Contas contábeis – Wikipédia, a enciclopédia livre

As Contas contábeis são a estrutura básica do sistema de informação contábil, nela são registradas as transações contábeis de uma entidade.[1] As contas contábeis devem ser expressas com títulos em conformidade com os atos e fatos administrativos provocados, e figurar num plano de contas, de acordo com as suas características, similaridades ou eventos econômicos produzidos. Uma conta deve representar facilmente a operação realizada por uma entidade.[2] No Brasil, conforme o artigo 178 da Lei 6.404/76, "no balanço patrimonial, as contas serão classificadas segundo os elementos do patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia".[3] Sem contas contábeis organizadas de forma cartesiana ou racional escrituradas pelo método das partidas dobradas, os sistemas de informação devem ser denominados de gerenciais ou administrativos, não contábeis.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Conforme registros do Paleolítico Superior, as contas, como instrumentos de registros, surgiram antes da invenção da escrita e cálculo, dada a necessidade humana de registrar e controlar seus bens de forma organizada.[4] De forma rudimentar, o ser humano registrava seus bens, através de seixos. Em um rebanho por exemplo, era atribuído um seixo a cada animal e adicionado um seixo a medida que um animal nascia ou era adquirido e retirado a cada decréscimo do animal. [5] Segundo Cecherelli, tal recurso foi intuitivo e natural.[6]

Posteriormente, em 4.000 A.C, na Suméria, a humanidade passou a efetuar esse registro através de símbolos abstratos[4]. Na baixa Mesopotâmia, cerca de 3.500 A.C, foram encontrados inscrições em argila onde constava um sistema informativo que seria base para surgimento do Livro diário, Livro razão e posteriormente o Balanço Patrimonial, Nas tabuletas de Lagash, 2.600 A.C, atualmente no Museu do Cincoentenário, de Bruxela, já consta apurações de resultados em “contas do Exercício".[4]

Na obra Summa de Arithmética, Geometria, Proportioni et Proportionalitá do Frei Luca Pacioli, conceituou o registro dos fatos contábeis pelo método das partidas dobradas, sendo no Livro diário feitos pela expressão "POR" e "A", onde "POR" designa a conta devedora, e "A" a conta credor, como ele exemplificou: [4]

"1493, 8 de novembro, Veneza

1º Por Caixa de Numerário: A Capital Próprio, eu, Fulano de tal, etc.

Débito. 1 em dinheiro, em espécie encontrado presentemente em ouro e moedas;

Crédito. 2 prata e cobre de diversas cunhagens, como aparece na folha do Inventário em Caixa colocado, etc., no total tantos ducados de ouro e moedas ducados, tanto valendo tudo ao câmbio veneziano em base ouro, isto é, a 24 soldos grandes por ducados, e a 32 soldos pequenos em liras de ouro." [7] Frei Luca Pacioli

Pacioli, também definiu como escriturar o Livro razão, onde são anotados as transações por conta contábil transportados do Livro diário.[4]

Correntes de Pensamento[editar | editar código-fonte]

Depois de Luca Pacioli, começaram a ser desenvolvidas diversas teorias, originadas através de observações, que foram organizados em correntes de pensamento de acordo com suas semelhanças[8]

Contismo[editar | editar código-fonte]

Também conhecida como escola francesa cujas teorias da época foram chamadas de corrente contábil do contismo. A teoria mais popular, chamada de "teoria das cinco contas", criada no século XVIII, por Edmond Degrange, dominou a contabilidade prática durante quase dois séculos, introduziu o livro diário-razão, o qual teve grande aceitação nos Estados Unidos, a ponto de ser mais conhecido como "diário americano". Ao contismo sucederia o neocontismo.[9] As cinco contas:

  • mercadorias;
  • dinheiro;
  • efeitos a receber;
  • efeitos a pagar;
  • lucros e perdas.[9]

Personalismo[editar | editar código-fonte]

Na teoria personalista as contas são comparadas a pessoas com relação com a entidade, assim, o débito de representa uma dívida e um crédito um direito da pessoa[2]. Logicamente, cada débito da entidade é um crédito dos agentes consignatário ou correspondentes, e vice-versa. Nessa teoria a contas se dividem em três grupos[2]:

  • Contas dos agentes consignatários, que registram Bens.
  • Contas dos agentes correspondentes, que registram os direitos e as obrigações.

Materialismo[editar | editar código-fonte]

Na escola materialista, as contas representam relação material com a entidade. Sendo assim, as contas patrimoniais (bens, direitos e obrigações) são chamadas de contas integrais, já as contas do Patrimônio Líquido e de resultado são conhecidas como contas diferenciais.[2]

Patrimonialismo[editar | editar código-fonte]

Na corrente patrimonialista , as contas são separadas contas Patrimoniais (Ativo e Passivo) e contas de Resultado (Receitas e Despesas).[2]

Classificação[editar | editar código-fonte]

Na teoria patrimonialista, suporte das normas nacionais e internacionais de contabilidade, as contas são divididas em contas patrimoniais e contas de resultado.[10]

Contas patrimoniais[editar | editar código-fonte]

As contas patrimoniais são classificadas como Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. As contas ativas abrigam os bens e os direitos, já nas contas passivas são registradas as obrigações com terceiros e o capital pertencente aos sócios e acionistas são alocados no Patrimônio Líquido.[10]

Contas de Resultado[editar | editar código-fonte]

As contas de resultado são classificadas como Receitas e Despesas, nas Receitas são registrados as origem dos fatos contábeis modificativos aumentativos, como receita de venda mercadoria, receita de venda de servições. Nas Despesas são alocados o destino dos fatos contábeis modificativos diminutivos, como despesa de aluguel, despesa de funcionário. [10]

Plano de Contas[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Plano de contas

As contas contábeis fazem parte do sistema de informação contábil cujo objetivo é permitir o controle do patrimônio e das informações destinada as partes interessadas da entidade. Para atender esse objetivos, é necessário de organizá-las em um Plano de Contas. [1] Para se possibilitar uma eficiente análise de contas divide-se as contas em analíticas e sintéticas.[10]

As contas analíticas representam o último nível de detalhamento do plano de contas, elas recebem a escrituração por meio dos lançamentos contábeis.[1]

Já as contas sintéticas são utilizadas para sumarizar, por soma, o saldo de diversas contas de natureza semelhante. [1]

Débito e crédito[editar | editar código-fonte]

Nos livros contábeis, os débitos se inscrevem no lado esquerdo das contas, e os créditos, no lado direito. Pelo método das partidas dobradas, a cada operação, correspondem um ou mais débitos e um ou mais créditos, sendo que a soma dos créditos será igual à soma dos débitos correspondentes. Se uma conta possuir mais débitos que créditos, terá saldo devedor, e se possuir mais créditos que débitos, terá saldo credor.[11]

O fato de se identificarem as origens (credores) e destinos (devedores) dos recursos faz com que os conceitos de débito e crédito sejam difíceis de se compreender à primeira vista, já que eles são erroneamente associados a diminuições e aumentos de capital, respectivamente. Ou seja: crê-se, erroneamente, que débito é sempre ruim e que crédito é sempre bom.[12]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e Padoveze, Clóvis Luís (2019). Contabilidade empresarial e societária 3ª ed. ed. Curitiba [PR]: IESDE Brasil. pp. 38–41. ISBN 978-85-387-6493-9 
  2. a b c d e Silva, João Edson da; Antonovz, Tatiane (2018). Contabilidade geral 2ª ed. ed. Curitiba [PR]: IESDE Brasil. ISBN 978-85-387-6445-8 
  3. BRASIL (17 dez. 1976). «Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações.». Brasília, DF.: Diário Oficial da União, Poder Executivo. Consultado em 4 dez. 2022 
  4. a b c d e Sá, Antônio Lopes de (2004). Luca Pacioli: um mestre do renascimento (PDF) 2ª ed. ed. Brasília: Fundação Brasileira de Contabilidade. pp. 26–31. 63–139 
  5. IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José C.; FARIA, Ana C. (2018). Introdução à teoria da contabilidade 6. ed. ed. São Paulo: Atlas 
  6. Ceccherelli, Alberto (1915). La Logismologia F. Vallardi ed. Milão: [s.n.] pp. pág. 4 e seguintes 
  7. Pacioli, Luca (1523). Summa de Arithmetica geometria proportioni : et proportionalita... (em italiano). [S.l.]: Paganino de Paganini 
  8. Sá, Antônio Lopes (1997). História geral e das doutrinas da contabilidade. [S.l.]: Atlas 
  9. a b Schmidt, Paulo (2006). História do pensamento contábil. [S.l.]: Atlas 
  10. a b c d Azzolin, José L. (2019). Fundamentos de contabilidade 1ª ed. ed. Curitiba: IESDE Brasil. pp. 39–43. ISBN 978-85-387-6234-8 
  11. Paula Luciana de Freitas; Roseli Parreiras da Glória Gatti, Heloisa Rabelo Fonseca, Vanessa de Almeida Thasmo Silveira, Daniela Aparecida Moreira Melo Santos. «CONTABILIDADE: HISTORIA INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS. Noções de débitos e créditos» (PDF). Consultado em 30 de janeiro de 2012 
  12. MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 5ª edição. São Paulo. Atlas. 1993. p. 185-186.