Comando Operacional do Continente – Wikipédia, a enciclopédia livre

Comando Operacional do Continente
Datas das operações 19741975
Líder(es) Otelo Saraiva de Carvalho
Área de atividade Portugal Portugal
Todo o poder COPCON, pintura mural de 1975

O Comando Operacional do Continente (COPCON) foi um comando das Forças Armadas Portuguesas, criado com o objetivo de criar condições para que aquelas pudessem garantir o cumprimento dos objetivos do seu programa, apresentado à Nação no 25 de abril de 1974, tendo como área territorial de responsabilidade o teatro de operações de Portugal continental. O COPCON existiu durante o período que se seguiu à revolução de 25 de Abril de 1974, sendo associado à chamada "esquerda revolucionária" e consequentemente extinto após o golpe de 25 de novembro de 1975.[1][2]

O COPCON foi criado em 8 de julho de 1974[3] por decreto-lei assinado pelo Presidente da República António de Spínola, com o objetivo de fazer cumprir as novas condições criadas pela Revolução dos Cravos. Era constituído por forças especiais militares (como os fuzileiros, paraquedistas, comandos e polícia militar) e pelos regimentos de Infantaria Operacional de Queluz e de Artilharia de Lisboa (RALIS).

O seu comandante era o major Otelo Saraiva de Carvalho (graduado para o efeito em brigadeiro)[4][5], que acumula com o comando da Região Militar de Lisboa, assumindo-se como um dos dinamizadores do Processo Revolucionário em Curso, apoiando as ações da "esquerda revolucionária".[6]

Segundo Otelo, o COPCON era um comando-chefe que, usando a experiencia da Guerra do Ultramar, congrega as todas as forças do Exército e algumas forças de intervenção da Marinha e Força Aérea. Destinava-se a fazer cumprir o programa do MFA, não permitindo quaisquer desvios, podendo colaborar congregando a GNR e PSP se necessário.[7] Este comando veio a ganhar protagonismo após a revolução do 11 de março de 1975 e durante quase todo o período do PREC e o seu comandante Otelo, fez parte dos órgãos dirigentes do Conselho da Revolução instituído em 14 de março de 1975.[8]

Durante o PREC, o COPCON ficou associado à defesa do "poder popular", tendo apoiado as ocupações de casas pelos moradores de barracas[9] e de empresas pelos seus trabalhadores.

"Começa a haver uma grande desresponsabilização de quem exerce outras funções, sobretudo governativas, e começam-nos a chegar problemas gravíssimos, laborais, sociais, às vezes até pessoais e de saúde. Por exemplo, começam a fugir empresários, que fecham as empresas e levam o dinheiro, os trabalhadores vão ao Ministério do Trabalho e de lá mandam-nos para o COPCON! E eu, nós, assumimos isso. Talvez não o devêssemos ter feito, o que me teria livrado de uma grande carga de trabalhos"[10] - Otelo Saraiva Carvalho

Uma das partes mais controversas da sua ação foi a emissão de vários mandados de captura em branco nas imediações e no seguimento da manifestação da Maioria silenciosa no 28 de setembro, contra figuras de direita e/ou associadas ao antigo regime, ou com acusações de sabotagem económica, mas sem que existisse qualquer acusação formal.[11] Famosa, ficou também a prisão de cerca de 400 militantes do MRPP, a 28 de Maio de 1975.[12]

Em agosto de 1975, surge o chamado “Documento dos Nove” também conhecido como "Documento Melo Antunes". Em resposta, com autoria de Mário Tomé, os oficiais do COPCON, ainda com a intervenção, entre outros, de Carlos Antunes e Isabel do Carmo publicaram o documento “Autocrítica revolucionária do Copcon/Proposta de trabalho para um programa político”.[13][14] Este propunha um modelo assente no poder popular basista e viria a ter o apoio do PRP/BR, do MES e da UDP.[15][16]

Em setembro de 1975 é esvaziado de funções com a criação do AMI (Agrupamento Militar de Intervenção)[4][17] e em 20 de Novembro, Otelo é substituído no comando da Região Militar de Lisboa por Vasco Lourenço.[18][16]

Além de Otelo, fizeram parte desta organização João Pedro Tomás Rosa (mais tarde administrador da RTP e ministro do Trabalho do VI Governo Provisório)[19] e Eurico Corvacho (comandante da Região Militar do Norte e representante do COPCON no Norte)[20].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Cria o Comando Operacional do Continente (COPCON) e define a sua missão». Diário do Governo. 8 de julho de 1974. Consultado em 28 de março de 2022 
  2. Ramos, Rui (25 de novembro de 2020). «O 25 de Abril só foi em Novembro?». Observador. Consultado em 28 de março de 2022 
  3. Centro de Documentação 25 de Abril
  4. a b «Nomes, siglas e casos para entender um ano decisivo». www.dn.pt. Consultado em 28 de março de 2022 
  5. «Graduação de Otelo Saraiva de Carvalho». Consultado em 28 de março de 2022 
  6. Comando Operacional do Continente (COPCON), Politipedia, 2012
  7. «Declarações de Otelo Saraiva de Carvalho». Consultado em 28 de março de 2022 
  8. «| Cc | Arquivos». casacomum.org. Consultado em 28 de março de 2022 
  9. Carmo, Isabel do (31 de julho de 2021). «Uma rapariga no meio de um velório». PÚBLICO. Consultado em 18 de maio de 2023 
  10. Matos, Albano (27 de agosto de 2021). «De comandante da revolução a terrorista amnistiado. A vida do mais polémico militar de Abril». www.dn.pt. Consultado em 28 de março de 2022 
  11. «Otelo: uma espécie de Moulinex». Jornal Expresso. Consultado em 28 de março de 2022 
  12. «Presos 400 militantes do MRPP». www.cmjornal.pt. Consultado em 28 de março de 2022 
  13. «Documento dos Nove | Memórias da Revolução | RTP». Memórias da Revolução. Consultado em 28 de março de 2022 
  14. Matos, Helena (1 de outubro de 2014). «Sons de Abril». RTP Arquivos. Consultado em 28 de março de 2022 
  15. «Documento do COPCON | Memórias da Revolução | RTP». Memórias da Revolução. Consultado em 28 de março de 2022 
  16. a b Bruno Vieira do Amaral, Judite França, Nelson Ferreira,. «Sabia que existiu um "2.º COPCON"?». Observador. Consultado em 12 de outubro de 2022 
  17. «Fundação Mário Soares | Aeb | Crono | Id». www.fmsoares.pt. Consultado em 28 de março de 2022 
  18. «Vasco Lourenço nomeado para o comando da RML | Memórias da Revolução | RTP». Memórias da Revolução. Consultado em 28 de março de 2022 
  19. «Eu! Enforcava-os já!», Relatos da prisão, Abril ,,,prisões milǃ, por José Manuel Santos Costa
  20. Morreu Eurico Corvacho, antigo militar de Abril, DN, Lusa, 22 de Dezembro de 2011

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Redacção QuidNovi, com coordenação de José Hermano Saraiva, História de Portugal, Volume X, Ed. QN-Edição e Conteúdos,S.A., 2004

Ligações externas[editar | editar código-fonte]