Castelo de Beja – Wikipédia, a enciclopédia livre

Castelo de Beja
Castelo de Beja, Portugal: Torre de Menagem.
Construção Afonso III (Século XIV)
Estilo Medieval
Conservação Bom
Homologação
(IGESPAR)
MN
(DL sem número de 16-06-1910)
Aberto ao público Sim
Site IHRU, SIPA906
Site IGESPAR69867

O Castelo de Beja, no Alentejo, ergue-se sobre a cidade, município e distrito de Beja, em Portugal.[1]

O Castelo de Beja está classificado como Monumento Nacional desde 1910.[2]

História[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Embora a primitiva ocupação humana do seu sítio remonte à pré-história e esteja mencionada nos escritos de Ptolomeu e de Políbio, em meados do século II a.C., a sua fortificação data da Invasão romana da Península Ibérica, plausivelmente, devido à importância adquirida no cenário regional. Foi este o local escolhido por Júlio César para formalizar a paz com os Lusitanos (49 d.C.), após o que passou a denominar-se Pax Julia, vindo a sediar uma das três jurisdições romanas da Lusitânia. Acredita-se que os muros de defesa romanos remontem algures entre o século III e o século IV.[3][4]

Essa relevância económica e estratégica de Beja manteve-se à época dos Suevos, dos Visigodos, bem como sob a ocupação Muçulmana.[5]

O castelo medieval[editar | editar código-fonte]

À época da Reconquista cristã da Península Ibérica, Beja foi inicialmente conquistada pelas forças de D. Afonso Henriques (1112-1185) em 1159, para ser abandonada quatro meses mais tarde.[6] Foi reconquistada de assalto-surpresa, por uma expedição de populares vindos de Santarém, em princípios de Dezembro de 1162.[5][7]

Nos anos que se seguiram, posteriormente à derrota daquele soberano no cerco de Badajoz (1169), o cavaleiro Gonçalo Mendes da Maia - o Lidador, já nonagenário, perdeu a vida na defesa das muralhas de Beja. Dada a falta de informações sobre o período posterior a essa data, os estudiosos acreditam que a grande ofensiva almóada de Iacube Almançor (1191) até ao rio Tejo, após ter reconquistado Silves, terá compreendido, também, a reconquista de Beja, permanecendo em poder dos cristãos apenas Évora, em todo o Alentejo.[8] Supõe-se ainda que a povoação teria retornado a mãos portuguesas apenas entre 1232 e 1234, época em que as vizinhas Moura, Serpa e Aljustrel, documentadamente, também retornaram.[9]

Castelo de Beja: aspecto da praça de armas

A primeira restauração dos muros de Beja data do reinado de D. Afonso III (1248-79), que as fez iniciar a partir de 1253, custeados, ao longo de dez anos, por dois terços dos dízimos cobrados pelas igrejas de Beja.[10] No ano seguinte (1254), a povoação recebeu o seu foral nos mesmos termos do de Santarém, confirmado em 1291 no reinado de seu filho, D. Dinis (1279-1325). Este, por sua vez, prosseguiu as obras de reconstrução, reforçando e ampliando as muralhas e torres (1307) e iniciou a construção da torre de menagem (1310).[11][12]

A povoação e seu castelo apoiaram o Mestre de Avis no contexto da Crise de 1383–1385, tendo tido envolvimento em episódios ulteriores da História de Portugal, como a fase dos Descobrimentos.[13][14]

No século XV, sob o reinado de D. Afonso V (1438-1481), a Vila foi elevada a ducado, tendo como 1° duque de Beja o seu irmão, o infante D. Fernando e, posteriormente, o rei D. Manuel I (1495-1521). No reinado deste último soberano, têm lugar grandes obras de beneficiação das defesas da vila, que seria, entretanto, elevada a cidade em 1517.[15][16]

Da Guerra da Restauração aos nossos dias[editar | editar código-fonte]

Até ao século XVII, o Castelo de Beja foi alvo de diversas ampliações e modernizações, particularmente no contexto da Guerra da Restauração da independência portuguesa, quando foi reforçado por baluartes conforme projeto do engenheiro-militar e arquitecto francês Nicolau de Langres, aprovado pelo engenheiro e cosmógrafo-mor do reino, Luís Serrão Pimentel, e pelo general Agostinho de Andrade Freire (1644).[17] No período de 1669 a 1679 as obras foram dirigidas pelos engenheiros João Coutinho, Diogo de Brito de Castanheira e Manuel Almeida Falcão, porém nunca chegaram a ser concluídas.[18]

Cerca de um século mais tarde, parte das suas muralhas foi demolida e a sua pedra reutilizada na construção da nova igreja do, hoje extinto, Colégio dos Jesuítas, para sede do Paço Episcopal (1790).[19]

No início do século XIX, com a eclosão da Guerra Peninsular, a cidade de Beja opôs séria resistência às tropas invasoras de Napoleão. Como resultado, as forças sob o comando do general Jean-Andoche Junot, mataram cerca de 1.200 pessoas na região (1808).[20][21]

Castelo de Beja. Junto à muralha vê-se o arco romano de Beja.

Poucos anos mais tarde, subsistindo a maior parte das obras seiscentistas, as Guerras Liberais fizeram novas vítimas entre a população. Ainda no século XIX, uma catástrofe arrasou parte do perímetro defensivo do castelo, havendo notícia da reconstrução, em 1867, da chamada Porta de Moura e da demolição, em 1893, da Porta Nova de Évora.[22][23]

No século XX, a partir de 1938 inicia-se a intervenção por parte da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), com a desobstrução e consolidação das portas de Évora e a reconstrução da cobertura da alcáçova. Duas décadas mais tarde, iniciam-se as campanhas de consolidação dos troços das muralhas (1958, 1959-1962, 1969, 1970-1973, 1980, 1981 e 1982) e de recuperação da Torre de menagem (1965, 1969, 1981).[24]

Em 13 de novembro de 2014, parte das ameias da varanda da torre de menagem do castelo caíram para o interior das muralhas, causando danos no varandim inferior e na porta de acesso à escadaria da torre.[25] Em 2016, após obras de reparação, a torre de menagem foi reaberta ao público, possibilitando uma fantástica vista sobre a cidade e a planície alentejana em redor da cidade.[26]

Características[editar | editar código-fonte]

Numa combinação de estilos românico, gótico, manuelino, medieval e maneirista, o monumento apresenta planta no formato pentagonal. Sem talude, a muralha, coroada por merlões prismáticos, possui adarve envolvente, estando flanqueada originalmente por quarenta torres (entre as quais a de menagem), rasgada por sete portas e dois postigos, e circundada por barbacãs.[27]

A robusta Torre de menagem, em estilo gótico, é considerada como um dos mais belos exemplos da arquitectura militar da Idade Média em Portugal. Elevando-se a quarenta metros de altura (a mais alta do país), é constituída por três pavimentos. A torre apresenta balcões angulares sobre matacães, unidos por varandins defendidos por ameias piramidais. É rasgada por portas ogivais e janelas geminadas, em arco de ferradura. As salas em seu interior, ricamente decoradas, apresentam tetos em abóbada em cruzaria de ogivas.[11]

A porta principal do castelo abre-se em arco ogival e acede à praça de armas, sendo que, das primitivas portas, restam ainda duas de origem românica: a Porta de Évora, contígua ao castelo; e o arco da Porta de Avis. A Porta de Moura é defendida por dois torreões.[28]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Mendonça, Isabel; Oliveira, Lina; Avellar, Filipa; Camara, Teresa; Ferreira, Teresa; Figueiredo, Sílvia (2005), Castelo de Beja/Castelo e Cerca Urbana de Beja (IPA.00000906/PT040205130003) (em Portuguese), Lisbon, Portugal: SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, consultado em 1 Outubro de 2016 
  2. por Decreto publicado em 16 de Junho de 1910, na Ficha na base de dados da DGPC
  3. Canelas, Carlos (1967). Beja, Portugal e as suas fortificações. Beja, Portugal: Arquivo de Beja. p. 23-24 
  4. Moreira da Rocha, Manuel (2018). História da Arquitetura – Perspetivas Temáticas. Porto: Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória. 353 páginas. ISBN 978-989-8351-93-7 
  5. a b Barroca, Mário Jorge (2000). Corpus Epigráfico Medieval Português (Tomo 2 ed.),. Porto, Portugal:: FCG. pp. 1675–1677 
  6. Mattoso, José (1985). Identificação de um País. Ensaio sobre as Origens de Portugal (1096-1325), vol. 2. Lisboa: Editorial Estampa. pp. 224–225 e p.235. 
  7. "O Castelo de Beja"- Boletim da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais n.º 77. Lisbon, Portugal: Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. 1954 
  8. Dias, Pedro (1994). Arquitectura Mudéjar Portuguesa: Tentativa de sistematização. Lisbon, Portugal: Mare Liberum. p. 83 
  9. Maldonado de Vasconcelos Correia, Luís Miguel (2011). Castelos Portugal Retrato do seu perfil arquitectónico. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 10. 49 páginas 
  10. Matilla, E.R. (2005). As Ordens Militares Ibéricas na Idade Média - As Ordens Militares na Europa Medieval. Lisboa: Chaves Ferreira. p. 101-136 
  11. a b Espanca, Túlio (1993). Inventário Artístico de Portugal Distrito de Beja. Lisboa, Portugal: [s.n.] p. Academia Nacional de Belas-Artes. 439 páginas 
  12. VALLA, Margarida (1999). O Urbanismo Português, séculos XIII-XVIII, Portugal-Brasil. Lisboa: Horizonte. p. 134 
  13. Maia Ferro, José Pimenta (1979). Os Judeus em Portugal no séc. XIV. Lisboa, Portugal: Guimarães. 206 páginas 
  14. Faria Domingues Moreira, Rafael (1991). A Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal: A Encomenda Régia entre o Moderno e o Romano. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa. p. 25 
  15. Mestre, Joaquim Figueira (1991). Beja: Olhares sobre a cidade. Beja, Portugal: Câmara Municipal de Beja. 323 páginas 
  16. MOREIRA, Rafae (1981). A Arquitectura Militar do Renascimento em Portugal - A Introdução da Arte da Renascença na Península Ibérica, Actas do Simpósio Internacional. Coimbra: Epartur/Instituto de História da Arte da Universidade de Coimbra. pp. 281–305 
  17. PAAR, Edwin (1998). As Influências Holandesas na Arquitectura Militar em Portugal no século XVII: as Cidades Alentejanas. III série, n.º 7. [S.l.]: Arquivo de Beja 
  18. Canelas, Carlos (1967). Beja, Portugal e as suas fortificações. Beja, Portugal: Arquivo de Beja. p. 74-86 
  19. Ribeiro, José Silvestre (1845). «Primeiros Traços estatísticos de Beja» (PDF). Câmara Municipal de Beja. Consultado em 5 de dezembro de 2020 
  20. Ribeiro, José S. (1847). Beja no anno de 1845. Funchal (Madeira), Portugal: Câmara Municipal de Beja. 112 páginas 
  21. Brito Aranha, Pedro (1883). Memórias Histórico-Estatísticas de algumas Villas e Povoações de Portugal. Lisboa: Livraria de A. M. Pereira. p. 88 
  22. Ministério das Obras Públicas (1949). Castelos Medievais Portugueses. Lisboa, Portugal: Direcção Geral dos Edifícios de Monumentos Nacionais. p. 26 
  23. Mesquita, M.D. (1993). Arquitectura e Renovação: Aspectos do Restauro Arquitectónico em Portugal no Século XIX. Lisboa: Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. 353 páginas 
  24. «Monumentos». www.monumentos.pt. Consultado em 6 de abril de 2016. Cópia arquivada em 11 de janeiro de 2015 
  25. Câmara Municipal, ed. (2016), Castelo (em Portuguese), Câmara Municipal de Beja, consultado em 6 Abril de 2016, cópia arquivada em 26 de Abril de 2016 
  26. Dias, Carlos. «Torre de menagem do castelo de Beja abriu ao público». PÚBLICO. Consultado em 5 de dezembro de 2020 
  27. Alarcão, Jorge (1986). "Arquitectura Romana"- História da Arte em Portugal, vol. 1: Do paleolítico à arte visigótica. Lisboa, Portugal: Publicações Alfa. 183 páginas 
  28. ROSSA, Walter (1995). A cidade Portuguesa – História da Arte Portuguesa. Lisboa: Círculo de Leitores. p. 72 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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