Constantino III (imperador romano) – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para o imperador bizantino de mesmo nome, veja Constantino III (imperador bizantino). Para outras pessoas, veja Constantino III.
Constantino III
Usurpador do Império Romano
Imperador romano do ocidente[1]

Soldo de Constantino III
Reinado 407409 (contra Honório)
409411 (com Honório e Constante II)
Antecessor(a) Graciano
Sucessor(a) Honório
Morte 411 (antes de 18 de setembro)
  Britânia
Filho(s) Constante II
Juliano[2]
Ambrósio Aureliano (lendário)

Flávio Cláudio Constantino (em latim: Flavius Claudius Constantinus),[1] conhecido como Constantino III, foi um general romano que se auto-declarou imperador romano do ocidente na Britânia em 407 e se estabeleceu na Gália.

Reconhecido pelo imperador Honório em 409, Constantino foi forçado a abdicar em 411 depois de perder apoio político e militar. Ele foi capturado e executado logo depois.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Províncias da Diocese da Britânia c. 400

Em 31 de dezembro de 406, diversas tribos bárbaras, incluindo vândalos, burgúndios, alanos e suevos, cruzaram o Reno, provavelmente em Mogoncíaco (moderna Mogúncia, na Alemanha), ultrapassando as linhas defensivas romanas e invadiram com sucesso o Império Romano do Ocidente,[3] um golpe do qual ele jamais se recuperou. As autoridades romanas não conseguiram expulsar e nem destruir os invasores, cuja grande maioria acabaria se assentando na Hispânia e no norte da África. Os romanos também não foram capazes de conter a marcha dos francos, burgúndios e visigodos pela Gália.[4]

Além disso, um outro fator que ajudou muito o sucesso da invasão foi a desunião dos próprios romanos. Um império unido que contasse com o apoio de uma leal população local, disposta a fazer os sacrifícios que fossem necessários para barrar o avanço dos invasores, já havia antes ajudado a manter as fronteiras do império íntegras.[4]

Na época desta invasão, as províncias da Britânia romana estavam em revolta[5] e apresentavam e depunham sucessivos usurpadores candidatos ao trono, uma sucessão que levou à ascensão de Constantino no início de 407.[1] Temendo uma invasão germânica e desesperados por manter a segurança num cenário de esfacelamento das instituições romanas, os militares da Britânia escolheram como líder uma pessoa com o mesmo nome do imperador do início do século IV, Constantino, o Grande, que também havia conquistado o trono depois de um golpe de estado na Britânia.[6] Um soldado comum, mas com alguma habilidade,[7] Constantino foi rápido. Ele cruzou o Canal da Mancha e desembarcou em Bonônia (Bolonha-sobre-o-Mar)[4] e, presume-se, levou consigo todas as tropas que ainda restavam na Britânia (grande parte já havia partido com Magno Máximo anos antes), deixando a província sem uma primeira linha de defesa militar num movimento que explica o desaparecimento dos romanos da região no início do século V.[8]

Os dois generais de Constantino, Justiniano e o franco Nebiogastes, que liderava a vanguarda, foram derrotados por Saro, o Godo, tenente de Estilicão[9]: primeiro Nebiogastes foi encurralado e morto nos arredores de Valência Júlia (moderna Valence, na França).[10] Porém, Constantino enviou outro exército, desta vez liderado por Edóbico e Gerôncio, Saro foi forçado a recuar para a Itália, mas não sem antes ser obrigado a pagar a passagem pelos passos dos Alpes dos bandoleiros bagaudas, que os controlavam.[11] Constantino então recuperou o controle da fronteira do Reno e guarneceu os passos que ligavam a Gália à Itália.[12] Em maio de 408, ele fez de Arelate (moderna Arles, na França) sua capital[13] e ali nomeou Apolinário, o avô de Sidônio Apolinário, prefeito urbano.[14]

Reconhecimento como imperador[editar | editar código-fonte]

As favoritas de Honório — pintura que sugere a incompetência do imperador Honório, que preferia alimentar os pombos a dar atenção à sua corte.
Por John William Waterhouse, 1883.

No verão de 408, já com as forças imperiais na Itália prontas para o contra-ataque, Constantino mudou de estratégia. Temendo que os muitos primos do imperador Honório que viviam na Hispânia (um reduto da Casa de Teodósio[13]) e ainda leais ao legítimo — embora pouco efetivo — imperador, o atacassem ao mesmo tempo que Saro e Estilicão num movimento de pinça, ele atacou primeiro justamente na Hispânia.[15] Ele convocou seu filho mais velho, Constante do mosteiro onde ele vivia, elevou-o a césar[16] e enviou-o com o general Gerôncio para a Hispânia.[8] Os primos de Teodósio foram derrotados sem muita dificuldade e dois deles, Dídimo e Teodosíolo, foram capturados enquanto que outros, Lagódio e Vereniano, escaparam para Constantinopla.[4]

Constante deixou a esposa e família em César Augusta (moderna Saragoça, na Espanha) aos cuidados de Gerôncio e voltou para Arelate.[17] Enquanto isso, o exército romano legalista se amotinou em Ticino (Pavia) em 13 de agosto e Estilicão acabou morto nove dias depois.[4] Também por causa da confusão que se instalou, uma intriga na corte imperial fez com que Saro abandonasse o exército imperial com seus homens, o que deixou Honório em Ravena sem tropas para comandar e sem condições de deter Alarico, o general godo que estava destruindo a Etrúria.[18] Assim, quando os emissários de Constantino chegaram em Ravena dispostos a conversar, o medroso Honório rapidamente reconheceu o rival como coimperador e os dois foram eleitos cônsules em 409.[17]

Invasão da Itália[editar | editar código-fonte]

Este foi o ponto alto da carreira de Constantino. Mas, já em setembro as suas defesas no Reno foram sobrepujadas e tribos bárbaras passaram os dois anos e oito meses seguintes queimando e saqueando enquanto atravessavam a Gália. Ao chegarem nos Pireneus, os invasores conseguiram vencer as guarnições de Constantino que guardavam os passos e entraram na Hispânia.[8] Enquanto Constantino se preparava para enviar Constante de volta para lidar com a crise, o imperador soube que Gerôncio havia se rebelado, elevando um de seus homens e seu parente, Máximo, como coimperador.[9] Depois de tantos esforços, o temido ataque vindo da Hispânia de fato acabou ocorrendo no ano seguinte, quando Gerôncio invadiu seus domínios à frente de seus homens e de aliados bárbaros.[19]

Na mesma época, piratas saxões começaram a atacar a Britânia, que Constantino havia deixado praticamente indefesa.[20] Os habitantes da Britânia e da Armórica, furiosos com a negligência de Constantino em seu afã de conquistar o império, se revoltaram contra a autoridade do novo imperador e expulsaram todos os seus oficiais.[16]

A resposta de Constantino para o cerco de inimigos que se fechava à sua volta foi uma aposta desesperada: marchou para a Itália à frente das forças que ainda comandava encorajado pelas promessas de Alóbico, que queria substituir Honório por um monarca mais capaz. Porém, a invasão terminou em derrota, com Alóbico perdendo a vida e Constantino sendo forçado a recuar para a Gália no final da primavera de 410.[8]

A situação de Constantino tornava-se cada vez mais desesperada, principalmente depois de uma nova derrota para Gerôncio em Viena (moderna Vienne, na França) em 411 na qual Constante foi capturado e executado.[9] O prefeito pretoriano de Constantino, Décimo Rústico, que havia substituído Apolinário anos antes, desertou e se envolveu na revolta de Jovino na Renânia. Gerôncio finalmente conseguiu encurralar Constantino em Arelate e iniciou o cerco à sua capital.[8]

Rendição e morte[editar | editar código-fonte]

Constâncio III, o algoz de Constantino III e futuro imperador romano

Na mesma época, um novo general apareceu para apoiar Honório. O futuro Constâncio III marchou para Arelate e conseguiu expulsar Gerôncio, tomando controle do cerco a Constantino. Constantino conseguiu resistir e esperava pelo retorno de Edóbico, que estava arregimentando mais tropas no norte da Gália entre as tribos francas,[20] mas ele também acabou derrotado através de uma artimanha.[21]

As poucas esperanças de Constantino se esgotaram quando suas últimas tropas, as guarnições da fronteira do Reno, o abandonaram para apoiar Jovino e ele acabou sendo forçado a se render.[18] Apesar da promessa de salvo-conduto e de ter recebido cargos eclesiásticos, Constâncio aprisionou o soldado-imperador derrotado e mandou decapitá-lo no caminho de Ravena em agosto ou setembro de 411,[1] onde sua cabeça chegou em 18 de setembro.

Embora Gerôncio tenha cometido suicídio na Hispânia[22] e Ataulfo, o Visigodo, tenha sufocado a revolta de Jovino,[21] o domínio romano na Britânia jamais foi recuperado depois do golpe de Constantino III: como explicou o historiador Procópio de Cesareia explicou, "...daquela época em diante, ela [a Britânia] permaneceu sob os tiranos".[23]

Lenda[editar | editar código-fonte]

Constantino III é conhecido também como Constantino II da Britânia e é lembrado como um dos rei dos britânicos nas crônicas galesas e na Historia Regum Britanniae, a popular e lendária obra de Godofredo de Monmouth, segundo a qual ele teria ascendido ao trono depois de Graciano Municeps, que havia sido assassinado. Na realidade, é provável que Godofredo tenha fundido o Constantino III histórico com um rei da Cornualha de mesmo nome, mas sem relação alguma com ele, Custennin Gorneu (o nome galês Custennin é derivado do latino Constantinus), um nome que ele facilmente teria encontrado nas diversas genealogias arturianas disponíveis na época (parecidas com as que se encontram em Bonedd yr Arwyr #30a e Mostyn MS 117 #5), o que provocou uma grande polêmica entre os estudiosos modernos. Mas, além do nome, o Constantino fictício de Godofredo em nada lembra o histórico.[24]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Cargos políticos
Precedido por:
Anício Auquênio Basso,
Flávio Filipo
Cônsul do Império Romano
409
com Honório e Teodósio II
Sucedido por:
Varanes,
Tértulo
Títulos de nobreza
Vago
Último detentor do título:
Graciano Municeps
Rei da Britânia
407–411
Sucedido por:
Constante II

Referências

  1. a b c d Jones, pg. 316
  2. Jones, pg. 638
  3. Bury, pg. 138
  4. a b c d e Gibbon, Ch. 30
  5. Zósimo, 6:1:2
  6. Zósimo, 7:40:5
  7. Paulo Orósio, 7:40:4
  8. a b c d e Elton, Constantine III (407-411 A.D.)
  9. a b c Birley, pg. 460
  10. Zósimo, 6:2:3
  11. Zósimo, 6:2:4
  12. Birley, pgs. 458-459
  13. a b Bury, pg. 140
  14. Jones, pg. 113
  15. Zósimo, 6:2:5
  16. a b Birley, pg. 459
  17. a b Bury, pg. 141
  18. a b Gibbon, Ch. 31
  19. Bury, pg.142
  20. a b Bury, pg. 143
  21. a b Bury, pg. 144
  22. Jones, pg. 508
  23. Birley, Anthony, The People of Roman Britain, University of California Press (1980), pg. 160
  24. Peter Bartrum, A Welsh Classical Dictionary, National Library of Wales, 1993, pp. 157-158.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Fontes primárias[editar | editar código-fonte]

Fontes secundárias[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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