Carteira digital de criptomoeda – Wikipédia, a enciclopédia livre

Uma carteira digital de criptomoeda é um mecanismo que permite armazenar criptomoedas e realizar transferências utilizando o computador ou celular. Normalmente é um software ou um hardware que permite um usuário guardar seu montante em criptomoeda, podendo também ter outras formas como as paper wallets[1]. Assim como os web browsers estão para a Internet, permitindo um usuário acessar páginas da web, as carteiras digitais estão para as criptomoedas, permitindo as transações de criptomoeda de maneira facilitada.

Introdução[editar | editar código-fonte]

As carteiras digitais surgiram a fim de facilitar a utilização de criptmoedas e tornar mais seguro seu armazenamento. Diferentemente do dinheiro em uma conta bancária tradicional, onde a conta está associada a um titular e um número de conta, as criptomoedas não precisam, necessariamente, de uma estrutura semelhante para serem armazenadas. As carteiras digitais funcionam como uma interface interagindo com a Blockchain. Para enviar bitcoins ou qualquer outro tipo de moeda digital para uma carteira digital, um usuário está assinando a criptomoeda com uma chave privada para o endereço da carteira. Para poder gastar essas moedas, a chave privada armazenada na carteira do usuário deve corresponder ao endereço público ao qual a criptomoeda é atribuída, e, se essa correspondência acontecer, a criptomoeda será atribuída à carteira. Essa transação é registrada na Blockchain.

As carteiras digitais de criptomoeda baseadas em software, por exemplo, não detêm informações do usuário, garantindo o anonimato. Normalmente, um usuário compra uma moeda virtual em uma corretora de criptomoedas[2] (como se fossem casas de câmbio para criptomoedas), como Coinbase, onde as criptomoedas ficam armazenadas na corretora de criptomoedas. Uma desvantagem dessa abordagem é que se essa exchange for hackeada, os fundos estarão perdidos, além de o controle das criptos estarem nas mãos da corretora. Outra opção seria armazenar criptoativos em uma carteira de criptomoeda baseada em software, ou hot wallets[3], as quais têm acesso à Internet. O usuário fornece o endereço de sua carteira digital na exchange e seus fundos são transferidos.

Nessas carteiras as chaves privadas do usuário, necessárias para realizar as transações de criptomoeda, não estão armazenadas nos servidores da carteira e sim no computador do usuário, logo ele tem o controle das criptomoedas. As carteiras digitais de criptomoeda baseadas em software também realizam transações e lidam com a Blockchain. Elas podem armazenar um único tipo de criptomoeda, como a Coinwise, ou várias criptomoedas, como a Coinomi[4].

Outra opção é uma carteira digital baseada em hardware, ou cold storage[3], onde um dispositivo específico armazena as chaves privadas do usuário. Esse dispositivo é ligado ao computador conectado à Internet apenas quando o usuário deseja realizar uma transação de criptomoeda. Após realizar a transação, o dispositivo é removido e mantido fora da Internet, onde não está sujeito a ataque de hackers. A medida recomendada é manter uma pequena quantia para realizar transações comerciais em uma carteira digital de criptomoeda baseada em software e o restante dos fundos em uma carteira digital de criptomoeda baseada em hardware, uma vez que esta última maneira de armazenamento é mais segura.

Carteiras baseadas em Software[editar | editar código-fonte]

Uma carteira digital de criptomoeda baseada em software utiliza um software conectado à Internet para realizar as transações. Podem ser um software instalado na máquina do usuário ou uma página da web. Essas carteiras podem armazenar apenas um tipo de criptomoeda ou ser multi-coin (armazenam várias criptomoedas). Essas carteiras podem realizar transações de criptomoeda e lidar diretamente com a Blockchain. Essas carteiras podem ser de 3 tipos:

Desktop[editar | editar código-fonte]

Uma carteira digital de desktop é um software baixado e instalado no computador do usuário que não é acessível através da Internet, ou seja, só pode ser utilizada no computador onde o software está instalado. Esse software deve ter acesso à Internet para conseguir entrar na carteira e realizar as transações de criptomoeda. Se o computador onde o software está instalado sofrer ataque de agentes mal intencionados (hackers), os fundos da carteira estarão comprometidos. Um exemplo desse tipo de carteira é a Electrum[5].

Mobile[editar | editar código-fonte]

Uma carteira digital mobile é um aplicativo, para smartphones rodando iOS ou Android. Tem como vantagem a portabilidade, podendo ser utilizada em qualquer local com Internet, possibilitando compras em lojas que aceitem a criptomoeda. Normalmente são mais simples que as carteiras para Desktop, uma vez que o espaço de armazenamento de um celular é menor. Um exemplo desse tipo de carteira é a Mycelium[6].

Web[editar | editar código-fonte]

Uma carteira digital online está armazenada na cloud e é acessível a partir de qualquer dispositivo com capacidade de se conectar a uma página da web. São simples e práticas de se utilizar, porém armazenam as chaves privadas do usuário no servidor da carteira, ou seja, o controle dos fundos não está diretamente com o usuário estando mais suscetível a ataques de hackers ou roubos por parte da própria carteira. Um exemplo desse tipo de carteira é a Coinwise[7].

Vantagens e Desvantagens[editar | editar código-fonte]

Nas carteiras digitais Desktop ou Mobile, as chaves privadas do usuário são armazenadas localmente no computador ou celular do usuário, não ficando guardadas em um servidor e mais sujeitas a ataques de agentes mal intencionados (hackers). Por essa razão, o usuário detém o controle de seu dinheiro. Algumas dessas carteiras também dão garantia de anonimato, escondendo o IP do usuário durante as transações de criptomoeda. O código-fonte da maioria das carteiras normalmente está disponível publicamente[8], uma medida que garante a transparência. Em carteiras que armazenam várias tipos de criptomoedas é possível realizar troca de uma moeda para outra, devido a integrações da carteira com exchanges como ShapeShift[9]. Uma medida de segurança que pode ser realizada pelas carteiras digitais é armazenar os fundos dos clientes offline, como a Coinbase faz com 98% dos fundos de seus usuários[10], ficando mais protegidos contra ataques de hackers.

A carteira digital Parity[11], desenvolvida pelo core developer da criptomoeda Ethereum, Gavin Woods, teve 150 milhões de dólares de seus fundos permanentemente perdidos devido a um bug causado por um desenvolvedor com nome "devops199", quando ao tentar deletar o código que causou o erro ocasionou o congelamento permanente dos fundos.[12]

Uma desvantagem desse tipo de carteira é que caso a carteira digital não esteja disponível, por exemplo os servidores estejam offline ou algum outro problema técnico, o usuário fica impossibilitado de acessar sua conta ou realizar alguma transferência de criptomoeda. Outro fator é que não é de responsabilidade da carteira digital fazer uma transação ser imediatamente aceita pela Blockchain. Um artifício que as hot wallets presentes nas exchanges oferecem é a pré-aprovação de crédito, adiantando o valor transacionado antes da mesma ser validada pelos mineradores na rede Blockchain. Caso um usuário tente intencionalmente gastar a mesma quantia transacionada mais de uma vez, o mesmo pode ter o acesso à carteira negado e perder seus fundos armazenados.

Carteiras baseadas em Hardware[editar | editar código-fonte]

Mão segurando uma carteira hardware Ledger Nano X sobre fundo de madeira
Carteira hardware Ledger Nano X

Uma carteira digital de criptomoeda baseada em hardware utiliza um dispositivo físico para garantir a segurança das transações. Esse dispositivo só é conectado a um computador conectado à Internet para realizar a transação de criptomoeda, sendo retirado após a transação.

Vantagens e Desvantagens[editar | editar código-fonte]

Uma das vantagens desse tipo de carteira é que, ao manter as chaves privadas offline, os criptoativos associados a esta chave se mantém mais seguro e menos propenso a ataques de pessoas mal intencionadas (hackers).

Em algumas dessas carteiras, para realizar a transação de criptomoeda, é solicitado ao usuário pressionar algum botão presente no dispositivo[3]. Ao armazenar seus fundos nesse tipo de carteira digital, um usuário está protegido de ataques hackers a corretoras, como aconteceu com a Mt. Gox, uma das maiores corretoras cripto em 2014[13]. Após um ataque de hackers, a Mt. Gox teve 450 milhões de dólares de seus fundos roubados[14].

Os exemplos mais famosos e utilizados hoje em dia de carteiras hardware são Ledger[15] e Trezor[16].

Outros tipos de carteira[editar | editar código-fonte]

Imagem com um endereço de Bitcoin em formato de QR Code gerada em bitaddress
Exemplo de uma carteira de papel de Bitcoin em formato QR Code

Outros tipos de carteira de criptomoedas também existem. O termo Brainwallet[17] se refere ao conceito de memorizar, através do uso de frases mnemônicas, endereços de chave privada do Bitcoin, e dessa maneira, estaria seguro ao ataque de agentes mal intencionados. Porém se a pessoa esquecer ou ficar incapacitada, os bitcoins estarão perdidos.

Outro possível tipo de carteira seria as carteiras físicas (paper wallets)[1], contendo um Código QR, uma chave pública e uma chave privada. Se essa carteira for roubada, a pessoa que tiver esse papel irá conseguir utilizar os fundos associados à carteira.

Anonimato[editar | editar código-fonte]

Nenhuma carteira de criptomoeda, seja software ou hardware, está diretamente vinculada aos dados pessoais do usuário. Contudo, os endereços usados por estas carteiras são os mesmos e todas as transações estão publicamente registradas na blockchain. Caso seja possível associar um endereço com a identidade real do usuário (por exemplo, através de corretoras de criptomoedas ou de serviços que exigem o KYC do usuário), é possível determinar quem detém um endereço. Desse modo, o anonimato do endereço é destruído e é possível rastrear a identidade do usuário. As carteiras estão trabalhando para promover mais anonimato, um exemplo de carteira que proporciona anonimato completo é a Dark Wallet[18], ainda em versão beta.

Futuro das carteiras digitais de criptomoeda[editar | editar código-fonte]

As carteiras digitais proporcionam uma maneira mais segura e facilitada de lidar com criptomoedas, seja utilizando soluções baseadas em software ou hardware. Porém, o estado atual das carteiras digitais de criptomoeda ainda é imaturo, vez ou outra surgindo bugs que causam congelamento ou roubo de fundos, por exemplo.

Nessa mudança do mundo digital de centralizado para descentralizado, iniciada com surgimento do Bitcoin, as carteiras digitais podem ter um papel bastante significativo, uma vez que elas lidam diretamente com a Blockchain. Ser utilizada como meio de pagamento no comércio é apenas uma aplicação inicial. As criptomoedas manipuladas pelas carteiras digitais estão presentes em outras aplicações como por exemplo as Ofertas Iniciais de Moeda[19], onde uma ideia — normalmente apresentada por meio de um whitepaper [20]— é financiada por criptomoedas, semelhante a um crowdfunding[21]. Nesse cenário de mudança para um mundo mais descentralizado e com menos entidades, como o governo, controlando os dados pessoais e corporativos, é perceptível a importância das carteiras digitais, que permitem ao usuário o controle de seu próprio criptodinheiro.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «How to Make a Paper Bitcoin Wallet». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  2. «Currency exchanges» 
  3. a b c «Cold Wallet Vs. Hot Wallet: What's The Difference?». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  4. «Coinomi - Free Secure Source-Available Multi-Coin Multi-Asset HD Wallet for Bitcoin Altcoins and Tokens». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  5. «Carteira Electrum». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  6. «Mycelium - The Default Bitcoin Wallet». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  7. «Coinwise - Criptomoedas e Blockchain. Tornando o que é seu realmente seu.». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  8. «Código-fonte da carteira Parity». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  9. «Exchange ShapeShift - The Safest, Fastest Asset Exchange on Earth». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  10. «Coinbase - Security for your piece of mind» 
  11. «Carteira Digital Parity». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  12. «'I Accidentally Killed It': Parity Wallet Bug Locks $150 Million in Ether» 
  13. «Exchange Mt Gox». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  14. «THE INSIDE STORY OF MT. GOX, BITCOIN'S $460 MILLION DISASTER». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  15. «Hardware Wallet - State-of-the-art security for crypto assets». Ledger (em inglês). Consultado em 30 de outubro de 2022 
  16. «Carteira Trezor». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  17. «Brainwallets». Consultado em 8 de dezembro de 2017 
  18. «Dark Wallet» 
  19. «What is An Initial Coin Offering? Raising Millions In Seconds» 
  20. «What is a 'White Paper'» 
  21. «CROWDFUNDING: O QUE É, COMO FAZER O SEU PROJETO E EM QUAL PLATAFORMA»