Chacrinha – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Chacrinha
Chacrinha
Nome completo José Abelardo Barbosa de Medeiros
Pseudônimo(s) Velho Guerreiro
Nascimento 30 de setembro de 1917
Surubim, PE
Morte 30 de junho de 1988 (70 anos)
Rio de Janeiro, RJ
Causa da morte Infarto do miocárdio e insuficiência respiratória, decorrentes de câncer de pulmão
Nacionalidade brasileiro
Ocupação Radialista e apresentador de televisão

José Abelardo Barbosa de Medeiros OMC (Surubim, 30 de setembro de 1917Rio de Janeiro, 30 de junho de 1988), mais conhecido como Chacrinha, foi um comunicador de rádio e televisão do Brasil, apresentador de programas de auditório de grande sucesso das décadas de 1950 a 1980.


Foi o autor da célebre frase: "Na televisão, nada se cria, tudo se copia".[1] Em seus programas de televisão, foram revelados para o país inteiro cantores como Roberto Carlos, Clara Nunes, Roberto Leal, Paulo Sérgio, Raul Seixas, Perla, entre muitos outros.[2][3]

Desde a década de 1970, era chamado de Velho Guerreiro, após uma homenagem feita a ele pelo cantor Gilberto Gil, que assim se referiu a Chacrinha em sua canção "Aquele Abraço".[4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Juventude[editar | editar código-fonte]

Nasceu em Surubim, no agreste de Pernambuco. Ainda na infância, muda-se com a família para Caruaru, também em Pernambuco, e depois, aos 10 anos de idade, para Campina Grande, na Paraíba. Aos 15, vai estudar, em regime de internato, no Colégio Marista do Recife, na capital pernambucana. Começa a cursar medicina em 1936, e em 1937, tem o seu primeiro contato com o rádio na Rádio Clube de Pernambuco, ao dar uma palestra sobre alcoolismo. Chacrinha, apesar de sucessivas crises financeiras na família, tem a infância tranquila das crianças de classe média de seu tempo.[5][6]

Início da carreira[editar | editar código-fonte]

Em Recife, ponto de chegada, Chacrinha prossegue seus estudos e todos os caminhos parecem indicar a Faculdade de Medicina para o jovem Abelardo. Não pretendendo passar um ano inteiro no quartel, falsifica a data de nascimento na cédula de identidade e acaba ingressando no Tiro de Guerra. Após esta experiência, passa a tocar bateria. Dois anos depois de começar seus estudos de medicina, em 1938, cai nas mãos de colegas já formados que o salvam de uma apendicite supurada e gangrenada. Ainda convalescente da delicada cirurgia, ele, como percussionista do grupo Bando Acadêmico, decide, aos 21 anos, viajar rumo à Alemanha no navio Bagé. Porém, na mesma época, estoura a Segunda Guerra Mundial que agitaria o mundo em 1939. Esses eventos o fazem desembarcar na então capital federal, o Rio de Janeiro, onde torna-se locutor na Rádio Tupi. Em 1943, lança na Rádio Clube Fluminense um programa de marchinhas de carnaval chamado Rei Momo na Chacrinha, que faz muito sucesso. Passa então a ser conhecido como Abelardo "Chacrinha" Barbosa. Nos anos 1950, comandaria o programa Cassino da Chacrinha, no qual viria a lançar vários sucessos da música popular brasileira como "Estúpido Cupido", da cantora paulista Celly Campelo, e "Coração de Luto", do artista gaúcho Teixeirinha. E, no Cassino da Chacrinha, ele fingia, com sons e ruídos, que lá aconteciam enormes festas e lançamentos de discos.

Carreira televisiva[editar | editar código-fonte]

Em 1956, estreou na televisão com o programa Rancho de Mister Chacrinha na TV Tupi, uma série de faroeste infanto-juvenil, na qual interpretava o papel do xerife. Naquela mesma emissora, começou a fazer também a Discoteca do Chacrinha. Na década de 1960, seu programa foi exibido na TV Paulista, TV Rio e TV Excelsior e, em 1967, foi contratado pela TV Globo. Chegou a fazer dois programas semanais: Buzina do Chacrinha, no qual apresentava calouros, distribuía abacaxis e perguntava "Vai para o trono, ou não vai?", e Discoteca do Chacrinha. Cinco anos depois voltou para a Tupi. Em 1974, teve uma breve passagem pela TV Record, retornando em seguida para a Tupi. Em 1978, transferiu-se para a TV Bandeirantes e, em 1982, retornou à Globo, onde ocorreu a fusão de seus dois programas num só, o Cassino do Chacrinha, que fez grande sucesso nas tardes de sábado.

Frases e bordões[editar | editar código-fonte]

Uma frase sua que era muito citada afirmava que "na televisão, nada se cria, tudo se copia".[7]

Alcançou grande popularidade com os seus programas de calouros, nos quais apresentava-se com roupas engraçadas e espalhafatosas, acionando uma buzina de mão para desclassificar os calouros e empregando um humor debochado, utilizando bordões e expressões que se tornariam populares, como "Teresinha!", "Vocês querem bacalhau?", "Eu vim para confundir, não para explicar!" e "Quem não se comunica, se trumbica!".

Jurados e as "chacretes"[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Chacretes
Chacrinha entregando aparelho de televisão à vencedora da disputa de melhor calouro da noite.

Os jurados ajudavam a criar o clima de farsa, no qual se destacaram Carlos Imperial, Aracy de Almeida, Rogéria, Elke Maravilha e Pedro de Lara, dentre muitos outros. Outro elemento para o sucesso dos programas para a TV eram as chacretes, dançarinas profissionais de palco que faziam coreografias para acompanhar as músicas e animar o programa. No início eram conhecidas como as "vitaminas do Chacrinha" e "tevezinhas". Além da coreografia ensaiada, as dançarinas recebiam nomes exóticos e chamativos como Rita Cadillac, Índia Amazonense, Fátima Boa Viagem, Suely Pingo de Ouro, Fernanda Terremoto, Cristina Azul, entre muitas outras.

Cinema[editar | editar código-fonte]

Chacrinha apareceu em vários filmes brasileiros, geralmente interpretando ele mesmo. No filme Na Onda do Iê-iê-iê, de 1966, ele encena seu programa de calouros "A Hora da Buzina", exibido na TV Excelsior. Dentre os calouros, estavam os cantores Paulo Sérgio (como ele mesmo) e Sílvio César (que interpretava o personagem César Silva). Chacrinha diz diversos de seus bordões: "Vai para o trono ou não vai?", "Como vai, vai bem? Veio a pé ou veio de trem?", "Cheguei, baixei, saravei". Há também outras frases engraçadas, quando ele diz que "Graças a Deus o programa acabou". Participou também de Três Colegas de Batina (1962), A Opinião Pública (1967), Pobre Príncipe Encantado (1969) e As Aventuras de um Paraíba (1982).

Carnaval e morte[editar | editar código-fonte]

Anualmente, lançava em seu programa uma marchinha para o carnaval. Conhecido como Velho Guerreiro, em 1987 foi homenageado pela escola de samba carioca Império Serrano com o enredo "Com a boca no mundo - Quem não se comunica, se trumbica", foi a única vez que desfilou numa escola de samba, surgindo no último carro alegórico, que reproduzia o cenário de seu programa, rodeado por chacretes, por Russo, seu assistente de palco, e por Elke Maravilha. Em outubro de 1987, recebeu dos professores Annita Gorodicht e Paulo Alonso o título de doutor honoris causa da Faculdade da Cidade, no Rio de Janeiro. Seu aniversário de 70 anos foi comemorado em setembro de 1987 com um jantar oferecido em sua homenagem pelo então Presidente do Brasil, José Sarney.

Durante o ano de 1988, já doente, foi substituído em alguns programas por Paulo Silvino. Ao voltar à cena, no mês de junho, comandou a atração com João Kléber, até que pudesse se sentir forte novamente.

Chacrinha morreu no dia 30 de junho de 1988, às 23h30, de infarto do miocárdio e insuficiência respiratória (tinha câncer de pulmão) aos 70 anos. Foi sepultado no dia seguinte no Cemitério de São João Batista (Rio de Janeiro).[8]

O último programa Cassino do Chacrinha foi ao ar em 2 de julho de 1988.

Curiosidades[editar | editar código-fonte]

Quando o bacalhau encalhou nas Casas da Banha, seu patrocinador na TV Tupi, Chacrinha arrumou um jeito de reverter a situação. Durante o programa, virava-se para o auditório: "Vocês querem bacalhau?", e atirava o peixe para o auditório, onde a plateia disputava a tapa o produto. As vendas explodiram e ele explicou: "brasileiro adora ganhar um presentinho".

Chacrinha era um dos mais ilustres e notórios torcedores do Vasco da Gama, tendo se apresentado diversas vezes com a camisa do clube.[9] Chacrinha utilizava seu espaço para a promover dirigentes e jogadores do cruz-maltino,[10] bem como para provocar os rivais do Vasco, já tendo falado durante um programa "Flamengo para mim é o pior time do mundo. No Brasil para mim só existe um time, é o Vasco da Gama![10] Em 1968, o Conselho Deliberativo do Vasco concedeu o título de Sócio Honorário a Chacrinha.[11] Quando faleceu, em 1988, seu caixão foi coberto por uma bandeira do Vasco e da escola de samba Portela.[12] Em 2017, ano no qual Chacrinha completaria 100 anos de vida, o Vasco prestou uma homenagem ao apresentador, entrando em campo com uma logomarca na camisa com o rosto do comunicador.[13]

O termo "Terezinha" não era homenagem a alguma mulher de nome Tereza. O termo surgiu em substituição ao antigo patrocínio de seu programa no rádio, a "Água Sanitária Clarinha". Chacrinha contava que durante seus tempos de rádio, seu programa era patrocinado pela Clarinha, uma marca fabricante de água sanitária. Com a falência da empresa, Chacrinha queria continuar usando o nome, mas não podia. Então na busca por um nome que substituísse a Clarinha, surgiu a Terezinha, que possuía uma sonoridade igual.[7]

Foi homenageado pela escola de samba Acadêmicos do Grande Rio no carnaval de 2018, com o enredo "Vai para o trono ou não vai?".[14]

Referências

  1. Einzig, Barbara; Veloso, Caetano (2003). Tropical Truth: A Story of Music and Revolution in Brazil. Nova York: Da Capo Press. p. 101. ISBN 0-306-81281-9 
  2. «BRAZILIAN TV COMEDIAN ABELARDO BARBOSA, 70». Miami Herald. 3 de julho de 1988. pp. 4B 
  3. Vincent, Jon S. (2003). Culture and Customs of Brazil. Westport, Conn: Greenwood Press. ISBN 0-313-30495-5 
  4. «Aquele Abraço (Gilberto Gil, 1969)». Centro Cultural São Paulo. Consultado em 19 de junho de 2015 
  5. «Trinta mil se despedem de Chacrinha». Folha de S.Paulo. Consultado em 16 de janeiro de 2016 
  6. «Chacrinha — trajetória». Memória Globo. Consultado em 16 de janeiro de 2016 
  7. a b «'Tudo o que era proibido na televisão eu fazia', afirmava Chacrinha». Globo News. 11 de outubro de 2012. Consultado em 19 de junho de 2015 
  8. Túmulo de Chacrinha amanhece pichado em g1.globo.com
  9. Marcos, Júnior. «Chacrinha». Terceiro Tempo. Consultado em 18 de agosto de 2020 
  10. a b Camargo, Matheus (30 de setembro de 2019). «Coração vascaíno, piada com o Flamengo e VAR: veja 5 vezes que Chacrinha e futebol tiveram tudo a ver». Torcedores.com. Consultado em 18 de agosto de 2020 
  11. Peres, Walmer (30 de setembro de 2017). «100 anos de Chacrinha». Club de Regatas Vasco da Gama. Consultado em 18 de agosto de 2020 
  12. «Chacrinha - 10 curiosidades». O Globo. Consultado em 18 de agosto de 2020 
  13. «Vasco vai homenagear Chacrinha no clássico contra o Botafogo». Lance !. 13 de outubro de 2017. Consultado em 18 de agosto de 2020 
  14. «Grande Rio revela logo e título de enredo sobre Chacrinha - Setor 1». setor1.band.uol.com.br. Consultado em 7 de agosto de 2018 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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