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Bugrinha
Bugrinha
capa da 1ª edição, 1922
Autor(es) Afrânio Peixoto
Idioma português
Gênero regionalismo
Localização espacial Chapada Diamantina (Lençóis)
Editora Livraria Castilho
Cronologia
Fruta do Mato

Bugrinha é o título do romance do escritor brasileiro Afrânio Peixoto, publicado originalmente em 1922, pela editora Castilho, do Rio de Janeiro.[1][nota 1] Encerra uma trilogia de romances regionalistas do autor, junto a Maria Bonita (1914) e Fruta do Mato (1920), e que foram bastante criticados pelos modernistas.[3]

Bugrinha foi, até 1950, o segundo livro do autor com maior tiragem de venda, com vinte e sete mil exemplares (atrás apenas de Fruta do Mato).[4] A obra fez parte da coleção de livros de arte da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, que reuniu os grandes autores do Brasil.[5]

Enredo[editar | editar código-fonte]

Ambientado na terra natal do autor, a história conta uma história trágica e amorosa entre a personagem-título e um jovem chamado Jorge. "A protagonista é descrita como uma moça de pele morena, cabelos e olhos muito negros. Era indócil e geniosa, indiferente à dor, resistente às dificuldades, insubmissa, às vezes caprichosa. Por isso, explica o autor, chamaram-lhe Bugrinha."[6]

Edições[editar | editar código-fonte]

A edição dos livros de arte dos "Cem Bibliófilos", que contavam com tiragens de cento e vinte exemplares entre os anos de 1944 e 1969, teve "Bugrinha" como a quinta obra da série, e as ilustrações em litografia foram feitas por Heloisa de Faria.[5] Teve a direção de Luiz Portinari e foi impressa na Gráfica de Artes, com vinte e cinco desenhos de Faria feitos em pedra que serviram de base para a litogravura realizada por Ennio Marques Ferreira.[6]

O livro foi traduzido ao francês pelo conde Maurice de Périgny, explorador francês do começo do século XX e que se aventurou na tradução de obras da América Latina, havendo ainda vertido para aquele idioma "Fruta do Mato", em 1929. Teve, então, o título de Bugrinha. Romain Brésilien, e foi publicada em 1925 pela Librairie Pierre Roger.[7] Essa tradução havia sido, antes, publicada na "revista parisiense La Vie des Peuples", numa tradução que fora "muito correta, elegante e fiel", como se noticiara em 1924.[8]

Crítica[editar | editar código-fonte]

João Ribeiro, já em 1922 falando do lançamento da obra que avaliava, registrou: "Morre-se de amor e por amor, todos os dias. E esse e o tema de todas as artes, porque é o sentido mais caprichoso e mais substancial da vida. “Bugrinha” ama com loucura, com a intensidade dos seres que “desaparecem sob outros, sem independência, sem nenhuma limitação do egoísmo”. Há vidas que assim nasceram para extinguir-se em superposição na identidade absoluta. Esse é o traço psicológico de maior beleza no livro." [1]

No mesmo ano, na revista Klaxon de agosto, o modernista Mário de Andrade assinalou: "Livro tristonho. Quando iniciará o Brasil a literatura da alegria? Páginas de amor e rusgas que não terminam mais. Para divertir o A. divide o assunto em dois. Há o amor de Jorge e Bugrinha e a anedota da festa do Divino. Mesmo dualismo da Esfinge. Mais ou menos também como em Fruta do Mato. O A. se repete. Não faz o mínimo esforço para progredir. Para quê? Já pertence à Academia — pináculo da ambição literária do país".[9]

Numa crítica ao autor, em 1947, Agrippino Grieco, assinalou: "O sr. Afrânio Peixoto tem vacilado sempre entre o sertão e Botafogo, entre o violão e violino, entre Houbigant e o suor das axilas orvalhadas pelas danças sertanejas. Ora são uns ricaços que vão à Grécia admirar o Partenon, ora as cenas rústicas da “Bugrinha”, ora as festas diplomáticas em Petrópolis, ora os lances meio selvagens da “Fruta do Mato”. Vê-se que o romancista é um temperamento cheio de antíteses, ou antes, um escritor desservido por uma eterna bifurcação sentimental."[10]

Impacto cultural[editar | editar código-fonte]

O então embaixador francês no Brasil, Alexandre Conty, escreveu uma peça teatral dramática, em três atos, baseada no romance, como foi informado numa publicação, em 1924.[8]

Seu enredo inspirou o filme Diamante Bruto, dirigido em 1979 por Orlando Senna e estrelado por José Wilker, e que contou com a participação dos moradores da cidade de Lençóis[11]

Notas e referências

Notas

  1. Outros dão como datas dessas obras, entretanto: "Maria Bonita (1914), Bugrinha (1918), Fruta do Mato (1922)"[2], mas parece ser um erro, diante de nota contemporânea ao lançamento, em 1922.[1]

Referências

  1. a b c João Ribeiro (16 de maio de 1922). «Chronica literaria». Rio de Janeiro. O Imparcial (1299): 2. Consultado em 21 de julho de 2023 
  2. Eucléia Gonçalves Santos (18 de novembro de 2016). «"Para retratar meu país e minha gente": A Ciência na Literatura e a construção do projeto nacional de Afrânio Peixoto (1910-1920)» (PDF). SBHC. Consultado em 21 de julho de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 5 de fevereiro de 2022 
  3. Ronaldo Ribeiro Jacobina (10 de outubro de 2018). «Breve história do Patrono da cadeira n. 29 Prof. Dr. Júlio Afrânio Peixoto». Academia de Medicina da Bahia. Consultado em 21 de julho de 2023. Cópia arquivada em 27 de novembro de 2021 
  4. Eucléia Gonçalves Santos (2012). «RETRATO E DIAGNÓSTICO DO BRASIL: OS SERTÕES NA OBRA DE AFRANIO PEIXOTO (1910-1947)» (PDF). UFPR. Consultado em 21 de julho de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 21 de julho de 2023 
  5. a b Vicente Martinez Barrios (23 de agosto de 2008). «A modernidade do livro de arte brasileiro: a Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil na coleção de obras raras da UnB» (PDF). Anpap. Consultado em 21 de julho de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 25 de janeiro de 2022 
  6. a b «Especiais - Cem Bibliófilos do Brasil - Bugrinha». Globo História. 21 de setembro de 2022. Consultado em 22 de julho de 2023. Cópia arquivada em 6 de outubro de 2022 
  7. Ronald Soto-Quirٕós (20 de maio de 2020). «Miradas francesas de Centroamérica a principios del siglo XX: Maurice de Périgny y la Costa Rica de la esperanza». Revista Estudios, (40), Universidad de Costa Rica. Consultado em 22 de julho de 2023. Cópia arquivada em 21 de julho de 2020 
  8. a b «Afrânio Peixoto, in: Notas e Comentários». Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional do Brasil. América Brasileira (33): 24. Setembro de 1924. Consultado em 9 de agosto de 2023 
  9. Elaine Aparecida Lima (dezembro de 2015). «Dos conceitos na trajetória de Mário de Andrade». Revista FronteiraZ – nº 15 - PUC-SP. Consultado em 22 de julho de 2023 
  10. Fernando Cerisara Gil (2008). «A crítica e o romance rural». Rev. Let., São Paulo, v.48, n.1, p.85-100, jan./jun. Consultado em 21 de julho de 2023. Cópia arquivada em 21 de julho de 2023 
  11. Sérgio Rizzo (9 de dezembro de 2006). «Documentário faz retrato amargo de cidade mudada». Folha de S.Paulo. Consultado em 31 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 1 de fevereiro de 2023