Censo demográfico – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Mapa mundial mostrando os censos mais recentes dos países a partir de 2014:
  2005 ou depois
  2000–2004
  1995–1999
  1990–1994
  1970–1989

O censo ou recenseamento demográfico é um estudo estatístico referente a uma população que possibilita o recolhimento de várias informações, tais como o número de homens, mulheres, crianças e idosos, onde e como vivem as pessoas. Esse estudo é realizado, normalmente, de dez em dez anos, na maioria dos países.

Segundo a definição da ONU, "um recenseamento de população pode ser definido como o conjunto das operações que consistem em recolher, agrupar e publicar dados demográficos, econômicos e sociais relativos a um momento determinado ou em certos períodos, a todos os habitantes de um país ou território".

Censo no Brasil[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Censo demográfico no Brasil

O primeiro censo populacional do Brasil foi realizado em 1872, durante o Segundo Reinado, a pedido do imperador Dom Pedro II. O censo contou quase 10 milhões de "almas" no país na época, sendo 15% da população escravizada. Apesar de alguns problemas metodológicos, o censo foi um marco importante, pois antes disso o governo imperial só tinha números aproximados da população. O censo mostrou que 58% da população se declarava preta ou parda, 38% branca e 4% indígena. Além disso, 99,7% da população era católica e 82% analfabeta. Embora o censo tenha recebido elogios internacionais, seus números nunca foram muito utilizados na prática pelo governo. A série histórica de censos planejada acabou não se concretizando, com o próximo censo só sendo realizado em 1890, após o fim da escravidão.[1]

O responsável atualmente pelos censos demográficos é o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), desde 1936, com a criação do IBGE, em 1936, e com a contribuição do demógrafo italiano Giorgio Mortara, inaugurou-se a moderna fase censitária no Brasil.

Caracterizada principalmente pela periodicidade decenal dos censos demográficos, nessa nova fase foi ampliada a abrangência temática do questionário com introdução de quesitos de interesse econômico e social, tais como os de mão-de-obra, emprego, desemprego, rendimento, fecundidade, migrações internas, dentre outros temas.

A experiência do IBGE na área dos Censos Demográficos remonta, portanto, a 1940, ano em que foi realizado o primeiro levantamento desse tipo pelo Instituto. A partir de então, o IBGE realiza a cada 10 anos o Censo Demográfico, que é a operação estatística mais importante para retratar a realidade sociodemográfica do país. Dos resultados do Censo Demográfico e das Contagens Populacionais são obtidas as tendências e parâmetros indispensáveis à elaboração de projeções e estimativas populacionais, que a partir de 1989 passaram a ser fornecidas anualmente, em cumprimento ao dispositivo constitucional, regulamentado pela Lei Complementar nº 59, de 22 de dezembro de 1988.

O IBGE realizou a primeira Contagem da População em 1996. Dentre os fatores determinantes da realização dessa contagem estão o surgimento de cerca de 1 500 novos municípios após o Censo Demográfico de 1991, os intensos movimentos migratórios na dinâmica populacional e a obrigatoriedade de fornecimento de estimativas populacionais anuais determinadas pela Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992.[2]

Os censos demográficos são planejados para serem executados nos anos de finais zero, ou seja, a cada dez anos. O último censo no Brasil deveria ter acontecido em 2020, mas a pandemia de covid-19 e problemas orçamentários do governo federal impediram a realização da coleta[3], que só foi realizada em 2022[4].

No intervalo entre dois censos demográficos, realiza-se a contagem de população. Todavia, por questões orçamentárias e financeiras, a contagem planejada para 2005 só foi concretizada em 2007, realizando-se simultaneamente ao Censo Agropecuário.[1]

Censo em Portugal[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Censo demográfico em Portugal

Em Portugal, as primeiras contagens populacionais recuam ao tempo de D. Afonso III (1260–1279) e D. João I (1421–1422), restringindo-se ao apuramento dos homens aptos para a guerra («Rol de Besteiros»).[5] A primeira contagem populacional de âmbito geral seria feita apenas em 1527, no reinado de D. João III, com base predominantemente nos fogos, do que resultou um arrolamento de 1 262 376 portugueses.[6] Outras recolhas se seguiram, de âmbito geral ou restrito, como a «Contagem de Homens Válidos» ou «Resenha de Gente de Guerra» de 1636–1639 (sob Filipe III), o «Censo do Marquês de Abrantes» de 1732–1736 (sob D. João V) ou o «Censo de Pina Manique» de 1776–1798 (sob D. Maria I).[5][6]

As primeiras contagens da população que se aproximam do conceito moderno de recenseamento só apareceram no século XIX. A primeira destas (Censo de [1802]) foi feita com base em números fornecidos pelas autoridades eclesiásticas das paróquias, opção da Coroa explicável pelo facto de que, em contraste com a debilidade da presença do Estado, a Igreja mantinha registos detalhados do percurso dos indivíduos (batismos, casamentos, óbitos).[7] Nestas condições, os dados enviados reflectiam a organização eclesiástica da altura (dioceses, isentos e paróquias), tendo a Coroa solicitado a reordenação dos dados segundo as circunscrições administrativas de então (províncias, comarcas e concelhos).[8]

Apesar do reforço dos poderes e da presença do Estado a seguir às Reformas Liberais (que dividiu o país em províncias, distritos, concelhos e freguesias), a máquina administrativa continuou débil ao nível local, pelo que no censo de 1849 foi ainda necessário recorrer aos párocos como fonte primária de informação.[9]

O I Recenseamento Geral da população portuguesa, regendo-se pelas orientações internacionais da época (Congresso Internacional de Estatística de Bruxelas de 1853), realizar-se-ia apenas em 1864, marcando o início dos recenseamentos da época moderna. Embora as orientações seguidas indicassem já que os recenseamentos deveriam ser realizados a cada 10 anos, o censo seguinte apenas se realizou em 1878, seguindo-se-lhe o de 1890. A partir de então os recenseamentos da população têm vindo a realizar-se, com algumas excepções (ditadas por diferentes circunstâncias), em intervalos regulares de 10 anosː[5][10] 1900, 1911,[11] 1920, 1930, 1940, 1950, 1960, 1970, 1981,[12] 1991, 2001 e 2011.

Em outros países lusófonos[editar | editar código-fonte]

Em alguns países foram realizados recenseamentos durante o período colonial, em 1930 em Moçambique e em 1950 nos restantes. Actualmente, em Portugal e em Moçambique, os responsáveis pelos censos são os Institutos Nacionais de Estatística de cada país.

Características do recenseamento[editar | editar código-fonte]

  1. É projetado e executado sob o apoio do Governo, logo, obrigatório responder;
  2. Universal - são contados uma única vez todos os habitantes do território;
  3. Simultaneidade de recolha de informações, que se referem todas a um período bem determinado. Isto é, realizado ao mesmo tempo em todas as zonas do país, para evitar duplas contagens;
  4. Recolha com base no indivíduo, das informações nele contidos sobre a população recenseada- as pessoas são contadas na sua residência e são criados boletins para cada indivíduo;
  5. Âmbito territorial bem delimitado, em que assenta a contagem da população- realiza-se o recenseamento no território de um país, podendo fazer-se em embaixadas (que são consideradas território de um país) e pessoas que vão a bordo de aviões portugueses, etc., no dia do recenseamento;
  6. Elaboração periódica dos dados- hoje em dia os dados não são guardados em segredo, encontrando-se à disposição de todos;
  7. Realização periódica (habitualmente, de 10 em 10 anos).

A contagem e a recolha periódica de informações relativas à população não é algo de novo. Ao longo da História do Homem têm-se registrado esforços para recolher periodicamente informações relativas à população.

Fases do recenseamento[editar | editar código-fonte]

  1. Notação e recolha;
  2. Compilação e verificação;
  3. Apuramento e publicação dos dados.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «1º Censo do Brasil, feito há 150 anos, contou 1,5 milhão de escravizados». Senado Federal. Consultado em 17 de abril de 2024 
  2. «Introdução | Memória IBGE». memoria.ibge.gov.br. Consultado em 17 de abril de 2024 
  3. «O que é Censo e por que ele é importante para o futuro do Brasil?». Exame. 27 de junho de 2023. Consultado em 17 de abril de 2024 
  4. «Conhecendo o Brasil - Censo 2022». Censo Demográfico 2022 - IBGE. Consultado em 17 de abril de 2024 
  5. a b c Instituto Nacional de Estatística (2009) – "História dos Censos em Portugal".
  6. a b Nuno Valério, coord. (2001) – "Estatísticas Históricas Portuguesas, vol. I", p. 33 (ficheiro: p. 32). Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
  7. Luís Nuno Espinho da Silveira, coord. (2001) – "Os Recenseamentos da População Portuguesa de 1801 e 1849: Edição crítica, vol. I", p. 26 (ficheiro: p. 27). Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
  8. Luís Nuno Espinho da Silveira, coord. (2001) – op. cit., pp. 26-27 (ficheiro: pp. 27 e 34).
  9. Luís Nuno Espinho da Silveira, coord. (2001) – op. cit., p. 33 (ficheiro: p. 44).
  10. Instituto Nacional de Estatística (2009) – "Censos em Portugal de 1864 a 2001".
  11. Atraso provocado pela perturbação resultante da implantação da República em Outubro de 1910. Cf. Instituto Nacional de Estatística (2009) - "1911 - 1 de Dezembro (V Recenseamento Geral da População)".
  12. Adiado de Dezembro de 1980 para Março de 1981 de modo a ficar em consonância com o calendário censitário (de 1 de Março a 31 de maio de 1981) em vigor nos países da Comunidade Económica Europeia, a que Portugal pretendia aderir. Cf. Instituto Nacional de Estatística (2009) - "1981 - 16 de Março (XII Recenseamento Geral da População) (II Recenseamento Geral da Habitação)".

Ligações externas[editar | editar código-fonte]