Cárax Espasinu – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para a cidade de mesmo nome na Crimeia romana, veja Cárax (Crimeia).
Hispasines (também conhecido como Espasines ou Aspasine; 209–124 a.C.), fundador e rei de Caracena, cuja capital foi Cárax

Cárax[1] ou Cárace[2] Espasinu ou Pasinu (em grego clássico: Σπασίνου του Χάραξ; romaniz.:Spasínou tou Chárax; lit. "Cárax de Espasines"), Alexandria em Susiana (Ἀλεξάνδρεια) ou Antioquia em Susiana (Ἀντιόχεια τῆς Σουσιανῆς) foi uma antiga cidade portuária no fundo do Golfo Pérsico e capital do antigo reino de Caracena. Provavelmente situava-se onde é hoje o Cuaite[3] ou na zona fronteiriça do Iraque com o Irão perto de Baçorá.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O nome "Cárax" deriva provavelmente do grego Χάραξ,[carece de fontes?] que significa literalmente "forte com paliçada" e era aplicado a diversas cidades fortificadas selêucidas. Originalmente chamava-se "Alexandria", em honra de Alexandre, o Grande, que possivelmente foi o seu fundador. Após ter sido destruída por cheias, foi reconstruída por Antíoco IV (r. 175–164 a.C.) e rebatizada para Antioquia. Umas décadas depois, o antigo governador de Antíoco, Hispasines (também conhecido como Espasines ou Aspasine), mandou construir um enorme aterro para conter cheias com quase 4,5 km de extensão. O mesmo governador mudou o nome da cidade para Cárax de Hispasines ("Cárax Espasinu").[carece de fontes?]

Há uma teoria segundo a qual Cárax deriva da palavra aramaica karkâ ("castelo"), mas o uso de Cárax é atestado frequentemente como designação de outras cidades selêucidas com o significado de paliçada.[carece de fontes?]

Localização[editar | editar código-fonte]

A cidade de Cárax situa-se na reentrância mais interior do golfo Pérsico, de onde se projeta o país chamado Arábia Feliz. Ergue-se numa elevação artificial entre o Tigre à direita e o Karun à esquerda, no ponto onde estes dois rios se unem, e o local mede duas milhas romanas (3 km) de largura [...] Originalmente estava a uma distância de 1,25 milhas (2 km) da costa e tinha um porto, mas quando Juba (Juba II, rei da Numídia [50 a.C.–24 d.C.] publicou a sua obra situava-se 50 milhas (80 km) no interior; a sua distância atual da costa é relatada por enviados árabes e pelos nossos comerciantes que chegaram do local como sendo 120 km (190 km). Não há parte alguma do mundo onde a terra levada por rios invadiu o mar mais longe ou mais rapidamente [...]

Segundo uma das hipóteses, Cárax situava-se originalmente na costa do golfo Pérsico, onde é hoje o Cuaite.[3] Outra localização possível é um grande tel conhecido como Jabal Khuyabir (ou Naysan), perto da confluência dos rios Euleu (atual Karkheh) e do Tigre, que coincide com a descrição de Plínio, o Velho,[5] Naysan pode ser uma corruptela árabe de Maysān, o nome da região de Caracena durante o início da era islâmica.[6]

História[editar | editar código-fonte]

A história de Cárax é conhecida principalmente através de textos antigos e numismática, pois a cidade nunca foi escavada.[carece de fontes?] A cidade foi fundada por Alexandre, o Grande em 324 a.C., substituindo a pequena localidade persa de Durine.[7] Foi uma das últimas cidades fundadas por Alexandre antes da sua morte em 323 a.C., que também construiu um quarteirão (dēmē) no porto chamado Pela, o nome da sua cidade natal, onde instalou veteranos macedónios. A cidade passou a fazer parte do Império Selêucida depois da morte de Alexandre, até ser destruída em data desconhecida por uma cheia.[8]

A cidade foi reconstruída cerca de 166 a.C. por ordem de Antíoco VI, que nomeou Hispasines como sátrapa para supervisionar as obras.[9] A instabilidade política que se seguiu à conquista parta da maior parte do Império Selêucida permitiu a Hispasines o estabelecimento de um estado independente, Caracena (ou Mesena), em 127 a.C..[carece de fontes?]

Cárax foi a capital do pequeno estado durante 282 anos. A numismática sugere que era uma cidade helenizada multiétnica com extensas ligações comerciais. Em 116 d.C., durante o reinado de Trajano (r. 98–117), a cidade foi anexada pelo Império Romano.[10] Caracena ganhou de novo a independência sob a liderança de Meredates (ou Mitrídates), um filho do Pácoro II (r. 78–105), durante uma guerra civil pelo trono parta. As moedas de Cárax desse período indicam uma cultura principalmente parta.[carece de fontes?]

Em 221–222, Artaxes (Ardašīr), de etnia persa, que foi sátrapa de Pérsis, liderou uma revolta contra os partas, que deu origem ao Império Sassânida. Segundo histórias árabes posteriores, ele derrotou as tropas de Caracena, matou o seu último governante, reconstruiu Cárax e rebatizou-a Astarabade-Ardaxir (Astarābād-Ardašīr).[11] A área em redor da cidade que tinha sido o estado de Caracena passou desde então a ser conhecida pelo seu nome em aramaico e siríaco, Maysān, que depois foi adotado pelos conquistadores árabes.[12]

A cidade continuou a existir, com o nome de Maysan, havendo várias menções em textos persas de governadores ao longo do século V e há registo de uma igreja nestoriana no século VI. Aparentemente continuou a ser cunhada moeda em Cárax durante o Império Sassânida e o Califado Omíada — a última moeda conhecida é de 715.[6] A cidade foi finalmente abandonada durante o século IX devido a cheias persistentes e a um decrescimento dramático do comércio com o Ocidente.[carece de fontes?]

Economia[editar | editar código-fonte]

Cárax foi um importante centro de comércio da Antiguidade tardia, o que é atestado pelas numerosas moedas gregas encontradas em escavações. Embora fosse nominalmente vassala dos selêucidas e depois dos arsácidas, parece ter tido uma elevado grau de autonomia em alguns períodos. Tornou-se um centro de primeira importância para o comércio da Arábia, controlado em grande parte pelos nabateus, pelo menos até ter sido anexada pelos romanos em 106 d.C.[carece de fontes?]

Cárax era um porto próspero, onde chegavam regularmente navios provenientes de Gerra (atual Hufufe, na costa oriental da Arábia Saudita), Egito e Índia. Trajano viu navios que partiam para a Índia quando visitou a cidade, Estrabão chamou à cidade um empório[13] e Plínio refere que era um centro de comércio de perfumes raros[14] e de pesca de pérolas. Era igualmente o início de rotas comerciais terrestres que ligavam o golfo Pérsico a Petra, Palmira e o Império Parta.[15]

Figuras históricas e visitantes[editar | editar código-fonte]

Em 97 d.C., Cárax foi visitada pelo enviado chinês Gan Ying (甘英), que se referiu a ela como 于羅 (Yulo em pīnyīn; ou *ka-ra em pronúncia antiga reconstituída), que tentava chegar ao Império Romano via Egito, mas que ao chegar ao golfo Pérsico foi convencido a voltar para trás pelos partas.[16]

Em 116, o imperador romano Trajano esteve em Cárax Espasinu, a sua mais recente e mais oriental possessão, que manteve por pouco tempo. Viu muitos navios de partida para a Índia e desejou ser mais jovem, como Alexandre tinha sido, para que pudesse lá ir também. Isidoro de Cárax, um geógrafo dos séculos I a.C. e I d.C., era natural da cidade. Para o historiador Robert Eisenman, foi em Cárax (também chamada Antioquia), e não na Antioquia mais famosa, que São Paulo estabeleceu a sua primeira igreja.[carece de fontes?]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  1. Galache 1996, p. 1098.
  2. Cruz 1952, pp. 21, 75.
  3. a b Brown 2001, p. 67.
  4. Plínio, 6.31. 138–140
  5. Plínio, 6.39
  6. a b Hansman 1991, pp. 363-365.
  7. «Charax» (em inglês). Livius.org. 2006. Consultado em 9 de agosto de 2015 
  8. Plínio, 6.31. 138
  9. Plínio, 6.31. 139
  10. Dião Cássio, 78.28
  11. Tabari, I
  12. Iacute de Hama, Kitab mu'jam al-buldan, III, IV
  13. Estrabão, XV.3
  14. Plínio, 12.80
  15. Isidoro de Cárax
  16. Hill 2009, pp. 5, 23, 240-242.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Brown, John Pairman (2001), The Legacy of Iranian Imperialism and the Individual, ISBN 9783110882391 (em inglês), 1–3, Walter de Gruyter, consultado em 9 de agosto de 2015 
  • Casson, Lionel (1989), The Periplus Maris Erythraei (em inglês), Traduzido por H. Frisk em 1927, com atualizações e notas detalhadas., Princeton University Press 
  • Cruz, Antônio da (1952), Prosódia de nomes próprios pessoais e geográficos, Editora Vozes 
  • Galache, Gabriel C. (1996), A Bíblia, ISBN 8515012588, Edicões Loyola 
  • Hansman, John (1991), «Characene and Charax», Encyclopædia Iranica (em inglês), V (4): 363-365, consultado em 9 de agosto de 2015 
  • Hill, John E. (2009), Through the Jade Gate to Rome: A Study of the Silk Routes during the Later Han Dynasty, 1st to 2nd Centuries CE., ISBN 9781439221341 (em inglês), Charleston: John E. Hill. BookSurge 
  • Mørkholm, O. (1965), «A Greek coin hoard from Susiana», Acta Archæologica, 36: 127-156 
  • Nodelman, S. A. (1960), «A preliminary history of Characene», Berytus (em inglês) (13): 83–123 
  • Plínio, o Velho, História Natural 
  • Potts, D. J. (1988), «Arabia and the Kingdom of Characene», Araby the Blest: Studies in Arabian Archaeology (em inglês), The Carsten Niebuhr Institute of Ancient Near Eastern Studies. Universidade de Copenhaga. Museum Tusculanum Press, pp. 137–167 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Caracena