Colônia de exploração e povoamento – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Este artigo é sobre conceito historiográfico dual que explica o destino diferente das colônias. Para outros significados, veja Colonialismo de ocupação.

A tese das colônias de povoamento e exploração é, na historiografia do colonialismo, uma separação conceitual entre as colônias destinadas à habitação permanente dos colonos e aquelas colônias destinadas somente a extração de recursos. A divisão é utilizada para explicar o destino diferente das colônias após a descolonização: as de povoamento, cujos recursos permaneceram no território colonial, tornar-se-iam os países ricos do Novo e Novíssimo Mundo, enquanto as de exploração, cujos recursos materiais seriam transferidos para as metrópoles, além da presença da escravidão e outros sistemas opressivos, seriam hoje regiões subdesenvolvidas.

Historiografia[editar | editar código-fonte]

Referências primitivas à ideia encontram-se na obra de Adam Smith. Em seu A Riqueza das Nações de 1776, escrito contemporaneamente à Revolução Americana, Smith baseia-se na oposição do conceito de colônia na Roma antiga (colonia) e o grego apoikia (αποιχια). Segundo ele, a colônia romana é praticamente uma plantation moderna, enquanto o modelo grego pressuponha um distanciamento físico, representado pela maior independência política das colônias gregas.[1] as colônias que foram esquecidas pelos colonizadores se sairiam melhor, enquanto a maior atenção que a Coroa espanhola devotava às suas colônias americanas lhes eram prejudiciais.[2]

O primeiro autor a fazer uma tipologia completa dos tipos de colônias, trazendo essa divisão, foi o historiador alemão Arnold Herrmann Ludwing Heeren. Em um livro publicado em 1812, Heeren separa as colônias em quatro tipos: aquelas de povoamento e exploração, além das de mineração e mercantil.[2] Seu aluno, Wilhelm Georg Friedrich Roscher, integraria as colônias de mineração às de exploração e acrescentaria ainda outro tipo: as colônias de conquista, voltadas a exploração dos nativos.[2]

Pierre Paul Leroy-Beaulieu, um apologista da colonização francesa, reconhece em sua obra de 1902 três tipos: povoação, exploração e os entrepostos ou feitorias (comptoirs de commerce), tais como Hong Kong ou Cingapura.[2] Leroy-Beaulieu foi uma das principais influências do teórico brasileiro Caio Prado Júnior.[3] Em sua obra Formação do Brasil Contemporâneo de 1942, Caio Prado distingue que o povoamento nas zonas temperadas, como no norte da América, que se deu por motivos diversos do projeto colonial, como os refugiados religiosos, além do excedente populacional da Inglaterra.[4] Já nas zonas tropicais, os europeus só viriam para comandar o trabalho de outros (primeiramente indígena, mas depois também importado da África). Como parte do pacto colonial, toda a produção e investimentos feitos no Brasil teriam como objetivo unicamente a exportação, com correspondente desvalorização do mercado interno.[4][2]

A divisão dualista entre colônias de exploração e povoamento foi consagrada nos livros didáticos brasileiros, voltados para o ensino de história no ensino médio. Nestas obras, é comum apresentar um conjunto de características relacionadas às duas tipologias clássicas, como por exemplo no quadro demonstrativo abaixo:[5]

Colônia de exploração Colônia de povoamento
Condições naturais Solo e clima adequados ao cultivo de gêneros tropicais Solo e clima semelhantes aos da metrópole
Sistema de produção Plantation (latifúndio, monocultura), mão de obra escrava, produção para exportação Minifúndio, policultura, mão de obra familiar, produção para o mercado interno
Exemplos Brasil; América espanhola; colônias inglesas no sul da América do Norte (Sul dos Estados Unidos) Colônias inglesas no norte (Canadá) e centro da América do Norte

O historiador Leandro Karnal, em livro sobre a história dos Estados Unidos, vai dizer que a divisão das colônias de povoamento e exploração é tão fantasiosa quanto a doutrina do destino manifesto na consciência americana.[6]

Posteriormente, Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson, principais autores da teoria do institucionalismo do desenvolvimento econômico, métodos econométricos modernos, buscaram medir o impacto das formas diferentes de colonização nas estatísticas sócio-demográficas das sociedades contemporâneas. Os autores concluem pela divisão entre "Estados extrativistas", que seriam equivalentes às colônias de exploração, e outros que reproduziriam as instituições europeias.[2]

Referências

  1. Smith 1776, p. 559: "The Latin word (Colonia) signifies simply a plantation. The Greek word αποιχια, on the contrary, signifies a separation of dwelling, a departure from home, a going out of the house"
  2. a b c d e f Monasterio, Leonardo; Ehrl, Philipp (1 de abril de 2019). «Colônias de Povoamento versus Colônias de Exploração: De Heeren a Acemoglu». Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Revista Análise Econômica. 37 (72). ISSN 2176-5456. doi:10.22456/2176-5456.71287. Consultado em 26 de fevereiro de 2023 
  3. Leonidio, Adalmir (Outubro de 1999). «Em torno das origens: Leroy-Beaulieu e o pensamento social brasileiro». Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Estudos Sociedade e Agricultura. 7 (2): 119-138. ISSN 2526-7752. Consultado em 27 de fevereiro de 2023. Cópia arquivada em 8 de fevereiro de 2022 
  4. a b Prado Júnior 2011, pp. 27-30: "resíduos das lutas político-religiosas da Europa"
  5. Neto, João Marques da Silva (2012). A retórica da colonização nos livros didáticos de história (PDF) (Dissertação de Mestrado em Educação). Rio de Janeiro: Universidade Estácio de Sá. p. 27 
  6. Karnal, Leandro (1990). «A Formação da Nação». Estados Unidos: da colônia à independência. São Paulo: Contexto. p. 26. ISBN 85-85134-68-2 


Bibliografia[editar | editar código-fonte]