Data – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Data é um momento do calendário, que representa o dia, mês e ano e, em certos casos, também a hora.[1] As datas são definidas conforme os vários calendários existentes no mundo, onde apenas trinta por cento dos habitantes adotam o calendário gregoriano, comum no Ocidente e cujas datas diferem dos demais, como o judaico, muçulmano ou o chinês; outros, como o calendário hindu, criado mil anos antes de Cristo, tem seu uso moderno restrito para o cálculo de datas religiosas; a religião, via de regra, consiste no principal fator determinante da contagem das datas, e cada um destes calendários que ainda vigoram no presente possui suas datas específicas e momentos históricos próprios.[2]

Como norma internacional de datação foi adotado em 1988 o ISO 8601; com isto evitam-se discrepâncias na forma como as culturas escrevem e leem as datas: num exemplo, 5/10/2020 pode ser lido cinco de outubro de 2020 ou dez de maio de 2020, a depender do país; assim, para determinar a data em padrão internacional, pela regra elas são escritas da seguinte forma: AAAA-MM-DD (ano, mês e dia que, no exemplo citado, ficaria 2020-10-05), respeitando-se ainda o fuso horário de cada lugar segundo as normas UTC.[3][4]

Datação em diferentes calendários[editar | editar código-fonte]

O ano presente na tradição judaico-cristã (2024) tem suas raízes no primitivo calendário romano que, no ano de 43 a.C. foi substituído pelo calendário juliano; no século VI o abade Dionísio contou o tempo a partir do nascimento de Jesus, substituindo a contagem que então era feita a partir da posse do imperador Diocleciano - algo incompatível com a cristandade, sendo este governante um perseguidor da religião que se firmava dominante na Europa; fazendo seus cálculos segundo os reinados que precederam ao de Diocleciano, o religioso concluiu que entre a fundação de Roma e o nascimento de Jesus haviam se passado 753 anos, ficando aquela data, portanto, definida como o ano 1 (cometendo provavelmente um erro de quatro anos a menos).[2] Este vigorou até a data de 24 de fevereiro de 1582, quando foi instituído o calendário gregoriano que baseia-se no chamado ano solar e com duração de 365 dias, 5 horas e 49 minutos, cuja divisão se dá em doze meses (sendo um dia acrescentado ao mês de fevereiro a cada quatro anos).[2]

A divisão em doze meses também ocorre no calendário hindu, mas sua soma dá um total de 354 dias; para compensar a defasagem em relação ao ano solar um mês é acrescentado a cada trinta meses; sua criação remonta a 1000 a.C..[2]

As datas no calendário judaico sofrem um acréscimo de alguns milhares de anos em relação ao gregoriano e tem por base o ano lunar (o que também gera defasagem em relação ao ano solar, fazendo com que ocasionalmente o mês Adar II seja adicionado); sua contabilidade foi estabelecida no século XI pelo rabino da Babilônia Hai Gaon; seu cálculo baseou-se em informações da Bíblia, concluindo que da criação do mundo até o nascimento de Abraão haviam se passado 1949 anos, de forma que no ano de 2020 o calendário hebraico estava no ano 5781.[2]

Já o calendário muçulmano, cuja data de criação não é conhecida, tem por base o ano lunar mas, ao contrário dos dois precedentes, não oferece nenhuma compensação, de forma que a cada século tem uma defasagem de onze dias; embora usado em grande parte dos países onde a maioria segue o Islã apenas para determinar das datas religiosas, no Golfo Pérsico é adotado de forma oficial; sua divisão também se dá em doze meses de trinta e vinte nove dias, alternados; tem por seu início a data da fuga de Meca por Maomé (no calendário gregoriano, a data de 16 de julho de 622); assim, em 2020 o ano muçulmano será o de 1441.[2]

O mais antigo dos calendários em vigor no mundo é o chinês; tem por base tanto o ano lunar quanto o solar, de forma que a cada oito anos são adicionados noventa dias; os anos recebem os nomes de animais, num total de doze; este calendário possivelmente remonte a 2636 a. C., de forma que 2020 seria o ano 4718 para os chineses; embora o calendário gregoriano vigore na China desde 1912, a data mais comemorada naquele país é o Ano-Novo Chinês , que se dá na lua nova entre os dias 21 de janeiro e 20 de fevereiro.[2]

História e datação[editar | editar código-fonte]

Para os gregos antigos o tempo tinha duas representações na mitologia: o Aion, uma entidade eterna e pouco inteligível para as pessoas, e Cronos uma figura mais compreensível; coube à filosofia definir o tempo de modo a determinar sua importância para o registro dos fatos humanos; assim em Parmênides ele surge como "o fator que caracteriza a diferença entre o estado aparente da realidade e o estado ideal (...) constituído por formas geométricas, eternos e em perfeito estado de repouso absoluto"; Aristóteles, entretanto, via a perfeição na forma geométrica do círculo, já que este estava determinado pelo estado cíclico dos movimentos que se dão no decorrer do tempo; esse filósofo também considerava que o tempo era decorrente da existência de seres pensantes, pois: "o tempo não uma mera sucessão, mas uma abstração que era numerada e encadeada através da contagem dos anos, e tal numeração não poderia ser feita sem que alguém a fizesse"; o tempo para os gregos, então, estava voltado ao passado, ao que já ocorreu.[5]

Em oposição à visão cíclica dos gregos, os judeus desenvolveram uma concepção linear do tempo; de um lado registravam o passado para a compreensão de seus infortúnios, enquanto projetavam para o futuro a vinda do Messias; apesar disto, não desenvolveram uma noção própria sobre o tempo, para cuja medição tiveram a influência das culturas suméria e babilônica, e um calendário baseado na lua.[5]

Coube ao filósofo romano Lucrécio, no século I a.C., a definição linear do tempo e sua relação subjetiva humana: "o tempo em si não existe, mas sim a partir das coisas criadas e na percepção do que ocorreu, está ocorrendo e do que vem a seguir"; essa linearidade se adequou à marcação do tempo cristã, que por um lado se prendia ao passado com o advento do Cristo, também se prendia à promessa futura da sua volta; Santo Agostinho foi, desta forma, influenciado por essas ideias ao construir sua noção tripartite do tempo (passado, presente e futuro, com conceitos distintos), e separava o tempo (algo criado por Deus) da eternidade (um "sempre presente"); ao medir o tempo o pensador cristão tinha em mente que "o passado é visto como memórias que vêm à tona, e o futuro como uma expectativa ou previsão".[5]

Coube ao monge inglês Beda a adoção do sistema de datação d.C. e que a partir de 1084 foi adotada em todo o continente europeu, muito embora no cotidiano as pessoas não tinham ciência do ano corrente, e documentos como as cartas não tinham uma datação - o que somente veio a acontecer a partir de 1538, novamente na Inglaterra, quando foi oficialmente implantada a datação oficial nos documentos; o período coincidiu com a Renascença em que o conhecimento humano sofreu grandes evoluções, especialmente na astronomia e as ideias de Giordano Bruno e Nicolau Copérnico (acabou com a visão geocêntrica dominante) que culminaram nas descobertas de Galileu Galilei e, mais tarde, nas leis sobre o movimento dos astros de Johannes Kepler e da gravitação universal de Isaac Newton, determinando uma mudança na percepção do tempo e sua percepção cíclica não mais voltada para o passado, como tinham os gregos, e sim para o futuro.[5]

Assim também evoluiu a historiografia que passou a tratar o tempo histórico como algo que serve para a compreensão entre o que se passa naturalmente e a percepção consciente, ou seja: "Com o tempo histórico o homem vê a si mesmo e as transformações que ocorrem ao seu redor. O historiador por sua vez, "manipula" o passado, trazendo para o presente, fatos que se encerraram." Isto então leva a crer que o registro de datas é a marcação do tempo, fixando a diferença entre o natural e o consciente; ao se registrar uma data determinada, o "ponto zero" deixa então de ser a astronomia mas sim um determinado evento.[5]

Marcação de tempo histórico[editar | editar código-fonte]

A historiografia, conquanto se sirva do calendário cristão para a datação, divide o tempo tradicionalmente em dois grandes períodos, determinados pela invenção da escrita, o que é questionável: pré-histórico e histórico - o que leva a datações distintas: no Brasil, por exemplo, embora sua ocupação humana remonte a cinquenta milênios atrás, sua pré-história (ausência de escrita) data até 1500, ano da chegada dos europeus; por outro lado, divide-se o tempo em antes do presente (AP) e depois do presente (DP), havendo sido convencionado, em uso feito principalmente pelos pré-historiadores e arqueólogos que o presente tem início no ano de 1950; além dos registros escritos, portanto, a datação é determinada por outras fontes, de forma que as datações podem ser "absolutas, relativas, ou pela interpretação" de elementos como a estratigrafia do solo ou outros elementos presentes "onde o tipo de fonte para o estudo não é a escrita, caracterizadora do trabalho do historiador, e sim composta, essencialmente, por artefatos", de forma que o pré-historiador se afasta daquela divisão tradicional.[6]

Referências

  1. Institucional. «Definição de termo: data». Tribunal Regional do Trabalho - 7ª Região. Consultado em 24 de novembro de 2020. Cópia arquivada em 24 de novembro de 2020 
  2. a b c d e f g «Os vários calendarios da humanidade». Biblioteca Aloísio Magalhães - IPHAN. 25 de novembro de 2014. Consultado em 24 de novembro de 2020. Cópia arquivada em 24 de novembro de 2020 
  3. Institucional. «ISO 8601 Date and time format». iso.org. Consultado em 24 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 9 de agosto de 2020 
  4. Barnaby Lewis (21 de fevereiro de 2017). «Date and Time: the new draft of ISO 8601 explained by Klaus-Dieter Naujok». iso.org. Consultado em 24 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 9 de agosto de 2020 
  5. a b c d e Daniel Maia Amaral (2007). «Os conceitos de tempo na historiografia» (PDF). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Consultado em 24 de outubro de 2020. Cópia arquivada (PDF) em 9 de agosto de 2020 
  6. Luiz Carlos Medeiros da Rocha (2015). «"As Pedras na História": O uso de fontes arqueológicas "pré-históricas" para a historiografia». História Unicap, v. 2 , n. 3, jan./jun. Consultado em 24 de novembro de 2020. Cópia arquivada em 24 de novembro de 2020