Deir Yassin – Wikipédia, a enciclopédia livre

O massacre de Deir Yassin aconteceu no dia 9 de abril de 1948, quando cerca de 120 combatentes dos grupos paramilitares Irgun e Lehi atacaram a aldeia árabe de Deir Yassin, uma vila habitada por cerca de 700 pessoas e situada a 800 metros acima do nível do Mar Mediterrâneo, com vista para o principal acesso à cidade de Jerusalém, distante cinco quilômetros.[1]

A invasão de Deir Yassin ocorreu quando os milicianos judeus buscavam aliviar o bloqueio da cidade de Jerusalém, durante a guerra árabe-israelense de 1948.[2] Segundo a Cruz Vermelha, 254 moradores teriam sido mortos durante e depois da batalha pela vila.[3] Alguns foram baleados, enquanto outros morreram quando granadas de mão foram jogadas em suas casas.[4] Do lado oposto, quatro atacantes foram mortos e cerca de 35 feridos.[5] As mortes dos moradores de Deir Yassin foram firmemente condenadas pela liderança da Haganá, bem como pelas lideranças das demais unidades paramilitares judaicas e pelos rabinos-chefes das comunidades sefaraditas e asquenazitas na Terra Santa. A Agência Judaica enviou ao rei Abdullah I da Jordânia uma carta de desculpas, que o monarca recusou.

O evento tornou-se um marco nos conflitos entre árabes e israelenses durante o processo de independência do Estado de Israel, por conta de suas conseqüências demográficas e militares.

A narrativa do massacre tem sido utilizada desde então por grupos pró-palestinos, bem como em disputas políticas internas no Estado Judeu, por parte dos militantes dos partidos de esquerda, que acusam as atuais facções direitistas de serem herdeiras do legado de violência dos paramilitares. Ainda segundo os opositores israelenses contemporâneos, o Massacre de Deir Yassin violou o princípio judaico de "pureza das armas" e manchou a reputação de Israel e da causa sionista ao redor do mundo.[6]

A situação[editar | editar código-fonte]

A invasão de Deir Yassin ocorreu após a proposta da Organização das Nações Unidas (Resolução 181 da ONU) de divisão do território da Palestina em dois estados (um árabe e outro judaico). Ainda segundo a proposta da ONU, a cidade de Jerusalém não deveria pertencer a nenhum dos dois estados, mas administrada separadamente. Deir Yassin estava dentro dos limites do plano proposto para Jerusalém. Com a recusa das lideranças árabes da Palestina e dos países vizinhos em aceitar a proposta da ONU, a guerra eclodiu. O Mandato Britânico na Palestina terminou em 14 de maio de 1948. Israel declarou sua independência naquele mesmo dia e os exércitos árabes invadiram a Palestina no dia seguinte.

Nos meses que antecederam o fim do domínio britânico, em uma fase da Guerra de Independência conhecida como "A Batalha das Estradas",[7] as forças da Liga Árabe atacaram e bloquearam o tráfego nas principais estradas de acesso à Jerusalém, visando isolar as comunidades judaicas lá estabelecidas. Os árabes conquistaram vários sítios de grande vantagem estratégica ao longo da rodovia entre Jerusalém e Tel Aviv, onde viviam 16% de todos os judeus na Palestina. Os comboios entre as cidades eram violentamente atacados, provocando baixas e desabastecendo a população civil judia de víveres, medicamentos e armas.

Em março de 1948, a estrada foi totalmente bloqueada e Jerusalém foi sitiada. Em resposta, a Haganah lançou a Operação Nachshon para romper o cerco dos árabes e restabelecer a ligação com Tel Aviv.[8] Em 6 de abril, em um esforço para assegurar posições estratégicas da Haganah, o Palmach atacou a aldeia de al-Qastal, que ficava dois quilômetros ao norte de Deir Yassin, com vista para a rodovia Jerusalém-Tel Aviv. Em 9 de abril, as forças do Irgun e Lehi atacaram nas proximidades de Deir Yassin.[9]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Deir Yassin era uma aldeia que vivia da exploração das minas de calcário e do corte das pedras, utilizadas basicamente na construção civil.[10] Havia um histórico de convivência pacífica entre os moradores da aldeia árabe com os habitantes das comunidades judaicas vizinhas, em especial com os de Givat Shaul, uma comunidade ortodoxa do outro lado do vale. Há relatos de que os habitantes judeus de Givat Shaul teriam protegido habitantes de Deir Yassin, durante a invasão das forças do Irgun-Lehi.

Em 20 de janeiro de 1948, os moradores de Deir Yassin se reuniram com líderes da comunidade de Givat Shaul para formar um pacto de paz. Os habitantes de Deir Yassin concordaram em informar os de Givat Shaul sobre a presença de milicianos palestinos nas proximidades através de códigos. Em contrapartida, as patrulhas de Givat Shaul garantiram passagem para os moradores de Deir Yassin, em veículos ou a pé, no caminho de Jerusalém,[11] Yoma Ben-Sasson, comandante da Haganah em Givat Shaul, afirmaria tempos depois que "não houve sequer um incidente entre Deir Yassin e os judeus".[12]

Desde 1947 que milicianos árabes tentavam montar acampamento na aldeia. Numa das tentativas, um aldeão foi morto pelos milicianos árabes. No mês de janeiro de 1948, Abd al Qadir chegou em Deir Yassin com 400 homens e tentou recrutar alguns de seus moradores, mas os anciãos da vila não permitiram. O "mukhtar" (líder da aldeia), foi chamado a Jerusalém para explicar-se ao Supremo Conselho Árabe sobre as relações da vila de Deir Yassin com os judeus. O líder da aldeia simplesmente lhes respondeu que os aldeões e os judeus viviam em paz. Não foram tomadas medidas contra ele, e ele não pediu para cancelar o pacto de paz com os judeus de Givat Shaul.[13]

Em 13 de fevereiro, uma gangue armada de árabes tentou atacar Givat Shaul, mas foram vistos pelos habitantes de Deir Yassin, que os denunciaram. Em retaliação, os árabes mataram todas as ovelhas da aldeia. Em 16 de março, o Supremo Conselho Árabe enviou uma delegação à aldeia para pedir que aceitassem que um grupo de milicianos iraquianos e sírios se instalasse em Deir Yassin. Os moradores novamente negaram, embora combatentes do Irgun afirmem terem encontrado pelo menos dois milicianos estrangeiros durante a invasão de 9 de abril.

Referências

  1. Gelber 2006, p. 309.
  2. Morris 2008, pp. 126–128.
  3. Kana'ana and Zeitawi, 1987.
  4. Yavne to HIS-ID, April 12, 1948, IDFA 5254/49//372 in Morris 2008, p. 127.
  5. Gelber 2006, p. 310. *Morris 2008, p. 126 says "several dozen". *Morris 2005 says, "a dozen seriously wounded (they later spoke of 30–40 wounded, surely an exaggeration)."
  6. Gelber 2006, p. 307.
  7. Kagan 1966, p. 52.
  8. Pappe 2006, p. 90.
  9. Silver 1984, p. 91.
  10. Khalidi 1992, p. 290.
  11. Morris 2004, p. 91.
  12. Milstein 1999, p. 351
  13. Gelber 2006, p. 308.