiro de 2007 
  20. Laboratório Oceanográfico e Meteorológico do Atlântico, Hurricane Research Division. «Frequently Asked Questions: Which is the most intense tropical cyclone on record?». NOAA (em inglês). Consultado em 25 de julho de 2006 
  21. Houston, Sam, Greg Forbes and Arthur Chiu (17 de Agosto de 1998). «Super Typhoon Paka's (1997) Surface Winds Over Guam». Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (em inglês). Consultado em 30 de março de 2006 
  22. Laboratório Oceanográfico e Meteorológico do Atlântico, Hurricane Research Division. «Frequently Asked Questions: Which are the largest and smallest tropical cyclones on record?». NOAA (em inglês). Consultado em 25 de julho de 2006 
  23. Neal Dorst (2006). «Which tropical cyclone lasted the longest?». Hurricane Research Division (em inglês). Consultado em 23 de fevereiro de 2007 
  24. Subject: E7) What is the farthest a tropical cyclone has traveled ?
  25. Neal Dorst (2006). «What is the farthest a tropical cyclone has traveled ?». Hurricane Research Division (em inglês). Consultado em 23 de fevereiro de 2007 
  26. «Tornados y Trombas» (em espanhol). PortalCiencia. Consultado em 6 de abril de 2010 
  27. Wurman, Joshua (agosto de 2008). «Doppler On Wheels» (em inglês). Center for Severe Weather Research. Consultado em 13 de dezembro de 2009. Arquivado do original em 5 de fevereiro de 2007 
  28. «Hallam Nebraska Tornado» (em inglês). National Oceanic and Atmospheric Administration. Outubro de 2005. Consultado em 8 de setembro de 2006 
  29. Edwards, Roger (abril de 2006). «The Online Tornado FAQ». National Weather Service (em inglês). National Oceanic and Atmospheric Administration. Consultado em 8 de setembro de 2006. Arquivado do original em 29 de setembro de 2006 
  30. «Prevenção de desastres naturais: conceitos básicos» (PDF) 
  31. a b c «Prevenção de Desastres Naturais». INPE 
  32. «CEMADEN» (PDF) [ligação inativa]