Conservadorismo nos Estados Unidos – Wikipédia, a enciclopédia livre

Colagem de fotos que mostra vários líderes do movimento conservador estadunidense (no sentido horário a partir do centro superior: Calvin Coolidge, Barry Goldwater, Milton Friedman, Samuel Alito, Clarence Thomas, Antonin Scalia, William F. Buckley Jr. e Ronald Reagan, com Jack Kemp no centro)

Conservadorismo americano é um sistema de crenças políticas dos Estados Unidos que se caracteriza pelo "respeito às tradições americanas", apoio a valores judaico-cristãos, individualismo, liberalismo econômico, anticomunismo e defesa da cultura ocidental e da ideia do excepcionalismo americano. Liberdade é um dos valores principais, com um ênfase em particular no fortalecimento do livre mercado, limitação do tamanho e alcance do poder do governo federal e oposição a impostos altos e interferência ou gerência governamental no setor empresarial. Os conservadores americanos consideram a liberdade individual, dentro dos limites dos valores conservadores, como o aspecto fundamental da democracia, contrastando com os liberais americanos modernos, que normalmente apreciam mais as noções de igualdade e justiça social.[1][2]

O conservadorismo americano tem suas origens no liberalismo clássico dos séculos XVIII e XIX, que defendia liberdades civis e política com uma democracia representativa sob um Estado de direito com ênfase na liberdade econômica.[3][4]

Historiadores afirmam que as tradições conservadoras desempenharam um papel importante na cultura e política dos Estados Unidos no final do século XVIII. Contudo, segundo estes mesmos acadêmicos, o movimento conservador só tomou parte como uma força política organizada a partir da década de 1950.[5][6][7] Atualmente, o movimento conservador americano se centra no Partido Republicano, apesar de alguns Democratas também terem desempenhado um papel importante no conservadorismo estadunidense.[8][9]

A história do conservadorismo moderno nos Estados Unidos tem sido marcada por tensões e ideologias competitivas. Os conservadores fiscais e os libertários defendem um governo pequeno, impostos baixos, regulamentações limitadas e capitalismo puro. Conservadores sociais veem seus valores tradicionais sendo ameaçados pelo secularismo; eles tendem a apoiar o ensino religioso nas escolas e se opõe firmemente ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.[10][11][12][13][14] Alguns até defendem o ensino do design inteligente ou do criacionismo nas escolas, já que tais tópicos são, judicialmente, proibidos de serem ensinados na sistema público escolar. O começo do século XXI viu um crescimento fervoroso do apoio conservador a Segunda Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que garante aos cidadãos americanos o direito de portarem armas de fogo de forma quase irrestrita. Já no final do século XX, o movimento neoconservador ganhou força. Eles defendem, entre várias outras questões, o fortalecimento dos Estados Unidos no cenário internacional e a defesa dos interesses e ideais do país pelo mundo.[15] Já os paleoconservadores defendem restrições na imigração, uma política externa não-intervencionista e oposição ferrenha ao multiculturalismo.[16] Nacionalmente, a maioria das facções conservadoras nos Estados Unidos (exceto os libertários), apoiam uma política externa unilateral e pesados investimentos e apoio às forças armadas. Os conservadores da década de 1950 tentaram unir as diversas facções e visões do movimento, expressando a necessidade de se unir para impedir a ascensão do "comunismo ateu".[17] A partir da década de 2000, também viu um aumento a oposição ao chamado "politicamente correto".[18] Conservadores americanos também, no começo do século XXI, começaram a apoiar políticas mais isolacionistas e protecionistas.[19]

William F. Buckley Jr., numa matéria escrita para a revista National Review, em 1955, explicou o que ele considera ser o conservadorismo americano:[20]

"Dentre nossas convicções: é dever do governo centralizado (em tempos de paz) de proteger a vida, a liberdade e a propriedade dos seus cidadãos. Todas as outras atividades que o governo faça tende a diminuir a liberdade e dificultar o progresso. O crescimento do Governo (a característica social dominante deste século) deve ser combatido implacavelmente. Neste grande conflito social desta era, nós somos, sem dúvidas, o lado libertário. A profunda crise da nossa era é, em essência, o conflito entre os engenheiros sociais, que querem ajustar a humanidade as utopias científicas, e os discípulos da Verdade, que defendem a ordem moral orgânica. Nós acreditamos que a verdade não se manifesta ou é iluminada via monitoramento de resultados eleitorais, embora seja para outros propósitos mas por outros meios, incluindo o estudo da experiência humana. Neste ponto nós estamos, sem dúvida, do lado conservador".

De acordo com uma pesquisa de opinião feita em 2014, cerca de 38% dos eleitores americanos se identificam como um pouco ou muito "conservadores", com outros 34% se descrevendo como "moderados" e 24% como um pouco ou muito "liberais" (de esquerda).[21] Estes percentuais mudaram pouco nas pesquisas feitas entre 1990 e 2009,[22] após um crescimento de apoio ao movimento conservador nas décadas de 1970 e 80, enquanto, no final do século XX, os ideais da esquerda liberal tenham ganhado força, particularmente entre a população mais jovem. Neste mesmo período, os conservadores passaram, em peso, a se agrupar ao redor do Partido Republicano, enquanto os liberais migraram para os Democratas. Por exemplo, dentro do Partido Democrata, cerca de 44% dos seus apoiadores se identificam como "liberais", com outros 19% se identificando como conservadores e outros 36% como moderados. Já entre os republicanos, 70% se auto-identificam como conservadores, 24% como moderados e 5% como liberais.[23] O conservadorismo é forte nos Estados Unidos na região sul, nas Grandes Planícies, no Alasca e nos Estados Montanhosos. As populações nas zonas rurais, subúrbios e pequenas cidades tendem a pender politicamente para a direita conservadora.[24]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Gregory L. Schneider, The Conservative Century: From Reaction to Revolution, Rowman & Littlefield, 2014, ISBN 978-1442216044.
  2. Allitt, Patrick. The Conservatives: Ideas and Personalities Throughout American History (2010)
  3. Modern Political Philosophy (1999), Richard Hudelson, pp. 37–38
  4. M. O. Dickerson et al., An Introduction to Government and Politics: A Conceptual Approach (2009) p. 129
  5. Patrick Allitt, The Conservatives: Ideas and Personalities Throughout American History, p. "before the 1950s there was no such thing as a conservative movement in the United States.", Yale University Press, 2009, ISBN 978-0-300-16418-3
  6. Kirk, Russell. The Conservative Mind: From Burke to Eliot (1953).
  7. Nicol C. Rae (1994). Southern Democrats. [S.l.]: Oxford U.P. p. 66 
  8. Merle Black, "The transformation of the southern Democratic Party." Journal of Politics 66.4 (2004): 1001–17.
  9. Katznelson, Ira; Geiger, Kim; Kryder, Daniel (1993). «Limiting Liberalism: The Southern Veto in Congress, 1933–1950» (PDF). Political Science Quarterly. 108 (2): 283. doi:10.2307/2152013 
  10. Safire, William (25 de janeiro de 2004). «The Way We Live Now: On Language; Guns, God And Gays». The New York Times 
  11. Ahoura Afshar, "The Anti-gay Rights Movement in the United States: The Framing of Religion," Essex Human Rights Review (2006) 3#1 pp. 64–79
  12. Glenn Utter and Robert J. Spitzer, Encyclopedia of Gun Control & Gun Rights (2ª edição 2011)
  13. Cal Jillson (2011). Texas Politics: Governing the Lone Star State. [S.l.]: Taylor & Francis. p. 87 
  14. John Anderson; Universidade de North Carolina John Anderson (19 de setembro de 2014). Conservative Christian Politics in Russia and the United States: Dreaming of Christian Nations. [S.l.]: Routledge. p. 136. ISBN 978-1-317-60663-5 
    Amy Lind; Stephanie Brzuzy (2008). Battleground: M-Z. [S.l.]: Greenwood Publishing Group. p. 508. ISBN 978-0-313-34039-0 
    Kenneth M. Cosgrove (2007). Branded Conservatives: How the Brand Brought the Right from the Fringes to the Center of American Politics. [S.l.]: Peter Lang. p. 27. ISBN 978-0-8204-7465-6 
    Steven L. Danver (14 de maio de 2013). Encyclopedia of Politics of the American West. [S.l.]: SAGE Publications. p. 262. ISBN 978-1-4522-7606-9 
  15. Bruce Frohnen, ed. American Conservatism: An Encyclopedia (2006) pp. ix–xiv
  16. Michael Foley (2007). American credo: the place of ideas in US politics. [S.l.]: Oxford University Press 
  17. Paul Gottfried, Conservatism in America: Making Sense of the American Right, p. 9, "Postwar conservatives set about creating their own synthesis of free-market capitalism, Christian morality, and the global struggle against Communism." (2009); Gottfried, Theologies and moral concern (1995) p. 12
  18. Rick Bonus, "Political Correctness" em Encyclopedia of American Studies, ed. Simon J. Bronner (Johns Hopkins University Press, 2015), online
  19. "Conservative Protectionism". Página acessada em 21 de abril de 2017.
  20. «The Magazine's Credenda». National Review. Consultado em 21 de abril de 2017 
  21. Gallup, Inc. «U.S. Liberals at Record 24%, but Still Trail Conservatives». Gallup.com. Consultado em 22 de abril de 2017 
  22. Juliana Horowitz, "Winds of Political Change Haven't Shifted Public's Ideology Balance," Pew Research Center for the People & the Press, 25 de novembro de 2008 Arquivado em 7 de julho de 2010, no Wayback Machine.
  23. Gallup, "U.S. Political Ideology Stable With Conservatives Leading" Gallup, 1 de agosto de 2011
  24. Chris Cillizza, "Democrats' stranglehold on the electoral college," Washington Post, June 10, 2014
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