Corpus Hermeticum – Wikipédia, a enciclopédia livre

Hermes Trismegisto. in Viridarium chymicum, de D. Stolcius von Stolcenbeerg, 1624

Corpus Hermeticum (também chamado de Hermetica) é o conjunto de textos escrito entre 100 e 300 d.C. na então província romana do Egito.[1] É o resultado de um complexo sincretismo religioso, de múltiplas influências (inclusive egípcias). Ocorreu no período da Pax Romana (Paz Romana), que colocou o Egito em contato com o restante do Império Romano. Escrito na primeira pessoa por Thoth ou Hermes Trismegisto, contando as coisas que lhe revelou seu contato com o nous, espécie de divindade absoluta. Durante os séculos seguintes, atribuiu-se erroneamente a esses textos uma exagerada antiguidade, situando-o na época das grandes pirâmides. Tal atributo lhe valeu uma leitura reverente e atenta que teve importante influência na ciência do Renascimento, quando quase tudo o que fora escrito na Antiguidade era lido como revelação fundamental.

Seus textos formam a base do Hermeticismo. Eles discutem o divino, o cosmos, a mente e a natureza, bem como a alquimia, a astrologia e conceitos relacionados.[2]

Escopo[editar | editar código-fonte]

O termo Corpus Hermeticum, ou Hermetica, aplica-se, sobretudo, para a tradução latina de quatorze tratados de Marsilio Ficino, dos quais as primeiras edições apareceram antes de 1500, e posteriormente em 1641.[3] Esta coleção, que inclui o Pœmandres e alguns textos de Hermes aconselhando seus discípulos Tat, Amom e de Asclepius. Os três últimos tratados em edições modernas foram traduzidos de forma independente, a partir de um outro manuscrito por um contemporâneo de Ficino, Lodovico Lazzarelli (1447-1500) e impresso pela primeira vez em 1507.[4] Extensas citações de materiais semelhantes são encontrados em autores clássicos, tais como Joannes Stobaeus.

Partes do Corpus Hermeticum apareceram no 4.º século na biblioteca gnóstica encontrada em Nag Hammadi. Outras obras em siríaco, árabe, armênio, copta e outros idiomas também pode ser denominados Corpus Hermeticum ou Tábua de Esmeralda, que ensina a doutrina "como acima, assim abaixo".

Todos estes textos são próprios de uma mais extensa literatura, parte sincrética, do paganismo intelectualizado de sua época, um movimento cultural que incluiu também neoplatonismo, filosofia greco-romana, mistérios de Elêusis, escola pitagórica e influenciado formas gnósticas das religiões abraâmicas. Existem diferenças significativas: a Hermetica não contêm alusões explícitas para a bíblia e está pouco preocupada com a mitologia grega ou minúcias da metafísica. No entanto, a maioria dessas escolas concorda em atribuir a criação do mundo para um demiurgo, em vez de o ser supremo, e em aceitar a reencarnação. Embora filósofos neoplatônicos, que citaram obras apócrifas de Orfeu, Zoroastro, Pitágoras e outras figuras, quase nunca citam Hermes Trismegistus, os tratados foram ainda bastante populares no século V, para serem contra-argumentados por Agostinho de Hipona, em Cidade de Deus.

O Corpus Hermeticum promoveu um impulso seminal no desenvolvimento da Renascença, no pensamento e na cultura, tendo um impacto profundo sobre a alquimia e a magia moderna, assim como teve influência sobre filósofos como Giordano Bruno e Pico della Mirandola, aluno de Ficino.

Corpus Hermeticum: primeira edição em Latim, por Marsilio Ficino (1471), edição pertencente à Bibliotheca Philosophica Hermetica, Amsterdã.

Novos textos[editar | editar código-fonte]

Recentes traduções de textos encontrados na biblioteca de Nag Hammadi (Códice VI) contêm ao menos três escritos inéditos pertencentes ao Corpus Hermeticum:

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Corpus Hermeticum». www.granta.demon.co.uk. Consultado em 25 de fevereiro de 2018 
  2. «The Corpus Hermeticum». www.sacred-texts.com. Consultado em 25 de fevereiro de 2018 
  3. Noted by George Sarton, review of Walter Scott's Hermetica, Isis 8.2 (May 1926:343-346) p. 345
  4. Anon, Hermetica – a new translation, Pembridge Design Studio Press, 1982

Ligações externas[editar | editar código-fonte]